A última vez em que Sasuke pisou no chão de Konoha foi no dia em que Naruto se nomeou Hokage.
Isso já tinha três anos.
O Uchiha não sentia que havia um motivo real para retornar à vila, e junto de sua missão de redenção criou-se uma perfeita desculpa para que ele permanecesse sozinho, vagando em busca daquilo que poderia dar algum sentido para sua vida.
Em tese não tinha algo que o prendia à vila. Não havia se casado ou tido filhos, e ainda batalhava para se livrar de muitos de seus piores pesadelos. Apesar de ter tido sua casa reconstruída quando toda a vila se reergueu após a guerra, não havia algo ali que fosse íntimo de Sasuke. Porque ele não tinha planejado nada.
Sakura, apesar de suas obrigações como responsável principal pelo hospital, eventualmente voltava ao lar do Uchiha para não deixar a poeira se acumular. Com o passar dos anos ela aprendeu a aceitar que seu amor não seria correspondido, e a guerra mostrou tudo que poderia ter perdido se continuasse se apegando a algo que não iria florescer. Claro que seu coração continuou dolorido por um longo tempo, mas aquilo tudo estava amenizando.
Havia a amizade e o carinho que nutria por seus companheiros de time, e a distância de Sasuke criava aquela sensação de que talvez ele nunca tivesse voltado de verdade, então por isso a Haruno ainda ia até sua casa e tentava deixá-la o mais confortável possível. Ficaria feliz se o Uchiha retornasse.
Mas isso não aconteceu.
O ciclo dos dias continuou, e o tempo em sua passagem prosseguiu. Os dias viraram noites, que por sua vez retornaram as manhãs, e os meses seguiram. O inverno veio com seus ventos gélidos e a neve que se acumulou nos telhados das casas, e a primavera ganhou forças tempos depois trazendo o florescer das árvores e um clima que combinava muito mais com Konoha do que aquele nevado.
O verão surgiu no início de julho, e o sol logo tornou a ganhar espaço no céu azulado da vila oculta da folha, acompanhado do vento abafado.
Naruto franziu o cenho ao se vestir, sentindo o peso de sua capa sobre os ombros; não apenas pela responsabilidade de ser Hokage, mas também pela sensação abafada que o tomou. Ele se olhou no espelho e franziu o cenho.
Ele agora morava em um apartamento mais bem organizado do que o que lhe abrigou durante a infância e adolescência, mas para o Hokage parecia ser demais, uma vez que ele passava mais tempo no escritório do que pelos cômodos do local.
Naruto também não havia se casado, ele passou muito tempo após a guerra tentando entender a si mesmo. Quando tudo foi restabelecido, e Sasuke absolvido de seus crimes, o Uzumaki teve de vê-lo ir embora novamente, e mais uma vez não tinha nada que o fizesse ficar. Já não havia aquele completo ódio que amaldiçoou os Uchiha, mas a sensação de Sasuke ir embora era dolorida.
Naruto o viu novamente no momento em que foi nomeado como o Sétimo, e além de um cumprimento distante e uma conversa curta, o Uchiha partiu novamente. E há três anos não retornava.
Um suspiro discreto deixou os lábios do Nanadaime; ele cumprimentou com um aceno e um sorriso falso algumas pessoas que lhe chamavam ao longe conforme seguia para a torre. Seu trabalho era extenso e interminável, e apesar de sentir que o mundo pesava em seus ombros assim como o castigo de Atlas, Naruto continuava.
E naqueles dias estava sendo uma perfeita desculpa para sua mente agitada.
Desde sua última batalha no Vale do Fim, e durante a permanência de Sasuke na prisão e posterior julgamento, Naruto entendeu o que vinha rondando seu peito e destoava do sentimento fraternal que tinha pelo Uchiha. Obviamente que o mundo ninja não estava preparado para lidar com o fato de que o Hokage havia se apaixonado por outro homem, mas diante de toda a história de vida do Uzumaki, ele não se preocupava com isso.
Quer dizer, também não anunciava o fato. Naruto apenas entendeu que deveria ser daquela maneira, e diante de tanta coisa que aconteceu, deixou assim. Sua história com Sasuke ia além daquela vida, e no momento em que estavam em paz não seria Naruto a quebrar isso. Sendo assim, deixou como estava.
Não era tão simples, mas seguiu da maneira como ia fluindo. Naruto se afundou em trabalho nos três anos seguintes, e seu peito parecia cada vez mais pressionado com o que sentia; e não somente aquele potente amor.
Ele estava com saudades de Sasuke. Suas últimas lembranças eram do momento em que perderam os braços, o Uchiha preso numa solitária fétida e escura demais para sustentar a sanidade de qualquer pessoa por muito tempo, e um julgamento demorado e expositivo que arrancou tudo de Sasuke e sabe-se lá o que devolveu junto de sua liberdade.
Naruto comemorou cada instante quando o amigo foi absolvido, mas toda aquela tensa situação lhe fez pensar sobre o que havia restado de Sasuke desde então. E não passou muito tempo até que ele deixasse a vila novamente.
Agora com três anos desde a última vez que retornara, Naruto se via perseguido por todos seus pensamentos e sentimentos conforme seguia para seu trabalho, e posteriormente avaliava e assinava os papéis que eram pertinentes.
Durante todos esses dias desde sua nomeação, Naruto deixou de lado o que sentia para se entregar a seu cargo e o que vinha de responsabilidade com ele – seu grande sonho. Foi conveniente lidar com tudo assim, mas a partir do momento em que aquele peso inteiro passava a pesar de tal maneira que ele não conseguia se concentrar em qualquer outra coisa sabia que estava no limite.
Na verdade Naruto estava no limite já havia bastante tempo, mas foi possível lidar com isso até aquele momento. Porque não era somente o verão que estava sufocando o irrequieto Hokage, mas sim saber que estava no dia vinte e três de julho. O peso era sempre maior naquele dia.
O aniversário de Sasuke.
Cada vez que o tempo voltava para o dia vinte e três de julho Naruto tinha certeza de que teria um colapso diante da ausência do Uchiha em Konoha... Em sua vida. E naquele terceiro vinte e três de julho desde a última vez que viu Sasuke, ele decidiu agir.
A capa em seus ombros pesava tanto que estava quase curvado diante da mesa, e se alguém lhe perguntasse qualquer coisa sobre os documentos que estava “analisando”, Naruto seria incapaz de explicar algo sobre eles. Esperava não ter assinado nada que não devesse.
Sua mente apenas voltava sempre e sempre para Sasuke. Ele tinha retornado, mas no coração de Naruto talvez não totalmente.
Vencer a maldição do ódio tinha sido o catalisador que libertou o Uchiha de um destino trágico e destrutivo, mas quem poderia realmente arrancar todas as lembranças de Sasuke até aquele momento? Ainda que ele tivesse superado os motivos que lhe destruiriam, as memórias não podiam ser removidas.
E isso preocupava Naruto, deixando ainda mais inflamado por ser justamente naquele dia.
Não queria mais esperar.
xXx
A pequena e independente vila ficava a algumas horas de Konoha.
Era parcialmente oculta por rochedos não muito altos de ambos os lados, e uma grande cachoeira nos limites de fronteira fornecia muita água para o local. Com o final da guerra e a paz instalada no Mundo Shinobi muitas dessas vilas permaneceram independentes, e na verdade se recusaram a ter grandes negócios com as grandes nações, já que muitos associavam a guerra aos próprios ninjas.
Ainda assim, esses mesmos não eram hostilizados caso passassem por ali. Alguns olhares desconfiados duravam mais tempo, mas como não se tinha histórico de problemas com os ninjas não havia algum tipo de restrição. Era um lugar tranquilo e próspero a sua maneira.
No ponto mais alto de lá havia um pequeno local de termas bem convidativas para as épocas mais amenas; um grande chafariz na praça central era a alegria das crianças que tentavam de tudo para aliviar o calor absurdo do verão. Vendedores em pequenas barracas ofereciam todo tipo de alimento, grãos e frutas, até mesmo carnes.
Do alto de uma árvore, Sasuke observava a movimentação. As costas descansavam no tronco e a perna direta estava esticada no galho que ocupava; se ainda tivesse um braço, estaria apoiado sobre a esquerda. Sasuke ainda sentia dor fantasma, mas fingia que não.
O olho esquerdo estava protegido de qualquer um pela franja grossa que ali caía, e ele observava a monotonia de todas aquelas pessoas, como se sua própria vida pudesse ser monótona daquela maneira. Será que seria melhor?
Sasuke pensava muito, mas nunca respondia seus próprios questionamentos. Tinha medo do que poderia dizer a si mesmo.
Ele já dizia muito a si próprio, mas se ignorava na mesma medida.
Ironicamente era a maneira de não ficar louco.
Desde que havia sido absolvido, Sasuke viajava tentando ver o mundo da mesma maneira que Itachi e buscar a própria redenção diante de tudo que tinha feito contra as pessoas e o mundo ninja em totalidade. A mistura de sentimentos em seu peito oscilava como a linha de um monitor cardíaco, mas a tendência do Uchiha era a de aceitar que tudo que havia causado não merecia ser perdoado.
Sasuke se cobrava por mais coisas do que aquelas que eram de sua total responsabilidade. Havia errado muito e ninguém negava isso, mas não aceitava que tinha sido vítima de uma mentira construída há anos antes de seu próprio nascimento e que durou até depois da morte de Itachi. As consequências de suas ações não eram de total culpa sua.
Konoha tinha muita culpa no destino do Uchiha, mas ele apenas associava isso a suas ações.
Então quando via aquela monotonia na vida de quem tinha a oportunidade de viver como aquelas pessoas da vila independente, sabia que estava muito longe de ser um pingo de sua realidade. Não havia como imaginar viver de tal maneira, era um tipo de privilégio que não existia no destino do Uchiha.
Então ele apenas observava.
Era de se esperar que Sasuke não desse qualquer tipo de atenção para datas como o próprio aniversário, então a única coisa que lhe vinha à mente naquele momento era o incômodo que o verão causava naquele dia. O vento abafado não ajudava em nada para alguém que vestia tantas peças e de comprimento extenso. O pingo de suor descia pela lateral do rosto, mas Sasuke não se importava.
Era um incômodo pouco importante.
O Uchiha estava apenas esperando a noite chegar para poder sair dali, seguindo para um próximo local. Sasuke evitava ficar muito tempo no mesmo lugar, principalmente depois de sentir que não fazia mais sentido continuar ali, a menos que houvesse alguma coisa que envolvesse suas pesquisas e estivesse diretamente ligado a ko-
Naruto.
A menos que estivesse ligado à Naruto.
A vila... Sasuke havia aprendido a respeitar Konoha e nutrir algum tipo de sentimento por ela baseado na visão de vida de Itachi, mas não se sentia completamente ligado ao lugar. Não era totalmente extremo, mas a mente de Sasuke era uma bagunça da qual ele não se atrevia a ir tão longe porque não sabia de que maneira poderia voltar disso.
Estava mais cansado do que admitiria.
Só queria paz.
- Sasuke.
O corpo retesou por um momento. Ele se virou para a figura de laranja parada a sua frente e não conseguiu reagir no instante, pois não esperava que Naruto simplesmente fosse aparecer e se reencontrar depois de três anos, repentinamente.
Estava sendo procurado?
- Você não esperava, não é? - E o sorriso de Naruto iluminou a escuridão que envolvia o Uchiha.
Em mãos ele tinha uma embalagem de papelão quadrada, e branca.
- O que está fazendo aqui?
- Ah, faz três anos que você não aparece na vila e eu não podia deixar passar três aniversários do meu melhor amigo.
O olhar de Sasuke caiu novamente para a embalagem nas mãos de Naruto, e o cheiro de morango surgiu entre eles. Era um bolo.
- Não fique com essa cara amarrada Sasuke, você merece comemorar seu aniversário.
- Hm.
O Uchiha se mexeu, dando espaço para Naruto. Enquanto se movia, o rosto ficou oculto pelo cabelo, mas o Uzumaki buscou o contato visual novamente, conseguindo mais uma vez sua atenção.
- Eu estava lá na sua nomeação.
- Sim, eu me lembro. Já faz três anos.
Um suspiro discreto abandonou os lábios do Uchiha. Ele não tinha realmente planos de retornar.
Ao menos não tão cedo.
Como se três anos fosse pouco tempo.
No entanto, para alguém que havia se acostumado com a dor, aquilo era normal.
- Você não ia voltar. - A face mais séria de Naruto era bastante peculiar. Apesar de todos os pesares, o loiro sempre fazia sorrir. Vê-lo sério era curioso, e de uma maneira não tão positiva. - Ia?
- Eu aprendi a não me dar sentenças permanentes. Eventualmente ia.
- Eventualmente... O que te incomoda tanto? Por que voltar é tão difícil?
Sasuke virou o rosto na direção de Naruto, mas ainda estava parcialmente oculto por ser do lado esquerdo. O rinnegan raramente via a luz do dia, mas naquele momento aconteceu. Naruto sentou a seu lado, mas na direção oposta, e quando não conseguiu ver o rosto de Sasuke levou a mão até a mecha grossa que ocultava o poder exposto e colocou para detrás da orelha, podendo então ver melhor a face do Uchiha.
Ele o acompanhou com o olhar, mas não impediu a ação. Desviou a atenção por um momento.
- Não faça isso. - O peito de Sasuke retumbou com força, lembrando-o de que estava vivo.
- Eu trouxe um bolo. - Naruto colocou a embalagem entre os dois. - Sei que não gosta de doce, mas é o seu aniversário, um pouco de açúcar não vai fazer mal.
Sasuke voltou a fitar a embalagem, mas não tomou alguma ação. Se não fosse pelo Modo Sennin, Naruto não teria lhe encontrado. Seria mais confortável.
- Eu vou embora hoje. Continuar minha missão.
No momento entre o vislumbre da movimentação da vila, Sasuke sentiu a mão alheia sobre a parte restante de seu braço esquerdo enquanto Naruto tentava virá-lo um tanto em sua direção. As ações por parte do Uzumaki não reconheciam tanta resistência, mas a seriedade do Uchiha poderia afastar qualquer um.
Desde que esse qualquer não fosse Naruto.
Assim como o Uzumaki, Sasuke também havia percebido seus próprios sentimentos, porém não os aceitando. Na verdade o Uchiha reprimia aquilo como se fosse o pior de todos os pecados, não apenas por Naruto ser o Hokage e toda aquela coisa social que os manteria afastados de qualquer maneira, mas diante de toda sua vida até aquele momento, Sasuke sabia que não podia estar a seu lado.
Ele era criminoso demais para afundar Naruto.
Não podia fazer isso.
- Por favor, Sasuke, não se reprima desse jeito. É só um bolo e hoje é seu aniversário. Não podemos esquecer tudo só por um momento?
...
Quando Sasuke percebeu, estava sentado próximo às termas, num espaço pouco mais fechado onde as pessoas não passavam e era suficiente para que Naruto pudesse enfim abrir a embalagem do bolo e mostrar que havia conseguido levar aquela preciosidade doce até ali sem destruir tudo. Tinha se lembrando de até mesmo levar uma faca e papel.
Faltava algo para beber, mas estar junto de Sasuke já era muito suficiente.
- O que você viu nesses últimos três anos de mais interessante? Viajar pelo mundo parece muito libertador.
- Quando você só vive de ódio durante toda a vida e consegue ver outra perspectiva, é interessante. Isso ficou mais claro.
Aquela maneira de Sasuke dizer as coisas parecia extremamente grosseira, mas Naruto entendia. Era difícil para o Uchiha se expressar completamente.
- Isso parece estranhamente bom. - A risada de Naruto era confortável de ouvir. - Tem te feito bem?
Sasuke meneou a cabeça. - Você sabe por que eu saí depois do julgamento.
O Nanadaime concordou. - Você precisava se encontrar e eu entendo isso. Era necessário depois de tudo que aconteceu.
- As pessoas desse lugar... Elas vivem em paz. - Sasuke mordeu um pedaço do bolo e ele estranhamente estava amargo em sua boca. Não que estivesse realmente estragado ou qualquer coisa do tipo, mas apenas não combinava com o Uchiha. - Parece bom.
- Konoha também vive em paz. Você deveria voltar mais vezes.
Não surpreendente Sasuke meneou a cabeça em negação.
- Eu não posso.
O sorriso de Naruto não desapareceu por completo, mas se tornou condescendente.
- Não pode por que ainda sente que deve algo por causa do passado, ou não pode por que está fugindo dos próprios sentimentos?
Sasuke fechou os olhos por um momento.
Ele sabia dos sentimentos de Naruto, e ainda que nunca tivesse vocalizado por completo, o Uzumaki também sabia que havia algo que batia forte no peito de Sasuke sobre si, ainda que não fosse dito. A amizade flertava com um amor tão intenso que causava vertigem.
Mas nenhum deles fazia qualquer coisa sobre isso. E quando o assunto vinha à tona, estava sempre acompanhado com faíscas de briga e nenhuma resolução.
- Escute a si mesmo Naruto, o que você diz é um absurdo.
- Essa opinião é só sua, e sabe disso.
- Você lutou demais para chegar onde está. – Sasuke baixou o guardanapo sem dar outra mordida no bolo, não havia nenhuma vontade em fazer aquilo. – Não destrua tudo desse jeito.
A cada palavra dita Naruto tinha ainda mais convicção de que Sasuke não tinha voltado. E o mais assustador era pensar que isso talvez jamais acontecesse.
- Eu penso em tudo todos os dias. Na vila, nos nossos amigos e senseis, no que aconteceu desde que nos conhecemos, e sei que infelizmente a perspectiva não é das melhores. – Sasuke sofria um pouco mais cada vez que percebia que Naruto deixava de acreditar em alguma coisa. Se dependesse de si mesmo jamais voltaria para Konoha, porque tinha certeza de que era a ruína do amigo. – Mas o que ninguém pode fazer é tirar isso de mim. Eu acredito nisso.
Sasuke tinha certeza de que o amigo era um tolo, mas não tinha forças para fazer nada sobre isso.
O quanto ele amava Naruto era inexplicável.
- Você não pode se esquecer de minha história. Nunca.
- Eu não esqueço, mas você tem certeza inabalável de que tem toda a culpa. Se acha que eu estou vendo as coisas de uma maneira distorcida, eu tenho certeza de que está fazendo o mesmo, talvez até pior.
Falar já não ia mais adiantar. Quando Naruto olhou dentro dos olhos de Sasuke, apesar de a franja ainda estar por detrás da orelha como tinha feito, percebeu que naquele momento o abismo entre os dois estava muito maior.
Não era sobre os sentimentos discutidos porque isso vinha à tona em algum momento quando estivessem sozinhos, mas sim porque Sasuke sempre fazia de tudo para ficar distante o quanto fosse possível. Era a maneira de sustentar sua zona de conforto.
- Sakura-chan cuida de sua casa toda semana, se quiser aparecer e ficar sozinho tem onde ficar. Não sei se é uma preocupação.
Quando o Uchiha inclinou levemente o rosto, o cabelo finalmente voltou a cair sobre sua Kekkei Genkai. – A reunião Kage está chegando. – A informação declarada dava certeza para Naruto que o Uchiha estava atrás de seus assuntos particulares, mas ainda cuidava da burocracia. De si, no caso.
- Sim, em dois meses. Você voltou antes?
- Eu sei daquilo que é pertinente.
Da burocracia.
Sasuke poderia fazer qualquer coisa pelo Hokage, mas e por Naruto?
Eles ainda eram a mesma pessoa? Ou tudo não passava de negócios?
- Ah. – Quando o céu se tornou laranja, a dor no peito do Uzumaki já era grande demais. Ele não podia suportar estar tão longe assim de Sasuke. Principalmente quando estava tão perto. – Você nunca me pediu nada, mas lá atrás eu jurei que ia atrás de você para te salvar daquele ódio, e dentro do que foi possível, aconteceu. E eu sei o que você sente Sasuke, então eu vou-
- Não vai. – O Uchiha o cortou antes que ficasse ainda mais insuportável. – Naruto, eu sei que você é pressionado dia após dia para se casar e ter filhos, e poder garantir que Konoha tenha um futuro na linhagem dos Hokages, isso já é suficiente para te ocupar. E você sabe muito bem o que as outras nações pensam sobre nós dois sermos da mesma vila.
Sasuke era mal visto por muitas pessoas no mundo ninja por conta de tudo e isso era um problema porque essas mesmas pessoas não queriam que seus entes queridos tivessem algum tipo de relação com o Uchiha – não era como se ele buscasse isso, mas a ideia era distorcida dessa maneira.
Mas independente do que fosse dito sobre isso, ele ainda era o segundo mais forte ninja do mundo e isso também era incontestável. Então ele sendo do mesmo lugar que o grande herói do mundo, era um imenso problema.
E isso porque como Naruto era o Hokage não havia a possibilidade de se afastar os dois, levando o Uzumaki – que sim tinha enorme reputação – para morar em outro lugar, diminuindo a força de Konoha. O mundo estava em paz, mas talvez nem tanto.
E a relação de amizade dos dois, ainda que parecesse estranha aos de fora já havia se mostrado muito forte e incontestável. Havia quem dizia que Sasuke trairia Naruto da maneira mais baixa para tentar tomar seu lugar de poder, e quem apenas ignorava o Uchiha e sua existência – o que ele preferia, inclusive.
Para Sasuke era cômodo passar invisível.
E, no entanto, quando acontecia alguma reunião Kage ele sempre estava lá para proteger Naruto de qualquer coisa que fosse, ignorando tudo para se focar em sua missão. Então quando tudo acabava e o Uzumaki estava de volta a Konoha, ele desaparecia.
Ele esteve presente na reunião poucos dias após a nomeação de Naruto, e então desapareceu novamente até aquele dia. Durante o período de adaptação, os Kages se comunicavam por pergaminhos e outros caminhos conforme necessidade. Mas estariam reunidos em breve, isso era inegável.
Precisavam reafirmar os papéis que assinaram para garantir que a paz continuasse sustentada.
Era assim que se fazia a manutenção da paz.
E Sasuke sempre aparecia.
Mas agora vendo como parecia distante, Naruto não tinha mais certeza.
- Você é quem é Sasuke. As pessoas podem dizer o que quiserem, mas eu te conheço e sei que dentro do seu peito tem muita coisa boa que você não permite que apareça. Interesses sempre vão existir.
- Você tem o hábito de tomar as decisões que podem destruir sua própria vida porque tem certeza de que é a melhor coisa que está fazendo. Nós dois sabemos disso.
O outro negou.
- Eu só queria passar o aniversário do meu melhor amigo junto com ele e saber se está bem, não colocar todos os problemas em jogo como se fosse o melhor momento de resolver tudo. – Ele olhou com tristeza para o bolo. – E só parece que deu tudo errado.
- O seu Modo Sábio é estressante e intrometido. – Sasuke tinha um problema com aquilo justamente por achar que Naruto o poderia rastrear independente de qualquer coisa. – E os pergaminhos também te ajudam nisso. Meu aniversário é só uma data como qualquer outra, uma lembrança que me faz perguntar onde eu deveria realmente estar.
Sasuke não vociferou a resposta. Ela era sempre negativa.
- Eu sou o seu Hokage. – A fala repentina de Naruto lhe chamou a atenção. Ele estava levemente cabisbaixo, evitando expor as próprias lágrimas. – E exijo que esteja em Konoha daqui dois meses para a reunião Kage.
Em um piscar de olhos ele não estava mais ali. Sasuke meneou a cabeça levemente.
Não demorou muito tempo para que seu coração se inundasse novamente com toda a melancolia que circundava sua existência. E ele a considerou patética naquele momento.
No entanto, sem ter tempo de reagir melhor sobre.
O corpo se curvou para a lateral e ele tossiu com força até quase perder o ar, tentando ser o mais discreto que a situação poderia permitir para evitar chamar qualquer atenção.
Quando terminou, tanto sua luva quanto o guardanapo com o pedaço de bolo estavam com manchas avermelhadas cada vez maiores.
Ele estava tossindo sangue.
Não poderia jamais retornar à Konoha.
Estou morrendo para recuperar a minha respiração
Oh, por que eu nunca aprendo?
Perdi minha confiança, embora tenha tentado mudar isso
Within Temptation – All I Need
Continua
Fim
Escrever é brincar de Deus
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