"Cap. 83 - O funeral"
||2100 palavras||
Harry agora estava paralisado, não pelo feitiço, mas pelo choque.
— Vamos. — ele ouviu Snape dizer enquanto puxava Draco para fora da torre de astronomia.
Embora não soubesse se Draco realmente conseguiria matar Dumbledore, Harry não podia acreditar. Afinal, não fora Draco, mas Snape — Dumbledore confiava sua vida em Snape, mas agora o professor a havia tirado dele.
Sentindo um impulso forte de seguir Snape e atacá-lo, Harry atirou-se para a escada em espiral, descendo tão rápido que por pouco não tropeçava.
Haviam Comensais da Morte por todo o lado. Professores lutavam contra eles, assim como alguns alunos, incluindo Hermione, Ron, Pansy e Blaise que, ao encontrarem Harry, foram imediatamente ao seu encontro, mas ele não fez nada além de continuar correndo atrás de Snape.
Seguiu-o até onde o professor parou — a cabana de Hagrid — com outros Comensais da Morte, inclusive Draco, cujos olhos encaravam a casinha de Hagrid com puro terror.
O lugar estava em chamas.
Não, não podia perder Hagrid também, e Draco pensou exatamente isso, a julgar que o garoto correu em disparada até a casinha flamejante, mas Snape o puxou de volta de modo que Draco não pudesse sair ferido.
— Impedimenta! — berrou Harry, mas Snape bloqueou o feitiço. — Estupefaça!
Dessa vez, ele errou o alvo, e o feitiço quase atingiu Draco, o que não passou despercebido por Snape.
— Corra, Draco! — mandou Snape, e Draco, olhando para o namorado, ainda chocado com os recentes acontecimentos, saiu correndo, embora não quisesse deixá-lo lá.
— Cruc… — ofegou Harry, mas Snape repeliu o feitiço enquanto se aproximava. — Incarc… — aconteceu mais uma vez. — revide! — gritou. — Revide, seu covarde!
— Você me chamou de covarde, Potter? — gritou Snape. — Seu pai nunca me atacava, a não ser que fossem quatro contra um, que nome você daria a ele?
— Sectum… — começou a dizer o feitiço que vira há poucos dias no livro do Príncipe Mestiço, mas Snape bloqueou mais uma vez, embora seu rosto contivesse rastros de fúria, não do usual deboche.
— Você viraria as minhas invenções contra mim, como o nojento do seu pai, não é? Como se atreve a usar os meus feitiços contra mim? Eu sou o Príncipe Mestiço, Potter.
— NÃO. — berrou Harry.
O garoto caiu no gramado muito fraco. Snape chutou sua varinha para longe e desapareceu assim como ela.
— Harry… Harry, você está bem? Acorda…
Sentia seu corpo ser balançado de um lado por outro, então abriu os olhos e viu Hagrid inclinado em sua frente.
— Ah, Harry — suspirou o meio gigante. —, você está bem? Vi Comensais da Morte descerem correndo do castelo. Minha casa estava pegando fogo, ainda bem que consegui apagar porque Canino estava trancado lá dentro. Mas o que diabos Snape estava fazendo no meio deles?
— Hagrid…. — gemeu Harry.
— Ele estava perseguindo eles? Ele…
— Ele... Hagrid, ele matou…
— Matou?! — gritou Hagrid. — Snape matou? Do que você está falando, Harry?
— Dumbledore. Snape matou... Dumbledore. Está morto. Snape o matou…
— Não diz isso. — censurou-o Hagrid, pálido. – Snape matar Dumbledore... não seja idiota, Harry. De onde tirou essa ideia?
— Vi acontecer.
— Não pode ter visto.
— Vi, Hagrid.
E foi aí que Hagrid percebeu que a voz de Harry não transparecia nada além da verdade.
Hagrid hesitou, mas logo percebeu, então se levantou com prontidão, e Harry jurou ver uma lágrima escorrendo por sua bochecha e sumindo no meio de sua densa barba. Ele começou a soluçar, e, se ele não parasse, Harry começaria também, por isso tinha de agir.
— Onde ele está? — sussurrou Hagrid. — Dumbledore. Onde? Onde Snape...
— Ele deve estar no pé da torre de astronomia. — Harry se levantou, segurando no braço de Hagrid de modo que este pudesse acompanhá-lo. — Quer vê-lo? Vamos.
Eles caminharam, se aproximando da fachada do castelo, sob ao qual pairava a Marca Negra. Alunos se aproximavam dali, formando um aglomerado.
Fechou os olhos, tendo certeza que Hagrid o guiaria, mas se viu forçado a abrir quando ouviu o meio-gigante lamentar-se de dor.
Harry ajoelhou-se ao lado do corpo do diretor, cujos olhos estavam fechados, poderia muito bem estar dormindo, se não fosse pelo estranho ângulo de seus braços e pernas. Ele não poderia-o mais ajudá-lo, não teria mais com quem falar e caçar as Horcruxes. Era apenas um corpo, uma dor, e uma lembrança.
Harry, assim, olhou para o chão e viu algo que tinha se esquecido completamente.
O medalhão estava aberto, tal a força do impacto deste com o chão. Harry sabia que algo não era certo, porque, além do horror e choque, Harry conseguiu perceber que havia um pergaminho dobrado e encaixado dentro do objeto.
Ao Lorde das Trevas
Sei que há muito estarei morto quando ler isto, mas quero que saiba que fui eu quem descobriu o seu segredo. Roubei a Horcrux verdadeira e pretendo destruí-la assim que puder.
Enfrento a morte na esperança de que, quando você encontrar um adversário à altura, terá se tornado outra vez mortal.
R.A.B.
O ódio foi o único sentimento que importou naquele momento. Dumbledore havia sofrido bebendo aquela poção para aquilo não ser uma Horcrux, não havia adiantado em nada. Nada.
Amassando o papel, Harry sentiu seus olhos queimarem, ouviu murmúrios às suas costas, os lamentos repletos de dor de Hagrid, o uivo de Canino ao longe, e Fawkes, a fênix, piando melodicamente céu acima.
— Vem cá, Harry… — ouviu uma voz atrás de si.
— Não. — disse.
— Você não pode ficar aí, Harry... vem…
— Não.
Não suportava ficar longe do corpo de Dumbledore, ele não queria, não queria ir a lugar nenhum.
— Harry — disse outra voz. —, vamos.
Sem pensar, mas seguro de que deveria fazer, ele levantou ao sentir uma mão mais quente que a trêmula de Hagrid envolvê-lo. Só foi perceber pelo cheiro tão familiar de flores que era Draco quem o levava quando eles saíram do aglomerado de pessoas.
— Draco, você está bem? — perguntou Harry de repente, enquanto andavam.
Draco nada respondeu, apenas continuou andando assim que engoliu em seco.
— Draco… — continuou.
— Estou — disse ele em voz alta. —, estou bem. Um pouco chocado, mas… estou bem.
— Snape… — gemeu Harry. — Eu não sabia, eu pensei… eu sabia que ele iria te ajudar, não fazer o trabalho por você. Pensei que ele estava do lado do Dumbledore, pensei que ele iria criar alguma estratégia para deixar Dumbledore vivo… pensei…
— Eu também. — a voz de Draco tremeu um pouco, e ele mordeu os lábios. — Por favor, não cobre Snape. Eu que devia ter feito.
— Não…
— Você não entende. Snape esteve do lado de Dumbledore. Tenho suspeitas que seja um agente duplo e...
— Se ele fosse realmente um agente duplo, ele não teria matado Dumbledore. — disse Harry.
— Mas Snape me protegeu hoje à noite. Os Comensais queriam me levar de volta a Voldemort, mas Snape disse que não, ele disse que eu tinha que ficar aqui. — Draco se inclinou, então sussurrou: — Disse que é para eu te levar num lugar mais seguro. Para eu te proteger.
— Snape não falaria isso. Ele me odeia.
Draco suspirou e fez menção de discordar, mas eles já estavam em frente à ala hospitalar, e encontraram uma pequena aglomeração de pessoas ao redor de um leito onde Gui estava deitado — ele havia sido atacado por Greyback, mas felizmente estava vivo.
Lá estavam Profª McGonagall, Ron, Hermione, Luna, Blaise, Pansy, Tonks, Sirius — em sua forma animaga — e Lupin, e todos levantaram quando Draco e Harry chegaram.
Harry não soube como conseguiu contar que Snape tinha traído a todos e ainda matado Dumbledore — embora Draco não tivesse deixado sua teoria em silêncio, o que não adiantou em nada —, mas ele soube que nunca vira a Profª McGonagall tão péssima. Além disso, Harry contou sobre todas as aulas que teve com Dumbledore, e mostrou a falsa Horcrux, mas quando ele leu a mensagem escrita em voz alta, e mencionou o tal de R.A.B., Sirius latiu, e todos souberam que eles deveriam conversar sobre isso mais tarde, porque Sirius parecia saber quem era.
Os exames e as aulas foram suspensos. Houve um lindo funeral às margens do Lago Negro, onde muita gente chorou sobre o túmulo, muita gente conversou com o corpo de Dumbledore, e Harry, que queria conversar com Sirius sobre R.A.B., viu aquele momento uma ótima oportunidade para conversar não com o padrinho, mas com seus amigos Ron, Hermione, Blaise, Pansy e Draco, porque ele agora havia tomado a decisão de que precisava fazer algo sério.
Quando já havia se passado muito tempo, Harry levou seus amigos para um lugar mais afastado, para que eles pudessem conversar.
— Olhem — ele disse, olhando para o rosto coberto de tristeza e curiosidade deles. —, Dumbledore não está mais conosco, eu sei — (Draco abaixou a cabeça). —, então descobri que eu tenho que continuar sozinho.
Vendo a curiosidade e a confusão no olhar dos cinco, ele acrescentou:
— Não vou voltar à Hogwarts porque, antes de morrer, Dumbledore me passou uma missão: caçar as Horcruxes. Ainda há quatro delas por aí, pelo que eu saiba. Vou falar com Sirius para saber o que ele sabe sobre R.A.B., então vou destruí-las; assim será apenas eu e Voldemort.
Permaneceu-se um silêncio. Então Hermione roumpeu-o:
— Estaremos lá. Acompanharemos você, Harry.
— O quê? Não.
— Sim. — enfatizou Ron. — Todos nós. — ele olhou para o trio de prata, ansioso, mas seu sorriso murchou ao ver a expressão na cara deles. — O que foi?
— Não podemos. — explicou Blaise. — Nem eu, nem Pansy, e muito menos Draco. Nossos pais, vocês sabem, são muito rigorosos, saberão que não estaremos aqui, principalmente o de Draco que, muito provavelmente, estará de volta à casa dele.
— Mas ainda vamos ajudar vocês. — acrescentou Pansy depressa. — Devem ter Horcruxes em Hogwarts, não deve? Vamos caçá-las, também, embora dentro de Hogwarts, não lá fora. Quais são elas, você sabe, Harry?
Os cinco olharam para ele.
— Algumas. Tem o medalhão de Slytherin, que é assim como esse. — Harry ergueu o medalhão falso que segurava. — Tem a taça de Hufflepuff, e alguma coisa de Ravenclaw. Nagini, a cobra de Voldemort, é outra, mas estou mais focado nos objetos por enquanto.
— Como destrói?
A pergunta de Ron atingiu-o em cheio.
— Não sei, acho que qualquer feitiço, mas não tenho certeza.
Por um segundo, os olhares de Harry e Draco se encontraram. Pensavam na mesma coisa.
— Draco.
— Está tudo bem. — apressou-se a dizer ele que, para o espanto de Harry, sorria um pouquinho. Ron, Blaise, Hermione e Pansy perceberam que eles queriam ficar sozinhos, então se afastaram. — Vamos nos separar de novo, mas é por uma boa causa. Depois que tudo isso acabar nós vamos voltar, e nada mais vai poder fazer a gente ficar longe um do outro de novo.
Com o olhar um pouco infeliz de Harry, Draco continuou:
— Lembra o que você me disse esse ano, quando estávamos no banheiro? “Não vamos nos separar, só se for para salvar a vida um do outro. Mas não vai ser para sempre”, então, chegou a hora. Vamos ficar bem, ok?
Draco beijou-o calmamente, então se afastaram, Harry agora permitiu-se sorrir um pouco, o que deixou Draco mais aliviado.
— Se isso te deixa mais tranquilo — continuou o garoto. —, lembre-se de que você tem o Mapa do Maroto, então se alguma coisa acontecer em Hogwarts, você vai ficar sabendo. Eu bem que queria ter um mapa dos lugares que você vai…
— Draco…
— … porque eu estou um pouco preocupado, sabe…
— Draco…
— … mas tenho certeza de que tudo vai dar bem…
— Draco!
Os dois se calaram na mesma hora, até Harry dizer:
— Eu vou ficar bem.
Com um sorriso no rosto, Draco disse, sentindo o coração se esquentar:
— Vou sentir sua falta.
— Não vou partir agora. — Harry enrugou a testa, sorrindo. — Ainda tem o casamento do Gui e da Fleur. Não sei se você vai poder ir, é claro, mas seria legal.
— Minha mãe vai deixar. — ele disse. — Vamos todos tomar muito cuidado, é claro, porque a vida não é justa com a gente. Mas minha mãe é literalmente a salvadora da minha vida. Eu faria de tudo por ela.
E então, apesar do longo caminho sombrio à frente, Harry ainda tinha esperanças. Sua mão segurou a falsa Horcrux com mais força, e a outra foi parar no rosto de Draco, que foi beijado mais uma vez, sentindo um ânimo crescendo dentro de si ao pensar que ainda restava um tempo antes de se separarem novamente, e que tudo que se passaria seria apenas para eles ficarem juntos de novo, mas para sempre.
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