Parte narrada por Sebastian
Havia encontrado o tal lugar e chegando lá assumi minha verdadeira forma. A expressão de pavor nos rostos daqueles homens era hilario e suas tentativas inúteis em me matar, me divertiam ainda mais. Estraçalhei cada um deles em segudos, como se fossem formigas, deixei as paredes cobertas com o sangue daqueles insignificantes. Só me restava aquele homem que parecia ser a pessoa que controlava o lugar, foi o único que não ficou assustado com minha aparência horrenda. Ele avançava sem medo em minha direção com seu chicote. Eu sorria deixando minhas enormes presas expostas e assim se iniciava uma luta que durou por vários minutos. Ele tentava me acertar com o seu chicote,mas eu desviava a cada ataque. Admito que não foi tão fácil, pois o homem era muito insistente e suas investidas eram rápidas. Apelei para o meu poder demoníaco e o ataquei com um longo braço monstruoso, mas o maldito desviou. Avancei novamente, ele saltou para o alto e se posicionou atrás de mim, pronto pra me golpear com o maldito chicote, mas eu fui mais rápido: segurei um de seus braços e arranquei o chicote de sua mão e usei o mesmo para golpear o seu rosto. Finalmente ele desistira , agachou-se com a mão no lado esquerdo do rosto, contendo o sangue que escorria. Ele levanta a cabeça e me encara com ódio, seu olho esquerdo ganhou um belo corte.
Vasculhei as celas a procura de Junko, e assim que encontrei, voltei a minha forma humana, o mordomo. Junko estava inconsciente e pelo estado dela, qualquer um pensaria que ela estava morta. Tirei ela da cela a carregando cuidadosamente em meus braços. Beijei sua testa e sorria de canto, por dentro eu me sentia um pouco culpado por ter demorado a resgatá-la. Eu faria o meu melhor para que ela se recuperasse o mais rápido possível.
Parte narrada por Junko
Depois de ter apagado sem me lembrar de mais nada, acordei bem devagar, tendo novamente a sensação de estar deitada sobre algo macio como a minha cama. Abri meus olhos lentamente e mal pude crer: eu estava deitada na cama de meu quarto, no meio de todos os meus bichinhos de pelúcia e especialmente o meu preferido, eu estava em casa. Na minha testa tinha um pano molhado e meu braço estava com um curativo. Podia jurar que estava sonhando e fazia questão de abrir e fechar meus olhos várias vezes para ter certeza. Logo, vi Sebastian entrando com uma bandeja trazendo algo que eu não via a muito tempo: comida. Ele sorria de forma carismática como sempre, aquele sorriso de boas vindas que só ele podia oferecer.
- Que bom que acordou, jovem mestra. Eu fiz sopa para ajudar na sua recuperação. Vou serví-la.
Ele mergulhava a colher na sopa e depois colocava perto de minha boca e eu bebia o líquido quente e saboroso. Nunca gostei de sopa, mas naquele momento, aquilo era um verdadeiro manjar dos deuses pra mim.
- Sebastian... como? Como conseguiu me tirar daquele lugar?
- Foi trabalhoso, mas não pense nisso. O importante é que você está aqui e eu vou cuidar de tudo pra você.
- Meus pais... onde eles estão?
Sebastian ficou um pouco sério naquele momento, ficou calado por alguns segundos, com o olhar baixo.
- Sinto muito, mas eles não resistiram aos ferimentos daquela noite. Mas antes deles morrerem, passaram sua guarda pra mim.
- Então você... você é meu padrasto agora?
- Eu apenas continuo sendo um mordomo e tanto, mas você pode aceitar dessa outra maneira se quiser. Apenas lembre-se que estarei sempre às suas ordens, my lady.
- Gostaria de abraçá-lo agora, mas minhas condições não permitem que eu faça muita coisa.
- Por favor não faça esforços, precisa ficar na cama até que se recupere totalmente do resfriado e dos ferimentos.
Escutei o som da campainha e por algum motivo fiquei com um certo medo de ser aquelas pessoas daquele lugar que teriam me encontrado. Quando Sebastian estava saindo de perto de mim, agarrei seu braço com força e o olhei de maneira desesperada, o impedindo de deixar o quarto.
- Por favor não me deixe sozinha, tenho medo que sejam os sequestradores.
- Não se preocupe, é apenas o detetive e a filha dele, ele me falou que viria aqui conversar comigo. Ah, a filha dele tem a sua idade, sabia? Consegue tomar o resto da sopa sozinha?
- Sim, mas por favor não demore...
Ele fazia uma pequena reverência, concordando com minhas palavras. Tomei minha sopa, saboreando a mesma. Ainda não acreditava que estava em casa, esperava acordar a qualquer momento naquela cela horrível. A morte de meus pais não me afetou, eu gostava deles, mas a ambição que eles tinham fez com que deixássemos de ser uma família, eles eram praticamente meus empresários.
Depois de uns minutos, Sebastian voltava acompanhado de uma garota. Ela tinha cabelos brancos com alguns laços pretos enfeitando os mesmos, seus olhos eram da cor violeta e ela usava um vestido todo verde; e tinha uma expressão séria no rosto. Estranhamente, Sebastian a olhava com um pouco de desgosto, a olhava de cima, como se aquela presença o incomodasse, depois ele se retira me deixando a sós com a menina. Ela se aproximava de mim e se sentava perto da cama me observando mais de perto.
- Meus pêsames pelos seus pais. Você deve sentir muito a falta deles, né?- perguntava a garota olhando pra mim.
- Na verdade não, eles nunca gostaram de mim. Apenas me olhavam como um instrumento para ganharem mais dinheiro.
- Não diga essas coisas, no fundo eles deviam gostar muito de você. Eu me chamo Kirigiri Kyouko.
- Me chamo Junko Enoshima. Sabe, Kirigiri, não acho que exista alguém que goste verdadeiramente de mim.
Kirigiri ficou calada por um tempo como se entendesse o que eu queria dizer. Fechei meus olhos por um tempo e sentia a mão dela em minha testa, naquele instante pude sentir uma sensação boa pelo corpo, como se estivesse recebendo uma corrente de cura, mas logo senti uma leve ardência que aos poucos foi aumentado e me afastei da garota, um pouco assustada.
- Ei, o que está fazendo? Parecia que tinha uma panela de pressão encostada em mim! - me queixei a olhando desconfiada.
- Desculpa, mas eu não fiz nada. Só toquei sua testa para ver como estava a febre. Junko, podemos ser amigas?
- Amigas? Acho que sim, você parece ser legal.
Fiquei um tempo conversando com ela até que Sebastian entrou no quarto e avisou que o pai de Kirigiri estava à sua espera, então ela se despedia de mim e me desejava melhoras. Havia gostado dela, mas Sebastian parecia ter tido outra impressão, só não perguntei nada a ele a respeito do assunto.
À noite, tive muitos pesadelos na hora de dormir e na maioria deles aparecia Cordelia, Vincent e Karl. No último pesadelo, o pior deles, gritei alto e em um piscar de olhos Sebastian entrava no quarto, procurando por uma possível ameaça, depois voltava a sua postura normal. Eu estava chorando bastante, ele pegava um lencinho do bolso e limpava minhas lágrimas, enquanto eu me encolhia entre as cobertas.
- Pesadelos novamente? - Sebastian perguntava ainda limpando minhas lágrimas.
- Sim, você poderia deitar dormir comigo até eu pegar no sono completamente?
-Yes, my lady.
Ele se deitava perto de mim, eu me aconchegava ao seu lado e ficava abraçada com ele, sentindo o seu perfume. Ele acariciava o meu cabelo me dando sonolência, sua presença me fazia finalmente crer que aquele momento era real, eu estava em casa novamente...
- Quer que eu cante aquela canção? - pergunta ele.
Então me veio a terrível lembrança de tudo aquilo que aconteceu: Cordelia, Vincent... todas aquelas pessoas bizarras...
- N-não... apenas fique.
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