CAPÍTULO II – UM ANJO DO PARAÍSO
Sasuke Uchiha estava bêbado.
Tudo bem, ele não estava completamente bêbado, não o bastante para fantasiar sobre uma mulher subindo em uma árvore. Não que ele não fantasiasse sobre mulheres, o que apesar de não ser algo frequente, era sem dúvidas algo que ele fazia quando estava sozinho.
Mas não naquela ocasião.
Sasuke tinha passado a noite bebendo, considerando o que deveria fazer para cortejar o famoso dragão, e quando percebeu que já estava perto de amanhecer, ele decidiu caminhar para casa, em uma tentativa de fazer a bebedeira passar.
E estava funcionando, pelo menos até ver uma mulher escalando uma árvore.
Talvez ele ainda estivesse bêbado, pois aquilo não fazia o menor sentido.
Damas não escalavam, muito menos ao amanhecer de uma terça extremamente fria, sem uma dama de companhia.
Aquilo era extremamente esquisito, e foi por esse motivo que ele se aproximou da árvore, tentando encontrar a bendita mulher. Se é que ela existia. Sua mãe sempre lhe disse que ia acabar ficando louco a menos que diminuísse a bebida.
O Uchiha achou que se tratava de uma piada.
Agora, enquanto apoiava as mãos no casco grosso de uma árvore, olhando para a copa repleta de flores amarelas e folhas verdes, ele se perguntava se ela não dizia a verdade.
Talvez ele estivesse louco, afinal, nenhuma mulher estaria ali em cima. Ou talvez estivesse tão bêbado que confundiu um esquilo com uma dama.
Não seria a primeira vez.
Considerando o que fazer, Sasuke se manteve imóvel.
Ele poderia simplesmente ir embora, dormir até o anoitecer e depois tentar lidar com a ressaca. E com a sua mãe.
Ou poderia escalar uma árvore e torcer para não ser um esquilo raivoso.
Se amaldiçoando, Sasuke começou a subir.
Ele não fazia isso desde que era criança, e normalmente ele teria seguido seu caminho. Porém, não conseguiria dormir até ter certeza de que não era uma mulher, e se fosse, ele precisava entender o porquê.
Qual motivo seria minimamente justificável para uma dama desacompanhada escalar uma árvore?
Nenhum que ele conseguisse pensar.
Sentindo suas mãos ardendo, ele se perguntou onde diabos estava sua luva, e porque não a estava usando no único momento em que realmente precisava dela.
Segurando um palavrão, ele continuou subindo, até vê-la.
Sasuke parou, piscando os olhos algumas vezes, tentando ter a certeza de que não era um esquilo.
Definitivamente não era.
Sentada em um galho grosso, uma mulher lia um livro, segurando uma maça vermelha com a mão livre.
Seu cabelo estava trançado de lado, completamente bagunçado, e daquele ângulo, com a luz do sol iluminando, ela parecia ser algum tipo de anjo.
Talvez ele estivesse bêbado, pois aquilo não fazia sentido.
Uma mulher linda lendo um livro em cima de uma árvore? Enquanto come uma maça? Devia estar bêbado, ou finalmente tinha morrido – como sua mãe supunha que logo iria acontecer se ele continuasse levando a vida que tinha – e agora estava no paraíso.
Aquilo devia ser um tipo de paraíso.
A mulher abaixou o livro, e então olhou em sua direção, com seus grandes olhos verdes e sua boca avermelhada.
Definitivamente um anjo.
A luz do sol se moldou ao seu corpo, criando um truque de ilusão que fazia parecer que toda aquela luz irradiava dela.
Talvez realmente fosse isso.
Talvez ela fosse um anjo.
Talvez ele estivesse morto.
Talvez estivesse muito bêbado.
- Isso é esquisito – ela falou, sem demonstrar nenhuma reação especifica.
Sasuke piscou, tentando articular uma frase.
- Sou obrigado a concordar.
A mulher apenas balançou a cabeça levemente, como se não soubesse exatamente o que dizer. Ele também não sabia.
- Perdeu seu gato? – perguntou.
Sasuke piscou.
- O que?
Ela apoiou o livro na perna, marcando a pagina antes de fechar, e então indicou a árvore.
- Seu gato. Ele está na árvore?
Ele não soube como responder.
Como podia dizer que não tinha nenhum gato? Sasuke nem sequer gostava de gatos, e se visse um preso em uma árvore, dificilmente o ajudaria. Ora, se ele conseguiu subir, conseguia descer. E se não conseguisse era um problema dele, afinal, ninguém o mandou subir.
Mas ele não podia compartilhar esse pensamento em especifico, principalmente porque era uma desculpa perfeita para estar ali em cima.
- Achei que sim – respondeu por fim – Você o viu?
A mulher negou.
- Nada de gatos por aqui.
Sasuke pensou no que dizer.
Não podia simplesmente descer, não sem saber o motivo dela estar ali.
- E o seu? – perguntou.
A mulher piscou os olhos verdes, tombando a cabeça levemente de lado.
- Não tenho nenhum gato.
Ela pareceu triste ao dizer isso.
- Por que? – ele perguntou, antes que conseguisse controlar sua língua.
Não se importava do porquê ela não tinha um gato, ou porque pareceu tão triste ao falar sobre isso, ou do motivo dele querer poder fazer algo a respeito.
Se um anjo queria ter um gato, o anjo deveria ter um gato.
Isso parecia ser extremamente simples para ele.
- Não tenho um gato? – ela perguntou. Sasuke apenas concordou – Meus pais nunca deixaram.
Ela parecia querer completar, porém, não o fez.
- Pode me dar um espaço? – pediu.
A mulher estreitou os olhos, como se estivesse avaliando, por fim, ela pegou seu livro e com uma agilidade impressionante se levantou, andando até a metade do galho.
Novamente ela se sentou, como se fosse acostumada a fazer isso todos os dias.
Sasuke terminou de subir, sentando-se onde ela estava até então. Puxando o ar com força, ele tentou se recompor.
Por fim, ele olhou para ela.
Definitivamente um anjo.
Diferente das outras damas, ela não era pálida, na verdade seu rosto era levemente corado, cheio de sardas delicadas, um pouco bronzeado, como se ela fosse acostumada a ficar no sol.
Seu cabelo rosa estava completamente bagunçado, e a traça parecia ser apenas uma tentativa falha de domá-lo.
Sasuke nem a conhecia, e sabia que a preferia com o cabelo solto.
- O que faz em uma árvore? – perguntou por fim.
A mulher considerou durante alguns segundos.
- Estou lendo.
Sasuke revirou os olhos.
- Isso eu percebi. Mas por que em uma árvore? – ele pegou seu relógio, conferindo as horas – Em uma terça às sete e quinze da manhã?
Seus lábios se curvaram para cima, em um sorriso extremamente sensual.
Ah, certo, agora ele queria beijar o anjo, sentir seu gosto, a macies dos seus lábios levemente vermelho. Se ali fosse o paraíso, ele com certeza seria expulso.
- Porque era o único lugar disponível.
- Você por acaso não tem uma casa? Mora nesse parque?
Dessa vez, ela realmente soltou uma risada, um som delicioso e baixo, quase como se ela não estivesse acostumada a fazer isso.
- Ah, claro. Moro em uma árvore, como descobriu?
Mesmo tentando soar séria, ela não conseguia simplesmente não sorrir, mesmo quando esperava sua resposta.
- Aposto que não sabe quem eu sou.
Ela pressionou os lábios por um segundo antes de responder.
- Não faço a mínima ideia. Me diga, quem é senhor?
Sasuke se obrigou a ficar sério.
- Eu sou um gênio.
- É mesmo?
Ele concordou.
- Sou um investigador particular extremamente inteligente. E bonito, como pode ver.
A mulher concordou.
- E o que um investigador extremamente inteligente está fazendo em uma árvore?
- Não esqueça do bonito.
- Ah, sim. Extremamente bonito, charmoso e com um cheiro de whisky.
O Uchiha levantou as sobrancelhas.
- Então você reconhece o cheiro de whisky.
A mulher sorriu de forma enigmática, como se estivesse guardando um segredo.
- Ora, não sabe quem eu sou?
- Não faço a mínima ideia. Quem é a senhorita?
- Péssimo investigador, pelo que posso ver.
- Eu disse que era um investigador, não disse que era bom.
- Isso já ficou muito claro.
- Mas eu sou bonito, e definitivamente cheiro a whisky.
- Então talvez eu seja a investigadora extremamente inteligente.
- Não se esqueça dos adjetivos que fazem jus a sua beleza.
Ela levantou as sobrancelhas, ainda sorrindo.
- Quais, exatamente?
- Bonita, linda, atraente, encantadora, formosa, elegante, esbelta, graciosa, caprichada, perfeita.
Ela gargalhou, jogando a cabeça para trás, mostrando a pele do seu pescoço e dando uma boa visão seu seu colo. Sasuke sabia que devia desviar os olhos, mas a verdade era que ele nem sequer considerou essa possibilidade.
Ela era linda demais para que não fosse vista.
E ele era canalha demais para não aproveitar a vista.
Por fim, seus olhos verdes se voltaram para ele.
- Caprichada? – perguntou, em meio ao riso.
Sasuke deu os ombros.
- Definitivamente Deus caprichou quando te fez.
A mulher continuou sorrindo.
- Acho que essa foi a lista mais longa de elogios que já recebi.
- E eu só estou falando da sua aparência.
- Não é como se o senhor possuísse outras informações sobre mim. Acho que deve se limitar a minha aparência.
Ela continuou sorrindo, com seu cabelo bagunçado e seus olhos verdes brilhando.
- Ainda não me contou o que faz em uma árvore.
Ela revirou os olhos, ainda com um sorriso nos lábios.
- Eu só precisava de um tempo – disse por fim.
- Do que?
A mulher deu os ombros.
- De tudo, de todos – por fim, ela suspirou, com o seu sorriso desaparecendo – Todos esperam que eu seja alguém que não sou, esperam que eu faça coisas que não quero, que eu me comporte de um modo completamente diferente do meu ideal, que socialize com cobras de espatilho.
Sasuke soltou uma risada involuntária.
- Cobras de espartilho? – perguntou.
Ela deu os ombros, sorrindo.
- Um apelido especial para garotas definitivamente especiais.
Ele apenas concordou.
- Então está cansada da expectativa da sociedade, por isso subiu em uma árvore para ler.
- Faço isso quando estou estressada.
- Um habito perigoso, principalmente em um lugar tão afastado. Nunca se sabe quem pode aparecer.
- Por exemplo um péssimo investigador que se acha inteligente e cheira a whisky?
- Não se esqueça do bonito.
- Claro, um investigador extremamente atraente.
Sasuke sorriu de forma maliciosa.
- Estou começando a achar que a senhorita está atraída por mim.
- Começou a achar isso só agora?
Era difícil saber se aquilo era apenas um flerte, ou se ela estava falando sério. Sasuke esperava que sim, esperava que ela falasse sério e que estivesse flertando.
- A atração é reciproca.
- Fico lisonjeada.
Sorrindo, ela voltou a comer sua maça, usando sua mão livre para abrir sua capa negra e pegar uma segunda fruta da bolsa.
Sasuke levantou as sobrancelhas quando ela lhe ofereceu uma maça incrivelmente vermelha, que fazia sua mão parecer extremamente pequena.
Sasuke queria saber como era vê-la sem luva. Aceitando a fruta, ele se recostou no tronco da árvore.
- Me conte, sobre o que é esse livro?
A mulher olhou para baixo, encarando a capa de couro, e então sorriu.
- Contos gregos. Quer ouvir meu preferido até agora?
Ele concordou, e conforme ela falava, Sasuke se perguntou como tinha iniciado sua manhã levemente bêbado e acabou em uma árvore alegando procurar seu gato inexistente, ouvindo um anjo contando sobre como surgiu o relacionamento de Perséfone e Hades.
Talvez ele houvesse morrido, talvez aquele fosse seu paraíso, e por um único segundo, ele desejou que fosse.
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