I
John não era normalmente atraído por homens em geral, ao menos era o que ele pensava. Ironicamente, semanas após se mudar para seu novo apartamento, bastante aconchegante aliás, ele notou que o vizinho à frente do seu apartamento tinha hábitos estranhamente preocupantes e talvez, talvez John tenha se sentido um pouquinho, atraído por aquele homem. Estranhamente preocupante, sim, quem consegue tomar tantos litros de café e acabar com tantos cigarros em uma só semana? Watson era um médico e podia jurar que não fazia ideia de como aquele homem não possuía nenhum aparente problema de saúde, e sim, talvez ele tenha prestado um pouco de atenção no vizinho desde que o viu pela primeira vez. Se sentia como se estivesse o perseguindo, porém sabia, ou no mínimo afirmava para si mesmo de que o que fazia não era estranho ou motivo de preocupação para o outro, exceto quando o moreno o notava e acenava para si com um sorriso incrívelmente adorável, nesses momentos John se sentia estranhamente ridículo.
O doutor vivia normalmente, trabalhava como um louco no pronto-socorro e parecia ter tempo apenas para dormir e comer, normalmente até certo nível, tudo por causa daquele maldito moreno que parecia sempre estar naquela maldita varanda em meio as suas malditas suculentas e usando suas malditas camisas sociais que pareciam querer rasgar a qualquer segundo. Afinal o que era tão preocupante sobre aquele homem? John se sentia desconfortável com o fato de que sim, seu vizinho também não dispensava olhares, mas estaria sendo extremamente hipócrita se reclamasse sobre isso. O fato era, John não sabia nada sobre aquele homem, não entendia seus próprios sentimentos sobre aquele homem e muito menos o que fazer.
Um dia, parece que o universo havia conspirado para que o doutor tomasse uma atitude. Watson estava voltando para a casa após mais um dia cansativo de trabalho quando sentiu as patas de um cachorro nada pequeno sobre seu abdômen, o fazendo se curvar levemente assim que sentiu o impacto e finalmente acordar para a realidade. Ouviu o dono gritar aparentemente furioso para que o cachorro chamado Redbeard fosse até ele, soava bastante infantil para o cachorro de alguém adulto, até que notou quem de fato era o dono do cachorro.
— Perdão, as vezes parece que ele simplesmente não gosta de me obedecer. Venha aqui, garoto!
O destino é uma vadia, o médico pensou.
Não sabia o porquê, mas naquele dia o vizinho estava estranhamente mais adorável do que o normal. Parecia ter o dobro do peso com um blusão de lã azul marinho em baixo da jaqueta preta e com um cachecol de lã também azul enorme envolto em seu pescoço, suas mãos magras avermelhadas assim como suas bochechas e a ponta de seu nariz e o fato de que estava tremendo levemente de frio deixavam as coisas ainda mais difíceis.
— Sem problemas. Cachorros são assim mesmo, na maioria das vezes.
— Está tudo bem, Doutor...?
— Está, claro. Dr. Watson, mas me chame de John. Como sabe que sou médico? Não me lembro de ter te atendido.
Estendeu a mão para o moreno, que soltou uma das mãos da coleira receoso e o cumprimentou rapidamente, voltando a segurar o cachorro agitado.
— Eu não sabia, você me confirmou. Sou Sherlock, Sherlock Holmes. Você mora no bloco C, em frente ao meu, não?
— Sim, quinto andar.
— Claro. Bem, é um prazer conhecê-lo, John.
— O mesmo.
E esse foi o começo mais estranho entre todos os relacionamentos de Watson.
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