"Cap. 90 - Eternidade"
||2200 palavras||
Quando tudo desapareceu, foi inacreditável ainda sentir o chão. Mas não era o gramado frio da floresta, mas um chão duro.
Fazia silêncio, e Harry, sem saber em como conseguia se mover, levantou-se.
O lugar em que estava era como uma névoa, tudo era braco e grande, parecia um palácio, parecia também com King’s Cross.
Mas o que mais o chocou foi ver Dumbledore caminhando até ele. E eles conversaram sobre o porquê de Harry na verdade não ter morrido — porque Harry, de fato, era a sétima Horcrux, a Horcrux que Voldemort nunca teve intenção de criar, mas ele fez, e aquilo estava marcado na cicatriz em forma de raio na testa dele.
Dumbledore sorriu quando ele deu fim na conversa, e o diretor sumiu, se juntando à névoa, e foi quase imediatamente quando Harry sentiu-se cair de novo, mas não cair no chão, cair no gramado onde havia supostamente morrido, ao invés.
Manteve os olhos fechados, sabendo que deveria se fingir de morto, mas seu coração foi à boca quando ele ouviu Voldemort dizer.
— Você. Examine-o. Me diga se está morto.
Pela gravidade que o coração do garoto martelava contra o peito, ele teve certeza que, seja lá qual Comensal fosse examiná-lo, ele saberia na hora.
Mas mãos mais leves que ele esperava tocaram seu rosto delicadamente, ergueram sua pálpebra, e pressionou seu peito.
Os cabelos da mulher tampavam seu rosto, de modo que ninguém pudesse vê-lo se mexer.
— Draco está vivo? Está no castelo?
Ele mal pôde ouvir, mas como os lábios dela roçavam em sua orelha, o som foi pouco audível.
— Está. — sussurrou ele.
A mulher se levantou na mesma hora, suspirando.
— Está morto. — anunciou Narcisa Malfoy para os Comensais.
Em meio aos vivas, Harry conseguiu ouvir Hagrid lamentar-se alto e dolorosamente, e Voldemort teve de conter a comemoração.
— Vamos ao castelo lhes mostrar o que restou do seu herói. — disse. — Você o carrega, Hagrid, todos poderão ver.
Grossas lágrimas choveram sobre Harry quando ele sentiu as enormes mas gentis mãos de Hagrid carregarem-o, aninhando-o como um bebê nos braços. E ele pôde ouvir todos caminhando de volta ao castelo.
Houve silêncio nos jardins do castelo, Voldemort estava muito perto dele então ele não se atreveu a abrir os olhos.
Passando pelos destroços do castelo, Lorde Voldemort, acompanhado por centenas de Comensais da Morte, apareceu. Estudantes e professores foram aparecendo, erguendo as cabeças, e, logo atrás, e o coração de Draco deu uma cambalhota, estava a figura do gigantesco Hagrid, que carregava alguém nos braços. Comensais davam gritos de alegria.
— NÃO!
Professora McGonagall deu um berro terrível, um berro que eles nunca ouviram ela dar antes. Draco, que estava em frente às portas do que sobrara do saguão de entrada, esticou a cabeça para ver o que estava acontecendo mais à frente. Não, não poderia ser…
— Harry Potter… — exclamou Voldemort. — está morto!
FLASHBACK ON
Fazia frio na Rua dos Alfeneiros, mas nenhuma das duas crianças, que por sua vez estavam frente a frente, sentiam as lufadas de vento, porque estando com a presença um do outro tornava tudo mais quentinho.
— Mas, mas e se acontecer alguma coisa de verdade? — perguntou o garoto loiro, enroscado num casacão.
— Não vai acontecer, Draco — riu o moreno, se balançando. —, não são varinhas de verdade, e a gente não vai falar feitiço algum. Afinal, eu não conheço nenhum!
Mais cedo, Harry Potter e Draco Malfoy haviam se encontrado, como sempre faziam desde que se conheceram no parque das Magnólias ali perto.
Eles achavam que nada podia separá-los, eles apenas tinham sete anos; faziam poucos dias desde que eles se viram, sem saber nada que escondia por trás dos rostos felizes, sem saber nada sobre o passado do outro, e sem nem saber ao menos o nome, mas apenas querendo se divertir porque, afinal, eles eram apenas crianças.
A preocupação de que seu pai poderia chegar a qualquer hora não estava presente na cabeça do pequeno Draco, porque ele agora estava preocupado com outra coisa — com a brincadeira que Harry havia acabado de inventar.
— Mesmo assim, eu não acho que é uma boa ideia, Harry.
— É um duelo de varinhas de brincadeirinha. — explicou Harry. — Vamos só pegar alguns gravetos do chão, que não tem magia, e lutar de mentirinha.
Harry foi ao chão na mesma hora, colhendo os melhores gravetos que encontrava. Quando achou dois perfeitos, sob o olhar menos preocupado de Draco, que permitiu-se sorrir, o garotinho se levantou, e estendeu uma das “varinhas de mentirinha” ao melhor amigo.
Eles se afastaram um pouquinho, os gravetos em punho, apontando um ao outro. Draco respirou profundamente antes de fazer um movimento inventado e pronunciar uma palavra inventada, mas que não fazia efeito nenhum. Harry pulou, e fez a mesma coisa.
E assim eles brincavam, embora não ocorresse feitiço algum. Eles riam-se das caretas dramáticas que faziam, e grunhiam de dor teatralmente, o que provocava risadas gostosas das duas crianças.
— Assustado, Harry? — perguntou Draco, quando fez um movimento com sua varinha na direção do amigo, que escapou do feitiço de mentira.
— Nem um pouco. — e falou uma palavra qualquer, representando um feitiço que nunca existiu.
Mas quando Draco “atacou”, ainda rindo da resposta que Harry havia dado a ele, Harry atirou-se no chão, gritando.
E ficou lá.
Isso foi o suficiente para que a cor no rosto de Draco sumisse. O garoto ofegou, botou as mãos na boca, lançou o graveto que segurava ao chão, e foi correndo na direção de Harry, se curvando a ele, horrorizado com a ideia de que tinha machucado seu único amigo.
— BU!
Draco deu três passos para trás quando Harry abriu os olhos e tremeu, produzindo tal som.
— Você me assustou, Harry! — Draco botou a mão no peito, ofegante, vendo Harry se rolando no chão de tanto rir. Então logo começou a rir também. — Eu pensei que tinha te matado!
— Desculpa. — disse Harry franzindo a testa e fazendo beicinho, ainda deitado no chão e olhando para Draco que chegou perto e botou ambas as mãos ao lado da cabeça de Harry, deixando ele preso entre os braços.
Dar um susto em seu amigo lhe custou algumas risadas contínuas, porque Draco, em contrapartida, começou a lhe dar cosquinhas em sua barriga, vendo Harry se contorcer de tanto rir.
— Para, para… — ele gaguejava, inclinando a cabeça e rindo muito. — Eu p-prometo… ah! — ele riu mais alto se contorcendo. — eu não faço mais, eu juro!
Ele parou de rir quando Draco relaxou a mão, mas Harry ainda arfava, recuperando o fôlego perdido.
Draco se deitou ao lado dele, rindo também, e eles ficaram olhando o céu banhado pelas nuvens. Eles enroscaram suas mãos, tocaram suas cabeças, e ficaram ali até o pôr-do-sol.
FLASHBACK OFF
Draco só esperava que Harry estivesse brincando de novo, queria vê-lo abrir os olhos e tremer, dizendo “BU! Te peguei de novo!”.
Mas essa hora nunca chegava.
— Vamos, Harry — gemeu Draco para si mesmo, ouvindo o patético discurso de Voldemort, que sorria em meio a tanto sofrimento. — Pare com brincadeira. Você prometeu que não faria de novo. Por favor, se mexa mais uma vez…
Harry continuou imóvel no colo de Hagrid, que chorava.
Dessa vez, era verdade, ele estava morto. Ou era o que ele pensava…
— … e agora está na hora de vocês tomarem posição! — exclamou Voldemort, ignorando todos os lamentos. — Venham se juntar a nós ou morrerão.
Draco não queria se mexer. Ele não queria dar nem um passo. Ele havia perdido Harry, e ele preferia morrer a se juntar a Voldemort, assim poderia ver Harry de novo…
— Draco.
Sua mãe o chamava ao meio do amontoado de Comensais. Mas Draco não queria se mexer.
— Draco, venha.
Com os olhos brilhando pelas lágrimas, Draco olhou ao redor, engoliu em seco com dificuldade e atravessou o pátio, caminhando até sua mãe.
Ele não queria ter ido, ele queria morrer, queria ficar com Harry para sempre, porque Harry estava morto, e uma vez naquele estado, Draco também quis estar. Ele não aguentava mais a dor em seu peito, o pesar nas costas, o rosto molhado, e ele não conseguiu olhar para Harry Potter quando chegou até à mãe, que abraçou o filho quando ele veio ao seu encontro.
Não estranhou com o fato de que os Comensais não estavam mais perseguindo-o, porque ele só queria chorar nos únicos braços vivos que conseguiam acalmá-lo — os braços de sua mãe.
— Draco — essa sussurrou baixinho, acariciando as costas dele, cujo rosto estava contorcido em dor. —, Draco, não é o que você está pensando que é.
Não estava entendendo o que sua mãe estava dizendo, mas o que importava?
— Draco, eu o examinei — ela continuou agora tão baixo que mal pôde ouvir sua própria voz. —, ele está vivo.
Continuou abraçado à mãe, sem acreditar no que havia ouvido. Ela estava dizendo a verdade, estava evidente em sua voz.
Então tudo pareceu melhor.
A mulher o entregou uma varinha que ele tinha certeza que era a de Harry, e acariciou a mão de Draco, num gesto mudo que significava muita coisa.
Neville foi mais corajoso. O garoto veio mancando, com o Chapéu Seletor em mãos, e enfrentou Voldemort verbalmente, dizendo que embora morto, Harry ainda estava com eles.
Mas foi no momento em que o rapaz tirou a espada de Godric Gryffindor do chapéu que Harry Potter saltou do colo de Hagrid. E Draco não viu outra alternativa senão correr pelo pátio e gritar o nome do menino que tanto amava, lançando a varinha dele para o dono, que a apanhou no ar e fez um feitiço na cobra.
Todos ficaram estáticos, os alunos e professores soltando gritos de alegria, e a batalha recomeçou, dessa vez, com tudo.
Dolohov foi nocauteado.
Molly matou Bellatrix.
Hagrid acabou com Macnair.
Percy derrubou o Ministro.
Gina e Luna atacavam juntas.
Neville matou Nagini com a espada de Godric Gryffindor.
E Lucius Malfoy foi pisoteado até a morte.
Quando sobrou apenas Voldemort, todos formaram um círculo em volta de Harry e ele, que não se atacavam, mas se rodeavam como se estivessem em uma luta corporal.
— Você não conseguirá me derrotar, Potter — exclamou Voldemort. — tenho a Varinha das Varinhas e ela responde verdadeiramente a mim!
— Você ainda não entendeu, não é? — gritou Harry. — Possuir a varinha não é suficiente. A Varinha das Varinhas reconheceu um novo senhor antes de Dumbledore morrer, alguém que jamais nunca botou a mão nela. O novo senhor tirou a varinha de Dumbledore sem perceber exatamente o que tinha feito. O verdadeiro senhor da Varinha das Varinhas é Draco Malfoy.
Um choque surgiu no rosto de Voldemort, assim como no de Draco, que observava tudo de longe com receio de perder Harry de verdade. Mas quando a varinha de Voldemort apontou ao peito de Draco, ele ofegou.
— Então — concluiu Voldemort. — vejo que terei de matar mais um...
— Não se atreva! — disse Harry entre os dentes, mas Voldemort não ligou.
— Avada Kedavra!
A maldição passou de relance a Draco, que escapou antes que pudesse ser atingido. Mas Harry não deixou isso quieto porque, quando Voldemort fez menção de repetir a maldição, Harry gritou "Expelliarmus!", e suas varinhas se ligaram.
Houve um clarão e um horrível estampido que lembrava canhão. O nó dos feitiços ia de um lado para o outro. Era uma tortura vê-los assim, frente a frente, porque apenas um sairia vivo, e Draco rezava para que fosse Harry.
Então Voldemort foi atingido pelo próprio feitiço, a Varinha das Varinhas voou e Harry a apanhou sem dificuldade alguma, encarando o corpo de Tom Riddle caindo no chão.
Demorou um minuto para todos perceberem o que havia acabado de acontecer, tanto que todos ficaram em choque, em total silêncio, então sobreveio gritos de alegria e todos começaram a correr e se abraçar.
Ron e Hermione vieram aos braços de Harry. Fred e George sambavam em volta do corpo de Voldemort. Gina e Luna acabaram se beijando pela primeira vez no meio dos vivas e Harry nunca vira McGonagall tão maluca de felicidade, chorando muito abraçada ao miúdo Flitwick, a quem ela carregava no colo.
Mas quando Draco chegou perto de Harry, tudo à volta deles pareceu parar. Seus olhares se encontraram, eles sentiram-se mais leves e Draco foi correndo na sua direção, pulando em cima de Harry e o abraçando.
Vencemos, esmagamos a fera, Potter é o Máximo,
Voldy já era, então agora vamos nos divertir à vera!
Pirraça, Fred e George passaram o resto da noite cantando esse hino que eles mesmos compuseram.
Embora a dor da perda de Sirius e Lupin quebrassem seu coração, a felicidade viria. Permaneceu-se paz.
Ainda naquele dia Harry entregou a Draco a Varinha das Varinhas.
— Não vou ficar com ela. — comunicou Draco. — Vou devolvê-la ao lugar de onde veio. Ela continuará lá, o poder pode ser rompido. E será o fim dela.
Draco olhou para Harry, que sorria orgulhoso, e eles se beijaram.
Voldemort estava morto, não existia mais o mal para separá-los, agora eles ficariam juntos por toda a eternidade.
{ Fim }
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.