Aquilo era um desastre.
O pior pesadelo de Bea estava acontecendo e ela não podia fazer nada para mudar aquilo.
Com um suspiro derrotado, se sentou no chão e choramingou.
- Eu não tenho nada para vesti. – Esperniou olhando fixamente para o guarda roupa. - Não tem nada de interessante nesse guarda roupa velho.
- Claro que você não tem nada aí, você jogou tudo em cima de mim – Rose reclamou tirando um vestido lilás da cabeça e olhou a bagunça que a irmã tinha feito.
Haviam roupas e acessórios por todo quarto, não tinha sequer uma superfície que não estivesse ocupada.
Bea fez um biquinho infantil para a irmã.
- Eu só estava procurando alguma coisa especial para hoje.
- E por quê tudo isso? O que vai ter de tão especial? – Perguntou com um toque de sarcasmo.
- Hoje é o show do Lucca, você esqueceu? – Disse em tom chateado.
Rose revirou os olhos.
- Claro que não. Você não fala de outra coisa desde que ele marcou o dia. – Respondeu ela, suavizando a voz completou – É apenas outro show, Bea, você já foi em vários dele. Por quê esse seria diferente?
Bea sorriu e começou a pular na cama, olhando para a irmã com pura alegria.
- Lucca disse que nessa vez vai ter um produtor super famoso lá e que, se ele gostar da banda, pode até patrocinar eles.
- Que bom. Fico feliz que a banda esteja tão bem assim. – Disse se contagiando com a alegria da menor.
Sim, aquele era um sonho antigo de Lucca e da banda, Bea ficava feliz de ver eles tão perto de realizado, principalmente Lucca que ultimamente andava cada vez mais irritado e mal humorado.
Bea sabia que a culpa não era dele. Apesar de ter se transformado um ano atrás, ele ainda não tinha se adaptado a vida de lobisomem e a castanha se sentia culpada por não poder fazer nada para ajudar.
Bea sacudiu a cabeça, espantando as más recordações. Hoje era um dia de alegria e ninguém ia acabar com aquilo.
- É, eu também mal posso esperar. Agora me ajuda, que roupa eu visto? – Indagou descendo da cama, pegando dois vestidos e indo para o espelho vendo qual ficava melhor.
- Você sabe que fica linda em qualquer coisa, maninha. – Falou sem olhar para a mais nova, voltando sua atenção para o livro que estava lendo.
Bea parou de se admira e olhou para irmã com uma impressão neutra.
- Eu nunca sei se você está me elogiando ou elogiando a si mesma. – Disse se referindo ao fato de seres gêmeas idênticas.
Os mesmos olhos azuis e as mesmas madeixas castanhas, se não fossem por suas personalidade diferentes e o tamanho dos cabelos, elas seria cópias perfeitas.
- Pode ser os dois. – Percebendo o olhar da irmã, Rose sorriu e mostrou a língua de forma boba.
- Claro, claro. Você acha que eu devo ir mais namorada de super estrela ou namorada de cantor famoso?
- Qual a diferença? – Perguntou em tom confuso.
Bea revirou os olhos.
- No primeiro eu posso exagerar no brilho e no outro eu posso ser mais ousada. Sinceramente, não entendo como você consegue viver sem saber dessas coisas.
- Você sabe que eu tenho um estilo mais clássico e natural. E prefiro aprender algo mais importante do que roupas. – Respondeu sem interesse.
- Eu sei, você é uma Hippie Chic.– Rose não deixou de notar a diversão na voz da irmã e sorriu voltando para sua leitura.
- O que você tanto lê? Não temos dever para fazer, temos? – Perguntou preocupada, todos sabiam que estudar nunca fez o tipo de Bea ao contrária de sua irmã gêmea que nunca estava sem um livro nas mãos.
- É só um livro que o Nathaniel me empresto, muito interessante na verdade. Ele fala sobre como as flores são usadas na medicina egípcia até os dias de hoje, tem uma parte muito legal sobre como usar as pétalas de rosas para...
- 'Peraí! – Exclamou largando as roupas e se virando para irmã - Não 'tô nem aí para as rosas. Eu quero saber tudo sobre esse tal de Nathaniel.
Rose encolheu os ombros em sinal de vergonha.
- Eu não sei muita coisa sobre ele para ser sincera. Ele é francês, nunca tinha saído do país antes e é especialista em Herbologia.
- Ele é bonito? – Indagou num sussuro vendo a irmã corar fortemente.
- É lindo. - suspirou lembrando dos olhos extremamente verdes e do sorriso encantador. – Mas, Bea, ele é só um amigo.
- Quem sabe ele não acabe virando algo mais e assim você supera a sua queda pelo Stefan? – Falou cutucando para irmã.
Desde que se lembrava, Rose era apaixonada por Stefan Blackthorn Penhallow, mas ele nunca deu sinais de que o sentimento era recíproco, pensando bem, nunca se sabia como Stefan se sentia - o cara era uma muralha de pedra quando se tratava de sentimentos. Beatice nunca conseguiu entender o que a irmã tinha visto nele, mas era compreensível até certo ponto, Stefan era um capaz muito bonito, pele clara com sardas indo de uma maçã do rosto á outra, olhos azuis como águas cristalinas, cabelos castanhos bagunçados, porte atlético e sorriso resplandecente.
- Eu já disse que não tenho uma queda por ele! - Rose sentiu as bochechas esquentarem.
- É claro, esqueci que esta mais para penhasco. - Disse enfatizando a última palavra.
Rose jogou um travesseiro na irmã.
- Por que você não convidou o francês bonito para o show? – Perguntou rindo do rosto corado de Rose.
- Eu não teria coragem de fazer isso, sabe como eu sou tímida no quesito garotos.
- Eu tenho certeza que com a roupa certa você conquistaria ele.– Piscou para a mais velha.
Desde pequenas as gêmeas foram ensinadas que tudo era uma questão de se vestir para a ocasião. Sua mãe, Isabelle, sempre deixou isso claro e passava horas com as meninas ensinando tudo que sabia sobre moda e caçar demônios no Salto 15.
- Sabe, Bea, nem tudo na vida se resumi á garotos e roupas, e, sinceramente, eu não entendo porquê tanto esforço por causa de garoto. – Bufou cansada do assunto.
- É isso mesmo, querida Rose. Garotos não valem nada, fique longe deles. – Disse uma voz da porta.
As garotas se viraram e se deparam com Raphael escorado na porta.
- RALPH!– Gritaram as duas correndo para abraça-lo.
- Quando você chegou? Vai ficar até quando? Como está tudo em Idris? É verdade que você conheceu a meia irmã do Cas? – Bea explodiu em perguntas.
- Calma, queridinha. Uma pergunta de cada vez. – Pediu se soltando das duas com um sorriso no rosto.
- É muito bom ver você, Rapha. Deveria vir nos ver mais vezes. – disse Rose amavelmente.
- Eu sei, Flor, desculpe não vir tanto, mas eu evito ao máximo me misturar com gentalha.
- Mas a Lexis... - Bea não pode terminar a frase pois Rapha colocou um dedo na frente na boca dela.
- Não termine essa frase nem diga esse nome horrível. – Ordenou.
As duas riram. Bea não sabia exatamente como essa rixa dos dois tinha começado, tudo que ela sabia era que tinha acontecido no mesmo momento em que Rapha e Cas viraram inimigos declarados.
De acordo com as fofocas, era porquê Rapha tinha se apaixonado por Lexis e Cas tinha se intrometido, e desde então tanto o casal quanto Raphael se evitavam como a peste negra.
- Acho que nunca vou entender essa rixa de vocês. – Suspirou Rose voltando para seu lugar.
- E você faz muito bem. – Completou Rapha, se sentando numa poltrona tirando sem cuidado as roupas que estavam ali.
- Agora você pode responder as minhas perguntas?– Beatrice bufou sem paciência batendo o pé no chão.
- Lindinha, você fez muitas perguntas, eu nem sei por onde começar. – falou tentado segurar uma risada.
- Que tal explicar o que você está fazendo aqui? – Indagou Rose.
- Ah, eu vim trazer uma amiga para conhecer o Instituto.
- Amiga? – As gêmeas se entreolhavam em suspeita. As “ amigas “ de Rapha não costumavam se misturar, geralmente eram casos de uma noite que nunca voltavam.
- Não façam essas caras. -A indignação era clara em sua voz. - Ela é só uma amiga muito querida.
- Não é que estejamos julgando, mas suas "amigas" são sempre um horror.– Falou Rose com cuidado para não magoar.
- Dessa vocês vão gostar. – Encerrou o assunto sorrindo de um jeito suspeito. - Agora me digam: por quê parece que um furação passou por aqui?
Rose revirou os olhos e soltou:
- Bea não consegue decidir que roupa vestir para ir na Pandemônio.
- Então vai ser lá o show do Lucca?
- Como você sabe do show? – A surpresa era evidente no tom de Bea.
- Encontrei o Tom no caminho e ele me disse – Explicou dando de ombros.
- Um grande fofoqueiro, isso sim! – Reclamou se voltando para o espelho - Agora me ajuda, que roupa eu uso?
Rapha olhou para ela e franziu a testa como se tentasse resolver uma conta de matemática muito complicada.
- Aquele vestido colado de mangas compridas e as botas de cabo longo, coloque algumas pulseiras e um colar até a altura do busto.
Bea bateu palmas animada e correu para pegar a combinação olhando o resultado no espelho.
- Ficou maravilhoso, obrigada Rapha. – Disse dando um beijo na bochecha do latino.
- De nada, querida.
- Que horas é o show mesmo? – Perguntou Rose.
- Às 19h – Respondeu Bea se virando para Rapha - Você vai né? - Perguntou juntando as mãos perto do queixo com os olhos pidões como uma criança implorando por um brinquedo.
- Não sei, tenho que ver com a Cassie – Respondeu indeciso.
- Cassie? Pensei que o nome dela fosse Allison. – Disse Tom entrando no quarto, olhando divertidamente para Rapha que ficou estático.
- E, falando nela, espero que você tenha a deixado em segurança, Thomas – Falou de forma ameaçadora.
Tom levantou as mãos em sinal de rendição ainda sorrindo
- Não se preocupe, ela está bem e com o irmão.
- Espera aí. Cassie? Tipo, apelido para Cassandra? Cassandra Morgenstern? Essa Cassie?– Perguntou Bea confusa olhando de Tom para Raphael e vice-versa.
Era de conhecimento público que a emissária tinha ficado hospedada na casa dos Lightwood-Banes, mas Bea nunca poderia imaginar que a amiga de Rapha era nada menos que a princesa do inferno.
- Essa mesmo. – Respondeu Tom com os braços cruzados atrás da cabeça. - Não sabia que você tinha virado amigo dela.
Agora as gêmeas olhavam com interesse para o latino, como se ele fosse uma espécie rara de animal.
- Ela ficou lá em casa e percebermos que tínhamos muito em comum – Disse dando de ombros e sorrindo levemente lembrando das traquinagens que os dois fizeram em tão pouco tempo. – Mas agora sobre o show...
- Você tem que ir! – Suplicou Rose - Não aguento mais segurar vela.
Bea revirou os olhos e sorriu com malícia.
- Você não teria que fazer isso se tivesse convidado um certo francês bonitão. - Cantarolou para a irmã.
- Que francês bonitão? Eu perdi alguma coisa? – Indagou Rapha com interesse.
- Só um loiro alto de olhos verdes com sotaque francês que a Rose aqui está caidinha de amores. – Continuou Bea com o sorrisinho malicioso ainda intacto.
- Então você superou sua queda pelo Stefan? – Perguntou Raphael como uma expressão de "finalmente".
- QUÊ?! – Gritou Rose - Todo mundo sabe disso?
- Eu acho que o nosso pai não, mas a mamãe eu tenho certeza que já percebeu. – Disse Tom olhando para a irmã com certo divertimento na voz.
- Você não sabe disfarçar muito bem, Florzinha.– Explicou Rapha sorrindo.
- Aaahh, eu quero morrer!!! – Gemeu Rose escondendo o rosto numa montanha de roupa.
- Não quer não. Você quer mesmo é o francês, isso sim. – Acusou Bea se aproveitando ainda mais da situação.
- QUER PARAR? – Gritou de volta - O nome dele é Nathaniel, não "francês".
- Quem é Nathaniel? – Perguntou Caspian entrando no quarto acompanhado da platinada.
Nosso quarto virou a Casa da Mãe Joanna agora? Qualquer um entra? Pensou Bea.
- É só o novo Crush da Rose. – Disse Rapha olhando para a nova visitante atentamente como se procurasse algum tipo de machucado ou coisa do tipo, o que deixou Bea externamente curiosa.
- Ele não é meu Crush coisa nenhuma!– Rosebel exclamou indignada.
- E o Stefan? – Perguntou Caspian fazendo Rose arregalar os olhos.
- Até você, Caspian? – Lamentou chorosa se enfiando novamente no montinho de roupas.
- Desculpa Rose, mas era muito óbvio. – Disse tentando não piorar as coisas.
- Você acha que ele também já sabe?- Indagou baixinho com medo da resposta.
- Isso eu já não sei. – Caspian respondeu sem jeito.
- Aahh acho que vou morrer de vergonha! – Choramingou querendo cavar um buraco até Edon.
- Vai por mim, queridinha, é impossível morrer de vergonha. Eu sou especialista nisso. – Falou Rapha tentando "tranquilizar" a mais nova.
- Você quer dizer, especialista em ser sem vergonha não é? – O sarcasmo na voz de Caspian foi percebido por todos, deixando o ambiante um pouco desconfortável.
- Cada um com suas especialidades, pelo menos eu sirvo pra alguma coisa. – Retrucou com um brilho perigoso nos olhos do latino.
- Não se preocupe, Rose. -Tom se levantou e colocou uma mão no ombro da irmã confortando-a - Tenho certeza que tudo vai ficar bem, afinal todos temos nossas quedas secretas não é mesmo?
Bea não pode deixar de notar como Raphael fechou a cara e Cas desviou os olhos para a recém chegada.
- Desculpe a bagunça, você vai acabar se acostumando.
O que o Cas quer dizer com isso? Questionou Bea mentalmente.
- Bom pessoal, eu quero apresentar á vocês minha irmã: Cassandra Morgenstern.
Então essa é a tão falada Cassandra, ela não se parece muito com o Cas. Concluiu Bea analisando a garota de cabelos platinados e olhos verdes que segurava despreocupada um peruca preta na mão.
- Prazer em conhecê-los. - Disse sorrindo e, por um instante, Bea a achou muito parecida com uma raposa, tão linda e perigosa como uma de verdade.
Bea mordeu a língua para não perguntar sobre ter ou não chifres ou coisa parecida.
- Cabelo legal. - Brincou Tom sorrindo abertamente para a platinada.
- Pelo menos eu não preciso usar um tubo de gel no cabelo. – Disse ainda sorrindo cordial, fazendo o sorriso sumir aos poucos do rosto de Tom, dando lugar a uma careta.
- É um prazer conhecer você, Cassandra.- Cumprimentou Rose de forma doce.
- Pode me chamar de Cassie. – Respondeu sorrindo. - Afinal, estamos em família não é mesmo?
Rapha riu com o comentário.
- Com certeza, querida. Uma grande e feliz família.
Caspian voltou seus olhos para Rapha e disse de maneira quase grosseira.
- Quero agradece você, Raphael, por te trazido minha irmã em segurança. – As palavras tinham um gosto estranho na boca, como se ele não estivesse acostumado a agradecer o latino por algo.
- Não me agradeça, não fiz por você. – O tom frio não passou despercebido pelos demais.
- Tenho certeza que não. – Caspian sorriu amarelo. - Mesmo assim, obrigado e fique a vontade para descansar até o próximo portal para Idris ficar disponível.
- Cassie não te falou? – Rapha perguntou com um sorriso "amistoso". - Eu pretendo ficar aqui em Nova York por um tempo.
- Por quê? Pensei que você não gostasse daqui. – Bea questionou recebendo um olhar de alerta da irmã.
- Ah, e eu não gosto. – Respondeu ainda com o sorrindo maldoso no rosto. – Mas Cassie precisa de alguém para mostra como se divertir em Nova York.
Os olhos de Caspian estreitaram-se com o anúncio do latino.
- Tenho certeza que posso cuidar de qualquer coisa que minha irmã precisar.
Raphael riu alto olhando com superioridade por cima dos ombros.
- Desculpe a incredulidade, mas não acho que você seja a pessoa mais indicada para o serviço.
- E por quê não, posso saber? – Perguntou com os olhos brilhando de raiva.
- Por favor, não é óbvio? Você, caro Caspian, não sabe se divertir. Só sabe seguir as regras da Clave como o belo cãozinho obediente que você é. – Debochou Ralph.
- Melhor ser um cão fiel do que uma cadela no cio. – Disparou Cas com os dentes serrados.
- Por que você não admite logo que não sabe se divertir? – Alfinetou o latino não escondendo a raiva que sentia.
Bea conhecia Cas o suficiente para saber que ele estava furioso com Rapha, então não se surpreendeu quando ele respondeu de forma fria e ácida.
- Sabe, Rapha, pessoas normais não precisam encher a cara e levar alguma desconhecida para cama só para se divertir.
Depois do comentário se formou um silêncio esmagador no ambiente com todos esperando a resposta do Lightwood-Bane mais novo.
- Que bom que ninguém nessa quatro é normal. – Falou sorrindo âmargo para Caspian.
- Bom, gente, eu acho que a conversa está ótima, mas talvez seja melhor a gente se arrumar para o show, não é? – Falou Tom tentado quebra o clima tenso.
- Tom tem razão. – Disse Rose com um sorriso tenso nos lábios - Não queremos chegar atrasos, né?
- Claro que não. – Respondeu Bea igualmente tensa, - Então... vocês vão também?
Por favor diga que não. Pensou em desespero.
Bea não sabia se aguentava uma noite inteira com aquele clima assasino no ar.
Graça ao anjo que Lexis não está aqui.
Se a situação já era ruim com apenas Cas e Rapha a castanha nem queria saber como seria quando a Santori voltasse.
Todos se assustaram quando foi ouvida uma risada divertida vinda da jovem Morgenstern.
- Ah, eu não perderia isso por nada. -Disse a princesa do inferno olhando de Cas para Rapha, Bea podia jurar que viu os olhos da platinada brilharem.
Que ótimo. Pensou com sarcasmo. Realmente não tem como ficar pior.
Bom, foi isso que Bea achou, mas é como a tão conhecida Lei de Murphy: "Tudo que tem tendência a dar errado, dará errado."
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