“Há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar.”
E talvez esses mistérios nunca tenham estado ocultos. Quem sabe eles apenas fiquem a nos observar e a esperar que os nossos olhos vejam, que a nossa boca fale e que o nosso coração declare abertamente o que está sentindo...
Então, quem sabe, depois de ficar tanto tempo oculto, um mistério tenha a sede de viver e quebrar as amarras que a vida, por ser uma experiência temporária, não oferece tempo suficiente para que ele possa ser revelado e vivido.
Assim, pode ser que o amor encontre o caminho da felicidade e consiga a coragem para conquistar a pessoa que o seu coração desde sempre deseja amar.
Mas amar tem seus segredos e seus medos. Algumas almas padecem de solidão, já outras vivem em eternas paixões. E há aqueles curiosos casos de amor que precisam morrer para não ser esquecidos ou precisam marcar a vida de outra pessoa a ponto de causar o ódio, a vingança ou um desejo infinito de reencontro para que sua vida ganhe e faça sentido.
E ainda que a solidão seja a única companhia no fim dos dias, ela também se farta da pouca luz que resta nas sombras de uma paixão doentia...
Mas o amor é como o mar que não desiste de existir até a praia dizer que não há mais lugar para ancorar.
Até esse dia, que não há como apostar que vai chegar, todos os sentidos estão em alerta para que quando chegue o momento certo seja ela, a felicidade, a primeira manhã de uma vida já desperta.
Amor, amor, amor... esfinge ou revelação, corpo e alma que o tempo jamais saberá como separar. Eles seguem juntos no mesmo rumo onde antes do amor vivia um vazio no coração.
Há almas gêmeas que vagam perdidas pelas vidas de outras existências até que em determinado momento ganham uma outra chance de se amarem.
Quem sabe, eternamente... ou de se esquecerem para sempre.
***
A chegada à universidade de Kim Taehyung:
Alheio à pane acadêmica que causou na sua turma de medicina, Kim Taehyung sacode sua bela cabeleira e ocupa a banca ao lado do já falecido em vida, o acadêmico Jeon Jungkook.
Dizer que Jeon irá descansar em paz, não é possível porque ele quer ser médico e é muito teimoso, então ele ainda está vivo e ao vivo, mas sem cores porque está muito, muito pálido como é de costume ficar quando está agoniado.
E é assim que ele está com a chegada de Tae.
Neste caso, resta desejar a ele um pronto restabelecimento de sua saúde física e mental, ambas seriamente comprometidas pela presença etérea, porém bem física e põe física boa nisso, do estonteante Kim Taehyung.
-Olá, vou ficar sempre ao seu lado! –Taehyung, jogando seus belos olhos verdes para o inexpressivo Jeon que ainda não se mexeu depois que Tae entrou na sala de aula.
Tudo o que Jeon vê neste momento é a cena de seu sonho, onde ele e o misterioso, agora seu colega de curso e vizinho de banca, Tae, se beijam. Cena esta, em que que Jeon sentiu como se o sol estivesse dentro dele a queimar.
-Sou Kim Taehyung, mas gosto que me chamem de Tae, tudo bem?
Não, não está tudo bem para Jeon. E tudo o que ele consegue fazer é não fazer NADA!
-Talvez eu precise de você. O professor falou que você é um gênio... estou chegando agora e meu sonho é também ser médico, assim como você...
“Por que esse maldito não se cala??? Ele realmente tem uma boca muito grande, igual ao meu sonho! Ainda não acredito que ele está aqui...! Como assim, ele existe?? Alguém pode prever o futuro?
-Acho que agora precisamos fazer silêncio para ouvirmos o professor.
???
-Vamos parar de conversar, por enquanto. Vamos fazer silêncio. –Tae, atento aos olhares de reprovação do professor porque eles, ou melhor, ele, está conversando com Jeon, que por enquanto está mudo.
“Quê??? Essa praga fala o tempo todo e diz para fazermos silêncio?!”
Este é Jeon fazendo suas análises sobre o comunicativo Tae.
-Jeon, não ouviu? LABORATÓRIO DE PRÁTICA!!! -O professor, alertando Jeon que ainda está quase congelado em sua cadeira.
-Prática? Ah...
Só então Jeon vê que seus colegas estão deixando a sala para assistirem a aula prática no laboratório de anatomia. Ele é o último a deixar a sala.
Jeon levanta e vê a banca ao seu lado vazia. O que fez com que ele respirasse um pouco porque Tae também já se foi, mas Jeon estava tão atônito com a chegada dele que sequer conseguiu olhar para qualquer lugar que não fosse para o nada. E um nada mesmo: sem sala, sem colegas, apenas com a presença incômoda de Kim Taehyung.
-Eu devo estar pirandooo... sonho com uma pessoa me atormentando e agora, do nada... essa pessoa aparece na minha frente!
Jeon se encaminha para a aula no laboratório, juntamente com seu professor que percebe que ele está alheio ao que se passa ao seu redor durante todo o tempo.
-Jeon!!!
Jeon que estava tentando entender a inusitada situação de seus sonhos que se misturou à sua realidade, se assustou com o chamado do professor.
-Professor, o senhor me assustou... estava distraído.
-Distraído agora e na sala de aula! O que está havendo? Não falou nada, não fez perguntas, não participou em nenhum momento da aula! Estava pálido...
-Nada não...
-A partir de hoje a corrida para a monitoria será mais acirrada. Acorde!
-Sim, eu sei. Desculpe, não tenho dormido bem.
-Ah, e só para lhe dar um toque, você agora tem um forte concorrente: o novato Kim Taehyung!
-Forte concorrente? Em quê?
-Em tudo, Jeon! Por que você acha que a universidade o recebeu no meio do semestre? Eu nem deveria estar lhe passando essas informações, mas você me parece um pouco desnorteado hoje e eu sei de sua dedicação e seu empenho.
Jeon sorri como se não acreditasse no que está acontecendo.
-A assombração agora vai me aterrorizar fora dos sonhos...? Será?
-O que está dizendo?
-Ah, nada não, professor.
-Entre. O que está acontecendo com você hoje?
O professor diz para Jeon entrar porque eles chegaram na frente da porta do laboratório de anatomia mas Jeon ainda está pensando em suas noites de sonhos ruins com o novato Tae, que resolveu sair do mundo onírico para fazer parte de sua vida.
-Professor... estava pensando...
-Deixe para pensar depois, Jungkook! Entre, está perdendo tempo!
Pela cabeça de Jeon está passando a ideia de mudar de turma ou talvez não pagar esta disciplina agora, mas... não há tempo para conversar nem pensar em qualquer assunto complicado porque a aula já está começando.
E, como chegou por último no laboratório, Jeon terá como parceiro Tae, que também não arranjou alguém para ficar com ele já que o estudo será em dupla e todo mundo já têm um par.
Todos agora se posicionam em uma bancada para a primeira aula prática de Anatomia Humana I - Estudo dos Sistema Esquelético.
Ossos, ossos, ossos... recebam um Jeon angustiado e um Tae tranquilo, calmo, bonito e disposto a ser o monitor da turma no próximo semestre, assim como Jeon que quer esta vaga tanto quanto ele!
A aula prática foi em dupla, mas, para dizer a verdade, na bancada de Tae e Jeon cada um estava por si, e Deus tentando criar uma interação entre eles que não aconteceu.
Jeon resolveu ignorar Tae por completo porque a função da dupla seria estudar a parte do corpo humano exposta na banca naquela aula e fazer um breve relatório para ser apresentado no final da aula mostrando a parte do corpo, a função, as características e a estrutura anatômica em detalhes. O trabalho, em tese, teria que ser feito e apresentado pelos dois alunos que formam a dupla. Entretanto Jeon não quis conversa com Tae, que até tentou uma interação, mas foi inútil.
Na hora da apresentação do trabalho prático de Tae e Jeon para a turma e o professor aconteceu uma confissão suspeita:
Tae em sua apresentação:
-Nosso trabalho em dupla foi atípico. O colega Jeon não quis interagir comigo, mas acho que é porque ele não se sentia bem, então fiz meu estudo só. Embora eu tenha tentado envolver ele, pelo menos para combinar esta apresentação dividindo os temas no que tange à divisão da estrutura esquelética e à função dos ossos em estudo, ele ignorou minha parceria, por este motivo não sei se falaremos dos mesmos assuntos e na mesma ordem. Sinto muito, Jeon, por você não estar bem hoje.
Esse foi o Tae venenoso!
E assim, Tae deu início aos seus quinze minutos de apresentação. E ele fez um excelente trabalho deixando bem claro para todos e principalmente para Jeon que ele não é apenas um concorrente para a monitoria do próximo semestre, mas, literalmente, ele não é só um, mas vários ossos duros de roer!!!
Jeon fez sua apresentação muito bem, como sempre, mas estava um pouco nervoso porque Tae o perturbou a ponto de fazer com que ele não tivesse a mesma performance que costuma ter com a desenvoltura que lhe é peculiar, e Tae lhe deixou com a difícil missão de demonstrar que estava muito bem já que Tae, maliciosamente, disse em sua apresentação que Jeon estava passando mal.
***
Jeon volta para a sala de aula após a prática em laboratório e abre a porta com tanta força que o estrondo chamou a atenção de quem passava nos corredores.
-Não posso crer que esse infeliz veio do além para me infernizar!! Não bastava estar em meus sonhos, agora ele quer fazer do meu curso um lugar de angústia?? Vou falar na coordenação para mudar de turma! Não ficarei com ele aqui!
Jeon vai até a banca de Tae que fica ao lado da sua, de acordo com o que o professou lhe pediu e a coloca na outra ponta da sala, ao fundo.
-Longe de mim! Além dos portões de água fervente!
-Por que está tirando minha banca do lugar? –Tae, calmamente, entrando na sala e assistindo Jeon colocar sua banca longe, empurrando para o canto da parede.
Tae põe as mãos na cintura e com ar de superioridade lhe diz:
-Gosto do lugar que estava. Foi lá que o professor mandou colocar!
Jeon não responde e volta para seu lugar para pegar sua mochila.
-Você não fala? Ouvi sua voz durante a apresentação no laboratório, é muito bonita. Mas, a sua apresentação... pífia, para dizer a verdade.
-Aprendeu essa palavra hoje? –Pergunta Jeon, sem olhar para Tae. – Sabe realmente o significado dela?
-Ohhh! Se dignou a dirigir a palavra a mim! Posso saber o que lhe fiz?
Jeon sai da sala sem responder e bate a porta.
*
Hora do almoço, restaurante universitário.
Jeon está no balcão para pegar um refrigerante e Tae está com sua bandeja de almoço.
Ao ver Tae, Jeon sai do balcão com seu refrigerante e atravessa o restaurante inteiro, que é muito grande, onde há dezenas e dezenas de estudantes a esta hora e senta na última mesa, de frente, de onde dá para ver todo mundo. Ele põe o fone de ouvido enquanto olha o celular e não percebe quando Tae se aproxima dele.
-Não deveria tomar essa coisa. Faz muito mal.
Jeon ouve e vê Tae e não acredita na postura ousada dele.
Tae, com todo seu atrevimento, pega a lata de refrigerante de Jeon e a coloca de lado, mais longe das mãos de Jeon.
E Tae continua:
-E não deveria estar ouvindo música nessa altura! Estou ouvindo daqui!
Tae tira um dos fones do ouvido de Jeon.
-Ei, não lhe dei essa liberdade! Não me toque, cara! Lhe conheço???
- A música está muito alta, vai lhe prejudicar.
-Você é minha mãe? Ahhh, é meu pai! Insuportável como ele!. –Jeon fala e levanta da mesa para ir embora.
-Não saia. Não conheço ninguém aqui. Não quer ser meu amigo? –Diz Tae.
Jeon volta a se sentar na mesa e olha Tae bem de perto e lhe pergunta com a cara de poucos amigos:
-E eu com isso? Dane-se!
E vai embora, deixando Tae... sorrindo!
Sim, aparentemente, Tae não se zangou com ele, mas o acompanha com o olhar até que não possa mais ver Jeon, que sobe a rampa para o segundo piso do restaurante onde há uma área de convivência para descanso com alguns colchonetes, jogos, biblioteca e espaço para leitura e games.
-Vou fazer uso de minha hora de almoço sem fantasmas ou germes em forma de gente.
Jeon deita em um dos colchonetes e adormece.
***
-Você já chegou? Onde está a comida? – Tae pergunta para Jeon que chega na pequena cabana com a roupa rasgada, trazendo consigo os sacos furados por onde o trigo caiu durante a perseguição no mercado quando roubou alimentos e agora ele tem apenas um peixe em uma das mãos.
-Tenho um peixe. Perdi as outras coisas. Vou pegar mais amanhã.
-Não vai dar tempo. Vou embora hoje. –Responde Tae, dobrando suas roupas, uma sobre a outra, olhando triste para Jeon e diz:
-Você me prometeu e não cumpriu.
-Não vá embora. Amanhã trarei mais comida. Fique, por favor.
Jeon também está muito triste ao pedir para Tae não ir embora. Mas Tae não o escuta e continua arrumando suas coisas para partir.
-O que posso fazer para convencer você a ficar comigo?
Tae, neste momento, amarra o cabelo em uma longa trança, caindo sobre seu peito, agora desnudo.
-Estou indo agora, Jeon. Você não fez o que lhe pedi. Não voltarei mais.
Jeon se aproxima de Tae e começa a desmanchar a trança que ele fez no cabelo, devagar. À medida que Jeon vai tocando nos cabelos de Tae eles vão caindo sobre seus ombros e deles nascem luzes amarelas e brilhantes. Aos poucos, Tae vai ficando completamente iluminado, mas, cada vez que Jeon o toca, ele também vai se afastando mais e mais até desaparecer totalmente.
Jeon se desespera vendo Tae sumir em meio à luminosidade.
-Tae, eu pedi para você não ir...
Jeon chora. Está muito triste pela partida de Tae e enxuga as lágrimas que caem do seu rosto com sua túnica rasgada. Ele passa as mãos no rosto para enxugar as lágrimas que caem, quando de repente Tae resolve voltar. Ele se aproxima de Jeon e beija o seu rosto molhado e lhe pergunta:
-Me quer com você de verdade, Jeon?
-Tae, você voltou?
Tae tira as luzes que estão em seu cabelo e as coloca em Jeon. Primeiro em suas mãos, depois em seu peito, depois em seus cabelos e por último em sua face. Após fazer isso, Tae o beija nos lábios deixando Jeon cheio de amor. De olhos fechados, Jeon sente a maciez da boca de Tae, mas ao abrir seus olhos ele o vê desaparecendo outra vez...
-Tae, não vá...
-Tae, volte para mim, volte para mim... –Jeon estende as mãos, agora do seu colchão, chamando o nome de Tae.
-Tae, volte... –Jeon abre os olhos, acordando assustado, como sempre acontece quando sonha com Tae.
Ele cobre o rosto com as duas mãos, inconformado por ter sonhado mais uma vez com Tae.
Jeon desce as mãos pela sua face até sua boca e toca seus lábios, onde ainda está sentindo a sensação do beijo de Tae, que no sonho que acabou de ter parecia prazeroso. Ele afunda a cabeça no colchonete, angustiado com a estranha mistura de sentimentos porque ao mesmo tempo que odeia sonhar com Tae, ele percebe que há uma terrível sensação de satisfação quando o beija em seus sonhos.
-Não, não... preciso saber porque isso está acontecendo comigo... não posso mais continuar sonhando com essa praga!!! Mas, primeiro, preciso resolver algo urgente.
Jeon resolve ir até a coordenação do curso pleitear uma mudança de turma.
*
Na coordenação:
-Impossível, Jungkook! Temos apenas uma turma de cada período esse semestre.
-Não vai ser possível?
-Não neste semestre. Depois, mesmo que houvesse outra turma você só poderia fazer se houvesse praticamente um estado de necessidade de sua parte que justificasse seu pedido. Ou seja: é impossível. Mas, se você, por alguma razão não se sente bem em sua turma, tranque o curso e perca seis meses de sua vida que você JAMAIS vai recuperar!
Com esta resposta para lá de convincente, Jeon sai da coordenação e volta para sua sala de aula, revoltado.
-Só notícias boas! Hoje de noite eu vou beber! Beber de verdade! Não uma nem duas, vou beber umas dez cervejas e ficar doidão, desgovernado! Preciso de vida para não pensar em bobagens. Se eu ficar bêbado, não vou sonhar de tão cansado que vou estar, e se sonhar, nem vou me lembrar! É isso que eu vou fazer depois dessa assombração aparecer em um pequeno cochilo que dou na minha hora de almoço!
Jeon passa as mãos no rosto como se estivesse com nojo, ainda lembrando das cenas quentes de beijo com Tae do seu sonho de agora há pouco.
-Beijando...! Deve haver um jeito para que alguém não sonhe com quem não quer! Ou a ciência ainda está tão atrasada??
A aula da tarde foi teórica e muito tranquila porque Jeon despachou Tae para o outro lado da sala, o que facilitou a sua vida.
Mas, sua vida só foi fácil até o final da tarde.
Pontualmente, às 18 horas, foram postadas na internet, no site da Universidade, as notas do trabalho de sua turma apresentado pela manhã no laboratório de Anatomia I, que foi apenas uma aula introdutória, mas o trabalho valeu um ponto para ser somado à nota da prova semestral que se aproxima.
-Só ele tirou um ponto? Quem é esse garoto?
-O Jeon? Sempre ele...
-Não, não foi ele...
Eram os rumores dos colegas ao lado de Jeon conferindo as notas no site da Universidade. E lá estava ele: Kim Taehyung, a assombração viva que veio para perturbar a vida de Jeon e o único aluno a conseguir um ponto completo na apresentação do trabalho.
Resultado:
Kim Taehyung – 1,0
Jeon Jungkook - 0,97
-Gente, alguém tirou uma nota mais alta do que Jungkook!!
-Uuuuhhh, que maravilha!!
-Rei deposto??
-Antes tarde do que nunca!
Comentários dos colegas “fofos” de Jeon, tanto no grupo do whats da disciplina, como ao vivo, comentários que é claro, chegaram aos ouvidos do próprio Jeon.
Desbancado, pelo menos por enquanto, do status de aluno com as melhores notas em tudo, Jeon vai para casa virado em uma fera, totalmente estimulado para beber. Sem nunca antes tendo ficado em segundo lugar em qualquer classificação por nota em provas ou trabalhos, Jeon está simplesmente furioso.
***
-É assim??? Você pensa que é melhor do que eu??? Está para nascer alguém assim! Sim, vou sair um pouco senão vou ficar doido com esse estresse. Mas, é só hoje e me despedirei por seis anos novamente de festas e diversões. Ninguém vai me tirar a paz, ninguém! Se aquela bruxa loira que anda se arrastando pensa que é melhor do que eu... não só está enganado como vai se arrepender de ter nascido!
Jeon sai disposto a gastar toda a sua energia que não está nada boa e acumulada de tensão neste dia que não foi fácil para ele: os pesadelos da noite agora o acompanham em um inocente cochilo na universidade, em plena luz do dia e para completar seu trono foi atingido mortalmente por três décimos por Tae!
Jeon está louco de raiva. E não é para menos: o cara chega do nada e já no primeiro dia consegue uma nota melhor do que a dele e ainda dá uma de tutor de sua saúde, dizendo o que ele deve comer ou ouvir?!
-Volte para o mundo das profundezas dos fantasmas de onde você jamais deveria ter saído. Parece uma boneca de milho com aqueles cabelos espigados... e isto não é um filme onde os inimigos se transformam em melhores amigos! Eu realmente não gosto desse cara e quero que ele faleça!
Então, pelo bem de sua saúde mental Jeon decide sair e respirar o ar da paz pela cidade de Seul nesta noite quente de verão.
Jeon sai em alta velocidade, até o limite em que pode já que as ruas estão lotadas de pessoas, e ele faz um verdadeiro circuito pelas ruas do seu bairro, Itaewon. Estamos em uma sexta-feira, chegando o final de semana e o aluno exemplar tem direito a algumas horas extras para diversão já que no dia seguinte não há aula.
Mas apesar de andar bastante buscando diversão ele acaba escolhendo a mesma boate em que já esteve e que teve a nítida impressão de ter visto Tae dançando.
Jeon entra com total disposição em uma balada e toma logo a primeira cerveja para esquentar, fazendo uma promessa a si mesmo: “só umas três porque estou dirigindo e ainda assim não posso encontrar nenhum guardinha de trânsito chato senão estou ferrado.”
Ou seja, a proposta inicial de dez cervejas já passou por uma modificação, até porque Jeon não é adepto do álcool e sua consciência de universitário não o deixa em paz.
A música envolvente está convidativa e Jeon deixa a lata de cerveja no balcão e vai dançar. Ao contrário da outra noite quando ele ficou apenas por meia hora, hoje Jeon está aproveitando melhor a noite que promete realmente muita diversão.
Após algumas músicas e depois de dançar bastante, Jeon sente sede.
-Nossa, esqueci até a cerveja. Uaauuu.... nunca me diverti tanto! Agora estou pleno e relaxado. Mundo dos vivosss, estou de voltaaa!! Mas estou com sede.
Jeon, exultante, indo para o balcão do bar beber uma cerveja porque a primeira ele deixou lá no momento em que entrou na boate.
-Já cumpri uma parte do trato que fiz comigo me divertindo e dançando e agora vou beber!-Jeon está feliz porque finalmente está tendo uma noite relaxante depois de tantos anos porque nunca se permitiu nem dormir tarde por causa de obrigações com estudos.
Jeon chega no balcão e pede uma cerveja.
-Outra cerveja, por favor, a minha já deve estar quente...
-Eu joguei fora. Você não deveria beber, faz muito mal à saúde.
Taehyung, no balcão do bar, ao lado de Jeon, alertando ele dos riscos do álcool.
-Não, eu não ouvi nada! Nem em filmes de terror há presenças tão insuportáveis, tão constantes e tão...
-Por que não gosta de mim? Você é a única pessoa que eu conheço que me odeia. Por quê?
Tae está ao lado de Jeon, no balcão, tomando um copo de água, de costas para a pista de dança. Ele agora vira-se para Jeon e completa seu alerta:
-Só estou tentando lhe ajudar. Você está dirigindo. Não tem medo de morrer?
-Escuta aqui, você está me seguindo?
-Não.
-Está sendo pago por meu pai para me vigiar ou você é um enviado do diabo para me perturbar?
-Letra “c” , de cuidado.
-Sai da minha cola, ok? Vê se morre!
-Pelo que vejo, lhe perturbo bastante, Jeon.
-Não quero mais a cerveja! Vou embora. – Jeon empurra a cerveja que o garçom havia posto no balcão e dá meia volta para ir embora, encerrando sua noite de diversão.
-Então, lhe perturbo?
Jeon continua sem responder e vai saindo da boate.
Tae o segue.
-Acha que vai conseguir me odiar durante todo o curso? Só quero saber o porquê de não gostar de mim!
-Que inferno! Até parece que estou naquele filme que a mesma cena fica acontecendo o tempo todo! Quando não é nos meus sonhos é na universidade ou senão é... é em qualquer lugar! Será que há um método de fazer alguém sumir para sempre sem ter que matar? Oh, ciência atrasada!
Tae desiste de ir atrás de Jeon. Seu sorriso nos lábios diz que de alguma forma é prazeroso para ele deixar Jeon muito irritado.
Jeon sai da boate e vai para seu automóvel falando consigo mesmo, em alto e bom som, sobre os acontecimentos ruins dos últimos dias e das últimas horas que se resumem a uma só pessoa: Kim Taehyung.
-Temos um final de semana inteiro e vou ter folga dele finalmente! Pelo menos ao vivo, porque quanto ao sonhos não tenho como controlar! E sim, também acho que deveríamos ter mais controle sobre o nosso sono... uma maneira de selecionar o conteúdo onírico.
Jeon se toca que algumas pessoas olham para ele e riem porque ele já vem há alguns minutos falando sozinho pela rua enquanto vai pegar seu automóvel no estacionamento.
-Já estou ficando é louco mesmo.
Já dentro do automóvel Jeon está a decidir como terminará sua madrugada.
-Não vou para casa agora. Preciso me cansar um pouco mais para dormir. Talvez um bar ou um lugar para comer e tomar as cervejas que não tomei na boate porque me empolguei demais dançando e depois “a coisa loira” apareceu.
Jeon sorri nervoso ao lembrar do seu perseguidor.
-É cada uma... antes minha preocupação era basicamente provas e transformar o dia de vinte e quatro horas em um de quarenta para dar tempo estudar o conteúdo das aulas e agora me apareceu esse coleguinha em forma de assombração!
Enquanto não se decide, Jeon resolveu dar uma volta para ver o que há de interessante na madrugada.
-Namorar... uma boa e necessária atividade. Há quanto tempo não namoro? Um ano? Dois? Nem sei...
São duas horas da manhã, as ruas estão abarrotadas de gente, e Jeon desiste de sua pesquisa por mais diversão.
-Acho que não nasci mesmo para essa vida... tenho sono, cansaço, fome e preciso tomar banho... ou seja, mantenho as mesmas necessidades que já tenho quando estou em casa, na minha pacata e solitária vida de estudante sem tempo e sem paz como um acadêmico do curso de medicina.
Jeon dá meia volta, desistindo da aglomeração festiva de Itaewon e pega a avenida para ir para casa.
Mas, parece que a perturbação não terminou:
Ao passar pelo ponto de ônibus, ele vê alguém à espera do coletivo:
Kim Taehyung.
Jeon passa em velocidade média e sorri da própria sorte ao constatar que Tae parece ter vindo para ficar em sua vida.
-Quantos dele existem? Parece realmente que há uma epidemia dessa praga! Um 'ninguém' para estar a essa hora em um ponto de ônibus.
Jeon não resiste a uma pequena vingança e faz o retorno na avenida e dirige devagar até o ponto de ônibus. Seu carro é um modelo de luxo. Lembremos que Jeon é filho de um chaebol e que mesmo seu pai não lhe mandando dinheiro pelas desavenças que tem com ele, sua mãe o financia em tudo. Inclusive nos luxos de Jeon que não vê nenhum problema ou drama de consciência em torrar o dinheiro do seu pai sem ele saber.
Sorte de Jeon que tem uma mãe de família rica e que adora o filho. O automóvel de Jeon é um Genesis Hyunday que custa quase cento e cinquenta mil dólares e é uma edição limitada. E somente cinquenta unidades foram fabricadas para a edição que Jeon possui.
Quanto a Tae, ele possui uma bicicleta e agora está a esperar o ônibus.
Jeon passa devagar pelo ponto do ônibus onde Tae está e se diverte muito mais com a cena dele esperando o ônibus do que com a sua noite de balada.
-Só digo Ká ká ká!!! Ele está esperando ônibus a essa hora? Que imbecil! Ele não sabe que agora só tem coletivo às 7 horas da manhã?
Jeon diminui a velocidade do carro ao passar pela parada de ônibus e alguns metros depois ele para o carro, mas com o motor ligado.
-O que eu deveria fazer? Minha vontade é meio criminosa... então vou apenas me divertir um pouco com ele... Ká ká ká!!! -Jeon pronuncia as palavras assim mesmo, isso não é uma risada.
E rindo de verdade, Jeon faz o retorno mais uma vez na avenida e volta para o ponto de ônibus onde Tae está sentado no banco.
Ele para o carro na frente de Tae, abaixa os vidros e diz:
-Esperando o ônibus? – Jeon perguntando e se deliciando porque o próximo coletivo só passa às sete horas da manhã e agora que são duas e quinze.
-Sim. Estou.
-Vai esperar um bocado...
-Eu sei.
-O próximo é às sete.
-Eu sei.
-Hum... que coisa triste, não é?
-O quê?
-Uns com carros de luxo... e outros... esperando o bus por quatro horas e ainda mais em plena madrugada.
-É verdade.
-E ainda está sozinho??? Ká ká Ká!!! Você me dá pena, novato!
Tae levanta do banco e caminha em direção ao carro de Jeon.
Como Tae está:
Calça jeans rasgada na altura dos joelhos e com uma blusa preta quase toda aberta na frente deixando seu peito quase todo nu. Seus cabelos estão soltos, e Tae tem um andar de quem passeia sobre as nuvens.
Jeon repara em todos os detalhes e fica um pouco incomodado com o fato de Tae estar com a camisa quase toda aberta.
Tae chega perto da porta do automóvel e sorri para Jeon que diz:
-Está fazendo strip-tease com essa roupa aberta?
-Não. Estou esperando o ônibus apenas.
-Vai ficar aí feito besta até de manhã? Uauu!!! Esse é o futuro médico! Desde cedo...
-Não estou fazendo strip-tease, Jeon, mas se você quiser posso fazer para você. Está querendo dormir comigo?
-Imbecil!
Jeon tenta fechar a janela do carro, mas Tae coloca a mão impedindo ele de fazer isso.
-Se você fechar, vai quebrar meu pulso.
-Tire sua mão do meu carro!
-Vou tirar, mas antes você vai me ouvir! As pessoas que ficam circulando na avenida e fazendo retorno para abordar quem está esperando um coletivo a esta hora ou são loucas ou estão querendo levar a pessoa para a cama! Qual é o seu caso? Alternativa “B”, não é?
-Tire sua mão daí! Vou dar a partida no carro, idiota!
-Não vai não! Jeon, por que você não gosta de mim? Pode ter certeza que eu tenho muito mais motivos para não gostar de você!
-Por que? Quer a monitoria e por isso fez aquela guerrinha de nervos na aula prática de anatomia para me deixar mal? E assim conseguir a nota melhor? Nunca deixei de tirar a nota máxima, imbecil! Desista!
-Está me desafiando?
-Estou!
-Pois saiba que seu reinado acabou! Sou melhor do que você! Sugestão para a hora do almoço amanhã: olhe meu currículo! Babaca!
-Babaca é você! Vou fazer você desistir de ser médico em menos de um mês!
-Vá para o inferno, Jeon! Eu tentei fazer amizade, mas...
-Lhe desejo uma morte lenta, idiota!
Tae tira o braço rapidamente da janela do automóvel de Jeon, que arranca em alta velocidade.
-Cuidado, idiota! –Tae, ainda na sua missão de lembrar Jeon dos perigos da vida!
Quando Jeon vai embora, Tae vai até a parte posterior da marquise da parada de ônibus onde está sua bicicleta e vai para casa.
Como assim?
***
Jeon entra no salão do rei, acompanhado por dois guardas reais.
Ele se curva até o solo em sinal de respeito e aguarda a palavra do Rei Kim Taehyung.
-Aproxime-se.
O rei sinaliza para os guardas saírem do salão e deixá-los sozinhos.
Jeon se aproxima do trono, mas o Rei Taehyung não está sentado lá. Ele está ao lado, de pé, com as mãos para trás e diz:
-Aproxime-se mais e sente-se no trono.
-Vossa Majestade!!! Não posso! Eu seria enforcado antes da hora!!
-Estamos apenas os dois aqui, Jeon. Estou lhe dando uma ordem!
-Não posso. Jamais faria isso!
-Por quê?
-Não é o meu lugar. Eu iria preferir a morte... se eu ainda tivesse uma oportunidade de viver, majestade!
O Rei Kim Taehyung se aproxima de Jeon que mais uma vez faz uma reverência completa em respeito a ele.
Jeon diz:
-Vossa Majestade... está muito perto do seu servo.
-Levante a cabeça, Jeon. O que vê naquele trono?
Jeon olha para a cadeira do trono em madeira dourada, esculpida e estofada em vermelho, decorada com folhas de carvalho e rendas brancas e pergaminhos de acanto com as iniciais do rei: KTH, em ouro puro.
-Vejo o povo, vejo... vejo a liberdade e Vossa Majestade.
-Não vê o poder, Jeon?
-O poder... vejo o dever, Vossa Majestade.
Kim Taehyung afasta-se de Jeon e andando de costas senta-se em sua cadeira.
-O que acha que devo fazer Jeon? O poder ou o dever?
-Nenhum dos dois.
-Para quem irá ser enforcado amanhã, por tentar me envenenar, você não está sendo inteligente.
-Sou um servo.
-Quem tentou me matar, Jeon?
-Vossa majestade não sabe?
-Desconfio... Mas quero ouvir de você.
-E quem deve responder? Meu medo ou meu dever?
-A verdade.
-A verdade... Vossa Majestade já sabe... E a verdade é ela...
-A rainha...
-Sim. Mas não posso declarar isso em público... Mas isso vossa majestade já sabe e se eu optar pelo dever, eu estarei morto amanhã a esta hora... sem contemplação. Ela fará isso.
-Jeon, por que tenho que viver sem alma? Sem você? Tenho que fazer tudo pelo dever?? Sempre?
-Você é o rei e eu...
-Você é a alma do meu coração, Jeon! Não posso viver enquanto você será enforcado e eu...
De repente, uma corda se estende sobre o trono e a cabeça do rei Kim Taehyung é colocada nela:
-Jeon, você me traiu!!! Me salve! Me salve!
Jeon tentar salvar o rei Taehyung, mas a corda se rompe. Desesperado, Jeon tenta salvar o rei mas a corda os puxa para cima, enquanto Jeon tenta um último esforço para pelo menos salvar o rei.
-Me salve, Jeon! Você me traiuu!!!
Jeon tira um punhal que está em chamas, preso à cadeira do trono e com esforço consegue cortar a corda e salvar o rei Taehyung que lhe agradece com um beijo ardente enquanto o castelo começa a ruir com o fogo. Tudo começa a cair, parede por parede até ficarem apenas Tae e Jeon, sozinhos.
O rei Kim Taehyung joga o trono no fogo e tira as vestes de rei para ir embora com Jeon.
-Vossa Majestade, essa não é a verdade!
-Não foi você?
-Eu não lhe trairia, Tae!
Tae e Jeon atravessam o castelo em chamas para se salvar, passando pelos cavaleiros do rei que começam a caçá-los.
-O rei está fugindo! O rei está fugindo!
A guarda real grita tentando alcançar Tae e Jeon que saltam pelos muros cheios de obstáculos do castelo.
-Venha, Jeon, vamos embora!
-Espere, Tae, não me deixe!
-Estou tentando lhe esperar Jeon... não consigo...
Tae vai pegar nas mãos de Jeon para que ambos possam fugir da destruição do fogo e da guarda real, mas Jeon começa a desaparecer aos poucos enquanto Tae tenta trazer ele de volta:
-Jeon, não vá! Vamos fugir!! Jeon, não solte minhas mãos!!
-Tae, estou indo embora, não me deixe!
-Jeoooon!!!
***
-Tae acorda sobressaltado. Está completamente suado e tremendo. Ele tosse, colocando as mãos em seu pescoço como se ainda estivesse a sufocando com a dor e a pressão feita pela corda que o estava enforcando em seu terrível pesadelo.
-De novo, nãooo! Quando vou deixar de ter esses sonhos que me atormentam?? Quando??
Tae levanta cambaleando, tossindo e abre a janela de seu pequeno apartamento para respirar um pouco.
-Não suporto mais esses sonhos! Agora que conheço seu rosto, esses sonhos horríveis estão cada vez mais frequentes! Preciso de ajuda!
Esses sonhos-pesadelos têm acompanhado Taehyung há algumas semanas tal qual acontece com Jeon.
No começo Tae não conseguia ver o rosto de Jeon, apenas seu corpo e sua voz. Um pouco antes de entrar na mesma universidade de Jeon, Tae sonhou e viu o rosto de Jeon em seus sonhos pela primeira vez.
Quando ele estava em seu processo de transferência para a universidade, em uma tarde quando estava levando a documentação para efetivar sua transferência, Tae avistou Jeon pela primeira vez e o reconheceu.
-O cara que estou vendo em meus pesadelos!! Não é possível! É ele mesmo! Não posso acreditar! Nãooo, isso é muito louco!!! Estou me sentindo mal... Não posso crer!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.