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História O Príncipe e a Amazona - Derivamarca Parte Um - História escrita por Ithurielll - Spirit Fanfics e Histórias
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História O Príncipe e a Amazona - Derivamarca Parte Um


Escrita por: Ithurielll

Notas do Autor


Mais algumas mudanças, certo? Muitas cenas dos livros estarão mescladas na obra mediante o que eu achar narrativamente melhor.

E um adendo: Pensem nos atributos físicos dos personagens como preferirem, certo? Sejam velaryons brancos, negros, Rhaenys de cabelo preto ou platinado, se sintam livres, certo?

Eu frequentemente uso mais atributos físicos dos LIVROS, pois são de minha preferência, mas muitos ficaram ótimos na série mesmo assim, e por isso podem pensar do jeito que preferirem <3

Capítulo 5 - Derivamarca Parte Um


Sexto dia da primeira lua crescente do ano de 120 D.C (Cento e vinte depois da conquista)
(Westeros — Castelo de Derivamarca)

   Há muito tempo, antes dos Targaryen chegarem em Westeros, a maior parte do mundo conhecido conhecia o poder do antigo Império Franco de Valíria. Aerea se lembrava muito bem da história sobre como seus ancestrais podiam buscar ascendência em povos antigos que habitavam a península valiriana quando descobriram o poder dos dragões; sobre como poderiam domá-los. 
   Aerea nunca havia visitado Derivamarca antes. Era completamente diferente do que estava acostumada. O cheiro salgado de maresia podia ser próximo do que já havia sentido antes em Pentos, mas havia algo de diferente nele naquela ilha,  principalmente agora, que estava tão cheia de dragões, que ouvira um homem dizer que se assemelhava a antiga Valíria. 
   A ferida em meu braço me impedia de continuar perdida em meus pensamentos, me causando uma nova pontada de dor. O sal presente no ar lançado contra as pedras fazia com que meu machucado ardesse, a mordida de Moondancer ainda não havia cicatrizado direito. No entanto, Aerea agradecia pela sensação, era uma das poucas coisas que ainda a faziam se desvencilhar do luto por Laena Velaryon.

— Fiquem perto de mim. — Aerea ditou para as irmãs, que estavam um pouco atrás dela.

   A tríade de princesas havia sido levadas de barco até a ilha. Ela era bem maior do que Pedra do Dragão, e também mais verdejante, mas era a casa de Baela e Rhaena, não de Aerea, que não era filha da Velaryon. As gêmeas ainda não falavam com a irmã mais velha, ainda ressentidas pelo que ela teria feito no quarto ao impedi-las de irem atrás de Laena, mas concordavam com o rosto para a ordem pronunciada.
   Ao descerem do navio, as três pousaram na areia da ilha, todas receosas e confusas sobre o que estava acontecendo. Aerea particularmente se sentia rejeitada pelo corpo terrestre, quase como se o lar ancestral dos Velaryon estivesse a negando estadia. Talvez essa fosse a sensação de culpa anterior, quem sabe não era esta a maldição? A ilha sabe que se importar com Aerea poderia causar desgraça, como aconteceu com Rhea Royce e Laena Velaryon.
   Septã Serena se colocou em frente das três garotas, passando a coordenar os passos assim que o navio atracou em terra firme, saindo das escadas um pouco depois das jovens, demonstrava sinais de tontura.

— Sigam-me, princesas. — Serena puxou a mão de Rhaena, que gemia em desaprovação, um tanto tímida em relação a tudo, e ainda bastante baqueada.

   Aerea não deixou de se sentir amargurada. A intromissão de Serena no caminho a causou náusea, como se a simples ideia de que suas irmãs estivessem seguindo e confiando em outra pessoa as fizesse entrar em perigo iminente. A princesa sabia que estava ficando paranoica, mas as palavras de Laena Velaryon não saíam de sua cabeça.

"Eu preciso proteger as minhas irmãs..." — Aerea pensou consigo mesma, segurando as lágrimas e se dedicando a honrar sua promessa para a Velaryon — "Ou Laena vai ficar muito brava comigo."

   Casa Velaryon de Derivamarca. Uma das últimas grandes casas valirianas junto das casas  Targaryen e Celtigar, atualmente a casa mais rica do continente. Aerea já havia escutado muitas coisas sobre eles através de sua madrasta e de suas irmãs. Alguns diziam que o sangue salgado dos integrantes da casa os faziam ser especialmente adaptados para a vida no mar. Eles nasciam e morriam no oceano, e a princesa iria ver isso em prática neste dia.
   Os passos na areia de Derivamarca eram difíceis. Os sapatos de Aerea e de suas irmãs quase se grudavam, fazendo com que cada um fosse mais dificultoso do que o outro. Serena não encontrava dificuldades, puxou a barra de seu vestido simples e andou firmemente em linha reta, não usava sapatilhas ou algo do tipo, e sim duas sandálias amarronzadas, um traço da Fé dos Sete que exigia que seu sacerdócio usasse vestes simplórias.

— Se mantenham no caminho, em breve entraremos no castelo de--- — Serena estava prestes a a terminar sua frase quando um rugido quebrou a barreira do silêncio fúnebre do navio atrás das quatro.

— Prrrrrrrrrrrr!!! Gwaaaaaaaah!

   O dragão era amarelado. Não conseguiram ver muito dele além da coloração e tamanho, era enorme, e majestoso de certa forma, pois batia suas asas em um ritmo quase melodioso. Ao lado dele, uma outra figura dracônica descia das nuvens. Rasgavam o ar por onde passavam, e ambos se direcionavam até o castelo de maneira intrépida, suas asas eram enormes e sustentavam os corpos dos dois de forma dominante. Aerea imaginava que quem quer que estivesse acima dois dois precisaria proteger o rosto pelas correntes de ar violentas que deveriam enfrentar nas viagens.
   Demorou um pouco, mas a princesa Targaryen conseguiu mentalizar quem seriam os dragões, e consequentemente identificar seus montadores.

"Amarelo, grande... é a fêmea da princesa Rhaenyra que papai me contou... Syrax. O outro é cinza, deve ser o macho do marido da princesa, irmão de Laena... Laenor?"

   Aerea não teve tempo para pensar muito mais. Septã Serena a deu um puxão com a mão direita, mirando na orelha da menor, que rapidamente se avermelhou, o que fez a princesa gemer de dor por alguns instantes.

— Rápido, garota! Você irá nos atrasar para a cerimônia! — Serena apertou o passo. Rhaena e Baela a acompanhavam de maneira apressada, não paravam para acudir Aerea, um sinal de ressentimento de ambas.

   Levando a palma até a própria orelha — que havia se inchado pelo apertão — Aerea massageou a região por alguns segundos antes de voltar a caminhar. Continuou um tanto maravilhada pela visão de Syrax e Seasmoke, o dragão de seu tio postiço. Havia ouvido histórias sobre os dragões de seus parentes através de seu pai e de Laena Velaryon. Não sabia muito sobre os mais novos, apenas que haviam chocado para os príncipes recentemente.

"Meus primos devem ter dragões jovens nessa altura... Sunfyre e Tessarion." — enquanto andava, se esforçando para manter o ritmo de Serena, Aerea imaginava como seria encontrar com cada um deles. Os únicos dragões que havia conhecido em sua vida foram Caraxes, Vhagar e Moondancer, era uma dádiva saber que veria novos ali, mesmo que a situação ainda se mantivesse triste e pesarosa por conta do enterro — "Syrax, Seasmoke, Caraxes, Vhagar... Meleys da avó das minhas irmãs... Meus primos virão com seus dragões ou virão de navio com a mãe deles?"

   Aerea nunca havia tido um dragão, sequer havia sido presenteada com o ovo de um. Daemon já havia a mencionado algumas vezes que seu sangue clamaria por um dragão quando fosse a hora certa, mas Caraxes era macho e nunca forneceu uma ninhada de ovos. Laena havia trazido dois ovos, um para Baela e outro para Rhaena, e Aerea não havia sido incluída. A princesa não se ressentia da Velaryon por isso, imaginava que talvez fosse algo que apenas uma mãe fosse capaz de entender, e talvez ela não imaginasse que a menor fosse capaz de chocar algum ovo por já não ser mais um bebê.
   Os primeiros dois anos de Aerea se passaram em Pedrarruna no Vale de Arryn, sendo cuidada por seu primo, Robert Royce. Legalmente, Aerea era a herdeira de Rhea Royce e das terras de seu castelo, mas não compreendia muito bem o que deveria fazer, pois no terceiro dia de seu nome, Caraxes se empoleirou em Pedrrarruna, Daemon reivindicou sua filha o mais rápido que pôde, e por isso, Aerea não se lembra de muito sobre seu local de nascimento.

— A Rainha Vermelha! — Septã Serena berrou, um barulho estridente era emitido logo em frente, próximo ao castelo.

   Era difícil para Aerea ver, mas era possível enxergar as asas vermelhas da dragoa Meleys se rebatendo próximas do que parecia ser um estábulo. A princesa não compreendeu bem, mas supôs que parte do luto que a mãe de Laena deveria estar sentido estava sendo emitida para sua companheira. Era um tanto pesaroso presenciar aquilo, por isso continuou andando, superando a caminhada de Serena e de suas duas irmãs.
   Quanto mais se aproximava da entrada do castelo, mais figuras de dragões eram reconhecidas. Acima de um dos rochedos, dois dragões estavam empoleirados, um deles era enorme, maior até mesmo do que Caraxes. Sua cor era azul-celeste, e seus chifres eram brancos como marfim.

"Dreamfyre... é uma fêmea... foi ela que pertenceu a Rainha Rhaena Targaryen... agora ela é da minha prima... Helaena, eu acho." — Aerea anotou mentalmente

   Talvez aquele fosse o futuro de Westeros, Aerea imaginava. A Casa Targaryen apenas cresceria, o sangue de seu tataravô continuaria se espalhando pelo continente, e talvez em alguns séculos, cada uma das grandes casas teria alguma característica da antiga Valíria. A princesa se sentia um tanto claustrofóbica no entanto. Criaturas enormes estavam dividindo a mesma ilha, e mesmo que Derivamarca fosse grande o bastante para dá-las espaço, não deixou de se sentir temerosa. E se um dragão simplesmente não for com a cara do outro?

— A avó de vocês duas irá esperar vocês em seu quarto. Levarei ambas comigo para que falem com ela. Princesa Aerea, enviarei você para seu pai. — Serena prosseguiu seu caminho, puxando as mãos tanto de Rhaena quanto de Baela para que ficassem unidas.

   As gêmeas olharam para a primogênita de maneira confusa. Ainda pareciam nutrir algo negativo contra ela por sua atitude em Pentos, mas ainda pareciam decididas a ficarem junto da irmã mais velha, ainda confiavam em Aerea.

— Por que a Ary não vai com a gente? — Baela olhou para  lado, encarando o rosto de Serena, batendo o pé em sinal de estresse.

— Não é prudente enviar a filha de outro casamento para uma mulher que está sofrendo com a morte da própria filha, do próprio sangue. Ela deve ser confortada pelo legado de Laena Velaryon. — Serena, de maneira um tanto intolerante, puxou Baela com mais afinco, impedindo-a de se grudar no chão.

   Aquelas palavras doeram para Aerea. Sempre soube que Laena não era sua mãe, mas ser excluída de seu legado daquela maneira fez com que seu coração se torcesse, quase como se alguma coisa o tivesse esmagado. A princesa ainda sequer havia completado doze anos de vida, mas mesmo assim, já havia se tornado órfã de mãe duas vezes.

— Diga onde meu pai está. — foram as únicas palavras que saíram de Aerea, que já estava amortecida naquele ponto. No entanto, apertou levemente a parte ferida de seu braço, como um lembrete da dor que havia sentido durante a morte de Laena Velaron pela mordida de Moondancer.

— Andar superior, junto de seus familiares. Comporte-se, o rei está na ilha, quero que se comporte como uma mulher, da mesma forma que te ensinei durante nossas aulas. — sem mais delongas, a septã se dirigiu até uma direção contrária, mas durante sua caminhada, ordenou para um dos escudos juramentados que estavam nos acompanhando — Sor Serwyn, leve princesa Aerea até o andar acima.

   Sor Serwyn olhou para a princesa de maneira sorridente quando Serena se foi com as gêmeas. O jovem cavaleiro não tinha mais do que vinte e dois anos, sua pele era clara e seus cabelos eram escuros e curtos. Aerea não sabia dizer de onde ele era, pois ele não usava o brasão de alguma casa que ela conhecia, preferindo usar apenas o símbolo Targaryen por ser um dos homens que Daemon levou para Pentos, mas a princesa chutou que ele seria das Terras da Tempestade por seu nome ser comum lá.
   O sorriso de Serwyn contaminou Aerea, que sabia o motivo pelo qual ele o teria direcionado para ela. Não demorou para que o cavaleiro quebrasse o silêncio que se instaurou, proferindo para a princesa em tom de sigilo:

— Graças aos Sete que aquela mulher foi embora, não é? — Serwyn se direcionou até as escadarias, esperando ser seguido por Aerea de maneira paciente.

   Aerea riu antes de responder. Já haviam chegado até o castelo propriamente dito, agora bastava subirem pelas escadas de pedra cinzenta e passarem por outro corredor antes de subirem finalmente até o andar superior.

— Por que Septã Serena precisa ser tão insuportável? — Aerea murmurou para o cavaleiro enquanto caminhavam, iniciando uma conversa com o rapaz.

— Suponho que ela não goste muito de ter servido em um lugar estrangeiro por tanto tempo. Mas também pode ser pelo simples fato dela odiar garotinhas inteligentes. — quebrando mais ainda o clima, Serwyn cutucou Aerea com um dos cotovelos.

— Haha! Ei! — Aerea precisou retomar a compostura após quase ter tropeçado, retribuindo o empurrão com as duas mãos, ainda que não fosse forte o bastante para sequer desestabilizar a postura de Serwyn — Eu não tenho culpa de lembrar das coisas que leio. Na última sessão de leitura ela esqueceu como se soletrava "Laranjeira".

   A princesa fez um círculo redondo com os dedos, imitando o formato de uma laranja. Serwyn encarou o gesto de maneira paciente, ambos tinham um bom relacionamento, mas raramente ficavam sozinhos juntos. Ele teria idade para ser o irmão mais velho da princesa, e ela apreciava essa ideia.

— Uma garotinha indecente, que corrige a professora sem permissão. E além de tamanha insolência, se aventura no mundo masculino, pedindo ao pai para que a ensine como usar uma espada. Sinceramente? Se eu fosse ela? Com certeza faria o mesmo. — Serwyn coçou a área lateral da cabeça, que era raspada, descendo os dedos até a barba rala que possuía, movendo os olhos de um lado para o outro de maneira cômica.

 — Ela te odiaria muito mais se passasse um dia com você. Que tipo de homem inicia conversas de caráter duvidoso como falar dos métodos de uma septã? Ainda mais com uma garota, filha do príncipe no qual foi designado a ajudar na proteção da comitiva. — Aerea fez biquinho, tensionando o queixo em um semblante de julgamento — Vergonhoso, no mínimo.

   Ambos se olharam por alguns instantes, como se estivessem em um debate, até finalmente o semblante da díade se desfazer completamente e ambos voltarem e rir. O caminho quase inteiro havia se passado quando a conversa de ambos se findava, o tempo passava rápido para Aerea quando conversava com alguém de igual para igual. Diferentemente da maioria das outras pessoas que tratavam Aerea com respeito, as conversas que ela mais apreciava eram aquelas com quem ela realmente podia ser ela mesma, e zombar de quem quisesse.
   No entanto, o rosto de Serwyn se fechou com o passar da caminhada, e aproveitando que ela estava quase no fim, ele confidenciou uma conversa mais murmurante do que a última com a princesa:

— São seus parentes, mas você nunca conversou com eles. Você verá a rainha, o pai dela, muitos membros da nobreza e realeza. Realmente está pronta, princesa Aerea? — o cavaleiro fez um sinal com os dedos, apontando que poderia levar Aerea para o lado contrário e então encontrar os aposentos onde ela dormiria — Posso te levar até seu quarto e dizer para seu pai que você está indisposta por sua ferida.

— Eu... — Aerea demorou para recobrar a compostura após pigarrear, piscando os olhos várias vezes antes de responder o cavaleiro. Ainda era uma criança no final das contas, e era difícil parecer séria ou eloquente o tempo todo — Eu preciso ir. A última vez que eu vi meu tio foi há mais de oito anos atrás. Eu quero conhecer minha prima... ouvi que ela tem três filhos, são primos tanto meus quanto de Rhaena e Baela.

— Se sente na obrigação de conhecê-los? — Serwyn ergueu uma das sobrancelhas em desdém, não entendendo o ponto de Aerea e o fato dele ser emergencial.

— Me sinto na obrigação de saber no quê eu estou me metendo. — a princesa ergueu uma das palmas, a mesma que continha o antebraço ferido. O machucado havia sido quase dilacerante, os dentes de Moondancer eram pequenos, mas serrilhados o bastante para fazer Aerea chorar de dor por dois dias. O sal presente na água que esteve próxima durante a viagem de barco apenas fez a ferida arder por mais tempo ainda — Apenas ouvi histórias. Sei que papai detesta a rainha, sei que ele e Laena Velaryon tinham apreço pela princesa Rhaenyra.

— Então não é desejo de se aproximar deles. É curiosidade. Quer saber em quem deve confiar? — Serwyn cruzou os braços, adentrando na linha de raciocínio de Aerea.

— Quero saber quem será a minha família pelos próximos anos. Minha vida em Pentos acabou... esse continente é minha casa agora, não é? — Aerea uniu as mãos, agora já vendo o final do caminho. Alguns lordes e ladies já estavam próximos, e alguns andejavam de maneira errática pelo local.

— Essa já era sua casa antes. Você nasceu em terras westerosi. Seu sangue pertence mais a estas terras do que muitos que você irá conhecer por lá.

   A frase de Serwyn também foi sua última antes da conversa acabar. A multidão de pessoas encarou a chegada de Aerea, a fazendo quase congelar. A maioria nunca havia visto a princesa Targaryen, e a sensação que a jovem sentia era como se fosse um animal exótico sendo observado.
   Daemon estava em meio a multidão, encontrou sua filha quando viu várias pessoas virarem os rostos para encará-la. Ele conversava com um homem de cabelos platinados e ralos — mas longos na parte de trás — eles eram parecidos, e Aerea supôs que estariam conversando há poucos minutos pois pareciam desconfortáveis com a presença um do outro. Ele portava uma coroa, o que logo fez a princesa identificar quem seria antes de conversar formalmente com o mesmo.

— Aerea! Venha, vou te apresentar uma pessoa. — Daemon pronunciou, um tanto alto demais. Alguns cortesãos olharam na direção do príncipe rebelde de maneira atônita, e outros poucos o julgavam com desdém no olhar, considerando falta de educação alguém falar alto e naquele tom durante um enterro.

   Aerea nunca desobedeceria o pai, e por isso se aproximou de maneira lenta. De onde estavam, era possível ver o caixão de Laena Velaryon, disposto de maneira solene. Era estranho tudo aquilo, a maneira que seu pai estava se comportando, os olhares dos nobres e a quantidade de pessoas desconhecidas ali. Serwyn ficou parado quando Daemon convocou Aerea, tomando uma pose um tanto desconfortável e firme.

— Seu tio, Rei Viserys Targaryen. — Daemon não demonstrava tristeza na ocasião, apenas um certo nível de apatia, e assim que Aerea se aproximou o suficiente, deixou Viserys e sua filha sozinhos, "escapando" da conversa e deixando a tarefa para sua prole.

— Olá, minha pequena... — Viserys ditou, forçando um sorriso gentil para a sobrinha.

   Aerea o viu como uma pessoa boa, enxergando isso em seus olhos, mas ao mesmo tempo sentiu uma aura de tristeza em torno dele, como se cada palavra sua fosse recheada com várias camadas de luto, mas não soube dizer se era por conta de Laena Velaryon. Ainda assim, a princesa se sentiu feliz por finalmente conversar com o tio.

— Tio! Papai falou muito sobre você. Eu tenho tantas perguntas... Digo, você montou em Balerion, não é mesmo? — por alguns segundos, Aerea se esqueceu das normas de etiqueta e avançou na direção de Viserys, ignorando as diretrizes e olhares estranhos que teria recebido, um traço que teria puxado de Daemon devido a sua criação. Um abraço foi selado pela princesa, mas do contrário do que tudo apontava, Viserys o correspondeu com alegria.

— Se acalme, se acalme! Haha! Não é ocasião para isso, querida, vamos ter tempo para conversar. Agora temos uma cerimônia para comparecer... — Viserys findou o abraço e se afastou um pouco, levando uma das palmas até a de Aerea para que ficassem de mãos dadas — Meus pêsames, dragãozinho. Eram próximas, você e sua madrasta?

— Muito. Muito próximas. — Aerea respondeu. Iria prosseguir a conversa, mas fora interrompida com o começo das honrarias.

   Uma mulher de cabelo preto e fios grisalhos havia chegado. Grudadas em suas pernas, as gêmeas Rhaena e Baela estavam praticamente ancoradas, e a figura as acolhia com as mãos e um semblante triste. Seu vestido tinha três cores diferentes, contendo tanto o azul dos Velaryon quanto o vermelho e preto dos Targaryen, mas além dos dois, traços amarelos podiam ser vistos em algumas partes do tecido na região das coxas, era a cor dos Baratheon.

"Princesa Rhaenys, prima do meu pai... é a avó das minhas irmãs." — Aerea a identificou — "O Cabelo dela... é tão bonito."

  A cerimônia começou. O orador era um dos Velaryon, e em sussurros, Aerea perguntou para seu tio Viserys quem seria ele, e descobrira que se trataria de Sor Vaemond Velaryon, um primo do pai de Laena.
   Vaemond realizou o funeral em alto valiriano, Aerea entendeu apenas uma parte, o pouco de valiriano que conhecia era frequentemente misturado com o baixo valiriano de Lys, que era falado por sua instrutora em Pentos. Ouviu o cavaleiro honrar Laena como uma lady gentil, mencionar o sangue dos Velaryon e enaltecendo a falecida como corajosa, e que deveria voltar ao mar, não muito mais do que isso.
   No final do velório, Aerea identificou todos seus parentes próximos, a maioria estava de cabeça abaixada, com exceção de Aegon — que Viserys apontou como seu segundo filho — e Daemon, que no final do discurso pareceu soluçar em um sufocamento de riso. A princesa não conseguiu discernir qualquer motivo para um sorriso por parte de seu pai, mas não o contestou, ao invés disso, olhou para outro canto do local, procurando por mais figuras apontadas por seu tio.
   Uma mulher de cabelos platinados e olhos violeta estava ancorada em uma das laterais, próximos dela, dois garotos de cabelos escuros e narizes achatados estavam repousados. Identificou os três como a cunhada de sua madrasta e seus filhos, princesa Rhaenyra Targaryen e príncipes Jacaerys e Lucerys Velaryon. Aerea lembrou que ela se tratava da herdeira de Viserys, e por isso a olhou por mais algum tempo, ela não pareceu perceber.

— Quer que eu as apresente, pequena? — Viserys interrompeu os pensamentos de Aerea e colocou uma das palmas em seu ombro, finalizando o gesto de mãos dadas.

   O rei tossiu algumas vezes. A jovem o olhou de maneira preocupada, estranhando sua saúde fragilizada, que já era perceptivel por seu visual, que era pálido e um tanto afetado. Aerea sabia que ele não era tão mais velho que seu pai, mas ele parecia ter o dobro da idade. A princesa supôs que ele talvez tivesse alguma coisa mais séria ou envelhecesse mais rápido por todo o estresse de ser um rei, e por isso ficou feliz por não ser ela a governar.

— Papai pode me apresentar a ela depois... o senhor está bem, tio? — Aerea levou sua mão direita até a cintura de Viserys. O local parecia estranho, e a pele do rei descascava em algumas partes de seu braço, o que só foi visível quando a princesa puxou um pouco suas roupas, o que deu visão de seu pulso. 

   Vendo que Aerea teria visto sua pele debilitada, Viserys fez questão de puxar a manga de suas roupas, aparentando um traço de vergonha, mas a princesa fizera questão de o tranquilizar, mantendo seu semblante acolhedor. A Targaryen raramente via o resto de sua família, e pelas várias histórias de Daemon, nutria carinho por seu tio, mesmo que muitas vezes seu pai o tratasse como um idiota. A simples ideia dele estar tão doente antes mesmo de ficarem próximos a assombrava.

— Bom... Posso contar algumas coisas para o senhor quando formos dormir, também tive várias aventuras em Pentos... talvez nem todas sejam interessantes pra você. — Aerea trocou de assunto, supondo que ele não gostaria de falar sobre a própria saúde.

— Seria ótimo, querida. Eu posso contar pra vocês várias das histórias de meu avô, Jaehaerys, o Conciliador. — Viserys sorriu, agradecendo em silêncio com o semblante ao ver o esforço de sua sobrinha em mantê-lo confortável genuinamente.

— Eu adoraria. E Também...

   Antes de poder continuar, Viserys a interrompeu com uma das mãos, se esforçando para não parecer mal-educado:

— Lamento, sobrinha... A cerimônia já acabou, temos que nos reunir no saguão do castelo. Preciso me reunir com minha esposa. Teremos muito tempo durante a noite, certo? — já começando a se afastar, o rei se direcionou até a outra área, mas não antes de se despedir — Foi um prazer, éerr...

   Sem jeito, Aerea já sabia do que se tratava, ele não se lembrava do seu nome. Não o julgou, pelo contrário, ergueu um pouco o queixo e se manteve calorosa, tratando de o responder antes dele passar alguma vergonha:

— Aerea, tio. Também foi um prazer. 

   Ambos sorriram um para o outro. A princesa já não estava tão dolorida pela morte de Laena, uma pequena área de si estava sendo preenchida com felicidade por conta da ideia de se reunir com tantos familiares, se tocando o quanto se sentia sozinha em Pentos.

— Aerea, é um ótimo nome para uma montadora de dragões... — Viserys acenou para sua sobrinha e se distanciou o suficiente para se reunir com os demais cortesãos e com sua esposa.

   Aerea suspirou. O sentimento de quietude passou a pairar novamente apenas após alguns segundos, mas se esforçou para não transparecer aquilo. Não poderia ir atrás de Serwyn ou seria inapropriado, seu pai parecia ocupado com suas próprias ideias, não queria interferir. Baela e Rhaena estavam aninhadas com a avó de ambas e não parecia uma boa ideia conversar com desconhecidos de casas nobres da Baía da Água Negra. 
   Foi então que uma ideia pairou pela mente da princesa. Ou melhor, uma chama se acendeu. Uma garota estava próxima de uma comitiva própria de cavaleiros, era extremamente parecida com Aerea, porém tinha um semblante perdido e um vestido verde. Seus cabelos platinados haviam sido trançados para a ocasião, o semblante da casa Targaryen estava em suas vestes, porém mesclado ao verde. Identificou de imediato quem seria.

"É a princesa Helaena... segunda filha do meu tio. Nascemos no mesmo ano." 

   Não sabia nada sobre ela, apenas que era uma das crianças do segundo casamento de seu tio Viserys e que havia reivindicado Dreamfyre. Um interesse anormal chegou até Aerea, que antes mesmo de perceber, já havia começado a caminhar na direção da jovem, que teria começado a seguir retilineamente até os corredores, acompanhando as demais comitivas até o saguão. 

— Princesa Helaena? — Aerea tentou iniciar uma conversa. Os cavaleiros que serviam como escudos juramentados olharam feio para a jovem, tentando a impedir de se aproximar sutilmente, mas inicialmente não precisaram.

— Carretel verde, carretel preto... dragões feitos de carne tecendo dragões de linha... — Helaena pronunciou de forma um tanto perdida, não direcionando as palavras para alguém em específico.

   Inicialmente Aerea estranhou o jeito e as falas da princesa, mas se esforçou para tentar compreendê-la. Com uma das mãos, aproximou-se o suficiente e abanou-a no ar para que Helaena visse, o que finalmente a "acordou". Seus olhos demoraram um pouco para se focarem na prima, e assim que fizeram, ela pendeu o rosto e falou:

— Quem é você? Por que está falando comigo? 

— Sou sua prima, Aerea, filha de Daemon Targaryen. Eu ouvi falar de você quando eu estava em Pentos... — iniciando a conversa, a princesa torceu para que Helaena não tentasse se afastar.

— Aerea... não... não me lembro desta peça no carretel... — Helaena olhou para baixo, como se alguma coisa tivesse dado errado.

— Você é a única garota da minha idade aqui... minhas irmãs são muito novas e os outros são... você sabe. — sem jeito, Aerea levou uma das mãos até atrás das costas, se preparando para dar meia volta.

— Meninos? — Helaena ditou em uníssono.

— Rapazes. — Aerea falou ao mesmo tempo.

   O que começara desconfortável e errático, logo foi quebrado por um sorriso que foi compartilhado entre ambas. Helaena ergueu uma das palmas, dando a entender para os cavaleiros que queria um pouco de espaço para ela e Aerea. Alguma coisa fazia com que a princesa vinda de Pentos sentisse necessidade de manter espaço com a prima, o que era evidente por sua postura, que se retraía a cada pessoa que ficava próxima. Ela com certeza não deveria gostar de toque físico. 

— Meninos são idiotas... lá em Pentos, eles sempre eram estranhos e falavam de coisas fúteis o tempo todo... mas sempre davam um jeito de dizer que os MEUS eram os fúteis. — Aerea prosseguiu o assunto, encontrando algo para se basear: ambas eram garotas que podiam falar mal de garotos.

— Não é tão ruim... sabe? As vezes eles podem falar coisas ruins pra você, mesmo quando você não fez nada pra eles... Mas eles também nos protegem, não é? — Helaena inicialmente procurou não atacar o gênero oposto, mas seu semblante dizia o contrário. Aerea não quis investigar sua citação, temendo a deixar desconfortável, por isso não a interrogou.

— É por isso que eu pedi para meu pai me deixar aprender a lutar com espada. — a princesa trocou de assunto o mais rápido possível para algo que fosse-lhe interessante.

— Seu pai te deixa segurar uma espada?! — a boca de Haelaena fez um "O" perfeito.

— Sim! E eu era melhor do que muitos dos garotos, sabia? Papai até disse que me arranjaria uma espada de aço valiriano quando eu crescer. — orgulhosa, a jovem balançou os ombros em comemoração, finalmente estava com alguém que pudesse conversar sobre qualquer coisa, alguém da sua idade.

— Mamãe disse que espadas são a arma dos homens. Mas... talvez você seja uma exceção, não é? Como nossa antepassada a... 

— Visenya Targaryen! — tanto Aerea quanto Helaena ditaram ao mesmo tempo.

   O que antes era um sorriso, passou a se tornar uma risadinha compartilhada. Os guardas bufaram, não aprovando a proximidade de ambas. Aerea suspeitou que seria por alguma ordem, mas não investigou a hipótese. Não demorou para que Helaena se demonstrasse um pouco mais confortável, seus ombros se suavizaram e sua feição se acalmou por completo.

— Sabe... eu falei que iria querer passar um tempo com o seu pai, ele disse que iria me contar histórias do nosso avô. E se a gente fosse até ele juntas? Podemos ficar no seu quarto ou no meu... — Aerea propôs para Helaena.

— Errr... juntas, sozinhas? No mesmo quarto? Oh, não... eu acho melhor falar com minha mãe antes... não quero deixá-la brava. — a jovem princesa de Porto Real ancorou uma das mãos em frente a boca, como se estivesse temerosa de cometer alguma infração.

— Seu pai com certeza deixa! Nunca conheceu essa regra? Se sua mãe não deixa alguma coisa, peça para seu pai e ele com certeaza vai deixar. — quase como um diabinho, Aerea olhava fixamente para Helaena, quase saltando de alegria pela ideia de ter alguém na mesma faixa etária para conversar sobre coisas de garota — Além do mais... eu posso pedir para que tragam bolo de morango para nós duas... e a gente pode ficar com ele inteiro!

   Novamente um sorriso enorme percorreu o semblante de Helaena. Aerea não sabia muito sobre ela, mas era fácil saber que ela também enfrentava solidão onde ela morava. Sua única irmã era muito mais velha e seus demais irmãos jamais entenderiam uma garota, e pelo que ela falara, sua mãe não era muito aberta.

— Eu... vamos! — Helaena respondeu.

— Vou pedir o bolo de morango! — Aerea comemorou.


Notas Finais


Esperavam pela dupla Helaena e Aerea? KKKKK
Derivamarca = Driftmark, pra quem não sacou. É o nome traduzido (que a série fez questão de não traduzir)


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