handporn.net
História O Peregrino - Capítulo XXII - História escrita por Goddess_Nariko - Spirit Fanfics e Histórias
  1. Spirit Fanfics >
  2. O Peregrino >
  3. Capítulo XXII

História O Peregrino - Capítulo XXII


Escrita por: Goddess_Nariko

Notas do Autor


Vigésimo segundo capítulo.
Boa leitura!

Capítulo 22 - Capítulo XXII


Fanfic / Fanfiction O Peregrino - Capítulo XXII

 

Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

 

Deixei que Sakura me guiasse pela casa até onde a tal Ginchiyo nos esperava. O jantar estava pronto e aparentemente servido.

 

Apesar de me sentir um pouco encabulado por estar usufruindo das acomodações da casa de uma pessoa estranha — e que claramente não gostava da minha presença ali —, eu estava faminto e não ia a lugar algum sem Sakura, tampouco a perderia de vista outra vez tão cedo.

 

Depois de voltarmos pelo mesmo corredor pelo qual entramos mais cedo, descobri-me de novo na sala de estar, com sua pouca mobília e uma ou outra tapeçaria pendurada na parede e também com a diferença de que dessa vez a mesa de madeira de cerejeira estava cheia de comida.

 

Havia taças de louça de arroz temperado com molho e pedaços de carne e pratos com kushiages, carnes fritas no espeto, e kushiyakis, que intercalavam carnes e vegetais grelhados no espeto. Bolinhos de onigiri decoravam o centro da mesa, ao lado de um prato de salmão grelhado com ervas; tudo parecia delicioso.

 

Na mesma sala de estar, iluminada pelas chamas cândidas das velas, também encontramos Ginchiyo, encurralada em um canto e me olhando desconfiadamente; sentia seus olhos acompanharem cada movimento que eu fazia, mas preferi manter silêncio quanto ao seu comportamento arisco.

 

Sakura, alheia à tensão entre nós dois, gesticulou para que eu me sentasse ao seu lado. O seu estado de espírito esfuziante ao menos amenizava o clima denso, disfarçando-o mas não o erradicando. Não, isso dizia respeito apenas a mim e àquela mulher.

 

Nós nos sentamos ao redor da mesa, sobre o tatame, e Sakura entregou-me uma tigela com donburi e um par de hashis. Comemos calmamente, presos ao silêncio que me atordoava. Enquanto nos saciávamos, percebi que Ginchiyo continuava a dardejar olhares ariscos na minha direção.

 

Em certo ponto, depois de haver acabado sua refeição, Sakura depositou sua tigela e hashis na mesa e cruzou as mãos no colo; através da minha visão periférica, percebi-a de repente ansiosa, talvez cônscia da aura estranha que nos cerceava. Como eu a conhecia como conhecia a palma da minha mão, conjecturei que tentaria romper o clima pesado com a tentativa de um diálogo civilizado.

 

— Ginchiyo-obaa-sama, eu te disse que o Sasuke-kun é meu companheiro de equipe? Nos formamos juntos na Academia e fomos colocados no mesmo time logo depois da graduação.

 

— Então, ele é o Sasuke de quem você tanto falou... — ela murmurou num timbre estranho. — O outro é o loiro cabeça-oca, certo?

 

— Naruto — Sakura aquiesceu com um sorriso tenso, a cada segundo ela parecia mais consciente de que havia assuntos inacabados entre aquela velha Kunoichi e eu; uma hostilidade tangível.

 

De súbito, a atenção dela estava focada completamente em mim:

 

 — Então, você é o último Uchiha, não? O único sobrevivente do genocídio, onze anos atrás.

 

Cerrei o meu punho involuntariamente e senti os olhos de Sakura sobre o meu rosto, perscrutando as emoções que o atravessavam. Poucas pessoas teriam coragem — ou seriam insanas — o bastante para mencionar a chacina do meu clã na minha presença.

 

Ginchiyo aparentemente era uma delas: ou tola o bastante ou não tinha, de fato, nada a perder.

 

— Sasuke-kun... — Sakura me chamou contida, mas Ginchiyo prosseguiu.

 

— Você sabia que eu já lutei contra um Uchiha quando ainda era muito jovem?

 

Suas mãos nodosas e manchadas pela idade buscaram na mesa por um copo pequeno de porcelana e derramaram nele, de um bule fumegante, um filete escaldante de chá de jasmim. Ative-me às suas palavras porque isso explicava, em parte, a sua hostilidade para comigo.

 

— Ele foi um adversário formidável, contratado especificamente para me capturar e me levar de volta para a minha vila.

 

Num estalo, percebi o significado de sua confissão:

 

— Você é uma Nukenin?

 

— Abandonei minha vila quando tinha dezessete anos — confirmou, sem remorsos. — Estava farta da vida Shinobi, farta das missões que jamais terminavam, dos amigos que perdi em batalhas. Por isso, sim, eu fugi — acenou com a cabeça afirmativamente e bebericou do chá; quando afastou a borda de porcelana dos lábios finos, voltou a relatar: — Eu já fui uma das Kunoichis mais temidas de Kirigakure.

 

Terminou balançando a cabeça e tamborilando um dedo na porcelana do copo que segurava.

 

— Mas isso tudo jamais me satisfez. Por isso, reneguei a minha vila e fui caçada incansavelmente por semanas, até vir parar aqui, em Taki. Só então que um membro do clã Uchiha foi contratado para me encontrar e para me capturar, viva ou morta não importava, eles só queriam que eu fosse punida no fim pela minha insubordinação.

“O nome dele era Daichi e era um exímio usuário de genjutsu com o seu Sharingan. Ele não demorou a me encontrar, seguindo os meus rastros e nós travamos uma exaustiva batalha até... — Seus olhos castanhos perderam foco de repente. — Que ele me derrotou.

 

— Ginchiyo-obaa-sama, você não me contou isso... — Sakura sussurrou incrédula.

 

Os olhos dela estavam focados em mim quando tomou coragem para continuar:

 

— Quando lutei com você mais cedo, quando vi o legado carmesim dos Uchiha no seu olho direito, eu me lembrei do dia em que lutamos e da forma como ele me deixou escapar depois de eu ter lhe suplicado que não me arrastasse de volta para aquele estilo de vida amaldiçoado.

 

— Ginchiyo-obaa-sama, eu sinto muito — Sakura sussurrou em meio ao silêncio doloroso que passou a coabitar os lapsos entre nós três.

 

— Essa montanha tem sido o meu esconderijo desde então — confirmou o que eu já suspeitava. — E é aqui que eu me escondo do resto do mundo desde aquele dia.

 

Depois de uma pausa e de relancear um olhar cúmplice para Sakura, pontuou:

 

— Bem, isso até eu ter topado com essa menina.

 

Sakura serviu um pouco de chá para si mesma e segurou o copo com força entre as pequenas mãos delicadas:

 

— Ginchiyo-obaa-sama me encontrou à beira do rio... Talvez uns trinta quilômetros rio abaixo do ponto onde caí. Eu estava quase sem chakra, tinha fraturado algumas costelas na queda e tive uma leve concussão.

 

— O trecho do rio que você caiu é conhecido pela sua correnteza violenta e pelos seus rochedos — a velha Kunoichi anuiu e eu senti uma raiva estranha se apoderar de mim.

 

— Só tive força suficiente para sair do rio num trecho mais calmo e mesmo assim, quando o fiz, precisei gastar o pouco de chakra que tinha no meu selo para curar meus ferimentos. Quando Ginchiyo-obaa-sama me encontrou, quase inconsciente na margem, só me lembro de apagar e de ter acordado aqui, três semanas depois.

“Como exauri as minhas reservas naturais de chakra e o meu selo Byakugō, o meu corpo se encontrava em um estado tão crítico que entrei em coma, e só despertei quando as minhas reservas, inclusive a do meu selo, estabilizaram os seus níveis de chakra. Ginchiyo-obaa-sama cuidou de mim esse tempo todo — disse-me com um sorriso suave.

 

— O que exatamente você estava investigando, Sakura? E como foi apanhada? — inquiri, controlando ao máximo meu tom de voz.

 

Ela se inclinou na direção da mesa e pegou um terceiro copo. Encheu-o até a borda com chá de jasmim e ofereceu-o a mim com recato. Eu o peguei de suas mãos e bebi um gole, embora tivesse os olhos pregados à silhueta de Sakura e ao que seus lábios me revelariam. Fui consumindo por essas perguntas desde o dia em que tomei conhecimento da sua missão.

 

— Alguns dias antes de desaparecer, eu me infiltrei na vila e passei a vigiar o fluxo de Shinobis que entravam e saíam, especificamente da mansão em que o Lorde Feudal vive. Depois de algum tempo, notei algumas... atividades suspeitas.

 

Soergui uma sobrancelha, indicando para que prosseguisse e ela o fez:

 

— Eu consegui a informação que o sensei queria ao interceptar um mensageiro que fazia a intermediação entre o Lorde Feudal e a organização criminosa da Higanbana — explicou-me. — Uma vez que furtei essa mensagem, obtive a informação e entendi o que planejavam, passei a ser perseguida por Shinobis de Takigakure, que àquela altura já haviam descoberto o meu verdadeiro propósito. Eu consegui despistá-los até as margens do rio Kitakamu, em um penhasco, mas foi lá que os membros da própria Higanbana me encurralaram.

“Eu informei o sensei acerca da minha situação através da Katsuyu-sama, mas não tive tempo de comunicar o que eles realmente queriam. Lutei contra eles e consegui ferir dois, um deles eu tenho certeza de que não resistiu aos ferimentos que lhe infligi, antes de constatar que eu não tinha chance, não contra todos juntos. Alguns deles... — ela mordeu o lábio, num gesto que delatou sua insegurança. — Alguns deles eram fortes demais.

“Por isso, tomei medidas drásticas e assumi todos os riscos. Soquei o penhasco com tanta força que ele desabou sob os meus pés e pulei no rio porque não me restavam alternativas. Apesar de não estar otimista quanto a conseguir vencer a correnteza ou mesmo sobreviver a queda, eu o fiz; então, deixei que o rio me arrastasse até um trecho mais calmo onde eu sabia que minhas chances de sobrevivência e fuga seriam maiores.

 

Sakura suspirou logo em seguida e acrescentou pausadamente:

 

— Só lamento ter deixado todos em Konoha tão preocupados e sem notícias minhas por tanto tempo.

 

— Eles confiaram que você estaria viva — disse-lhe no intuito de aplacar seu remorso. — Kakashi e Naruto sabem que você pode cuidar de si própria.

 

— Você também achou isso, Sasuke-kun?

 

Sua pergunta me pegou com a guarda baixa. Desviei o olhar, preferindo escondê-lo do seu semblante expectante, escondendo também as faces do meu rosto que, de repente, estavam quentes.

 

Desde o começo, eu quis dizer, eu acreditei que você estava viva, Sakura. Eu apenas sabia disso. Mas com uma espectadora como Ginchiyo, atenta à nossa conversação, não me senti à vontade para lhe confessar isso, portanto resmunguei uma resposta qualquer que a fez sorrir encabulada.

 

Suspirei discretamente. O que importava agora — tudo o que me importava — é que Sakura estivera segura todo esse tempo, em boas mãos, por mais difícil que fosse admitir. Apreciei o gesto daquela velha Kunoichi de olhar afiado que parecia nutrir um estranho ressentimento para comigo. Talvez porque enxergasse seu oponente Uchiha do passado em mim e me visse como uma ameaça ao seu refúgio.

 

— Obrigada pela refeição, Ginchiyo-obaa-sama — Sakura agradeceu-a ao unir as duas mãos e curvar-se em uma mesura.

 

Quando ela se levantou e fez menção de ajudar a tirar a louça suja para que fosse lavada, resolvi me levantar também. Não sabia se desejavam minha ajuda, mas a julgar pela forma como ambas engataram um diálogo que claramente me excluía, decidi sair um pouco e sentir o ar fresco e noturno.

 

Deslizei a porta de correr da frente e fui me sentar nos degraus de madeira da entrada. Havia uma velha lamparina pendurada em um alpendre da varanda, já que era uma noite escura e nuviosa com uma fina fatia de lua no céu; sem estrelas. Vagalumes zumbiam em torno dos lírios-aranha e estes curvavam-se sob o sussurro do vento noturno.

 

Fecheis os meus olhos e me permiti divagar por um momento. Estava descansado, de modo que sabia que passaria essa noite em claro, especificamente para manter vigília sobre Sakura. Eu não tinha certeza de quanto tempo permaneceríamos com Ginchiyo, tampouco quanto nos restava até que ou a Higanbana descobrisse o nosso paradeiro ou eu mesmo me forçasse a cumprir a minha missão de levá-la em segurança até Konoha. Talvez aguardasse uns dois ou três dias para que Sakura se recuperasse por completo.

 

Senti a brisa noturna no rosto antes de ouvir os passos abafados de Sakura nas tábuas da varanda, despertando-me dos meus devaneios. Sabia que era ela porque reconheci o seu perfume. Ela se sentou ao meu lado no primeiro dos degraus e hesitantemente estendeu a mão para tocar o meu cabelo. Seus dedos não pareciam mais familiarizados ao comprimento ou mesmo ao corte, o estranhamento era perceptível no seu toque.

 

— Seu cabelo cresceu bastante — comentou com um sorriso, ainda acariciando uma mecha do meu cabelo; tombou o semblante para me olhar de um ângulo novo: — Está tão diferente da última vez em que o vi.

 

 — Não faz tanto tempo assim.

 

Murmurei e não entendi a razão: eu, mais do que ninguém, sabia como havia sido doloroso — mas necessário — cada minuto afastado de Sakura, Naruto e até mesmo de Kakashi. Eu não tinha mais nada no mundo para me apegar, mais ninguém. Só aqueles três que, estranhamente, me bastavam.

 

— Foram três anos, Sasuke-kun — Sakura contrapôs e afastou a mão que afagava meu cabelo até então. — Bem, mais do que isso, na verdade...

 

Depois de um suspiro, ela prosseguiu, como se murmurasse consigo mesma:

 

— Todos estão seguindo com as suas vidas na vila. Não é estranho? — riu secamente, sem realmente ter a intenção. — Naruto casado com a Hinata, Shikamaru e Temari-san noivos, Ino e Sai noivos também... Chouji está namorando a Karui, aquela Kunoichi de Kumo. Kiba anda flertando com uma garota que adora gatos e o Shino declarou que quer ser sensei na Academia, olhar pelas novas gerações que hão de vir. Kakashi-sensei é um bom Hokage, Kurenai-sensei se aposentou e a pequena Mirai cresce a cada dia; elas visitam o túmulo do Asuma-sensei frequentemente.

“Já faz muito tempo, Sasuke-kun — disse-me e só então eu entendi o sentido dúbio de suas palavras.

 

Não podia contestá-la. De fato, desde que nos graduamos na Academia e desde que o Time 7 entrou na minha vida, já haviam se passado muitos anos. Olhar para onde cada um de nós havia chegado, ver o que cada um de nós havia conquistado era estranho. Quase todos os noves novatos com exceção de mim. Eu ainda não havia construído uma vida nem mesmo nada de que pudesse me orgulhar.

 

Nesses últimos três anos, tudo o que fiz foi me penitenciar pelos meus pecados e descobrir o mundo, descobrir a mim mesmo. Eu havia estagnado no tempo; não conquistei nada e não construí nada desde a noite do massacre. Muito pelo contrário: apenas tentei destruir tudo o que eu julguei como uma ameaça aos meus objetivos. Caí tão fundo que por pouco não tirei a vida do meu único amigo e da única garota que eu... Que eu já amei.

 

Suspirei fundo e fitei a silhueta de Sakura, seu perfil mal iluminado pela lua ou mesmo pela chama gasta da lamparina. Eu queria poder estender a mão e tocá-la com a mesma desinibição com a qual ela me tocava. Eu queria tomá-la para mim, reivindicar toda a felicidade que me prometeu naquela noite. Eu queria tantas coisas de Sakura — com Sakura —, mas ainda receava torná-las minhas.

 

Sakura tombou o rosto para trás e me permitiu ter um vislumbre dos seus olhos soturnos, perdidos na noite vasta e escura.

 

— Como você se imagina daqui a alguns anos? — perguntou-me, agora se inclinando totalmente para trás e apoiando-se nas palmas das mãos.

 

Sua pergunta me desarmou completamente. Eu... ainda não sabia a resposta. Sempre pensei no meu futuro como algo misterioso, incerto. Antes, eu só tive o meu passado para me apoiar, não tinha sonhos e era movido por uma única ambição: vingança. No fim, como a própria Sakura previu, ela não me trouxe nada benéfico; tirou-me o último membro da minha família e também por um tempo a minha sanidade.

 

Mesmo agora, eu não tinha ideia de que sonhos alimentaria — do que deveria alimentar. Não tive sonhos desde a noite do massacre. Quando parti de Konoha, meus objetivos pareciam tão bem definidos, mas agora que estava aqui, diante dela... Como poderia estender a mão e reivindicá-la tão egoisticamente depois de tudo o que ela sofreu por minha causa?

 

Pensei que o fato de haver aceitado o braço protético significasse que eu estava pronto, que eu já podia me perdoar e seguir em frente. Mas seria justo arrastar Sakura comigo para o meu futuro incerto? Ela merecia muito mais do que eu podia oferecer no momento.

 

— Sasuke-kun.

 

Sakura me chamou e eu a fitei. Sem que notasse, ela havia se aproximado perigosamente de mim. Tornou a estender sua mão, mas dessa vez tocou-me na face e meu único reflexo foi enrijecer, incerto entre detê-la e me render a ela.

 

— Não se culpe mais pelo que houve no passado — sussurrou cândida; seu hálito doce soprava sobre a minha pele, seus olhos claros devoravam meus pensamentos. — Já passou. Não há mais razão para se martirizar desse jeito.

 

— Pensei que tivesse me dito uma vez que era difícil dizer o que eu estava pensando — murmurei secamente e Sakura crispou seu sobrecenho delicado.

 

— Às vezes, tenho esses momentos de epifania. Como agora: sei que não estou enganada e sei que você está remoendo o passado. Conheço a sua expressão quando faz isso.

 

— Não está enganada — respondi e fechei os meus olhos por um breve momento, por fim cedendo à sua carícia e baixando a minha mão.

 

— Você não está muito diferente da última vez em que a vi — provoquei-a com um meio sorriso e tive o prazer de vê-la enrubescer; sua mão no meu rosto não se moveu, por outro lado.

 

Sakura inflou um pouco as bochechas, da forma como fazia sempre que se sentia contrariada ou desafiada. Seu olhar fugidio, que desencontrava o meu, tampouco escondia o seu constrangimento.

 

— É, eu sei que o Sasuke-kun ainda deve me considerar bem irritante, não é?

 

E absurda e irresistivelmente linda. Tão minha quanto eu era dela. Mas não lhe contei isso.

 

Quando estendi meu braço direito na sua direção, acredito que ela entendeu o que eu pretendia, pois sustentou seu olhar no meu no instante em que meus dedos tocaram sua testa. Sakura tocou o exato local assim que me afastei.

 

— Por que está sempre tocando a minha testa assim, Sasuke-kun?

 

Sorri com ternura para ela:

 

— Eu te contarei algum dia, mas não agora. Antes, quero saber exatamente o que você descobriu a respeito da ligação do Lorde Feudal com a Higanbana.

 

Sakura suspirou e se ajeitou, sentando um pouco mais longe de mim. Senti falta do calor que emanava do seu corpo, do seu toque, mas não me manifestei sobre isso.

 

— Eu não quis revelar na presença de Ginchiyo-obaa-sama, mas o que eu descobri, Sasuke-kun, é muito grave e pode colocar tanto Konoha quanto as outras nações em perigo.

 

Depois de uma pausa, continuou:

 

— Você com certeza deve ter visto o quanto a nossa tecnologia avançou desde o fim da guerra. Se antes os conflitos e a hostilidade entre as nações representavam empecilhos para esses progressos, com a paz entre os países, foi só uma questão de tempo até que essas melhorias tecnológicas eclodissem. Você, Sasuke-kun, e o Naruto são provas vivas disso. Sem a tecnologia que tornou quase tudo possível no campo da medicina, Tsunade-sama jamais teria conseguido desenvolver os seus braços protéticos com base em células do Shodaime Hokage.

 

— Isso eu sei — aquiesci, franzindo meu cenho porque não entendia onde Sakura pretendia chegar. — Mas o que a tecnologia tem a ver com a ligação de Takigakure com uma organização criminosa?

 

— Tudo, Sasuke-kun — anuiu, sombria. — A tecnologia que tem sido desenvolvida não tem trazido apenas benefícios, mas também males. Soube que essa tecnologia pretende ser empregada para fins militares também, ou seja...

 

— Em Shinobis — completei sua frase, compreendendo aos poucos o seu ponto. — Mas isso ainda não explica por que tanto alarde — pontuei.

 

Foi então que Sakura me surpreendeu:

 

— O alarde, Sasuke-kun, é porque eu descobri que o Lorde Feudal pretende envolver as bijūs nisso.

 

— As Bijūs?! — ecoei num timbre mais agudo. — Todas as cinco nações se comprometeram, ao término da guerra, de não voltar a interferir com as bijūs. Especialmente depois de tantas pessoas haverem morrido durante o nascimento da Jūbi.

 

— O Lorde Feudal está disposto a quebrar esse acordo — ela sussurrou e sua voz sombria confundiu-se com o sopro do vento. — Ele está disposto a recapturar as bijūs e estudar uma forma de usar os seus chakras junto à nova tecnologia para fins militares. Em tempos de outro Lorde Feudal, Takigakure chegou a ter o seu Jinchūriki, o que é incomum se considerarmos que as bijūs estavam em posse das cinco grandes nações.

 

— Eu me lembro disso — concordei, recordando-me dos detalhes de sua captura; teria sido uma Kunoichi? A Jinchūriki do Nanabi? — De qualquer forma, Naruto ficará puto quando souber disso — observei.

 

Ele que mais havia lutado para que as bijūs não fossem mais tratadas como espólios de guerra depois que tudo acabou. Ele que mais queria que elas fossem deixadas em paz por todas as nações.

 

— Precisamos detê-los, Sasuke-kun — Sakura murmurou, firmando seu tom de voz. — O Lorde Feudal pretende usar a Higanbana para recapturá-las e ele tem o apoio de algumas nações menores, velado, é claro, mas é algo que devemos levar em consideração.

 

— Se a Higanbana for destruída, seus planos serão frustrados — decidi-me, já traçando meus próximos objetivos: levar Sakura em segurança para Konoha e, então, eliminar cada membro dessa organização.

 

— O Lorde Feudal também precisa ser coagido a desistir de tentar usar as bijūs. Talvez, se pudéssemos atrair a Higanbana e o Lorde Feudal para uma armadilha e, com isso, provar a ligação de Taki com a organização... Uma vez que a conexão seja provada, isso abalaria as relações diplomáticas de Takigakure com todas as demais nações. Assim, o Lorde Feudal não teria escolha a não ser se render.

 

Franzi o sobrecenho, confuso. Sim, o plano de Sakura era bom e fazia sentido, mas eu, em momento algum, pretendia envolvê-la em um conflito aberto com a Higanbana. Não tão cedo. Talvez nunca. Ela ainda estava um pouco debilitada e eu não permitiria que se arriscasse dessa forma. Não se eu pudesse impedir.

 

Ela deve ter notado a resolução tomando forma no meu semblante porque apartou os lábios num ofego e eu vi um lampejo de raiva nos seus olhos.

 

— Sasuke-kun, você não está pensando em...

 

Levantei-me num rompante e a encarei de cima, resoluto.

 

— Sakura, eu serei claro e só direi isso uma vez, portanto me escute: eu não pretendo te envolver nisso, Kakashi me incumbiu dessa missão e apenas eu vou cumpri-la. Pretendo te levar em segurança até Konoha primeiro, depois eu mesmo lidarei com o Lorde Feudal e com a Higanbana. Você não está inclusa nisso, entendeu?

 

Por um momento, ela me olhou cética, como se estivesse diante de um fantasma. Então, levantou-se abruptamente e franziu as sobrancelhas, apertando os olhos de tal modo que eles se tornaram duas frestas verdejantes e furiosas.

 

— Se acha que eu vou ficar sentada enquanto resolve tudo, Sasuke-kun, está muito enganado! — despejou bravia, encostando um dedo acusador no meu peito. — Se acha que vai me deixar em Konoha como um peso morto... — sacudiu a cabeça, furiosa. — Se ao menos pensa que conseguirá se livrar de mim... Bem, assista-me! — desafiou-me, empurrando seu dedo contra o meu peito antes de girar sobre os próprios calcanhares e desaparecer dentro da casa com um “espero que tenha uma boa noite, Sasuke-kun”! bastante irritado.

 

Eu recuperei o equilíbrio que perdi no momento em que ela me empurrou, mas não a tempo de evitar bater a base da minha coluna na balaustrada da varanda, obrigando-me a me agarrar a ela e a uma viga para não despencar no chão. Fiquei olhando para a porta de correr, cerrada, pela qual ela passara como um furacão, tão cético quanto irritado.

 

E eu não conhecia o temperamento volátil de Sakura?

 

Mas esperava que ela, em algum momento — quando essa fúria efêmera tiver minguado — percebesse que eu estava fazendo isso porque a queria segura, longe de tudo o que pudesse feri-la. Não me importava magoá-la se isso significasse tê-la fora de perigo.

 

Pensei tê-la perdido uma vez. Eu não suportaria experimentar esse sentimento desesperador de novo.

 

⊱❊⊰

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

 

Os dias na prisão se tornaram semanas e a cada dia eu me sentia um pouco mais louco de tédio. Não havia nada para se fazer, nada para preencher os lapsos na minha mente, a não ser o meu remorso e os demônios do meu passado.

 

Em certo dia, porém, fui surpreendido pela visita oportuna de Naruto. Tal como Kakashi, ele não obteve autorização para entrar na minha cela, de forma que conversamos divisados por aquela mesma janela gradeada.

 

— Sasuke? Você tá legal, cara?

 

Eu me levantei do colchão e caminhei até a porta; apenas os olhos azuis e a cabeleira dourada de Naruto eram visíveis sob a iluminação fraca das lâmpadas no corredor. Quando ele sorriu, um terceiro item acrescentou-se à lista.

 

— Ah, que bom que não estão te maltratando aqui. Isso já é um alívio e tanto.

 

Agarrei uma grade com força, ficando no mesmo nível dos seus olhos.

 

— Isso não faz diferença, Naruto. Eu estou enlouquecendo nesse lugar! — disparei num misto de raiva e frustração. — Você precisa me tirar daqui! Não me importo com o julgamento, mas essa cela está me deixando louco!

 

— Eu sei, eu sei, Sasuke. Acredite em mim, eu posso imaginar o quanto está sendo difícil, mas você precisa ser um pouco mais paciente, tá legal? Eu estou fazendo tudo o que eu posso para convencer os Kages de que você mudou. O Kakashi-sensei e o Gaara estão me apoiando, convencer o Tsuchikage-ojii-chan e a Mizukage será mais fácil, eu acredito. Eu tenho muito crédito com eles!

 

Encostei minha testa no metal frio da porta e grunhi.

 

— Isso ainda deixa o Raikage no seu caminho.

 

— É — Naruto anuiu, mas quando o olhei ele continuava sorrindo como um idiota. — Mas o Tio Polvo está me ajudando a tentar convencer o cabeça dura do irmão dele de que você não é mais uma ameaça a ninguém. Você se surpreenderia, Sasuke-teme, se soubesse quantas pessoas querem que você seja inocentado.

 

Ponderei suas palavras e me senti... estranho. Quase esperançoso.

 

— Por que o Killer Bee se daria ao trabalho de me ajudar? Eu tentei capturá-lo para a Akatsuki uma vez.

 

— Fique tranquilo, Sasuke, o Tio Polvo é meu amigo e ele acredita em mim quando eu digo que você é um novo cara. Além disso, a Tsunade-obaa-chan também parece ter muita influência sobre o Kira A e todos estão fazendo tudo o que podem!

 

Naruto alargou aquele sorriso estupidamente auspicioso dele. Era inacreditável a forma como ele conseguia convencer as pessoas, influenciá-las de uma maneira positiva, enchê-las... de esperança e compaixão.

 

— Nós vamos conseguir te inocentar, Sasuke, confie em nós, ‘ttebayo!

 

Voltei a pressionar a minha testa contra o ferro frio e duro, mas mais para esconder um sorriso de Naruto do que qualquer outra coisa.

 

— Não vamos desistir de você, Sasuke. Nós não vamos, custe o que custar! — reforçou com um tom mais sério dessa vez.

 

Em todo o tempo, não deixei de me perguntar se eu valia tanto esforço, tanto sacrifício assim. Para Naruto e para Sakura, eu valia e isso, de alguma forma, era o bastante.

 

Era o suficiente para me manter lutando também.

 

 


Notas Finais


Estou de férias enfim! Então, vou tentar atualizar O Peregrino, pelo menos, dia sim, dia não.
Muito obrigada pela leitura e até o próximo capítulo!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...