Sai estava deitado no sofá. Continuava assim pois não conseguia mais voltar a dormir depois de acordar no meio da madrugada. Na última vez que conferiu o relógio, já passava das três horas, então pelas suas contas, estava acordado a uns trinta minutos ou mais.
Estava escuro, mas ele não teve vontade de ligar as luzes. Apenas continuou ali, parado e encarando o teto. A sua visão já tinha se acostumado parcialmente, então vez ou outra ele arriscava uns rascunhos pequenos no seu caderno de desenhos.
Adorava o som das páginas sendo viradas. As vezes ele fazia isso mesmo sem uma razão aparente.
Tirando o barulho das motos que vez ou outra cruzavam a estrada, o mundo estava em um silêncio quase absoluto. E, sem interrupções, a sua mente se voltou novamente para aquilo que lhe atormentava no momento.
Ino.
Quando Hinata o chamou para conversar, ele ficou um pouco nervoso, mas quando ela começou a falar, foi como se tudo o que esteve empilhando até aquele momento fosse abalado.
Sai tinha uma esperança. Ele imaginou que talvez tudo realmente desse certo ao falar com Ino. Ele iria ser desajeitado no começo, mas talvez ela achasse isso fofo. Pretendia chama-la para assistir um filme após a aula. Eles iriam comprar alguma coisa para comer em seguida.
Eles iriam fazer isso mais algumas vezes. Iriam ficar mais íntimos e trocar mensagens até dormir. Ele ganharia coragem para tomar a iniciativa e lhe beijar. Eles iriam fazer isso mais vezes até se gostarem tanto a ponto de começarem a namorar. Talvez antes disso, eles iriam dormir juntos algumas vezes. Ele até já tinha imaginado algumas respostas para os possíveis comentários de Shin quando o visse levando uma garota para casa.
Mas agora, isso não parecia muito importante. Quer dizer, o beijo que ele tanto esperava talvez não fosse tão especial para ela. Talvez ele fosse chato, e ela iria se arrepender amargamente depois de saírem apenas uma vez.
Sai suspirou, encarando o bulbo da lâmpada no teto. Inclinou-se para o lado após apoiar o caderno no chão.
Ele passou a mão pelos cabelos. Gostava da sensação. Chegou a imaginar que um dia, quando acordasse com Ino ao seu lado, ela estaria fazendo o mesmo.
Seu rosto queimava. Ele não sabia se de vergonha ou irritação.
Mas, ele não estava mais irritado com Ino do que estava consigo mesmo.
Apesar de nunca ter considerado aquilo até Hinata consolidar em palavras, fazia todo sentido ela ter um passado. Fazia sentido ela estar envolvida com outras pessoas. Ele se sentiu tão burro por ter ignorado esse fato por tanto tempo.
O tempo continuava a passar, e quanto mais mergulhava na própria angustia, ele pensava que talvez devesse apenas desistir. Ainda não tinha feito nada. A situação toda iria se dissolver no vento e ele nem precisaria se colocar em situações que o fariam morrer de vergonha.
Ino era bonita, inteligente e simpática. Ela era boa demais para ele. O que ele estava pensando? Uma garota como ela conseguiria uma pessoa muito melhor do que ele jamais seria.
Ela deve querer alguém extrovertido e com muitos amigos. Alguém com quem ela poderá ir para as festas. Alguém que ela poderá apresentar as amigas e a família.
As pessoas sempre lhe disseram que ele era meio lento para entender as coisas. Sai percebia que isso realmente era verdade.
Ele demorou muito tempo para perceber que o que ele nutria por Ino, desde o princípio, estava destinado a apodrecer.
Ele comprimia suas mãos entre os joelhos enquanto pensava.
Por um instante, ele se achou inocente. Sai sempre teve dificuldades em se relacionar com as pessoas. Ele não conseguia fazer amizades como os outros, mas ultimamente, isso tinha mudado, ao menos um pouco.
Ele conheceu tantas pessoas novas, e tudo estava acontecendo tão rápido, e tão fácil, que ele chegou a esquecer o quanto era complicado.
Apesar de sempre achar que preferia estar sozinho, depois de provar da companhia sincera de outras pessoas, ele se sentiu mais fraco. Antes, ele teria desistido de Ino muito mais rápido. Ser, de certa forma, incentivado pelos outros, fez com que ele alimentasse essa ilusão por mais tempo do que deveria, e por consequência, a queda tinha sido maior.
Mas talvez o problema não estivesse nos outros. Afundando mais em suas memórias, ele reconheceu isso.
Ele queria mudar. Ele não queria, ou melhor, não achava que precisava. Ele relutou muito a aceitar a ideia, mas o desejo de não preocupar mais o irmão e Danzou o fez prosseguir.
Sai já estava cansado de ouvir outras pessoas dizendo que ele precisava viver. Ele precisava de amigos. Precisava de uma namorada. Precisava sair para lugares que ele não queria realmente ir.
Ele não entendia como isso era considerado viver, mas para não preocupar aqueles que o amavam, ele resolveu ignorar as suas dúvidas e apenas seguir em frente.
Ele iria mudar. Tinha isso em mente. Mas nada mudou realmente. Ele não conseguia começar uma conversa. Ele tinha medo de atrapalhar as outras pessoas.
Como puxar assunto estava fora das suas capacidades, decidiu que iria ser simpático. Mas, outra vez, isso fugiu da sua mente e quando conversava com as pessoas, apenas agia normalmente. Quando chegava em casa, ele contava nos dedos as oportunidades perdidas e se lamentava por alguns segundos antes de seguir com os seus afazeres.
Sinceramente, ele já estava perdendo a esperança até conhecer Hinata. Ele estava no seu lugar de sempre, relaxando, quando uma garota apareceu para conversar. De algum jeito, ele acabou conhecendo os amigos dela, e, mais supreendentemente ainda, acabou os conhecendo melhor.
E o mais estranho disso tudo era que ele não estava tentando. Ele não precisava ser mais simpático, ou mais amigável. As coisas apenas iam acontecendo. Ele gostou disso. Era um pouco cansativo ter que sorrir mais do que gostaria. E mais do que isso, era bom saber que as pessoas podiam gostar dele apenas por ser ele.
Eventualmente, seus pensamentos navegaram novamente para Ino. Como se estivesse em um barco, sua cabeça dava voltas.
As vezes, ele era preenchido por uma onda de pessimismo. As vezes, ele se sentia feliz por ter conhecido os outros. E as vezes ficava triste.
Vagando de uma extremidade a outra desse espectro das suas emoções, Sai adormeceu sem perceber.
Quando acordou, não tinha uma resposta. Mas ele ainda tinha tempo e até alguns amigos.
A noite tinha acabado.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.