Gritos e uivos se ouviam por todo o acampamento da aldeia em Yiling. Estavam sendo atacados por vampiros. Wei Saren ofegava enquanto corria com seu pequeno filhote enganchado em suas costas. As lágrimas se misturavam com o sangue e com a chuva, cegando a sua visão. Seu marido, Wei ChangZe, o líder da alcateia, lutava bravamente com um vampiro, ganhando tempo para sua mulher e filho.
A luta sangrenta seguia. Em sua forma lobo lúpus, ChangZe avançava ferozmente contra o sanguessuga, sentindo pela marca a aflição da mulher e do seu ‘filhotinho. Daria sua vida para salvar a sua família!
Ele era um dominante alfa puro sangue, um dos poucos que existia e tinha mais de dois metros de altura, pelagem no tom cinza e brilhantes olhos azulados, que naquele instante estavam cheios de fúria.
Circulando o inimigo, ChangZe saltou no pescoço do vampiro que o atacava, quebrando o seu pescoço e na mesma hora mudou para forma humana, enfiando uma estaca no coração dele. Aquela era a única forma de acabar com a vida de um sanguessuga de forma rápida; a outra era matá-lo queimado, mas não tinha tempo, precisava alcançar sua família e protegê-los. Disparou na direção que sua companheira foi, com o medo dos chupadores de sangue alcançá-la tomando o seu coração.
Saren fugia com o seu filhotinho’, procurando um lugar para escondê-lo, tendo plena noção que não conseguiria ir muito longe com ele.
Descendente direta de híbridos e magos, a forma híbrida dela era uma leoa. Seu pai era um leão, já sua mãe era uma maga, uma das últimas a existir. Ao longo dos anos, ela lhe ensinou muitos feitiços de proteção, mas para ativar um deles precisava de tempo e um lugar para depositar o seu bebê de apenas 4 anos.
A chuva caía em um violento temporal, dificultando os seus passos. Nunca imaginou que seriam atacados naquela noite por vampiros que queriam o seu sangue para os manter.
Durante a sua criação, sua mãe não permitia que dissesse ser uma maga, para evitar esse tipo de tragédia. No meio dos vampiros circulava uma antiga lenda que se eles bebessem sangue de um mago ou uma bruxa poderiam andar no sol durante o dia, privilégio que apenas os dois únicos puros sangues da espécie tinham, uma benção que foi concedido-lhes por nascerem de um casal de vampiros. O nascimento deles foi um grande acontecimento, já que há muitos milênios não se nasciam puros sangue, havendo apenas os transformados.
Os transformados com inveja corriam atrás de magos e bruxas, tentando se igualar aos puros sangue. A lenda dizia que teriam muito mais força e agilidade, então os vampiros tomavam como reféns magos e bruxas para saciarem suas sedes por mais poder, até porque, por algum motivo, os efeitos passavam rápido, por isso eles precisavam deles com frequência.
Muitos magos eram mortos e tinham o sangue drenado até a última gota, para evitar que eles se transformassem e buscassem vingança. Após a drenagem, eles os queimavam, evitando criar um mago vampiro, cientes que seria bem perigoso ter um transformado assim entre eles... E assim partiam a procura de novas vítimas, um ciclo sem fim. Era gratificante andar no sol e se alimentar de humanos e híbridos nesse período.
Por tais motivos a mãe de Saren não dizia ser maga e nem autorizava que a filha contasse que descendia de uma, porém, ela não tinha conhecimento que na sua aldeia algumas ômegas invejavam o seu casamento... Um dia, conversou com o seu pequeno filhote, revelando a sua descendência e o resultado da inocente conversa foi aquele: um ataque ao acampamento de lobos por vampiros, que estavam atrás dela e do seu filho.
— Está tudo bem meu amor, nada vai acontecer.
Agarrado as costas da mãe, coberto por uma capa que lhe protegia da chuva, Wei Ying chorava com medo. Ele sentia o pânico dos pais, o desespero. Lágrimas escorriam pelo pequeno ‘rostinho, molhando as costas quentes de sua mamã.
Saren depositou Wei Ying em um buraco.
— Mamã! — ele choramingou, agarrando-se a ela, sem querer soltar.
— Shiu! Está tudo bem querido. — Com lágrimas rolando em seu rosto, ela beijou a testa do filho. — Vamos brincar de um jogo?
O ‘filhotinho olhou a mãe com seus 'olhinhos arregalados. Sua mamã queria brincar? Sorriu, secando as lágrimas com as ‘mãozinhas.
— Brincar? — perguntou, fitando a mãe.
— Sim, amor! — Saren alisou sua ‘cabecinha. — Vamos brincar de esconde-esconde ‘tá bom? Mamã vai te esconder aqui e você só vai poder sair quando o dia ficar claro ou somente se papa, ou eu, vir te pegar, ok?
Sorriu, controlando o choro. Aquela era a única forma de manter o seu bebê a salvo. Como durante o dia os vampiros não movimentavam, ele conseguiria escapar.
— Saren? — Se voltou para a voz e observou o seu alfa se aproximar. Ele estava machucado e seu pelo sujo de sangue.
— Aqui! — Se fez presente para o alfa, desfazendo o pequeno feitiço de camuflagem. Eles se abraçaram e trocaram um beijo de amor misturado com desespero. — Está muito ferido? — perguntou, avaliando preocupada o estado do marido.
— Não muito — respondeu, maneando a cabeça e se voltou para o bebê, que já estava no buraco. — Você está ferida? E o nosso filho?
— Ele está bem. — Ela tirou o pequeno do buraco, abraçando-o apertado.
ChangZe os envolveu com os braços, juntos, ouvindo os batimentos dos seus corações. Choraram agarrados um ao outro com o pequeno Wei Ying entre ambos.
— Rápido amor, não temos muito tempo até nós acharem — Wei ChangZe falou, dando um selinho na fronte da esposa. — Faça logo o que precisa ser feito.
Triste, ela concordou, beijando a testa do seu ‘filhotinho enquanto chorava. Wei ChangZe também tinha lágrimas nos olhos. Com o coração pesado, a mãe lançou um feitiço em seu filho.
— Sinto muito meu pequeno — pediu em prantos. — Você terá a essência de um humano e seu lado híbrido e mago só serão despertos quando encontrar a sua alma gêmea, para ela poder te proteger. No seu primeiro contato com ela, dar-se-á início ao seu despertar e na lua cheia seguinte, sua forma híbrida acordará e os seus poderes se mostrarão, porque assim eu ordeno, até que suas almas se cruzem para sempre.
Ela disse mais algumas palavras, enquanto ChangZe vigiava ao redor com os seus sentidos aguçados, tentando captar o menor sinal de perigo, lançando ocasionalmente olhares carregados de tristeza para ela e sua prole.
Tirando um colar de topázio branco — do tamanho de uma gema — do pescoço, Saren a colocou na do pequeno híbrido. Era um colar de identificação, constava o nome de batismo, de cortesia e data de nascimento do filho. Fazia um tempo que vinha preparando aquela pedra com feitiços e encantamentos para o seu bebê, como se estivesse prevendo os acontecimentos daquele dia.
— Wei Ying, nunca esqueça que a mamã e o papa te amam demais, meu amor. — Beijou os ‘olhinhos do pequeno que fitava a pedra brilhante em seu pescoço. — A pedra ajudará na sua proteção. Ela mudará de cor conforme as situações que estiver enfrentando: verde indicará que está em segurança, preto que está em perigo ou com medo, amarelo que está muito feliz e quando encontrar sua alma gêmea ela ficará vermelha. O colar sempre estará de acordo com o seu humor.
O alfa observava em silêncio.
Imediatamente a pedra ficou preta, indicando que o pequeno híbrido estava com medo, provocando uma crise de choro nos pais. ChangZe apertou a maga nos braços e alertou:
— Querida eles estão se aproximando. — Encarou os 'olhinhos assustados do seu filhote, o seu pequeno lobo ômega, a sua felicidade, um pedaço de si. — Papa te ama muito Wei Ying.
— Ying, hora da brincadeira, não importa o barulho que ouça não saia daí, somente quando amanhecer. — As lágrimas turvavam a visão dela. — Eu amo você meu bebê.
Concordando, Wei Ying se encolheu no buraco, assistindo à mamã colocar mais folhas sobre ele e lançar um feitiço de ocultação para não ser encontrado pelos sanguessugas... Então, o filhote lembrou de falar algo.
— Mamã?
— Sim, querido!? — Saren respondeu.
— Amo também.
Segurando o soluço, Saren e o marido saíram para enfrentarem os vampiros, deixando o pequeno bebê aos cuidados do destino.
Que os deuses o protegesse!
Cercados por diversos vampiros, Saren e seu alfa faleceram protegendo o lugar onde esconderam o filhote. A maga se recusou a ir com o líder dos vampiros, Wen RuoHan, então o seu filho, Wen Chao, a matou.
Uma mulher foi jogada no meio deles enquanto espumavam de raiva por não terem conseguido o que queriam. Ela pagaria com a vida, não deixariam uma única gota de sangue no corpo dela.
— Matem ela — ordenou o líder RuoHan.
— Esperem! — gritou desesperada. — A criança... eles têm um filho.
Todos pararam, olhando para ela.
— Um Filho? — Wen RuoHan esboçou um sorriso. Seria ideal ter um mago híbrido de lobo. — E onde ele está?
— E... Eu... Eu não sei — gaguejou amedrontada a ômega mestiça de hiena com lobo. Ela foi quem entregou Saren para os vampiros. — De... devem ter escondido ele.
Nada sairá como o planejado. O plano dela era que eles levassem a maga com o filhote e ela consolaria o alfa, conquistando-o com o tempo, mas quem imaginaria que terminaria em uma chacina hedionda daquelas? No final, até sua vida estava por um fio.
— Deixem-na! — ordenou o líder do Clã. — Ela será útil no futuro.
Naquela noite, os vampiros abandonaram o acampamento destruído, banhado de sangue e morte.
[...]
Do outro lado da floresta, no Recanto das Nuvens, um vampiro puro sangue adulto andava calmamente pelo lugar. Ele tinha expressão fria como gelo, pele branca como a neve e um adorno de ouro prendia o cabelo preto como a noite. Suas vestes brancas tremulavam com o vento.
O vampiro chamado Lan Zhan, nome de cortesia Lan Wangji, também conhecido como Hanguang-Jun, não encarava ninguém em particular com os seus bonitos olhos cor de mel enquanto caminhava ao lado do irmão, líder do Clã GusuLan, Lan Xichen. Ambos iam em direção a sala do trono. Alguns anciões pertencente ao Conselho se reuniam para discutirem mais uma vez sobre o Clã Wen, formados por vampiros transformados há um milênio.
Os Wen novamente estavam trazendo problemas, invadindo aldeias e casas de híbridos e humanos atrás de magos e bruxas. Um verdadeiro caos. Eles eram considerados como os transformados rebeldes, cuja transformação foi uma fatalidade.
Cerca de mil anos atrás, um vampiro meigo se simpatizou com Wen RuoHan que se encontrava enfermo e o transformou. O líder do Clã QishanWen ao ‘renascer’ como vampiro, matou o seu criador com uma estaca e começou a transformar o seu povo, inclusive os filhos e parentes. Mais tarde, ao descobrir que magos e bruxas davam-lhe poder, força, agilidade e principalmente a capacidade de andar no sol por quase um dia todo, começou a persegui-los, os escravizando e tornando-os mera bolsas de sangue.
O Conselho de Anciões, formado por vampiros, no início ignoraram as ações de RuoHan, porém, eles estavam passando dos limites, chamando a atenção de muitos seres humanos. Precisavam dar um basta naquele banho de sangue que a anos vinha acontecendo com os híbridos.
Subitamente, Hanguang-Jun parou e os olhos ficaram desfocados e adquiriram tonalidade vermelha, indicando claro sinal de perigo para os presentes.
— Wangji? — O líder Zewu-jun segurou o irmão pelo braço preocupado e ao vê-lo voltar a si, perguntou: — O que houve?
Lan Wangji pousou os orbes ainda vermelhos no irmão.
— Eu não sei. — Seus olhos clarearam. — É como se o meu predestinado estivesse em perigo.
Xichen arregalou as vistas. Seu irmão e ele não encontraram ainda seus predestinados nos mil anos de vida. Xichen era alguns anos — séculos, na verdade — mais velho. Nunca tiveram ligação com ninguém, deixando todos apreensivos, afinal, a maioria dos vampiros encontrava seus companheiros com menos idade que eles. Até os anciões do Conselho duvidavam que havia um predestinado para eles.
— Mas você não tem um parceiro Wangji — comentou, ajudando o mais novo a se recompor.
— Eu não sei irmão — disse o vampiro caçula. — Sinto como se ele estivesse precisando de mim em algum lugar.
— Isso é estranho Lan Wangji — Xichen falou pensativo. — Depois discutiremos com o tio QiRen essa questão, primeiro vamos ver o que aqueles Wen estão aprontando novamente, pois logo o dia irá clarear.
— Hum! — concordou Lan Zhan, voltando a caminhar com o irmão para o grande salão, onde as reuniões eram feitas.
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