Olho ao redor rapidamente, procuro se há outros inimigos na redondeza. Não tinha nenhum, nosso único problema era o troll que estava em nossa frente, apenas um. Atrás dele estava a estrada que precisávamos chegar, perto e ao mesmo tempo tão longe.
— Consegue prendê-lo novamente? — pergunta Clara ainda em posição de luta.
Curt estava caído ao meu lado, ainda havia um pouco de sangue que havia escorrido por seu rosto. Os outros dois estavam de pé, um tank e um arqueiro, ainda temos um time equilibrado, nós podemos derrubar ele, mas sem um guerreiro acabaremos demorando demais.
— Consigo — falo. — Arly pode acertar algumas flechas para chamar sua atenção? Preciso que se aproxime um pouco.
O arqueiro olha para mim e depois para o monstro, sabia que não gostava de mim, mas trabalhar juntos era a nossa única opção atualmente. Olho para nosso adversário, não estava se mexendo, parece que apenas deseja barrar o nosso caminho. Provavelmente mais deles estão à caminho.
— Temos que o derrubar rápido!
Quando termino de falar uma flecha é disparada, atingindo o pescoço do Troll. Ele se enfurece completamente assim que é atingido, começa a correr em nossa direção à toda velocidade, diferente do esperado, por seu tamanho, sua velocidade era assustadora. Outra flecha acerta seu peito, mas não o impede de continuar correndo.
— |Armadilha de terra| — Estico minha mão em direção a ele enquanto termino de falar.
A terra sobe rapidamente, o derrubando, o chão segurava sua perna como se fosse uma mão. Clara começa a correr em sua direção, Arly atira flechas em sequências, elas atingiam suas costas e ombros que estavam expostos.
— Fique atrás de mim. — Ouço a voz vindo da minha lateral.
— Obrigada Ty — agradeço.
Ty também não era muito com minha cara, mas o vejo entrando em minha frente, agora a retaguarda estava totalmente protegida, poderíamos atacar sem nos preocupar em ficarmos expostos. Clara acerta vários golpes em seguida, mas sua adaga não parecia conseguir machucar aquela pele dura. As flechas continuavam sendo acertadas, mas agora apenas batiam e caiam no chão. Sua defesa está aumentando.
— Recue — chamo Clara.
Ela tenta pular para trás, mas sua reação não foi rápida o suficiente, acaba sendo acertada por um soco do monstro que estava se levantando. Me desespero vendo minha amiga sendo arremessada, mas não posso perder a calma agora.
— |Raio de luz|.
Um grande raio sai da ponta de meu cajado e atinge o troll, que estava quase se levantando é atingido no seu ombro, a sua velocidade realmente não condizia com seu tamanho, havia mirado em seu peito, mas ele conseguiu desviar no último segundo. Esse é meu ataque mais poderoso, mas não posso usá-lo muitas vezes, talvez mais uma ou duas.
— Derrube ele Ty. — Clara fala levantando o tom de voz, ela estava bem.
Ty corre com todas suas forças o atingindo, a besta cai para trás sendo jogada alguns metros. Essa era a nossa chance.
— Me ajude a carregar o Curt — falo para Arly.
Ao me ouvir ele rapidamente corre até nosso amigo desacordado. Peguei seu braço esquerdo e o coloquei por cima do meu ombro, Arly faz a mesma coisa com o outro lado. Começamos a correr, tínhamos que passar pelo monstro caído para chegarmos a estrada. Nesse momento escutamos algo, árvores caiam atrás de nós.
— Os reforços dele chegaram — Clara fala olhando para trás, seu rosto estava pálido.
— Mais trolls, estão vindo, estão vindo — Arly começa a se desesperar fazendo Curt escorregar um pouco de seu braço.
— Fique calmo, precisamos correr o máxi... — Não consigo terminar de falar. Curt escorrega derrubando nós dois.
Olho para o lado, mas tudo que vejo são as costas de Arly, estava correndo na frente, sem nós. Ele nos abandonou e está fugindo sozinho.
— Bianca! — Clara grita correndo até nós, sua perna parecia estar machucada, estava mancando.
Ty parecia estar muito abatido com a súbita ação de seu amigo, mas decidiu ficar ao nosso lado, ele corre até mim.
— Eu o carrego — diz soltando seu escudo e colocando Curt atravessado em seus ombros.
Todos nos levantamos para correr, mas olhando para frente a visão é horripilante. O Troll havia se recuperado e estava de pé, em sua mão, meio fechada, estava uma grande massa de carne, ele dá uma mordida e mastiga enquanto olha para nós, em seus pés estava um arco, seu aro estava partido ao meio. Sinto um embrulho em meu estômago, mesmo não tendo comido nada parece que algo queria sair, consigo sentir o gosto amargo em minha boca por uma fração de segundo, assim como um aperto na barriga. Coloco a mão na boca, mas não sai nada.
— Perdemos a brecha que tínhamos — Ty fala enquanto se ajoelha no chão.
— Não podemos... — Clara começa a falar, mas suas palavras são interrompidas, consigo ver uma expressão preocupada em seu rosto por um milésimo de segundo, ela vem em minha direção.
Sinto um impacto forte nas costas que arremessa meu corpo, minha visão se apaga por um instante.
Abro os olhos rapidamente, estou olhando para o céu e as folhagens das árvores. Estava caída no chão, pois conseguia sentir a grama encostando em minha pele, meu corpo está dolorido e pesado demais para que tente me mexer.
— NÃO — O grito aterrorizado de Ty me desperta completamente, logo em seguida pode ser ouvido o som de outro grande impacto.
Tento me levantar, mas algo impede meus movimentos, percebo que algo estava em cima de mim, quando olho vejo era Clara. Agora me lembro claramente, antes de ser atingida fui puxada por alguém, ela entrou na frente do golpe para que eu não fosse atingida.
— Ei, Clara, você está bem? — Levanto meu braço esquerdo com toda a força e tento mexê-la.
Não há reação, ouço barulho dos grandes passos dos monstros se aproximando, puxo Clara para meu lado com cuidado, em seguida me sento no chão.
Em minha frente estava nossos dois companheiros, na verdade seus corpos estavam lá. Curt havia sido pisado por um troll, Ty não podia ser visto, pelo menos não seu corpo inteiro. Talvez por causa do choque nenhuma única lágrima se atreveu a sair de meus olhos, olhando ao redor estava cercada por pelo menos cinco deles, não há escapatória alguma agora. Sinto um pequeno puxão na minha mão.
— Clara? — Olho em sua direção.
— Me... — Ela cospe sangue quando tenta falar.
— Não fale, vai acabar piorando, vou te curar agora mesmo — falo me ajoelhando e colocando minhas mãos em suas costas.
Ela dá uma pequena risadinha ao me ouvir falar.
— Você sabe muito bem qual meu estado. — Tosse mais duas vezes, sua respiração estava pesada. — Você pode me virar de costas para o chão? Quero ver seu rosto.
Os monstros estavam parados, realmente não os entendo, mas pelo menos poderei falar com minha amiga uma última vez. Viro seu corpo assim como havia pedido, agora o choque de antes já havia passado, sei muito bem o que aconteceu e o que está por vir, as lágrimas são inevitáveis, mas a maior dor nesse momento é perder a pessoa mais importante em minha vida.
Ela olha para mim e sorri, seu rosto estava pálido, o cabelo que ela cuidava com tanto zelo estava todo bagunçado, passo a mão em sua cabeça.
— Sempre brigava comigo para me cuidar melhor — falo.
— E você nunca me ouviu... — Ela ri mais uma vez, mas é interrompida por uma tosse. — Você sabe que isso não é sua culpa certo? — Tenta levantar sua mão, mas não consegue, vendo isso seguro sua mão. — Suas visões, elas... não são... — Precisava de cada vez mais esforço para alguma palavra sair. — Amaldiçoadas...
Seus olhos perdem o foco, a respiração que havia ficado fraca agora era inexistente, a pouca força que restava em suas mãos se esvai. Minhas lágrimas caem em seu rosto, mas as limpos depois de fechar seus olhos. Mesmo na morte ela continuou com um grande sorriso.
Tento me levantar com a pouca força que me resta, uso o cajado como forma de bengala, mas nem essa força é o suficiente para me manter de pé, acabo caindo de joelhos no chão.
Desculpe fazer isso com suas últimas palavras, mas realmente não posso acreditar nelas, essa é a segunda vez... Mesmo já tendo passado por isso não consegui fazer nada mais uma vez. Olho para cima. O sol está no alto, não há nuvem alguma no céu, hoje o clima está ótimo, decidimos fazer o percurso hoje justamente por isso.
Os monstros parecem ter cansado de brincar comigo, seus passos pesados começam mais uma vez. Olho para aquele que bloqueava o caminho para estrada, se não fosse por ele poderíamos ter conseguido escapar. Não sei se Trolls são inteligentes, mas olhando para seu rosto tenho a sensação de que o vi sorrindo, no final não tínhamos chance alguma desde que chegamos nessa floresta.
— Apenas acabe com isso logo — falo.
Ele para, logo em seguida seu corpo cai no chão fazendo um grande barulho, de trás dele sai um homem. Suas roupas eram negras, assim como seu cabelo, ao seu lado está uma pequena garotinha.
— Acabe com todos. — Ele diz dando um passo em minha direção.
Seu olhar era verdadeiramente assustador.
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