1 semana depois
Era domingo, um dia novinho em folha, e com motivos de sobra para comemorar. O amor da minha vida teria alta. A semana se arrastou lentamente, com suas horas, minutos, segundos e milésimos, fazendo-me recordar cruelmente da culpa que invadia e crescia em meu peito. Havia uma semana desde que ela estava em observação no hospital. Perdeu muito sangue, estava fraca. Mas agora que voltaria para casa, uma esperança se abrandava dentro de mim, de que tudo ficaria bem e ela me perdoaria.
Não houve um dia sequer em que não fui visita-la. Às escondidas, eu sei. Todas as noites, assim que dormia, Felícia, com certa relutância, me ligava e eu corria para vê-la.
Deitava ao seu lado, e acariciava cada pedacinho de seu rosto angelical pálido. Estava mais branca que o normal, e podia ver as curvas azuis, roxas e verdes de suas veias, percorrendo o comprimento de seus braços. O cabelo, pendia ao lado direito de seu ombro, em uma trança mal feita, que suspeito ter sido obra de sua melhor amiga.
Apesar de tudo, continuava embriagando-me com sua beleza incomum.
Hora ou outra, ela se remexia na cama, e minha respiração parava quase que por instinto. Nenhum movimento. Mas logo em seguida, podia suspirar aliviado. Seus medicamentos sempre cumpriram seu dever, e ela sempre acordava apenas pela manhã.
-Justin, já são 6 da manhã, ela já deve estar acordando. É melhor ir embora, não quero que fique chateado comigo, mas você sabe. – Felícia dizia.
-Eu sei Fê. – Dei um beijinho em sua testa e com cuidado, me levantei. – Jura que ela não disse mais nada a respeito daquele assunto?
-Não. Apenas falou que não queria vê-lo. – Fez uma pausa. – Justin, é verdade? Você transou com sua assistente?
-Eu não sei. – Soltei um longo e cansado suspiro. – Não consigo me lembrar de nada Fê, eu juro.
-Devo acreditar em você? – Sua voz hesitara.
-Também não sei. – Lamentei. – Talvez eu tenha bebido demais para me recordar de alguma coisa, mesmo que ache pouco provável. Pode parecer meio marica, mas estou com medo. Não quero perde-la.
-Não é marica de sua parte ter medo de perder alguém que se ama. – Ela se aproximou de mim e apoiou sua mão sobre meu ombro. – Espero que tudo entre vocês se resolvam. Ela está muito abalada. Tenha calma, e acima de tudo, fale a verdade.
-Obrigado Felícia, por tudo. Por ter me deixado vê-la durante esses dias, e principalmente, por não ter contado nada sobre nossa discursão a sua família. – Abracei-a bem forte. – Preciso ir, as crianças estão me esperando. Vão ficar tão felizes ao saber que a mãe voltará para casa.
-Não foi nada. Ah e tenho que lembrar a você, do pai incrível que está sendo com os meninos. Eles precisaram muito de seu apoio, e você deu o seu melhor.
-Pelo menos posso ser pai de coração. – Disse com certo pesar.
-Justin, não fale assim. Parte meu coração saber que a Laura não estará entre nós... Lembre-se que tem que se manter firme com Britney em relação a isso, ela está sofrendo como nunca sofreu antes.
Assenti.
Já perdi a conta de quantas vezes sentir meu coração quebrar em mil pedacinhos ao me lembrar de que não seria pai. Todos os dias, sem exceção, chorei em silêncio quando ninguém estava por perto. Me sinto sem chão, e tenho suspeitas tenebrosas de que essa sensação perdurará por muito mais tempo.
As únicas pessoas que foram capazes de arrancar um sorriso de mim foram Sean e Jayden. Sim, os dois homenzinhos mais adoráveis que já conheci na vida. Agora entendo quando Britney disse que em seu período difícil, foram eles que deram forças para que se levantasse novamente. Há algo neles incomum em comparação as outras crianças. Eles possuem corpo jovem e alma velha. Isso é fantástico. Inspirador. Sabem como nos fazer sentir bem. Confesso que me apeguei a essa verdade com todas as minhas forças.
Durante essa semana, a casa estava em uma algazarra só. Toda a família Spears se instalou aqui. Com exceção de Jamie Spears e Bryan, que retornaram suas rotinas, mantendo apenas visitas constantes a filha e irmã no hospital.
E hoje não foi diferente, Jamie Lynn e Lynne preparavam um jantar impecável para a chegada dela.
-Hum, que cheiro ótimo! Estava brincando com as crianças e não resisti, o que as mocinhas estão preparando? – Perguntei resistindo a tentação de enfiar o dedão em um dos pratos.
-Costeleta de cordeiro grelhada, nhoque de frango e brócolis e orecchiett. – Jamie Lynn respondeu. – Veja se está bom. – Falou colocando um pedaço da costeleta em minha boca.
-Nossa Jamie, está quente, sabia? – Meus olhos lacrimejaram e ela riu. – E você fica rindo? Engraçadinha. – Resmunguei.
-Deixe de ser rabugento e me responda, ficou bom?
-Poderia ter ficado melhor. – Disse fazendo charme.
-Timberlake! – Me deu um soco no braço.
-O.k. O.k. Ficou uma delícia, satisfeita? – Sorri.
-Satisfeita. – Deu uma piscadela e continuou se trabalho.
Já estava retornando a sala quando Lynne me chamou.
-Justin?
-Sim?
-Porque você só visita Britney à noite?
Por um instante perdi a voz, e meu corpo estremeceu com medo de que não conseguisse encontra-la a tempo.
-Gosto de ficar com as crianças, e prefiro visita-la a noite, quando eles já estão dormindo. – Era verdade, então não fui de um todo mentiroso.
-Ah. – Disse, deixando escapar dúvida. – Admiro sua relação com os meninos.
-Faço o melhor que posso. – Forcei um sorriso.
***
O dia de domingo amanheceu ensolarado. O sol brilhou durante todo o tempo no céu. O ar fresco resurgiu depois das chuvas torrenciais que serviu de enfeite durante meus dias assombrosos, fazendo-nos ter a leve e passageira sensação de estarmos flutuando. Mas, assustadoramente, tudo mudou da água para o vinho. Desde o fim de tarde, o sol desapareceu muito antes da hora, e em seu lugar, nuvens carregadas preparavam-se para descarregar suas reservas, com chuva forte.
Não costumo lidar muito bem com mudanças repentinas, e essa só serviu para reforçar a ideia.
Desde esse fato, tento afastar de meus pensamentos, a ligação que o tempo lá fora pode ter com a chegada dela. Pode parecer bobagem, mas sim, acho que as coisas não estão caminhando para um final feliz. E tempestades, trovões e relâmpagos sempre foram melhores amigos de cenas de tensão em filme hollywoodianos.
Estamos conversando contagiantemente sobre a infância das irmãs Spears. Dona Lynne fez questão de contar segredos inimagináveis sobre essas duas para mim, logo depois de dar um basta impecável no jantar, e claro, dei boas risadas e ouvir atentamente a cada detalhe. Tinha Jamie Lynn ao meu lado. Sempre gostei de minha cunhada, tenho nela uma irmã que nunca tive, e vê-la tão crescida, faz perder-me em memórias passadas, de quando ela não passava de uma garotinha meiga e cheia de energia. As crianças estão brincando de esconde-esconde, e podemos ouvir risadas e barulhos constantes de chinelo batendo no assoalho. Apesar de minha insegurança, posso dizer que vivo um momento feliz.
-Britney é muito mole, ela apanha sempre de mim. – Jamie confessou com uma risada. – Vive dizendo ao papai, “Jamie Lynn é forte, muito forte”.
-Não pode ser, vocês possuem dez anos de diferença. – Falei duvidoso.
-Isso não impede de que eu seja mais forte que ela. – Disse. – Desde pequena, quando tínhamos 10, 20 anos, brincávamos de lutinha, e ela sempre levou a pior, pode crer.
-Confesso que deve ser muito engraçado ver Britney apanhando de você. – Ri. – Vocês deveriam fazer isso mais vezes, de preferência quando estiver por perto, o.k.?
-Claro, com todo prazer! – Deu uma piscadela.
-Vocês dois juntos não prestam, definitivamente. – Lynne falou. – Não acham que já passou da hora dela chegar? – Estava visivelmente nervosa.
-Devem estar a caminho. – Respondi.
-Conversou com as crianças para que não façam nada estúpido com ela? Tipo, pular em seus braços para um abraço? – Perguntou.
-Pode deixar Lynne, elas vão saber o que fazer, conversei e deixei claro os limites que Britney terá nos próximos dias.
Assentiu.
Um silêncio angustiante perdurou nos próximos segundos. Tive uma breve sensação de que os ponteiros se arrastavam lentamente no relógio, e para que a angústia não aumentasse, me limitei a conferi-lo. Enfim, o silêncio foi quebrado, pelo divertimento e susto. Duas sensações completamente distintas, mas que podem no final, dar grande impulso para o pior.
-Justin, não quer saber de nada específico em relação à infância de Britney? – Jamie indagou.
-Hum, não sei. A conheço desde os 13 anos... Mas tenho uma curiosidade... Ela sempre gostou de movimentos? De fazer tudo extravagantemente? – Uma malícia passageira vagou pela minha mente, e resolvi libera-la em forma de pergunta.
-O quê? – Ela levou as mãos à boca. – Oh meu Deus! Não queria ter sido obrigada a escutar isso. Sério. Justin! – Deu um tapa em minha perna. – Você quer dizer que a minha irmãzinha é afobada na cama? – Acabou rindo.
-Ora essa Jamie Lynn, vocês duas são irmãs e já devem ter falado sobre isso. – Entramos os dois em uma crise de risos.
-Sim, é claro que sim. Mas é estranho ouvir saindo da sua boca. Fique sabendo que não quero saber de suas intimidades, rum.
-Tá legal! Não falo mais no assunto senhorita irritada! – Levei as mãos para o alto em rendição. – Vou pegar um refrigerante, vocês querem?
-Coca diet, por favor. – Jamie falou e Lynne balançou a cabeça em negativo.
Estava me levantando, quando escutei um barulho e vire-me na direção. Meu coração parou de bater. Um místico de alegria e medo me invadiu. A segunda opção prevalecia de certo modo. Dei ordem e ele voltou a bater. Lentamente. E de repente, saltou dentro de meu peito ao vê-la caminhar cuidadosamente, com apoio de sua melhor amiga.
Vestia um short jeans claro, blusa branca e casaco moletom para se aquecer do frio. O cabelo estava preso em um coque frouxo. A pele já não estava tão pálida, e podia ver suas bochechas brevemente coradas. Sim, ela estava em um daqueles dias que sua beleza se encontrava aguçada, e deveria ser apreciada com delicadeza por todos ao seu redor.
-Consegue andar sozinha querida? – Escutei Felícia perguntar.
-Acho que sim. – Respondeu baixinho, ainda se erguer os olhos em nossa direção.
-O que está esperando Justin? Vá ajuda-la. – Lynne falou.
Com certa hesitação, me aproximei lentamente, e pela primeira vez, seus olhos encontraram os meus.
-Não precisa. – Disse secamente.
Seu olhar deixou escapar raiva, e eu estremeci em seguida.
-Minha irmã! – Jamie Lynn exclamou e foi em sua direção para um abraço carinhoso. – Como está se sentindo?
-Exausta. – Respondeu. – Cadê os meus filhos?
-B, não quero que fique assim. – Acariciou o seu rosto. – Você fica mais linda com um sorriso no rosto.
-Sinto muito Jamie Lynn, você não vai ver esse sorriso tão cedo. – Aos poucos ela se aproximou do sofá e sentou-se.
-As crianças estão brincando de esconde-esconde querida, já, já aparecem por aqui. – Lynne explicou e sentou-se ao seu lado dando um abraço acolhedor.
-Ai mãe, sinto falta desse abraço! – Ela disse ainda aconchegada no colo da mãe.
-Mas nós nos vimos ontem. – Lynne acariciava seus cabelos.
-Eu sei, mas abraço de mãe nunca é demais.
Lynne sorriu.
-Preparei um jantar delicioso para você. O Justin está de prova, ele provou e disse até que comeria rezando.
-Oops! Nós preparamos não é mãe? – Jamie Lynn se precipitou a falar.
-Desculpe, não estou com fome.
-Britney, você não comeu quase nada hoje. – Felícia disse.
-Não estou com fome. – Retrucou.
-Os meninos estão muito felizes que está de volta. – Hesitei em falar.
Ergueu os olhos para me ver melhor, e com certa indignação falou.
-O que está fazendo aqui?
-Britney, o que está acontecendo com vocês dois? – Lynne questionou.
-Ai meu Deus! – Riu irônica. – Pelo visto, todos vocês ainda não sabem de nada. – Sua voz era só escárnio. – Além de mentiroso, parece que sua habilidade em enganar as pessoas anda mais aguçada.
Lynne me encarou sem entender, e seu olhar já dizia tudo. Queria, ou melhor, exigia saber o que estava acontecendo. Vasculhei meu cérebro atrás de respostas, ou ao menos, uma mínima explicação tosca possível, e dei graças a Deus quando as crianças invadiram a sala em uma correria.
-Mamãe? – Jayden perguntou surpreso. – Mamãe! – Correu até ela, mas pareceu lembrar-se de meus conselhos e manteve a calma. – Estava morrendo de saudades mamãe! – Com cuidado, ele sentou-se em seu colo e abraçou-a.
-Ô meu querido! – Percebi que seus olhos marejaram em um passe de mágica. – Mamãe também sentiu falta de vocês! – O encheu de beijinhos e voltou sua atenção para Sean, que estava um pouco distante chorando. – Venha aqui querido, não quer me dar um abraço?
-Desculpe mamãe. – Sussurrou. – Eu não cumprir meu papel de príncipe. Desculpe ter te decepcionado. – Fungou. – Promete que não vai ficar brava comigo?
-Sean! Eu não estou com raiva de você. Nunca. E você não me decepcionou, foi o meu principezinho. Me protegeu, e fez o que tinha que fazer. Eu te amo meu amor, venha aqui. – As lágrimas já escorriam pelo seu rosto.
Ele correu para os braços da mãe e um abraço demorado e cheio de ternura durou nos próximos segundos.
Vê-la com seus filhos, sempre era uma cena de se admirar. Mas aquela em especial, permaneceria em minha memória para sempre.
-A senhora está bem? – Ele perguntou.
-Mamãe só está cansada. – Respondeu e deu um beijinho em sua testa.
-Nós temos um monte de coisa para contar. – Jayden falou animado saindo do colo da mãe e sentando ao seu lado. – Justin nos levou e nos pegou todos os dias no colégio. Foi muito divertido. A gente tomou sorvete e teve um dia que fomos para o parque brincar.
Ligeiramente, seus olhos encontraram os meus. Já não possuíam a raiva de minutos atrás, mas agora refletiam a mágoa presente em seu coração.
-E foi? Vocês gostaram da companhia dele?
-Muito, mamãe! – Os olhinhos de Sean brilhavam como estrelas no céu. – Ah e nós fomos para o cinema também. Assistimos Como Treinar O Seu Dragão 2. É muito engraçado, a senhora precisa assistir.
-Pode deixar que não vou perder a oportunidade.
Permanecíamos em uma magnífica redenção ao observa-los.
-Ele nos disse que nós entraremos de férias, assim que a turnê dele acabar. Vamos para Maui. E vai nos ensinar a surfar. – Ele continuou animado.
-A senhora não sabe surfar, sabe mamãe? – Jayden quis saber.
-Não sei surfar querido.
-Então vamos aprender todos juntos! – Deu um beijinho em sua bochecha.
-Não vamos aprender. – Sua voz saiu quase que em um sussurro.
-Por que não? – Sean questionou rapidamente. – Vai ser legal mamãe. – Insistiu.
Sentir minhas pernas estremecerem, e ali tive certeza de que já não tinha controle sobre elas. Suspeito que havia perdido o controle de tudo. Não adiantava lamentar, agora seria encarar a situação.
-Britney, vai ser legal. – Falei. – Por favor, não faça isso. – Implorei.
Ela balançou a cabeça em negativo.
-Desculpe meus amores, mas ele não vai poder ensinar surf a vocês. Mamãe pode contratar o melhor professor de Los Angeles e vocês aprenderão em um instante! – Sua voz estava embargada pelo choro.
-Britney, o que quer dizer com isso? – Jamie Lynn perguntou confusa.
-Eu não quero um professor, quero que Justin nos ensine! – Jayden resmungou.
-Felícia, me ajude a subir para o quarto, eu preciso descansar. – Ela levantou-se com dificuldade.
Felícia assentiu.
-Britney, não estamos entendendo uma vírgula do que está acontecendo e eu exijo uma explicação. – Lynne falou irritada.
-Agora não mãe. – Limpou as lágrimas e já estava subindo as escadas.
Apesar do receio, sei que precisava fazer alguma coisa.
-Nós precisamos conversar. – Corri até ela e segurei em seu braço.
Estávamos tão perto um do outro, que pude sentir sua respiração ofegante, e seu perfume doce e suave, tão típicos para mim.
-Você tem razão, precisamos dar um basta nisso tudo. – Falou depois de um tempo.
Subimos e Fê acomodou-a na cama da melhor maneira possível, deixando sua coluna quase ereta em um amontoado de travesseiros. Me limitei a sentar na ponta da cama, de onde tinha uma vista favorável de seu rosto já sem lágrimas escorrendo por ele.
-Está bem assim? – Felícia perguntou colocando mais um travesseiro em suas costas. Ela assentiu. – Bem, vou deixar vocês sozinhos. O seu celular e o tablet estão em cima da cômoda, se precisar. – Disse dando um beijinho em sua testa.
-Foi bom ter falado sobre o tablet. – Comentou. – Obrigada Fê.
Ela sorriu e nos deixou sozinho.
-Britney, eu não sei bem o que fiz, mas – Me interrompeu.
Deu um longo suspiro e só então continuou.
-Você não sabe o que fez? É muito irônico de sua parte dizer isso. Mas posso muito bem recordar sua memória. Pode, por favor, pegar o tablet em cima da cômoda? – Seu olhar me encarava duramente, agora sem deixar escapar uma só emoção.
Respirei fundo e fiz o que pediu. Já sabia o que tinha contido naquele tablet, mas queria ver com meus próprios olhos o meu erro desconhecido.
-Bem – Entreguei. – Logo depois que saiu, estava lavando os pratos quando recebi uma entrega. O Ednan disse que o rapaz que entregou, avisou que era um presente seu. Fiquei tão feliz, porque você sabe como me surpreender. – Riu como se achasse idiota seu próprio ato. – Eram um buquê lindo de rosas vermelhas, e uma caixa média de presente. Lembro que tinha um cartão e eu o li – Fez uma pausa. – O conto de fadas acabou. Era isso que tinha escrito, e depois comecei a abrir o presente, e retirei o tablet de dentro. – Parecia tentar controlar suas emoções. – Começou a rolar um vídeo, e eu custei a entender o que passava, pois estava muito escuro. Mas quando enfim descobri, eu realmente soube que você sabia como me surpreender. – Entregou-me de volta o tablet, já ligado. Um vídeo turvo e escuro começou a rolar, mas aos poucos tudo pareceu ter foco, e lá estava eu transando com minha assistente. Bem, acho que posso dizer que era eu, ou ao invés disso, a única explicação era terem contratado um sósia. Minhas mãos tremeram e eu desliguei logo em seguida. – Depois disso – Continuou. – Eu me neguei a acreditar e uma dor imensa tomou conta de mim. Era como se murros estivessem sido dados em minha barriga, e o sangramento veio para fechar com chave de ouro a cena dramática. – Fitava suas mãos, e rapidamente limpou uma lágrima que escapou. – O resto você já deve saber. Não vi mais nada e quando acordei, a Laura já não fazia parte de mim. – Se encolheu na cama abraçando suas pernas e não suportou a dor das lembranças e despencou em lágrimas.
-Eu sinto muito meu amor – Perdi o controle e meus olhos marejaram. – Nunca iria enviar uma coisa dessas para você, jamais. – Com certa hesitação, me aproximei mais dela para aconchega-la. Foi tudo inútil.
-Não encoste em mim. – Disse ríspida. – Foi sua culpa, por causa de sua traição, eu perdi a Laura, e agora, agora não me resta mais nada. – Gritou.
-Não fale assim, por favor. Jamais foi minha intenção querer que tudo acabasse como acabou. Você está sendo injusta. Eu perdi dois filhos de maneiras trágicas, e eu estou – Minha voz falhou. – Estou arrasado.
-Injusta? Eu? – Riu irônica. – Você me traiu.
-Eu não sei como isso aconteceu, eu juro. – Percorri as mãos pelo meu cabelo.
-Como explica o fato de você estar gemendo na porra de um vídeo com sua assistente gostosa? Em? Me responda Justin Timberlake?
-Tudo bem – Vasculhei minha memória até aquela noite. – Sair para comemorar a passagem de minha turnê pelo Reino Unido em uma boate, como faço na maior parte dos países que visito, e eu lembro que não bebi muito, mas de repente tudo não passou de borrões indecifráveis, não me lembro de mais nada. Acordei no dia seguinte na cama de meu quarto de hotel. – Suspirei. – Com Rose.
Ela me fitava com seus olhos marejados, exibindo ainda mais mágoa.
-Agora sim está explicado! Ela deve estar bastante satisfeita, conseguiu o que tanto almejava. Transar com o gostoso do seu chefe.
-Eu não entendo como isso foi acontecer. Perguntei a ela se tinha acontecido alguma coisa, ela me jurou que não.
-Há-há. – Riu com sarcasmo. – Pare de ser ingênuo, droga! – Gritou. – Você é idiota ou o quê? Porque só um imbecil acreditaria na conversa de uma vagabunda aproveitadora. Quantas vezes te avisei que ela não prestava, em? E o que era que você me dizia? Que eu era paranoica, ciumenta e blá, blá, blá. – Levantou-se. – Rose fez a jogada, e você próprio deu um xeque-mate em nosso casamento.
-O que quer dizer com isso? – Continuei sentado. Havia perdido todas as minhas forças e argumentos para tentar rebater tudo o que dizia, afinal, era tudo verdade, e o idiota era eu.
-Justin, você me magoou da pior maneira possível. – Apoiou-se na cômoda, parecia ter perdido as forças. E assim que fiz menção de correr para ajuda-la, ela se adiantou. – Estou bem. – Respirou fundo. – Venho suportando muito mais coisas do que imagina. Suas desconfianças, suas grosserias e estupidez. Sua ausência em momentos simples. – Chorava novamente. – Eu nunca pedir nada em troca, além de sua confiança, proteção e amor. Nada. – Gritou novamente. – Nunca pedir presentes caros, e nem que você se exibisse por aí, dizendo que nós formávamos o casal de ouro de Hollywood. Tentei ser a melhor esposa que podia ser, e que eu achava que você merecia ter. Eu não sei cozinhar muito bem droga. – Suas lágrimas desciam uma atrás da outra, sem pausa, iguais a minha. – Mas eu estava do seu lado, te apoiando, querendo saber de seus problemas, de suas dúvidas, e tudo o que afligia seu coração. Apesar de ser atrapalhada, e de ter um jeito um pouco complicado e intenso de levar a vida, acho que eu fiz um bom papel.
-Britney, não faz isso, por favor. – Implorei.
-Justin, eu confiei cegamente em você. Confiei meus filhos, pois tinha em mente que você seria um bom pai para eles, e acertei em cheio, eles te amam. – Fungou. – Larguei aquilo que mais amo fazer, que é performar para meus fãs, em troca de crescer nossa família, e olha o que você fez? – Olhou em volta. – Duvidou de mim em todos os momentos desde que nos reencontramos. Dos momentos simples aos complicados, você sempre tinha um pé atrás em relação a mim. Mas mesmo assim, eu cedia, porque bem no fundo de meu coração, eu sabia que valeria a pena, e te dava uma nova chance. – Se aproximou de mim. – E realmente pensei que tinha valido a pena. Nossa você estava sendo tão carinhoso e romântico comigo, mesmo a distância, mas era tudo mentira. – Me levantei e estávamos frente a frente agora. – Brincou com meus sentimentos. Foi cruel. Fez comigo o que todos os outros fizeram. O que pensam que eu sou? Uma boneca marionete, que usam e abusam, se divertem, e quando enjoam, me joga de lado? Me faz de idiota? É isso? – Balancei a cabeça em negativo e toquei seu rosto levemente, mas ela tirou minha mão o mais rápido possível. – Você se vingou né? Agora deve estar satisfeito não é? Ora essa, eu estou sentindo exatamente a mesma dor que te fiz passar no passado. Hum, deve estar soltando fogos de artifício por dentro! Não seja tímido, pode extravasar.
Sem pensar, a puxei para mim e beijei seus lábios que tanto desejava. Nossas lágrimas se misturaram em uma confusão. Percorria minha mão esquerda pela sua cintura, enquanto a outra estava no pescoço. O beijo primeiramente começou hesitante, de ambas as partes, principalmente a dela, mas logo depois serviu de válvula de escape para toda a nossa dor.
-Me solta! – Gritou levando a mão à boca. – Isso não adiantou de nada. – Sua respiração estava ofegante. – Seu charme não me atinge mais. – Duvidava de cada palavra que saía de sua boca. – Acabou. Eu não quero mais te ver, a não ser na sala do escritório de meu advogado. Tire tudo o que é seu daqui e vá embora. – Gritou.
-Por favor, eu te amo, não sei como tudo isso aconteceu, mas não me deixe. Podemos passar por tudo isso juntos, o nosso amor é mais forte que qualquer outra coisa baby.
-O amor nem sempre é necessário, já vivi muitos anos sem ele em minha vida. Suportei e posso suportar novamente. Um dia sua mágica não me afetará mais, e poderei olhar para tudo isso e ver que não passou de uma grande tolice. Não deveríamos nunca ter nos reencontrado, e muito menos casado. – Virou-se de costas para mim. – Mas tudo bem, as pessoas cometem erros todos os dias.
-É mentira, tudo isso que está falando. –Cair de joelhos no chão. – Você me ama e todos os momentos que passamos juntos valeram a pena. Você prometeu que nunca me deixaria ir embora, mesmo que cometesse uma burrada.
-As pessoas às vezes não tem noção das promessas que fazem na hora em que as fazem.
-Não posso continuar a viver sem tê-la ao meu lado, nada tem sentido. Eu amo as crianças e eles gostam tanto de mim, nós entraríamos de férias e tudo ficaria bem, por favor. – Estava desesperado.
-E quando acabassem as férias, em? – Voltou sua atenção para mim novamente. – Novos problemas surgiriam e mais uma vez nosso casamento ficaria por um fio.
-E as crianças? – Minha voz soou tão baixa que temi que ela não tivesse escutado.
-Elas aprenderão a lidar com sua ausência, vai ser difícil, mas tudo vai se ajeitar.
-Eu te amo tanto. – Sussurrei me levantando. – Me der uma última chance, por favor?
-Desculpa, esse é o nosso último adeus. – Seu semblante aparentava uma tranquilidade assustadora, era como se dissesse aquilo tão naturalmente, que dor nenhuma poderia ser expressa. – Vá embora, não olhe para trás.
Obedeci.
Teria que enganar a mim mesmo e dizer que agora ela faria parte de meu passado e embarcaria em uma nova jornada na minha vida. Ter em mente que todos os nossos momentos juntos não passaram de um sonho bom, em que eu fui acordado e obrigado a retornar para a realidade. Minha realidade, uma realidade cruel e amarga. Conformar-me com o fato de que fui um imbecil idiota capaz de estragar com tudo. Acreditar fielmente que tive a felicidade na palma de minhas mãos, mas que as deixei ir embora, mais uma vez.
POV’S Justin – OFF
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