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História O Internato - Porto seguro - História escrita por seinomrohf - Spirit Fanfics e Histórias
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História O Internato - Porto seguro


Escrita por: seinomrohf

Capítulo 48 - Porto seguro


Camila POV.

Ergui o aparelho à altura dos meus olhos mais uma vez para checar o visor.

Nenhuma ligação ou mensagem recebida.

Durante o resto todo da semana, após fazer o mesmo movimento por pelo menos cinquenta vezes ao dia, o gesto já se tornara automático. Eu desbloqueava a tela do aparelho sem nem mesmo esperar por uma novidade, somente por costume.

Quatro dias haviam passado desde o último contato que eu tivera com Lauren, naquele domingo à noite. Eu não havia, desde então, recebido notícias da mais velha, apesar de morrer por dentro para tê-las. Meus dedos formigavam para mandarem uma mensagem à garota, ou para ligarem para ela, mas eu havia decidido a dar espaço. Afinal de contas, se Lauren não havia entrado em contato desde então, era porque não se sentia à vontade o suficiente para conversar outra vez. Além disso, era certo que, assim que isso acontecesse, a morena não hesitaria em vir atrás de mim. Por isso, eu decidi que o mais correto a se fazer no momento seria apenas lhe deixar quieta e esperar, mesmo que todo o esforço que eu fazia para isso estivesse me matando.

Na manhã de sexta-feira, eu já me sentia menos aflita. Eu sabia por Nicolas que a situação do irmão de Lauren ainda era estável e, por isso, eu me via mais tranquila. Eu tinha o visitado na enfermaria todos os dias, sem exceção, perguntando sobre a garota e exigindo saber como a sua situação estava. Ele não me dava detalhes, é claro – eu mesma não insistia para que ele o fizesse -, mas ele me garantia que a mais velha estava bem, na medida do possível, o que, no momento, já me era o bastante.

Dinah e Ally vinham tentando fazer o possível e o impossível para me distrair e me fazer focar na semana complicada de aulas que andávamos tendo no internato –apesar de Dinah aproveitar qualquer oportunidade que fosse para alfinetar o fato de Lauren ainda não ter dado sequer uma satisfação a mim desde domingo.

- Preciso ir ao banheiro. – disse, sentindo-me apertada, enquanto andávamos as três a caminho da terceira aula do dia.

- Vai lá, nós guardamos um lugar pra nós três na sala, antes que Ellen resolva grudar em você de novo. – Ally respondeu e eu ri em descrença, assentindo e afastando-me das duas em direção ao banheiro.

Era verdade que Ellen havia a semana toda tentado algum tipo de aproximação comigo. De um jeito meio bizarro, a garota parecia me sondar, observando-me sempre de longe com uma postura meio constipada, ou algo semelhante a isso. Não que eu a ignorasse, até porque a garota somente ameaçava vir atrás de mim ao contrário de realmente iniciar algum tipo de diálogo comigo, mas não era como se eu tivesse fazendo questão exatamente de conversar com ela outra vez, pelo menos não depois do quão grossa ela havia sido comigo em nosso último encontro...

- Você está se ouvindo? Está escutando o que tá dizendo pra mim?!

Eu ouvi a voz irritada a alguns metros de mim e a teria ignorado caso uma segunda voz, mais do que familiar, não tivesse a respondido em seguida.

- É você quem não tá me escutando, Amy! Não se faça de desentendida!

Austin.

Eu me pus em alerta no mesmo momento. Rapidamente, escorei-me numa das paredes do corredor, a apenas alguns metros do barulho, e me escondi contra uma das pilastras antes que qualquer um dos dois notasse minha presença.

- Eu já disse mais de mil vezes que você foi o único garoto com quem eu transei, Austin!

- Você está mentindo...

- E você está me chamando de vagabunda!

- Não é esse o ponto, meu Deus! O que eu estou dizendo é que você sabe que não tem como eu ser pai des...

- Você tá sugerindo que eu nem mesmo sei quem é o pai do meu filho, merda! O que isso parece ser pra você, se não uma vagabunda?!

- Droga, Amy... – o rapaz bufou audivelmente e eu prendi a respiração em meio ao silêncio que se fez por alguns segundos, até que ele a respondesse novamente. – Ok, apenas me escute. Você e eu sabemos muito bem o que está acontecendo aqui, ok? Eu não sei por qual motivo você resolveu me enfiar nessa história, mas tanto eu quanto você sabemos muito bem que não tem como você ter ficado grávida de mim quando eu sequer...

- Austin, pare! – Amy o interrompeu alterada e eu a xinguei internamente por não tê-lo deixado terminar. – Só pare, ok?! Eu sinto muito que a minha gravidez tenha atrapalhado a sua vidinha perfeita, mas o fato é esse e acabou! Você é o pai dessa criança e eu tenho certeza absoluta disso! A gente pode encerrar o assunto agora, por favor?!

O silêncio então foi mais uma vez absoluto, até que eu escutasse o passo de ambos afastarem-se.

Ou... Um deles parecia ainda mais... Perto?

- Camila. – a voz me sobressaltou e eu me virei de costas para encontrar o próprio Austin, me fitando de perto com os olhos semicerrados. – O que você tá fazendo aqui?

- Ahm. Eu que te pergunto. – me recompus rapidamente, olhando-o firme nos olhos. – O que você tava fazendo aqui? Que conversa foi aquela com Amy?

- Isso não te interessa. – ele respondeu de pronto, na defensiva, e eu franzi o cenho. Se eu o conhecia tão bem quanto imaginava, algo além da minha presença ali o incomodava naquele momento.

- Austin, como assim você não acha que é o pai do bebê? – perguntei na lata, sem enrolar.

- Eu já disse que não te interessa... – ele bufou irritado e eu não me intimidei antes de insistir.

- Interessa sim. Você é meu melhor amigo e qualqu...

- Oh, certo. – ele me cortou, sorrindo ironicamente e sem humor algum. – Eu não me lembro de ainda ser o seu “melhor amigo”, Camila.

- Austin. – o repreendi com o olhar. – Largue de infantilidade. Você sabe que pode confiar em mim pra qualquer coisa.

- Posso? – ele rebateu desafiadoramente. – Será mesmo? Ou tudo o que eu disser aqui vai acabar nos ouvidos da monitora? – a última palavra arrastando-se como veneno em sua boca.

- Agora você está sendo idiota. – falei em descrença e ele sorriu mais uma vez, sem realmente achar graça.

- É. Talvez eu realmente seja um... Quer saber, Camila? – ele suspirou arrasado, como se estivesse exausto demais para continuar a discussão. – Apenas não se preocupe comigo. Eu continuo cuidado dos meus próprios problemas e você dos seus, ok?

- Não. – prontamente respondi. – Eu quero entender o que tá acontecendo. Eu te conheço e eu sei que alguma coisa de muito errada...

- Camila. – ele me cortou outra vez, passando uma das mãos por seu rosto inexpressivo. – Só esqueça tudo isso, ok? Esqueça que me viu aqui, esqueça essa conversa...

- Eu não vou me esquecer. – teimei e ele bufou pela terceira vez.

- Vai. Vai esquecer disso assim como eu vou esquecer o que eu vi no segundo andar da biblioteca, aquele dia.

Oh. Aí estavam as ameaças de novo. O que ele faria, caso eu insistisse em saber o que estava acontecendo? Contaria sobre mim e Lauren pro conselho?

- Eu nem sei por que continuo me importando... – soltei após alguns minutos, encarando-o incrédula.

- Eu não pedi pra que você se importasse. – ele deu de ombros, ainda cabisbaixo, e deu um passo para trás. – A gente se vê por aí, Camila. Ou não. – deu de ombros outra vez e simplesmente se virou, seguindo pelo corredor para longe.

Eu suspirei frustrada, sem entender o por que dessa postura idiota do garoto, mas decidida então a deixá-lo pra lá, já que tudo o que ele parecia mais querer no momento era me ver longe da sua vida. Pois bem. Ele teria isso, até porque eu não estava afim de ter minha relação com Lauren exposta pra todo o conselho ou sujeita a levar sabe-se lá qual tipo de punição por conta dela.

Chegando à sala de aula, eu logo avistei Dinah e Ally e me sentei numa cadeira entre as duas. O professor Otto entrou à sala com o semblante comumente estressado, jogando uma pilha de materiais sobre sua mesa. Sem sequer nos cumprimentar ou desejar-nos uma boa tarde, ele simplesmente virou-se de costas para a turma e passou a escrever sobre o quadro.

- E então. – Dinah chamou minha atenção, sussurrando próxima a mim. – Jauregui deu notícias ou continua ignorando a sua existência?

Eu revirei os olhos e sequer me dei ao trabalho de encará-la.

- Não. Ela não deu...

- Ual. Por que será que eu não estou surpresa? – Dinah revidou com sarcasmo e eu bufei sem paciência.

- Não fale assim. – Ally a repreendeu e Dinah ergueu as mãos em sinal de rendição.

- Ok, desculpe. Vocês têm razão. A monitora na verdade não deve explicação nenhuma da sua vida pra nossa amiga aqui, não é? – continuou no tom sarcástico e foi Ally quem revirou os olhos dessa vez.

- Por favor, DJ. – a baixinha continuou com o tom de voz moderado. – Nós três sabemos que o que Lauren e Camila têm é quase um compromisso. – eu estreitei os olhos para o ponto de vista de Ally e a baixinha me fitou indignada. – O quê, ora?! Vai dizer que Lauren não é especial? Que você não sente nada por ela? Que tudo não passa de uma diversão? Por deus, você vive grudada com a garota, Camila. A quem você quer enganar? – eu desviei o olhar mais uma vez e me mantive em silêncio.

- Você percebeu que falou só de Camila aqui, não é? – Dinah pronunciou-se outra vez e Ally a olhou parecendo confusa. – Talvez Lauren não enxergue as coisas da mesma maneira.

Com isso, a pequena ficou quieta e eu engoli em seco. De repente, a insegurança cresceu em mim e eu cheguei a considerar que todo aquele silêncio por parte da mais velha fosse por esse motivo, justamente por achar que não me devia outras explicações.

Parte de mim queria acreditar que isso não fazia sentido. Que Lauren já havia demonstrado mais de uma vez o quanto parecia se importar. Mas de que maneira ela me garantia isso, se já passavam quase cinco dias desde que havíamos nos falado pela última vez...?

- Ok, turma. – voz do professor Otto soou firme pela sala. – Façam o que está no quadro. Eu vou precisar sair agora, mas volto antes do término da aula e espero que todos tenham terminado o que eu pedi até lá, se não quiserem receber uma detenção por isso. Entenderam? – pelo tom de voz do homem, ninguém ousou sequer concordar e ele pareceu entender aquilo como um “sim”.

Mal ele atravessou a porta da sala e Ellen, então, estava de repente ali, assustadoramente parada em nossa frente, com os lábios entreabertos como quem deseja dizer algo doloroso.

- Ahm. Ellen? – cumprimentei receosa, esperando que ela se pronunciasse.

- Eu só queri... Quer dizer. Oi. – disse nervosa, levando uma das mãos à testa ao terminar. – Eu só queria saber... – recomeçou com mais calma, sem encontrar meus olhos. – Se você quer fazer a atividade dessa aula em dupla comigo.

Eu ergui a sobrancelhas, sem entender do que ela falava, até desviar os olhos para a lousa às suas costas e ver que Otto havia nos passado um exercício para ser realizado em duplas.

- Ela já vai fazer comigo, Ellen. – Dinah respondeu com um sorriso forçado, apoiando-se com o cotovelo sobre sua carteira. – Você pode procurar outra pessoa pra fazer com você.

- Se você vai ficar com ela, então com quem Brooke vai fazer? – Ellen questionou de forma desafiadora, provavelmente sacando o tom de Dinah para afugentá-la, mas a simples pergunta fez com que Ally nos encarasse desesperada, como quem achasse que a garota à nossa frente estivesse sugerindo, então, fazer dupla com ela.

- Eu posso fazer com você, Ellen. – respondi rapidamente, antes que a baixinha acabasse enfartando bem ao nosso lado.

Ellen sorriu com minha resposta e Ally suspirou aliviada. Dinah grunhiu em reprovação, mas eu a ignorei. Quem sabe, conversando com Ellen de uma vez e vendo o que ela tanto parecia querer comigo, a garota não parasse de me perseguir, não é?

- Vem. Vamos sentar ali. – ela disse ansiosa, apontando para duas carteiras vazias ao fundo da sala. Eu assenti e me despedi rapidamente das outras duas antes de me afastar com a garota, sob o olhar reprovador de Dinah.

- Então... – disse, assim que nos sentamos. – O que exatamente a gente precisa fazer, mesmo?

- Relaxa. – a garota disse atipicamente animada, rasgando uma das folhas de seu caderno e já começando a fazer uma série de cálculos. – Eu consigo terminar isso daí rapidinho... – completou concentrada, correndo o lápis sobre o papel.

- Oh. – soltei, observando-a com o canto dos olhos. – Ok, né.

Nós ficamos os minutos restantes em silêncio enquanto apenas Ellen realizava o exercício. Correndo os olhos pela sala, eu pude ver Dinah nos fitando com desprezo, enquanto Ally lutava para chamar sua atenção de volta à atividade. Eu revirei os olhos para a garota, desviando dos seus, e voltei a observar Ellen.

De fato, a garota era muito introvertida. Parecia somente se dar bem com números. Vivia sempre calculando coisas randômicas ou, então, malhando por aí. Quase nunca abria a boca e por muito tempo a maioria da sala não sabia sequer identificar sua voz, já que ela mal falava em horário de aula. Andava sozinha pelos cantos, observando a todos com a expressão fechada, quase como se avisasse em silêncio que não gostaria de ser incomodada por ninguém. É, Ellen definitivamente fazia questão de afastar as pessoas e justamente por isso a sua aproximação repentina comigo foi realmente estranha.

Eu não culpava Ally ou Dinah por não gostarem dela. Ninguém gostava. Ellen, inclusive, parecia fazer questão de que fosse assim. Se eu não tinha um pouco de receio ao ficar perto dela? É claro que sim. Mas algo, lá no fundo, me dizia que toda aquela carranca de fora só servia para esconder algo que a machucava por dentro. Logo, se eu estava sendo aquela com quem Ellen começava a se sentir mais segura para conversar, era exatamente isso o que eu faria: a deixaria conversar comigo e, de preferência, desembuchar o que tanto passa em sua cabeça para estar sempre me rodeando.

- Camila? – ela chamou com a voz baixa, assim que colocou o lápis de lado. Àquela altura, a folha de papel já estava repleta de cálculos e ela provavelmente já tinha até terminado o exercício.

- Sim? – respondi, procurando sorrir.

- Eu posso te perguntar uma coisa? – perguntou receosa e por um momento eu tive medo do que viria.

- É claro. – respondi com o máximo de segurança que podia, vendo-a respirar fundo antes de tornar a falar.

- Eu percebi que você e Mahone não se falam mais... – começou vagarosa e em seguida completou em pânico. – Quer dizer, não que eu fique vigiando você. – eu ri de nervoso e ela continuou aflita. – Enfim, é difícil não perceber algo assim quando todos te viram pelos últimos dois anos andar grudada com ele... E agora... Mahone só anda pra lá e pra cá com aquela garota loira... Eu achei que vocês fossem amigos, mas... Eu não pude deixar de pensar que talvez eu estivesse errada... Naque-quela época... Vocês na-namoravam...? – ela finalmente questionou, parecendo à beira de um colapso, e eu me esforcei para não rir.

- Não, nós nunca namoramos. Nós éramos amigos e agora... Bom. A situação é um pouco mais complicada do que isso. – tentei responder sem lhe dar muitos detalhes e pro meu azar ela não pareceu totalmente satisfeita.

- Então... Vocês nunca tiveram nada? – eu assenti e ela mordeu os lábios. – Entendi.

Ela parecia querer perguntar mais alguma coisa, mas eu preferi não lhe dar a chance disso. Vai que eu não estivesse tão preparada quanto pensava para uma pergunta da garota.

- Nós terminamos? Quer dizer, você terminou? – perguntei para afastar o clima estranho e ela me ergueu a folha com o exercício completo num sorriso.

- Você pode entregar lá, se quiser.

- É o mínimo que eu posso fazer. – sorri e peguei o papel de sua mão. – Então, nós nos vemos por...

- Camila. – ela chamou novamente, me cortando. Eu lutei contra a vontade de engolir em seco e a respondi.

- Sim?

- Você quer... – travou e desviou o olhar para baixo. – Você gostaria de ir até minha casa? – eu não pude controlar minha própria reação e meus olhos saltaram ao ouvi-la falar. – Que-quer dizer, pra estudar! Se você não gostaria de vir até a minha casa pra nós estudarmos matemática. – completou em desespero, falando tudo tão rápido que eu mal entendi. – É que... Você tinha dito que tinha problemas com exatas... – terminou num suspiro, levando uma das mãos à testa como se estivesse se sentindo uma idiota. Eu a encarei meio confusa, meio surpresa com o convite, mas também tive dó, já que agora a garota agia como uma verdadeira derrotada. – Esquece, eu... Foi uma pergunta idiota. – disse após algum tempo e a pena que eu senti foi ainda maior.

- Não. – soltei por impulso, vendo-a erguer os olhos confusos para mim. – Quer dizer. Não foi idiota, eu... A gente pode combinar isso, sim... – sorri sem jeito e os olhos de Ellen se iluminaram. – Seria bastante útil aprender algo sobre a matéria, pra variar. – continuei com ironia para amenizar o clima e a garota riu.

- Está bem, então. Você me avisa quando puder, tudo bem? – eu entortei a boca num gesto involuntário, mas acredito que Ellen não tenha percebido.

- É claro. – respondi forçadamente, já me arrependendo de ter aceitado. – Nós nos falamos... – disse por fim, levantando-me da cadeira e seguindo com o papel em mãos na direção do professor.

Deus, Camila, você só arruma pra sua cabeça, huh? Não aprendeu a dizer não?!

Ao passar pela carteira de Dinah, a garota me fitou com os olhos estreitos, negando com a cabeça. Ah, se ela ao menos soubesse a besteira que eu havia acabado de fazer, eu nem imagino qual seria a sua reação...

Deixei o exercício sobre a pilha de papéis à mesa e lancei um último olhar às meninas, antes de passar pela porta indicando num gesto que as esperaria no dormitório. Ellen havia terminado a atividade com antecedência e agora nos restava um bom tempo até que o próximo intervalo começasse.

Pelos corredores, eu chequei meu celular mais uma vez, procurando por qualquer tipo de resposta de Lauren nele. Distraída, e percebendo que não havia nada de novo ali, eu passei a fuçar o aparelho com desinteresse, sem deixar de caminhar.

 Subindo às escadarias de acesso aos quartos, eu finalmente ergui os olhos do visor e me surpreendi quando, de repente, cruzei com os olhos verdes dela, parada a apenas alguns metros de mim, próxima à porta do meu dormitório.

 

Lauren POV.

Era como não ter mais controle algum do meu próprio corpo.

Como se eu já não tivesse perdido isso desde o primeiro dia em que preguei os olhos na garota, pensei angustiada. De fato, controle perto de Camila era algo que eu já não possuía há muito tempo. Mas agora, justamente depois de ter percebido o que eu realmente sentia por ela, ter noção disso era ainda pior.

A mais nova nada mais fizera além de simplesmente aparecer ao pé da escadaria e meu coração já fez o favor de saltar ridiculamente dentro do meu peito. Que brincadeira seria essa, agora? A cada vez que Camila surgisse em meu campo de visão, eu teria um ataque cardíaco?!

- Lauren. – ela soltou surpresa assim que me viu e de repente eu já não sabia mais como agir perto dela.

Recomponha-se, idiota.

- Oi. – respondi com simplicidade, finalmente desencostando-me da parede atrás de mim e escondendo as mãos nos bolsos da jaqueta escura. Descer os olhos por todo o seu corpo, nesse momento, foi inevitável. – Já fazia um tempo que eu não te via de uniforme... – comentei e ela sorriu o que poderia ser o sorriso mais infernalmente lindo do mundo, negando com a cabeça em seguida.

- Como está seu irmão? – questionou sem avisos e eu paralisei novamente no lugar.

Eu sei. Ela esperava por respostas minhas, mas eu não podia negar que falar de Chris ainda era um pouco delicado e recente pra mim. Ela pareceu notar minha reação e abriu a boca a ponto de dizer algo com o semblante assustado, mas eu a cortei antes que pudesse falar.

- Ele está bem. Está em casa. – contei e ela pareceu relaxar momentaneamente. – Ainda vai precisar fazer muita fisioterapia, mas... Vai ficar tudo bem. Eu espero... – terminei num sussurro e procurei sorrir, sem parecer tão triste quanto eu realmente me sentia.

- Eu tenho certeza que vai... – ela respondeu no mesmo tom e aproximou-se mais um passo, deixando apenas alguns centímetros de distância entre nós duas.

- Desculpa por não ter respondido mais nenhuma mensagem sua. De novo... – pedi baixinho, com os olhos pregados no chão. – Eu não queria te atrapalhar durante essa semana de aulas...

- Você sabe que não atrapalha. – ela interveio e eu ergui o rosto novamente para fitá-la.

Droga, eu sentia a falta dela.

- Mesmo assim... – pude dizer num fio de voz, presa no tom cálido e castanho do seu olhar preocupado. – Me desculpa... – pedi mais uma vez e a vi assentir lentamente.

- O que você vai fazer agora...? – perguntou com cautela e eu deslizei os dedos por meu cabelo.

- Meus pais concordaram em me deixar ficar na cidade até que Chris ficasse totalmente bem... Depois disso, o combinado seria eu voltar pra casa do meu avô, mas... – não precisei terminar e ela pareceu entender o que eu dizia. Em verdade, eu não fazia a mínima ideia do que faria dali em diante, já que em hipótese alguma eu me renderia aos desejos doentios de Clara de abrir mão de tudo o que eu tinha planejado pra mim mesma e simplesmente me mudar pra casa do meu avô. – Eu to ficando no apartamento da Mani, por enquanto... – continuei e ela sorriu sincera.

- Isso é ótimo... – respondeu baixinho e mordeu os lábios de forma inocente.

Merda, eu realmente sentia falta dela...

- Cami-

- Eu tenh-

Falamos ao mesmo tempo e Camila riu sem graça, me indicando com a cabeça.

- Pode falar.

- Não, fale você... – respondi sorrindo e a vi hesitar.

- É que... Eu tenho ido à enfermaria todos os dias por sua causa... – meu coração errou uma batida e minha expressão caiu. – Não! Não por isso, eu... Eu fui atrás de Nicolas. Pra saber notícias suas! – ela rapidamente explicou e eu tive de liberar a respiração que por uma fração de segundos eu prendi. – Eu não tinha como saber de você se não fosse por ele. – continuou em tom de desculpas e eu neguei com a cabeça.

- Está tudo bem. Eu realmente não devia ter te deixad...

- Não, esqueça isso. – ela me interrompeu, procurando por minha mão direita. A ponta de seus dedos tocou a minha pele e foi como se uma verdadeira corrente elétrica passasse por todo meu corpo através do gesto. – Você já se desculpou... – disse por fim e deslizou os dedos pela minha palma, finalmente entrelaçando-os aos meus.

- Tudo bem... – manejei responder, distraída com seu toque macio. – O que você vai fazer esse fim de semana? – perguntei, procurando mudar de assunto.

- Ah... Eu acho que vou ficar em casa, com meus pais e Sofia. – respondeu e eu me dei conta de que aquele seria um dos poucos fins de semana que a garota de fato passaria com os pais nos últimos tempos.

Se eu fosse seguir a minha própria vontade, eu a chamaria pra ficar comigo. Mas eu não poderia ser tão egoísta a esse ponto. Por mais que Camila fosse, nesse momento delicado, a única que me faria ficar tranquila durante os próximos dias...

- Você vai poder matar as saudades deles, então... – procurei sorrir e ela deu de ombros, sorrindo com o canto dos lábios.

- É... Vou sim...

Nós ficamos os minutos seguintes em silêncio, apenas apreciando a presença uma da outra. Era curioso pensar que estar com Camila fosse absolutamente confortável. Tê-la deslizando o polegar sobre a minha mão numa carícia tímida tinha um efeito enorme em mim naquele momento.

O vibrar de seu celular quebrou o silêncio e ela o ergueu a altura dos olhos para enxergar o visor. Após ler o que quer que tivesse aparecido ali, ela o deixou de lado e voltou sua atenção a mim.

- O... O que era? – perguntei sem entender.

- Dinah e Ally estão me esperando nos jardins. – deu de ombro e continuou a me acariciar com seu polegar.

- Ei, vá com suas amigas. – me desvencilhei de seu toque, fazendo-a me olhar nos olhos. – É seu intervalo...

- Eu sei, mas... – ela pareceu confusa, mas não externou o que pensava. – Ahm. Ok, então... – respondeu por fim, sem parecer exatamente satisfeita com aquilo.

Não é como se eu não estivesse morrendo para passar tempo com ela, mas algo em mim dizia que me apegar daquela forma também não era o adequado no momento. Eu não poderia me apoiar em Camila para tudo e esquecer de como viver por mim mesma. Eu teria de lidar primeiro com meus problemas sozinha antes de acabar envolvendo-a neles assim...

- Eu prometo que entro em contato com você, tudo bem? – disse após alguns instantes.

- Você não precisa se sentir obrigada a isso, Lauren...

- O-o quê?! Eu não me sinto obrigada. – ergui uma das sobrancelhas para o que ela disse e a vi suspirar. – Por que tá dizendo isso agora?

- Eu só quis dizer que você tem todo o espaço do mundo, ok? Eu vou estar aqui quando você quiser conversar, mesmo que isso seja daqui a mais uma semana. – ela respondeu e, apesar do tom ameno, eu percebi sua voz tremular ao fazê-lo.

- Sei. – devolvi desconfiada até que seu aparelho vibrou novamente em suas mãos. – Ok, pode ir, antes que Hansen venha te buscar pelos cabelos... – disse, fazendo-a sorrir outra vez.

- Eu vou. Até mais, Lau-

No momento em que a garota adiantou-se, eu a segurei num reflexo pela nuca e avancei contra seus lábios. Seu rosto, no entanto, parecia não fazer o mesmo caminho que o meu, pois por uma fração de segundos eu não acabei beijando sua bochecha.

Ficou claro que eu ansiava beijar Camila na boca, quando a mais nova, por sua vez, se preparou para me beijar no rosto. De repente, eu me dei conta de que nós nunca havíamos passado por uma situação como aquela e que, de fato, nenhuma das duas sabia o que fazer naquele momento.

Eu já havia, sim, me despedido de Camila antes, mas não neste contexto, onde uma despedida física parecia ser exigida. Para qualquer outro par de pessoas, o gesto seria natural. Mas para nós, algo havia desandado. E eu havia sido a responsável por isso.

Eu só queria beijá-la, Deus. Como eu queria... Mas eu talvez tivesse me precipitado nisso...

- Desculpe. – pedi, retirando a mão de sua nuca no mesmo momento e afastando-me alguns centímetros. – Até mais, Camila... – completei num murmúrio, seguindo com os lábios à sua bochecha direita e beijando-a com carinho.

Camila não ousou mais encontrar meus olhos e eu só pude imaginar quão constrangida eu tinha a deixado. Estúpida...

Ela, então, murmurou um “até mais” e seguiu de volta pelo menos caminho em que veio. Eu suspirei pesadamente, largando o corpo contra a parede atrás de mim outra vez, e fechei os olhos.

Ficar perto dessa garota está te deixando louca, Jauregui.

E estava mesmo. Eu, definitivamente, não sabia mais como agir normalmente perto dela...

 

- Ei, nem pense em passar por mim e não falar comigo! – a voz de Joanna soou a alguns passos atrás de mim e eu me virei no corredor para encontrá-la parada ao lado de uma das alunas. A ruiva murmurou algo no ouvido da estudante e a mesma afastou-se imediatamente com um sorriso sugestivo nos lábios.

- Eu não vi que era você, me desculpe. – respondi distraída, vendo-a caminhar até mim. – Arrumou companhia? – perguntei assim que ela parou à minha frente, indicando com a cabeça a direção em que a aluna havia ido.

- Você sabe. – deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos da calça branca justa. – Não é nenhuma “Lauren Jauregui”, mas já que certas pessoas não me dão moral, eu não posso deixar de viver, huh?

- É claro. – ri de seu tom e a vi sorrir de volta.

- Afinal de contas, seus pais conseguiram te tirar do país? Não te vejo mais por aqui faz algum tempo. – Joanna perguntou e eu assenti cabisbaixa.

- Pois é... Quanto a isso... Nós ainda estamos tentando dar um jeito... – a respondi vagamente, olhando para longe.

- Ei. – ela me cutucou com o cotovelo. – Dessa vez eu realmente tenho um apartamento só meu, ok? Então, se você ainda estiver precisando de um teto pra dormir...

- Você conseguiu?! – perguntei genuinamente feliz por ela, vendo-a piscar.

- É claro que consegui. E ele é lindo. Você precisa conhecer, sinta-se convidada.

- Ah, pode acreditar que eu vou. – sorri abertamente, por um momento me esquecendo de tudo.

- Eu falo sério, Jauregui. – ela voltou no assunto, cruzando os braços sobre os seios. – Você sabe que pra você eu sempre estarei disponível... Uma ligação, e você pode ficar lá em casa o tempo que quiser... – eu apenas lhe sorri com o canto dos lábios, sem saber o que dizer, mas me sentindo realmente agradecida por dentro.

- Obrigada, Joanna, de verdade... Mas eu já estou passando uns dias na casa de Normani... Acho que ela vem me aguentando bem.

- Oh, eu imagino. – ela piscou novamente e eu ri. – Procure não sumir, tudo bem? – falou, agora tocando em meu braço. – Você realmente faz falta por aqui... Nicolas vive uma pilha de nervosos por sua causa e, bem... Nem comentarei da filhote Cabello.

- Ual. – ri em descrença. – “Filhote Cabello”. Ok...

- É, eu tive de inventar um apelido bem broxante pra ela, pra que todas as vezes que eu pensasse em encarar sua bunda, eu me lembrasse então de que ela não estava disponível. – eu não consegui conter a gargalhada dessa vez. – O quê? Você devia é me agradecer, ora!

- Obrigada, Joanna, obrigada. – a respondi, cessando aos poucos a minha risada. A ruiva então se aproximou, subindo agora a mão aos meus ombros, e me encarou nos olhos.

- Lembre-se da minha proposta, ok? Dessa vez, sem segundas intenções, prometo. – ergueu os braços em rendição. – Apenas a considere... Ninguém precisa passar por momentos difíceis sozinho... E eu garanto que entendo muito bem tudo pelo que você tá passando agora...

- Pode deixar. Vou ter isso em mente. – a respondi com sinceridade e me afastei. Ela piscou uma última vez, sorrindo largamente e dando um passo para trás. Com um último aceno, ela andou por seu caminho de volta à enfermaria e eu segui de volta pelo meu, em direção ao estacionamento do internato.

Alcançando meu carro, eu me sentei sobre o banco do motorista e coloquei a chave na ignição. Eu parei por um momento, me perguntando pra onde eu iria dali, e me dei conta de que na verdade eu já não tinha pra onde partir. Eu poderia voltar ao apartamento de Normani, é claro, mas a morena já havia aguentado o suficiente de mim durante toda aquela semana. Ir para “casa” era mais inviável ainda, já que lá eu corria o risco de encontrar Clara. Beber em algum bar da vida como da última vez seria ainda mais inapropriado. Eu com certeza não daria esse trabalho pra Normani outra vez.

Bufando audivelmente, eu encostei a testa sobre o volante e fechei meus olhos pela segunda vez naquela tarde.

Eu sentia falta de Chris.

Seu rosto era a primeira coisa que passava em minha mente durante os últimos dias sempre que eu cerrava os olhos. Era inevitável.

Desde que ele voltara pra casa, eu não havia tido coragem de conversar diretamente com ele. No quarto de hospital, nos havíamos nos falado pouco; uma palavra ou outra entre uma conversa com terceiros. Eu ainda não havia ficado sozinha com ele e existia um ótimo motivo pra isso. Eu tinha medo de descobrir o que ele pensava sobre tudo e de talvez me responsabilizar por sua situação.

Mas eu não podia negar que sentia a sua falta.

E sentia muita.

Bastou apenas uma fração de segundos para que eu me decidisse pelo que fazer e finalmente ligasse o carro.

Arrancando de primeira para fora do estacionamento, eu segui confiante ao endereço que eu conhecia melhor do que qualquer outro, rezando para que, quando eu chegasse lá, dona Clara não me esperasse com duas pedras na mão.

 

Camila POV.

Algo subitamente vibrou sob a palma da minha mão, mas a minha sonolência não permitiu que eu me importasse.

Àquela hora da madrugada, eu estava literalmente exausta. O resto das aulas de sexta-feira foi realmente puxado e Sofia demandando atenção assim que pus meus pés em casa no começo da noite somente ajudou para que, logo após o jantar, eu já estivesse um verdadeiro caco.

Eu mal lembrava que horas havia me deitado e muito menos me lembrava do momento em que havia pegado no sono. Por isso, agora, nem mesmo o vibrar de algo sob a minha mão poderia arrancar a minha atenção.

Foi quando depois de muita insistência, eu me dei conta de que o vibrar vinha diretamente do meu celular, já que eu dormira com ele em mãos a espera de um sinal de Lauren, e o atendi ainda de olhos fechados, levando-o à minha orelha com o máximo de rapidez que minha sonolência permitia.

- Alô...?

- Camila.

Não somente a voz de quem falava, mas principalmente o tom com que falava, me despertou de imediato.

- Lauren? – questionei afoita, me sentando sobre a cama num só pulo.

- O-onde você está...? – ela perguntou com a voz rouca, mas eu podia facilmente escutar o tom choroso nela.

- Eu estou em casa. O que aconteceu? – perguntei realmente aflita, sentindo um instinto de proteção imenso crescer em mim em relação à garota.

- Eu te acordei, não é? – ela perguntou parecendo infeliz e eu rapidamente neguei.

- É claro que não. Não. Eu estava esperando você me ligar. Me diz o que aconteceu, vai. Por favor. – pedi com cautela, segurando-me para não chamá-la de nada comprometedor; a voz arrastada e chorosa tornando a tarefa mais do que impossível. – Lauren, por favor... – insisti quando a vi ficar em silêncio e soluçar baixinho. Porra, ela ainda estava chorando... – Lauren...

- Eu preciso te ver, Camila... – ela soltou de repente. – Agora. Eu preciso de você agora...

Todo meu corpo arrepiou-se com a necessidade de mim que ela passava somente por seu tom de voz e eu não pude fazer nada além de concordar.

- Eu te encontro, Lauren. Diz onde você tá que eu te encontro. Vai ficar tudo bem, Lauren, vai ficar tudo bem... – insisti, ouvindo-a fungar ao fundo.

- Eu vou passar na sua casa agora e você vem comigo, ok?

- Ok. – respondi sem hesitar.

- Eu estou chegando aí. – disse num murmúrio e abruptamente desligou, deixando que um aperto forte em meu peito me amedrontasse.

- Lauren, puta que pariu! O que aconteceu com você, hein...? – questionei aflita para o nada, jogando o aparelho em qualquer canto e levantando-me do colchão.

Rapidamente me vesti da primeira peça de roupas que encontrei pela frente e com toda a cautela e cuidado existentes no mundo eu me esgueirei pela casa até chegar à porta da sala. Tudo estava absolutamente escuro, inclusive na rua, exceto pelo brilho dos faróis do carro de Lauren que agora aproximava-se dali.

Eu lancei um último olhar às escadas, orando internamente para que meus pais não dessem pela minha falta durante as próximas horas, e abri a porta lentamente, fechando-a em seguida atrás de mim assim que senti a brisa fria da madrugada bater contra meu rosto.

Girando com cuidado a chave na maçaneta, eu finalmente a tranquei e então corri até o carro da mais velha, abrindo a porta do passageiro e pulando para dentro do automóvel.

- O que aconteceu com você?! – perguntei antes mesmo de cumprimenta-la, virando-me de lado sobre o banco e pregando meus olhos em seu rosto, para analisá-la.

Seus olhos estavam extremamente inchados, vermelhos e ainda marejados. O rastro seco das lágrimas derramadas cobria as maçãs do seu rosto e seus lábios pareciam maiores, provavelmente também inchados, de tanto que a garota, imagino, os mordeu. O olhar era assustadoramente opaco e, apesar de olhar diretamente para mim, era como se ela não me visse.

Eu estremeci com a visão e engoli em seco, sem saber mais o que dizer para fazê-la desabafar comigo.

Uma de suas mãos apertou o volante e a outra posicionou a marcha. Seu rosto, então, virou-se para frente e ela vagarosamente deu a partida, saindo com o carro com o máximo de cuidado para não despertar os vizinhos e, principalmente, minha família.

Eu decidi não insistir mais, percebendo que ela não falaria tão cedo, e apenas a deixei me levar para onde ela quisesse, esperando pacientemente até que ela resolvesse se abrir comigo.

O caminho todo, então, fora feito em silêncio, até que eu finalmente reconheci a entrada do prédio de Normani. Lauren entrou com o carro no estacionamento, deixando-o parado no que parecia ser a vaga da amiga, e então o desligou.

Ainda quieta, ela retirou seu cinto e saiu de dentro do automóvel. Eu a imitei e então a segui obedientemente até o elevador de acesso aos apartamentos. Chegando ao de Normani, a mais velha girou as chaves que tinha na fechadura e relevou um apartamento completamente vazio e escuro. Eu imaginei que a morena realmente não estivesse lá, já que nem seu carro estava dentro do prédio.

Fechando a porta novamente atrás de nós, Lauren jogou as chaves sobre o sofá e apoiou as costas contra a madeira. Suas mãos foram diretamente ao seu rosto, cobrindo-o e me impedindo de ver o que ela fazia.

- Lauren... – chamei pacientemente, sem querer ser invasiva.

Nenhum movimento da garota veio em resposta e eu mordi os lábios em nervoso.  

- Lauren, por favor, fale comigo...

- Não... – ela de repente respondeu, tirando as mãos do rosto e dando um passo abrupto em minha direção. – Não vamos falar, só... Só... – sussurrou incerta, prendendo meu rosto entre suas mãos e fitando minha boca com a expressão contorcida em dor. – Só me deixe fazer isso... – soltou quase inaudivelmente e capturou meus lábios com os seus.  

Minha reação foi imediata e eu envolvi sua cintura com meus braços, fazendo-a colidir contra meu corpo. A falta, que agora eu me dava conta que sentia dela, era absurda demais para que eu me lembrasse de qualquer outra coisa no momento.

Sua língua invadiu minha boca em desespero e eu a suguei entre meus lábios com mais ânsia ainda, apertando os dedos contra a pele quente da mais velha contra mim.

Foi somente quando o gosto salgado inundou nossas bocas que eu me recordei do que realmente ocorria ali e procurei me afastar, empurrando-a gentilmente pelo quadril.

- Lauren... – murmurei contra seus lábios, sendo plenamente ignorada. – Lauren, pa-pare... – pedi, afastando-a com mais força.

- Não fale nada... – ela pediu, agarrando em minha nuca e trazendo meu rosto para ainda mais perto do seu.

- Você está chorando. – disse como se fosse óbvio, sentindo-a descer os lábios por meu pescoço. – Lauren. – chamei mais uma vez, quando ela decidiu beijar a região. – Lauren! – praticamente gritei quando ela enfim atingiu meu ponto de pulso e por uma fração de segundos eu tive medo de ceder. – Pare com isso, ok?! – pedi frustrada, finalmente conseguindo afastá-la de mim.

- Eu não quero falar, Camila. – ela respondeu parecendo mais frustrada ainda, levando uma das mãos aos cabelos e bufando. Em seu rosto, uma única lágrima escorria teimosa, deixando seus olhos que me fitavam em súplica. – Só me deixe fazer o que eu quero, Camila, por favor. – pediu, dando agora um passo de volta em minha direção. – Por favor... – sussurrou novamente, voltando a prender meu rosto entre suas mãos e colando nossas testas.

Eu não aguentava vê-la daquela maneira. A simples visão fazia meu peito apertar e explodir em mil pedaços. Eu queria ser capaz de privá-la da dor que ela estava sentindo, seja lá qual fosse, mas não daquela maneira. Não entregando-me pra que ela descontasse em algo que não a levaria a absolutamente nada. A conversa sim levaria e era isso o que ela precisava, de fato, fazer comigo. Conversar. Somente isso.

- Lauren, você não...

- Camila, por favor. – ela repetiu com veemência, fechando os olhos e deixando que mais uma lágrima escapasse por suas pálpebras fechadas. – Por favor... – tornou a dizer num fio de voz e eu suspirei pesadamente, sentindo-me absolutamente derrotada.

De que forma eu poderia recusar um pedido daqueles, meu Deus?!

- Ok... – a respondi num murmúrio e em menos de um segundo os seus lábios estavam novamente nos meus, dessa vez ainda mais agressivos e sedentos do que antes.

Suas mãos subiram diretamente por minha camiseta, alcançando meus seios e apertando-os com força entre seus dedos. Logo, foi impossível não suspirar em prazer, apesar de ainda estar receosa com tudo aquilo.

Seus pés começaram a se mover e então eu me vi sendo guiada até o conhecido quarto de hóspedes de Normani, onde Lauren provavelmente dormia naqueles dias. Ela desgrudou os lábios dos meus somente para empurrar-me com violência sobre a cama e, em seguida, escalar sobre mim.

Sua boca então voltou ao meu pescoço e eu revirei os olhos em deleite com a sensação, envolvendo seu quadril com minhas pernas e deslizando minhas mãos por suas costas. Seus lábios maltrataram a pele sensível sem dó, distribuindo mordidas e fortes chupões pela região. Assim, não demorou muito até que eu estivesse gemendo, com sérias dificuldades para controlar a minha respiração e gostando mais do que deveria de toda a agressividade que ela usava.

- Puta merda... – soltei completamente excitada, quando uma de suas pernas posicionou-se entre as minhas e pressionou meu centro; a região já encharcada praticamente clamando por contato.

Num só movimento rápido, Lauren arrancou a camiseta de meu corpo, deixando-me sobre ela completamente nua da cintura para cima, já que eu não havia me preocupado em vestir um sutiã. Sua boca em seguida foi certeira ao meu seio direito e sugou o mamilo sensível para seu interior. Eu gemi languidamente, arqueando todo meu corpo contra a mais velha, e inevitavelmente separei minhas pernas, livrando seu quadril delas.

- Porra, Lauren... – soltei fracamente, embrenhando minhas mãos por seus cabelos e pressionando seu rosto justamente contra meu peito. Sua língua então passou a trabalhar sobre o mamilo duro e, em seguida, eu pude sentir seus dentes ao redor dele, mordendo-o sem delicadeza alguma. – Caralho! – exclamei, deixando seus cabelos para agarrar no lençol às minhas costas com ainda mais força.

Ficava mais do que claro que depois dali, eu ficaria repleta de marcas por todo o corpo, não somente feitas pela boca de Lauren, como também por seus dedos, que passeavam por todos os lados, apertando-me e arranhando-me sem clemência alguma.

A mão que então deslizava por minha lateral, enterrando as unhas contra minha pele por todo o caminho, desceu decidida à barra da minha calça e a abaixou com pressa, levando consigo a minha calcinha.

Eu me ajeitei sobre a cama, ajudando-a a retirar a peça por completo de mim e, quando isso aconteceu, Lauren a jogou longe e voltou a avançar contra mim como um verdadeiro animal. O grito mudo, que escapou no momento em que ela voltou a me beijar e simplesmente penetrou-me com dois de seus dedos, ficou preso em minha garganta.

Sua língua passou a explorar todos os cantos possíveis da minha boca enquanto seus dedos fizeram o mesmo dentro de mim, atingindo sem aviso os pontos mais profundos que eu possuía.

Tornou-se impossível aguentar o prazer absurdo, que numa velocidade recorde formou-se em meu ventre, e ao mesmo tempo acompanhar o ritmo de Lauren, que agora me beijava como se eu fosse sua fonte de oxigênio.

Os gemidos já não paravam mais em minha garganta e, após algum tempo, eu tive de descolar a boca da sua para liberá-los, mais altos do que antes e tão guturais que eu mal me reconhecia.

- Puta que pariu, Lauren...! – xinguei, sentindo-a ir e vir com seus dedos dentro de mim numa velocidade insana, a ponto de mover meu corpo sobre a cama ao ritmo de suas estocadas. – Laaaauren...! – gemi manhosamente, agora chegando ao meu limite e cerrando os olhos com força.

 Seu rosto então afundou contra a curva do meu pescoço e eu pude sentir seu hálito quente bater contra a minha pele, ao mesmo tempo em que, num gesto totalmente impiedoso, seus dedos giraram dentro de mim e seu polegar judiou do nervo mais inchado.

Foi praticamente instantâneo.

Meu corpo arqueou-se, involuntário, contra o dela e minha cabeça curvou-se totalmente para trás, enquanto eu liberava o gemido mais longo e alto possível. Todo o prazer construído por meu corpo encontrou-se em meu centro e explodiu no orgasmo mais intenso que eu já havia tido. Meu corpo estremeceu de forma assustadora sob o dela e uma série de espasmos infinita me atingiu, enquanto eu me desfazia em seus dedos.

Com os olhos fortemente fechados, eu esperei pelo que pareceram eternidades até que meu corpo estivesse relaxado e finalmente me rendi, largando-o exausto sobre o colchão e abaixo da mais velha.

Eu senti quando o peso de seu corpo caiu sobre mim e seus dedos finalmente me deixaram. Seu rosto, no entanto, permaneceu escondido contra meu pescoço, assim como sua postura silenciosa, que não passou de um suspiro e outro sobre a minha pele, também descompassados.

Ela havia ficado quieta o tempo todo.

Nem uma palavra havia sido dito por Lauren.

Eu suspirei, ao me recordar da razão de estarmos ali, e coloquei um de meus braços sobre o seu quadril. Ela respirou profundamente, como se buscasse sentir minha essência ali, e entrelaçou uma das pernas à minha, aconchegando-se melhor sobre o meu corpo ainda fervente.

Eu a acolhi em meus braços, sentindo novamente a dor da agonia, de simplesmente não saber o que tanto a deixara infeliz, e beijei o topo de sua cabeça, iniciando uma carícia com a ponta dos dedos sobre seu braço.

Não demorou muito até que eu sentisse a lateral de meu pescoço molhada. Eu sabia que não era suor. O soluço repentino da garota me provou isso. Ela estava chorando novamente e eu me senti um nada sobre aquela cama, completamente incapaz por não tê-la ajudado em absolutamente nada.

- Eu estou aqui... – sussurrei contra sua testa, subindo uma das mãos aos seus cabelos e acariciando-os com carinho. – Eu estou aqui, Lauren... Shh... – pedi, esperando que ela simplesmente parasse de chorar.

Só pare de chorar, por favor...

- Shh, eu estou aqui, Lauren, estou aqui... – repeti mais uma vez, e respirei fundo, antes de me deixar levar pelo sentimento que me inundava desde a sua ligação. – Eu estou aqui, Lauren... Eu estou aqui, meu amor... 



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