55. SAUDADES
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Atsumu se assustou com a reação que os recebeu quando saíram para o café da manhã no dia seguinte. Oikawa pulou neles logo que saíram do quarto. Não, ele pulou mais especificamente em Sua Alteza. O coelho a abraçou contra seu peito, os ombros tremendo em um choro mal contido.
— Tooru? — perguntou Sua Alteza, a voz repleta de preocupação. — O que aconteceu? Você está bem?
— Nós é que temos que perguntar isso — ralhou Akaashi. Sua expressão era severa, mas a raposa podia ver que isso era uma fachada. Os olhos dele estavam vermelhos e inchados.
Todos eles estavam ali. Sugawara tinha lágrimas escorrendo pela face, Kenma estava igual, apesar de embalado nos braços de Akaashi. Kageyama tentava conter o choro, esfregando o rosto repetidas vezes. Até mesmo os rostos de Ushijima e Kuroo estavam distorcidos em preocupação.
— Meninos? — disse Atsumu baixinho.
— Nós sentimos vocês — informou Sugawara, soltando um soluço. Kageyama o abraçou. — Sentimos seu desespero.
— O que aconteceu? — questionou Akaashi. — Por que Sua Alteza está ferido?
As faixas ainda estavam em torno do peito e pescoço do príncipe. Os ferimentos estavam melhores, porém não ao ponto de ficarem expostos. Ela havia explicado que eles demorariam a curar, por terem sido feitos por Hinata.
— Eu estou bem — garantiu Sua Alteza, a voz abafada por ainda estar com o rosto pressionado contra o peito de Oikawa.
— Mentiroso — sussurrou Oikawa. — Você está sempre mentindo, sempre diz que está bem. E nós nunca percebemos. Você não nos deixa ver.
O coração de Atsumu doeu. Sabia que Sua Alteza acreditava que os meninos eram alheios a ele, porém não era assim. Eles se esforçavam a maneira deles.
— E você também — Oikawa se dirigiu a Atsumu. — Você é parte da nossa família. E nós o amamos. Tem noção de como foi ruim sentir o seu desespero, o seu medo, e não poder ajudar?
— Sequer sabíamos onde vocês estavam — contou Kageyama. — O Palácio não nos deixou procurar.
Atsumu olhou para cada um deles, seus amigos, sua família. Ele não queria contar a verdade. E sabia que Sua Alteza também não. O assédio e a tortura proporcionados por Hinata... Deixava a ambos com vergonha, com raiva. O príncipe não queria sentir a pena deles. Ainda havia muito para eles conversarem a respeito do que aconteceu, do que o demônio disse.
No entanto eles não queriam mentir.
— Nós recebemos uma visita desagradável — informou Sua Alteza. Ele se afastou do abraço de Oikawa, embora continuasse próximo. — Era para mim, porém aconteceu de Atsumu estar junto comigo. Isso é tudo que eu vou dizer sobre isso.
De imediato as feições deles mudaram para ódio.
— Aquele desgraçado traidor — xingou Akaashi. — Vocês lutaram?
— Claro que sim. Ele ficou em um estado pior que o meu — garantiu o príncipe.
Atsumu ficou confuso por um momento, e depois entendeu. Sua Alteza jogou a culpa para o Primeiro Príncipe. Fazia sentido, considerando que eles eram inimigos na luta pelo trono.
— Como ele ousa vir aqui? — inquiriu Kageyama, suas mãos ocupadas esfregando as orelhas grandes de coelho de Sugawara, o acalmando.
— Eu deveria ter imaginado que ele viria, afinal não faz muito tempo que eu sequestrei mais alguns de seus servos — compartilhou Sua Alteza. — Eu lamento que tenham se preocupado. Eu realmente estou bem agora.
Oikawa voltou a abraçar a princesa, fungando. Não haviam mais lágrimas, porém seu rosto estava todo vermelho.
— Já acabou o chororó?
Atsumu pulou de susto diante da voz de Sakusa, que apareceu se apoiando em seu ombro. A raposa bateu uma de suas caudas nele, que se afastou.
— Quanta violência. E eu achando que éramos amigos agora — disse o demônio.
— Não força a barra.
— Kiyoomi? — chamou Akaashi. — Por que está aqui?
— Vou passar um tempinho no palácio. Houve um acidente em uma das minhas oficinas. — O demônio foi até a coruja e se enfiou em seus braços, uma de suas mãos acariciou o cabelo de Kenma.
Claro que ele estava mentindo, Atsumu podia sentir. Sakusa provavelmente ficaria para evitar que Hinata voltasse.
— Droga — praquejou Kuroo.
Atsumu sorriu.
— Sua Alteza está mesmo bem? — perguntou Sugawara.
— Estou sim, Suga. Não se preocupe. — Oikawa fez um bico e segurou o rosto do príncipe. — O que foi?
— Apenas percebi que estou com saudades. Sua Alteza não nos chama mais, não recebemos nem beijos mais — desabafou. O queixo de Atsumu caiu, isso não significava... Realmente? — Eu sinto falta de estar com Sua Alteza.
A raposa teve suas suspeitas confirmadas quando Akaashi passou a mão pelo rosto, de uma maneira pesada que dizia: "eu não acredito nisso".
— Por acaso, Sua Alteza não tem feito sexo com vocês? — perguntou Atsumu. O príncipe olhou nervosamente para si, o que foi mais uma confirmação. — Por quê?
— Hã, eu — Sua Alteza foi cortado.
— Eu acho melhor vocês comerem primeiro — disse Sakusa. — Uma boa conversa acontece de barriga cheia.
— Na verdade, dependendo do assunto pode causar mal estar — pontuou Ushijima.
Um silêncio tenso se estendeu antes de Kenma soltar um risinho. Ele falou.
[Suga e eu fizemos pudim de mar, vamos comer e depois conversar]
— O que é pudim de mar? — perguntou Atsumu.
— Vocês fizeram pudim de mar?
Os olhos de Sua Alteza brilharam, as pupilas verticais se destacando. Fosse o que fosse, deveria ser muito gostoso.
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Era maravilhoso. Pudim de mar era delicioso. Era azul, um azul escuro entrecortado por um mais claro que simulava ondas em linhas paralelas e ondulantes. A calda era roxa escura e absolutamente suculenta.
Atsumu descobriu que era uma receita de Sua Alteza.
— Eu aprendi a fazer as ondas apenas, mas Sua Alteza é capaz de fazer peixes e corais com outras cores e sabores — contou Sugawara conforme eles rumavam para a área de travesseiros.
Antes que Atsumu pudesse pensar em pegar um, uma almofada azul é colocada em seu colo por sua princesa.
— Céus, vocês são muito fofos — disse Oikawa. — Eu espero que eu não tenha estragado nada com o que eu disse antes.
— Provavelmente, você não tem um jeitinho muito sútil, não é? — provoca Sakusa.
— Quieto. Ou vou dizer ao Kuroo que você vai acompanhá-lo — ameaça Akaashi. Pois a pantera e Ushijima se retiraram ao final do café da manhã, cientes que aquela conversa era pessoal do príncipe e seu harém.
O rei demônio sentou obedientemente atrás de Kenma e começou a escovar seu cabelo. Fofo.
— Você não estranhou nada, Oikawa — garantiu Atsumu. — Porém eu preciso saber se você realmente quis dizer aquilo. É verdade? — A raposa olhou para o príncipe, seu namorado. — Sua Alteza não tem feito sexo?
O ar ficou um pouco mais gelado conforme ela admitia.
— Sim, é verdade.
— Por quê? Desde quando?
— Desde muito antes de vocês começarem a namorar — contou Akaashi. — Acho que já deve ter no mínimo três ciclos que Sua Alteza não chama nenhum de nós.
Mais de noventa dias? Tudo isso?
— Como... Como Sua Alteza foi capaz de algo assim?
Sua Alteza tocou a mão da raposa com cautela.
— Eu sou um puro-sangue, no entanto sexo não é o pilar da minha vida.
Isso ia contra tudo que Atsumu conhecia dos puro-sangues. Ele só conhecia as bestas sedentas e monstruosas. Aprendeu a aceitar que sexo era algo indispensável para eles. Uma necessidade primal.
— Mas...
— Raposinha, é claro que eu gosto de fazer sexo. É gostoso e divertido. Mas não é tudo na minha vida. Se fosse para eu definir o que realmente significa tudo na minha vida... — Sua Alteza olhou para cada um deles. Para cada membro de sua Caixa de Jóias. — Seriam vocês seis. São vocês.
Atsumu sentiu o lábio tremer com a intensidade da verdade ali. Foi inevitável não se inclinar para deixar um beijo casto nos lábios da princesa.
— Por que, Sua Alteza? — tornou a perguntar Atsumu.
— Eu já não sei ao certo. Não parecia certo, não, não é isso. Eu só... — Esse era um fenômeno raro. Sua Alteza sem palavras. — Eu não queria que sentisse ciúmes, coisas assim.
— Mas eu disse que não sentia ciúmes, nós conversamos sobre isso.
— Mas naquela época você não sentia nada por mim. Você mal havia deixado de me temer.
Era verdade. Quando Atsumu aceitou a declaração de Sua Alteza, não sentia nada além de admiração, respeito e gratidão. Havia apostado que poderia aprender a amar o príncipe, a estar com ele. E aprendeu.
— E também... — continuou Sua Alteza. — Eu não queria a sensação de estar sendo infiel.
Isso sim não fazia sentido.
— Sua Alteza achava que poderia estar me traindo com seus próprios concubinos?
— Era a sensação que eu tinha.
— Bom, isso explica muita coisa — comentou Akaashi. — Então foi essa sua decisão.
Sua Alteza balançou a cabeça.
— Me arrependi dela. — Ela tomou um momento de silêncio para pensar. — Eu também sinto falta de vocês. Não apenas do sexo, mas de estar com vocês em um sentido mais geral. Afinal, eu os amo.
Ninguém falou nada por um momento.
— Eu tenho uma pergunta — falou Suga. — Caso Oikawa não tivesse trazido isso a tona com a boca grande ele... — um protesto do coelho mais velho —... Por quanto tempo mais Sua Alteza teria mantido isso em segredo?
— Provavelmente até o fim de sua vida — brincou Kageyama, fazendo eles caírem na gargalhada. Apenas Sakusa não riu, já que estava ali de penetra.
— Sua Alteza disse que estava com saudades de estar com nós — começou Akaashi —, isso significa que vai voltar a estar conosco?
— Depende da resposta de Atsumu.
— Minha?
A princesa o encarou com aqueles olhos lindos.
— Naquela época você disse que não teria ciúmes, e que se sentiria aliviado. O que sentiria agora comigo fazendo sexo com eles?
Atsumu nem precisava pensar sobre isso.
— Eu ainda não sentiria ciúmes e continuaria aliviado. Você não está incluído no pacote, Sakusa. De você eu tenho ciúmes sim e sempre terei — acrescentou a raposa quando o demônio abriu a boca para falar. — Se há trinta dias atrás eu soubesse que Sua Alteza estava sem sexo há ciclos, eu não conseguiria ficar sozinho com ele sem ter uma crise. Descobrindo isso hoje percebi o quanto eu evoluí. Minha resposta teria sido ficar com medo e pensar o pior, agora eu apenas me preocupo. Eu não vou esconder, Sua Alteza e eu tivemos alguns momentos, como contei para vocês da última vez, eu realmente excitei ele. Pode parecer bobeira, mas eu fico orgulhoso de Sua Alteza. Por ter me deixado tocar nele, e por ter se controlado.
Por um momento sua família apenas lhe encarou, mas então Oikawa estava se jogando em si e levando os dois ao chão. Não houve realmente um impacto, visto que as caudas da raposa eram gordas e fofinhas, com seus pelos dourados espessos e macios.
— Tsumu, eu poderia te beijar agora. Você é tão fofo, filhotinho — disse Oikawa, fungando em seu pescoço.
— Espera, você tá chorando de novo?
— Sim, estou emocionado.
— Seu bobo — brigou Sugawara, mesmo que estivesse secando uma lágrima não caída. — Isso significa que agora vamos voltar ao nosso trabalho com força total?
Sua Alteza olhou para Atsumu, que acenou com a cabeça.
— Sim meninos, vai tudo voltar a rotina. Não me deixem tomar mais decisões bobas.
— Isso seria fácil se Sua Alteza contasse as coisas sem precisarmos perguntar — pontuou Kageyama. Sua Alteza riu, exibindo as covinhas. — Isso são...
— Eu não acredito que estou vendo as covinhas — afirmaram Sakusa e Akaashi ao mesmo tempo. Eles trocaram um sorriso cúmplice.
Algumas reclamações de Oikawa depois, por ter perdido as covinhas, o coelho trouxe outro assunto a tona.
— Falando em beijos, eu quero passar a dar selinhos no Atsumu — declarou.
Se houvessem grilos no Norte, o som deles poderia ser ouvido ecoando pelo palácio de gelo.
— Por quê? — perguntou a raposa, inclinando a cabeça para o lado.
— Eu não preciso de um motivo. Apenas quero. É íntimo e fofo.
De alguma forma, os outros concordaram. (Atsumu cortou a onda de Sakusa novamente). Outra pequena briga começou quando Akaashi contou que já havia beijado a raposa, de língua. Porém no final a ideia dos selinhos foi acatada. De fato, era íntimo e fofo.
— Mas então, quem vai beijar Sua Alteza primeiro? — perguntou Sugawara. — Para matar a saudade?
Adivinhe o que aconteceu a seguir... Sim, eles brigaram. E Atsumu só fez rir. Enquanto Akaashi usava o argumento de ser o Primeiro Concubino, a raposa falou na mente do príncipe.
"Eu acho que Sua Alteza devia contar a eles. Sobre você."
"Tenho medo deles não me aceitarem."
"Eu acho isso impossível. Caso as coisas dêem errado, vou apagar esse pequeno pedaço de memória deles."
"Raposinha, você ainda não sabe manipular memórias."
"Exatamente. O que significa que nada vai dar errado."
Sua Alteza gargalhou, atraindo a atenção de todos. Ela respirou fundo por um momento.
— Meninos, há mais algo que eu quero contar para vocês.
Ao final, depois da princesa se assumir, um grande abraço coletivo aconteceu. Ao qual Atsumu chutou Sakusa para fora.
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Mini extra:
Allu: A vingança tem um gosto doce.
Shoyo: Quieta.
Atsumu: O que eu perdi?
Allu: Seu namorado vive alterando o roteiro, então eu fiz isso e me vinguei dele.
Atsumu: O que você fez?
Allu: Tirei ele do armário. Bom, não que fizesse muita diferença. Afinal o gelo era transparente. *
*Isso é uma brincadeira okay? Isto daqui é ficção. Jamais, em hipótese alguma, exponha aquela pessoa que está no armário. Isso pode ser exatamente ruim para essa pessoa. Respeito ao outro sempre.
Mini extra 2:
Akaashi: Faz tempo que não aparecemos por aqui.
Sugawara: Isso é verdade.
Kageyama: Eu não faço questão.
Oikawa: Pois eu faço. Todos precisam ver a minha luz.
Kenma: Desista, somos secundários, lembra?
Mini extra 3:
Sakusa: Agora, o que eu fiz para essa raposa não gostar de mim?
Atsumu: Eu gosto de você, só quero você com as patas longe do meu namorado.
Sak
usa: Eu salvei vocês dois.
Atsumu: E eu aprecio isso. Porém o nome do que eu tenho é ciúmes e não existe cura.
Mini extra 4:
Allu: E aí, como foi o celibato?
Shoyo: Não sei, como vai ser pobre?
Allu: Não precisa jogar sal na ferida.
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