Há um momento em que o tempo só obedece às leis do coração. É o momento em que ele desconhece as vias frias da fatalidade e não contempla mais um único motivo para que a tristeza sobreviva às custas das lágrimas dos amantes.
É quando se negocia o inevitável, trazendo de volta o abrigo da cumplicidade, afastando as indagações, fazendo surgir um sopro de misericórdia pelos amores que ficaram vagando sem encontrar suas mãos que deram adeus antes do tempo, antes da hora certa, sem poder viver suas paixões.
Há um tempo em que a idade não registra datas, não reconhece mais o sol ou a lua, porque a todo instante é possível trocar a escuridão pela claridade de um belo luar, fazendo surgir um céu de beijos e uma cama de brilho de estrelas, estendida sobre as nuvens que afastam as chuvas.
É um tempo em que velhice e juventude não contam mais, porque os números foram inventados para não ter fim, então não há lugar para marcar a morte, nem os dias sem sorte.
A vida de quem ama deveria ter apenas um princípio, sem jamais chegar a um fim.
No amor há uma possibilidade da vida ser mesmo para sempre, porque o tempo pode ser apenas uma ilusão das mentes insanas que não pensam, não se concentram, nem planejam nada, elas simplesmente moram nas árvores, como os pássaros que não têm casas porque eles já tem suas asas para voar e sonhar, sem ter nenhum lugar que os possam aprisionar.
Há uma felicidade que anda de par em par, fazendo acordos pelas madrugadas, beijando as bocas dos que querem amar porque o tempo poder ser apenas uma questão de colocar tudo no seu devido lugar quando não for impossível sonhar.
Sem passado, sem futuro, porque o brilho de um olhar apaixonado tem a mesma cor de um sonho que acorda no tempo para viver e ser amado.
Sem ontem, sem hoje, ou nenhum amanhã, todo amor precisa ser presente.
Ele precisa estar presente porque as vontades se encontram até mesmo em meio à escuridão e podem fazer a luz ressurgir das trevas, assim como uma criança pode nascer da mais profunda desilusão.
Amor é cavalgada sem rumo certo, mãos atreladas à pura sorte que não permite uma única cartada errada.
Amor é magia, é o poder que emana da felicidade e não permite nenhuma palavra ou escolha equivocada.
Amor é sempre encontro, é ouvir um som enquanto dorme e ter certeza que é a voz da pessoa amada.
Amor é uma chance que jamais pode ser desperdiçada.
***
-Acha que se pode ter essa certeza, Tae? Eu pensava que essas coisas eram vividas com o tempo, quando... quando se escolhe uma pessoa certa...
-Pessoa certa?
-Sim.
-E você, Jeon, já escolheu esse alguém?
-Não sei... está tarde... você vai mesmo viajar amanhã?
-Mudei de ideia, só irei no próximo final de semana. Estarei livre amanhã, Jeon... por quê?
Jeon, ainda tocando o cabelo de Tae, desliza seus dedos por entre sua nuca.
-Nos meus sonhos eles são assim: longos e... e deles saem luzes que lhe iluminam...
-Verdade? – Tae se afasta um pouco e passa as mãos no peito de Jeon, sobre sua camisa, até o último botão, e o abre.
-Acha... que há uma maneira de descobrir se o que se sente por alguém é amor, Tae?
Tae sobe suas mãos por entre os botões da camisa de Jeon, abrindo-os, um por um, calmamente, e lhe diz ao seu ouvido:
-Estou tentado descobrir agora, Jeon... agora que estamos com o coração sem controle e nossa mente está liberta...
-Tae, eu não gosto de você...
-Eu sei, Jeon. Eu também não gosto de você e...
Jeon segura mais firme o cabelo de Tae por entre seus dedos que estão em sua nuca e traz a cabeça de Tae para perto dele, a ponto de sua boca ficar colada nos lábios dele enquanto fala, da mesma forma como Tae fez com ele na noite anterior e lhe diz:
-Preciso... preciso saber como se descobre essas coisas e... e até que ponto eu posso...
-Pode...
-Se eu posso controlar o ódio que eu sinto por você, Tae...
-Sente mesmo ódio, por mim, Jeon?
-Sim... eu sinto muito... muito ódio... não... eu sinto muito desejo por você, Tae... e não estou mais conseguindo...
Jeon perde o controle e ganha uma experiência inesquecível ao beijar Tae com a paixão que ele viu passar através dos tempos em seus sonhos.
O lamento e o sofrimento do passado, vividos nas vidas que seus pesadelos trazem, fazendo-os chorar, se redimem perante eles agora, quando a vida oferece uma nova oportunidade para se amarem.
Tae se entrega sob o domínio da atração que sente por Jeon, mesmo sem saber nomear que tipo de sentimento seu coração elegeu para chamar essa enorme vontade de estar com ele, como se o amor já estivesse em seus braços, desde sempre, pronto para se entregar.
O beijo entre Tae e Jeon é selado com a fúria de um resgaste milenar, com a força que passou pelos desencontros dos tempos inglórios e o transforma agora em juventude, na voracidade de uma arrebatadora e libertadora paixão que está enfrentando a rivalidade, o desentendimento, a fatalidade e a morte, porque agora é tempo da verdade, é tempo da pura e viva sinceridade que abre as portas da felicidade para que Tae e Jeon possam viver, finalmente, uma vida em amor que até agora foi negada a eles todas as vezes que se encontraram.
Não há mais tempo sem tempo.
Agora é a vez do amor para sempre, entre Tae e Jeon.
Mas isso só vai acontecer, se eles souberem dar a si mesmos a chance que tanto merecem ter.
Após o beijo cheio de amor, Jeon se afasta de Tae, como se tivesse recobrado a consciência e o controle sobre seus desejos:
-Desculpe, Tae... eu... sinto muito... eu não queria...
-Nós nos beijamos, Jeon, não foi só você. Por que me pede desculpas?
Jeon começa a pegar suas coisas rapidamente. Ele pega seu celular, o carregador e rodopia pela sala à procura de seus sapatos, mais nervoso do que estava há alguns minutos.
-Desculpe, eu preciso ir... está quase amanhecendo... outra vez passei a noite aqui, não é?
-É sim, Jeon. É a terceira vez que isso acontece. Por que será?
-Estou indo.
-Vai embora?? –Tae pergunta, mas Jeon já não o ouve porque abre a porta rápido e vai embora.
E Jeon vai embora do apartamento de Tae, como sempre: correndo.
No caminho para casa, ao contrário do que aconteceu da última vez, Jeon não tenta limpar sua boca, embora esteja transtornado com tudo o que aconteceu agora há pouco quando ele e Tae se beijaram.
-Eu, eu o beijei! Eu tomei a iniciativa... meu Deus... não acredito que fiz isso! Por quê??
Jeon bate no volante, sem entender completamente a própria ação, mas...
-Eu não consegui me controlar... é como se eu fosse levado para ele... como uma força que não estou mais conseguindo segurar!!
Jeon abre os vidros do automóvel para respirar melhor. A brisa da madrugada bate em seu rosto, secando suas lágrimas, e os primeiros raios de sol despontam timidamente no horizonte de uma manhã absolutamente nova para Jeon que vivenciou algo tão novo quanto o dia que está nascendo, mas que está fazendo em sua alma uma grande confusão:
-Por que eu o beijei??? Mereço morrer assim que eu chegar em casa!! Em meia hora!
Há uma grande contradição nisso tudo: Jeon não foi levado pelo impulso. Ele teve muito tempo para pensar e Tae lhe perguntou duas vezes por que ele estava em seu apartamento àquela hora da madrugada. Eles conversaram, olharam a paisagem, assistiram um filme, tomaram café, comeram morangos, Jeon falou de seus sonhos e até conversaram sobre como se escolhe alguém para amar... ou seja, qual a surpresa Jeon?
-Foi uma coisa que me... que me descontrolou completamente... eu não tive culpa!! Droga! Não mereço morrer por causa disso! O que está havendo comigo?
Sem encontrar respostas e sem saber o que fazer a respeito do que acaba de acontecer, Jeon resolve fazer alguma coisa para se tranquilizar e tentar entender os próprios sentimentos.
-Está tudo errado. Tudo o que eu sinto está errado! Não posso gostar dele, só odiar. Não posso me sentir atraído por ele, só achar ele... feio... talvez não... pouco inteligente? Também não vai colar... estúpido? Talvez. Eu preciso encontrar motivos fortes e convincentes para esquecer tudo isso e não pensar mais em nada!
Jeon está definitivamente em uma luta espiritual e desigual com a paixão que o invade e o desespera porque já fugiu de seu controle faz tempo!
-Pense, Jeon! Pense! Pense! Deve haver uma maneira de sair de tudo isso. Não posso gostar de alguém como ele, Não Posso!
Jeon está no trânsito e chama a atenção de outros motoristas porque ele está falando muito com... ele mesmo.
-O que foi? Nunca viram ninguém conversando sozinho? –Esse é Jeon, aborrecido com os olhares curiosos.
Com tantos conflitos, Jeon não vai para a casa. Ele vai para uma cafeteria que fica ao ar livre, em um jardim-pátio que tem uma vista surpreendente para o Gyeonbok Palace, que fica distante da casa dele.
É uma linda e arborizada cafeteria que brinca de se esconder entre as folhagens porque tem suas mesas entre lindas árvores.
Jeon entra e escolhe sentar-se em um lugar de onde ele pode ver a cidade acordando. A cafeteria fica em uma rua alta e ladeada por um lindo jardim que lhe lembra aquele que fica sob a janela do apartamento de Tae.
-Até aqui parece que tem um pouco dele...
O sol acorda a linda cidade com seus raios fortes, despertando a vontade de viver com seu calor, menos a vontade de alguém:
-Quero morrer! Esta é a única solução. Como vou resolver essa confusão em meu coração?
Jeon está sentado entre árvores de flores cor-de-rosa e muitas hortênsias, que trazem um ar de uma manhã doce e tranquila de verão, exatamente o oposto do que está passando pelo seu coração.
-Não... não consigo mais me reconhecer... estarei mesmo me apaixonando por ele? Por que ele? Justo ele?? Por que? Eu não gosto dele e ele... ele me odeia... eu não sei...
Jeon toma uma xícara grande de café muito quente, como se procurasse aquecer sua pobre alma que o assiste em total alarde por ele não aceitar os próprios sentimentos que estão pulsando em todo o seu ser com a força que só um grande amor pode ter.
-Qual será pior: um amor ou uma paixão? – Jeon, em fluxo desconexo com o universo dos seus sentimentos, pergunta-se.
A imagem do rosto de Tae não sai de sua cabeça. Principalmente o beijo longo e muito apaixonado que eles deram e que Jeon não tinha nenhuma pressa de terminar.
-Estou perdido... completamente perdido... e agora, depois desse beijo... Deus, olá!!! Esqueceu de mim?
***
Tae permaneceu no mesmo lugar que aconteceu o beijo com Jeon.
Por muito tempo ele tentou entender a atitude dele em ir embora após o beijo, fugindo desesperadamente.
Ainda em sua janela, esperando o sol nascer, Tae busca compreensão para seus sentimentos também.
Que Jeon sempre lhe pareceu atraente, não é nenhuma novidade para ele, porque apesar dos desentendimentos, seria impossível não reconhecer o quanto Jeon é belo, é inteligente, mas ... agora as coisas partiram para outro nível.
-Estou me apaixonando por ele?? Por que? Vou começar a gostar de gente ignorante, uma pessoa tão teimosa como ele é... que tem um péssimo humor, é doido, é atrevido, não gosta de mim... ou... ou gosta?
Provavelmente, Tae.
-Eu me joguei como um cordeirinho nos braços dele? Onde está minha autonomia? Minha dignidade?? Não sou muito difícil, eu sei, mas... agora não é mais diversão... eu estava quase pedindo para ele dormir comigo!!??
Sim. Foi apenas uma questão de minutos e Tae pediria para dormir nos lindos braços do belo e atormentado Jeon,
A tormenta vem de graça e à toa porque a essas alturas não há mais o que fazer a não ser esses dois reconhecerem que ambos estão muito apaixonados um pelo outro!
A vida estaria apenas tentando ressarcir uma dívida muito antiga, já que pelos sonhos deles já viveram em outros tempos e não conseguiram ser felizes?
-Ou não? Ou isso é só uma grande coincidência e esses sonhos não querem dizer nada?
Tae gosta de se divertir e não gosta de ficar sozinho. Entretanto até o momento ainda não pensou em estabelecer uma relação amorosa duradoura e estável com ninguém porque ainda não havia sentindo os segredos do amor dominarem o seu coração. Só que agora, esse Jeon que ele diz que é doido e atrevido, e encontra mais dezenas de defeitos nele, está, definitivamente, rompendo com todos os seus planos amorosos, principalmente o de não se envolver com ninguém de verdade nem tão cedo. E esse plano, acaba de ruir:
-Não quero gostar de ninguém. Paixão, amor, seja lá o que for, só serve para deixar a pessoa emburrecida. Fica tapada, não vê nada, não pensa direito e faz a pessoa abrir mão até da própria vida para viver em função dos outros! Já vi isso acontecer com muita gente! Não, não e não! Não quero ser tocado por esse vírus! Jamais!
Como sabemos, Tae tem um espírito livre. Aprecia a liberdade, sua autonomia, e sempre teve medo de se envolver de verdade com alguém por temer essa invasão de privacidade. Mas com Jeon a quebra dessa postura já vem acontecendo há algum tempo, desde quando ele permite que Jeon entre em sua vida em determinadas particularidades, sem lhe impor qualquer limite. Inclusive porque Jeon pensa que Tae tem uma atividade “noturna suja”, segundo as palavras do próprio Jeon, que é ser garoto de programa, e Tae ainda não fez nada quanto a isso. Sequer se aborreceu muito com ele.
-Não gosto de gente mimada! E é isso que Jeon é! Um cara rebelde sem nenhuma causa, que não tem com o que se preocupar e fica criando briguinhas na sala de aula comigo porque quer ser o primeiro em tudo. Coisa de ensino médio ou de séries iniciais mesmo! Não estou para ficar atraído por gente assim. Cara mal resolvido, cheio de conflitos e um perseguidor! É, porque vive atrás de mim e quer saber de tudo que se passa em minha vida! Já deu! Que saco!
Enquanto isso, Jeon continua em sua luta pessoal:
-Ah, e eu preciso esquecer esses pesadelos de uma vez por todas! Não aguento mais! E se esses sonhos com ele forem apenas uma desculpa que eu mesmo estou criando para esconder a atração maldita que sinto por ele?
Mas Jeon lembra de um detalhe importante:
-Só que eu comecei a sonhar com ele ANTES de o conhecer!! Não entendo nada...
Jeon está tentando encontrar uma justificativa que não se chame paixão ou amor para explicar a força irresistível que o levou a beijar Tae e a querer estar com ele na maior parte do tempo e a querer também saber o que se passa na vida dele.
O problema é que não foi e não é uma atração momentânea. Tae está o tempo todo em seus pensamentos.
-Preciso fazer algo diferente. Uma coisa brutal, sem romantismo, sem fantasias ou beijos. Alguma coisa que seja realmente parecida comigo: firme, decidido, que não volta atrás, cheio de determinação e objetivos frios!!
Ele está falando sobre ele mesmo??
Assim pensando, Jeon dá uma pesquisada no seu celular, resolve tomar um café de verdade e depois de bem alimentado, sai em direção ao seu novo plano de vida:
-Bom dia, quero me matricular.
Jeon está se se matriculando em um centro esportivo de tiro ao alvo.
O atendente lhe entrega a relação da documentação necessária.
-Tudo isso?
-Sim, senhor. A nova turma começa na segunda-feira. O senhor precisa trazer toda esta documentação.
-Está bem. Posso fazer além do curso de tiro esse de arco e flecha? Esse aqui que se chama “Arqueiro Natural”.
-O senhor deve conversar com os instrutores. Mas creio que não há problema, desde que os horários combinem.
-Tenho interesse por essa turma da noite e do final de semana. Dos dois cursos. Sou estudante de medicina e meu tempo é pouco. – Jeon, todo orgulhoso.
-Tudo bem. O senhor volta na segunda com todos esses documentos e poderá começar seus cursos. Atente para as vestimentas que o senhor precisa usar nas aulas práticas.
-Ok. Obrigado e até segunda.
Jeon sai do centro esportivo sentindo-se melhor.
-Muito bem. Estou feliz com minha nova escolha. O esporte será meu segundo caminho daqui em diante porque o primeiro é o meu futuro e nele eu serei um médico!
***
Na segunda-feira seguinte Jeon estava no centro esportivo com a documentação completa e seus uniformes dos novos cursos. Nada como uma nova atividade para fugir de alguns pensamentos. Às vezes isso dá certo. Mas só às vezes.
***
A semana foi tranquila. Poderíamos dizer que outra vez a paz foi reestabelecida entre Tae e Jeon através do silêncio e da falta total de contato entre eles.
Apesar de que em algumas ocasiões ambos se olharam na universidade, mas de modo muito discreto, com cada um fazendo um esforço grande para que o outro não percebesse.
Isso até a quinta-feira, quando as novidades começaram a aparecer.
Até então Jeon não tinha ido ao restaurante universitário e fez suas refeições durante a semana em outros restaurantes, evitando encontrar Tae em qualquer lugar que não fosse a sala de aula.
Mas, na quinta-feira Jeon volta ao restaurante universitário para almoçar:
Jeon pega seu almoço e se dirige para a sua mesinha de sempre, na última fileira, batendo na parede. Porém, ela está ocupada. E muito ocupada por Tae e mais dois colegas.
-Ai que ódio!!! Agora é cheio de coleguinhas ao redor!!
Após essa reação à invasão social à sua mesa preferida do restaurante, Jeon lembra que está em outra fase de sua vida:
“Nada de ódio, Jeon. Tranquilo, está tudo bem. Deixe esse bando de idiotas para lá!”
Se esse é o Jeon esportivo, imaginem só quando essa personalidade dele não está em ação!
Jeon vai até bem perto da mesa onde Tae está, procurando outro lugar para almoçar. Claro que Tae o viu, mas finge que não, assim como Jeon está fazendo com ele.
Tae é uma borboletinha social que não fica sem companhia em nenhum metro quadrado da terra.
Jeon é um ser que contraria completamente a teoria que diz que as pessoas precisam de interação social para viver em comunidade. Por esta razão ele senta no assento da janela que fica perto da mesa e lá mesmo ele põe a sua bandeja no colo, o fone no ouvido, se desliga do mundo e começa a almoçar.
Se desliga do mundo não condiz exatamente com a realidade porque apesar de ter preferido sentar no batente do janelão do restaurante a ter que dividir uma mesa com alguém, ele está prestando atenção ao que se passa na mesa interativa de Tae, com a sua afiada discrição. E para isso, Jeon está de óculos escuros, claro um modelo cheio de zeros! É só procurar na internet para comprovar!
Com esse aparato que impede que qualquer pessoa veja para onde ele está olhando, logo ele percebe que Tae ficou sozinho na sua mesa.
-Jeon, venha sentar comigo agora. –Tae, como sempre, um ser comunitário.
-Obrigado, estou bem.
-Jeon! Venha!
Jeon estava louco para ir ficar com Tae. Isso já sabemos. Ele tem sentindo a falta dele durante toda a semana. Coisa que ele não admite.
Jeon levanta, põe sua bandeja na mesa de Tae, dando a impressão que ali vai ficar, mas ele só deixa os pratos lá e vai embora. Não se senta.
Tae fica olhando Jeon ir embora, tentando encontrar um CID (Código Internacional de Doenças) para ele:
-Um CID inexistente para esse cara. Quem pode entender? Até parece que eu fiz algo ruim para ele? Me agarra, me beija e fica intrigado depois? É doido mesmo!
Jeon vai para a sala de relax da faculdade. Tae, coincidentemente, também vai. Porém Tae chega depois com mais três colegas que não são da mesma sala deles e conversa com eles descontraidamente, sem ver Jeon, que está deitado no colchonete, do outro lado do sofá, no qual Tae e os colegas sentam para conversar. Jeon ouve a conversa porque está apenas fingindo que está cochilando:
-Vou no sábado. –Diz Tae, para seus colegas
-Que pena, Tae, então não vai poder ir com a gente para a casa do Park Jimin? Ele é do curso de arquitetura, mas é um cara que você vai gostar. – Este é Jun, outro colega deles de curso.
-Prefiro os colegas de medicina mesmo. Sabe, temos mais em comum... –Tae responde.
-Que estranho, Tae, você não era assim... – Esse é o seu colega, Suga, que já o conhece há um bom tempo e sabe o quanto Tae gosta de conhecer pessoas.
- É verdade, você gostava de conhecer todo mundo. O que houve? Picado pelo amor? –Essa é outra colega que está com eles, a Hyuna.
-Mais ou menos... – Responde Tae, sorrindo.
Mesmo que Jeon estivesse dormindo de verdade ele teria acordado com esta informação. Como ele não está, seus olhos são abertos automaticamente ao ouvir esta espécie de confirmação de Tae de que estaria gostando de alguém.
-Mais ou menos? Então está saindo com alguém??? – Suga pergunta.
-Mais ou menos, já disse!! –Tae responde, levando tapinhas dos colegas que querem que ele diga tudo.
-Quem é? Diga logo para gente! – O colega Jun.
-Taehyung, logo você que todo mundo está a fim! Diga para gente quem ganhou seu coração! – Pergunta a colega Hyuna.
-Não posso. –Tae fala, deixando o coração do pobre Jeon enlouquecido.
-Por que? É da sala, não é? Por isso não quer falar. –Insiste a colega Hyuna. Tae já é conhecido no curso não só por sua beleza, mas porque é muito reservado em sua vida privada e ninguém sabe nada a respeito dele nesse assunto.
-Não, não é. E não perguntem mais, não vou contar. –Tae responde sério.
-Por isso não quer ir para a festa com a gente? –Pergunta Jun.
-Estou sem vontade mesmo e tenho um compromisso inadiável no final de semana.
Tae está se referindo ao fato de que ele vai viajar para a casa de seu pai e Jeon está lembrado disso porque da última vez que ele esteve no apartamento dele, Tae lhe falou que havia adiado a sua viagem E isso está deixando Jeon bastante preocupado por causa do sonho em que Tae morre pelo coice do cavalo e também pelo outro sonho dele, quando Tae também morre sem socorro médico em uma noite de tempestade.
-Vai viajar, Tae? – Pergunta Suga.
-Talvez. Vocês perguntam demais. – Tae responde, já se preparando para voltar para a aula da tarde.
-Você não viu a previsão do tempo? Vai chover bastante no próximo final de semana. Vai dirigindo? – Pergunta seu colega Jun.
-Não, eu não tenho carro. Mas tenho que viajar mesmo. Vai chover? Detesto chuva! E agora, vamos, pessoal, a aula vai começar em dez minutos.
***
É sexta-feira. Tae prepara sua mochila porque vai viajar muito cedo. Ele pegará um ônibus às seis horas da manhã para Daegu, e de lá, outro transporte para a pequena fazenda onde vive seu pai.
-Vou ter que ir de ônibus mesmo. A passagem de trem está muito mais cara. Um dia, quando eu for um médico famoso, essa pobreza acabará. Espero. Mas até lá, falta muito tempo.
Tae se prepara para dormir cedo para não perder o horário.
-Vou estudar até meia noite, acordo às cinco e seis horas em ponto estarei dentro do ônibus para Daegu. Tudo bem, vamos lá.
***
-Não adianta, Jeon. Sou melhor do que você.
-Não é. O discípulo nunca pode superar o mestre, Tae.
-Vou dar outra chance para você. Outra rodada de dez?
-De dez. Mas vai ser vergonhoso para você. Quer ir assim mesmo? Estou lhe dizendo que farei pelo menos sete no alvo!
-Não acredito em você, Jeon. Mas eu vou lhe desafiar. Farei oito no alvo. Bem aqui! – Tae aponta para o centro do alvo, onde as flechas devem bater com precisão para obter a pontuação máxima.
-Saia da frente, vou começar, Tae.
-Espere, espere, falta algo.
-O quê?
-O relaxamento do atleta. Você está muito tenso.
Tae caminha em direção a Jeon, com todo o seu charme e beleza. Ao chegar mais perto, Jeon lhe diz:
-Não fique lá na frente, Tae, está tirando minha concentração.
-Por quê?
Jeon vira-se para Tae e lhe beija suavemente.
-Você está lindo e está me desconcentrando, me deixando tenso.
-Amo você tenso, Jeon. Deixe-me lhe relaxar um pouco.
Tae se coloca nas costas de Jeon e mexe a cabeça dele para esquerda e para a direita, um exercício feito antes das competições para o atleta ficar mais tranquilo. Só que Tae ao fazer isso, coloca os dedos nos lábios de Jeon, brincando.
-Pare com isso, Tae, não está ajudando. –Jeon diz, rindo.
-E isso? –Tae lhe beija o pescoço, na nuca.
-Saia daqui, Tae! Isso é maldade! Prefiro ver você lá na frente! Vá!
-Tudo bem. Vou ficar aqui e vou fazer você errar! Vou ganhar de você hoje!
Tae volta para onde está o alvo e se coloca ao lado.
-Não me intimida, Tae.
-Vou ficar ao lado só a partir da quarta flecha, ok?
Jeon atira as quatro primeiras flechas e em todas elas acertam no alvo ou ficam muito perto dele.
Tae confere e lhe diz:
-Nãooo!! Você agora irá errar! Olhe só para mim, Jeon!
Jeon atira e realmente se desconcentra um pouco e erra o alvo.
Mas, para a infelicidade dos dois, Jeon erra o alvo mas acerta o peito de Tae!
-Nãooo!!! Meus Deus!! Taeee!!!
Jeon corre para Tae que cai com as mãos na flecha que está enterrada em seu peito.
-Nãoo, meu Deus!!! Alguém ajude!!! Preciso lhe levar em um hospital!! Tae, vou lhe salvar! Socorro!!
-Jeon... estamos no... no campo... não há ninguém...
-Tae, meu amor, me perdoeee!!! Preciso levar você em um médico! Alguém me ajudeeee!!!! Socorroo!!!
-Jeon...
-Tae, viva meu amor, vivaa!!!
***
-Taeee!! Viva, meu amor, viva!!! Por favor, viva para mim!!!
Jeon acorda com a mão em seu peito, arfando de tristeza e chorando desesperado.
Ele acorda e mais uma vez está em pânico com o terrível sonho que acabou de ter.
Ele levanta e vai até sua janela, olhar para a cidade como se precisasse se certificar que não está no campo.
-Esta é Seul, é a cidade. Não é o campo!! Calma, Jeon, é só um sonho, só um sonho! Volte a dormir tranquilo, ok? Está tudo bem.
Mas Jeon toma outra decisão.
Meia hora depois, a campainha de Tae toca insistentemente.
-Campainha, pare... por favor.
A campainha continua tocando loucamente.
-Isso é aqui mesmo? Quem será?
A resposta vem imediatamente.
-Tae, você está aí? Abra, é o Jeon! Abra!
Tae vai caminhando ainda quase dormindo mas acorda de vez ao ouvir Jeon.
-Tae, é o Jeon! Abra!
-O que eu fiz para merecer Jeon? O quê?? Ele vem, depois vai, depois vem...
-Tae, abra a porta!! – Agora Jeon aciona a campainha e bate na porta simultaneamente,
Tae abre a porta.
-Deu tudo certo? –Pergunta Tae, ironicamente.
-Tudo certo o quê?
-Com o fim do mundo, Jeon! Porque para quebrar minha porta a essa da hora da madrugada, só algo assim pode justificar.
-Olá, Tae. Que bom que está em casa... não está ocupado, está?
-Ocupado? –Tae pergunta enquanto vê Jeon entrando em seu apartamento com uma mochila um pouco grande.
-Quero saber se está em ação em suas atividades... você sabe...
-Eu estava em atividade de dormir até você começar a quebrar minha porta.
Tae fecha a porta e fica olhando Jeon colocando sua mochila no sofá, tirando seus sapatos e os colocando ao pé da porta e dando uma verificada para ver se há mais alguém no apartamento.
-Está sozinho mesmo?
-Não, Jeon, não estou!
-Quê?? Está com quem?
-Com você. Jeon, sabe que horas são?
-Meia noite e meia. Não é tarde.
-Jeon, preciso acordar às cinco horas. Estudei até meia noite. O que quer?
-Vou dormir aqui. Vou vestir meu pijama no banheiro, volto já.
E Jeon vai se trocar no banheiro de Tae com seu pijama em mãos, que ele tirou da mochila, assim como muitos outros pertences.
-Jeon, por que...
Não deu tempo. Jeon foi mais rápido e foi se trocar.
Tae vai na cozinha e prepara um café para encarar essa espécie de vulcão misturado com tufão que é Jeon.
Jeon volta do banheiro e diz:
-Não se incomode comigo. Vou dormir aqui no sofá.
Tae está na mesa da cozinha, tomando café e quase cochilando, tentando entender aquele ser que acaba de invadir seu apartamento.
-Jeon, por quê?
-Por que o quê, Tae?
-Por que tudo, Jeon? A velha pergunta que não cansa de existir: por que está aqui, em meu apartamento a essa hora?
-Vou viajar com você. Precisamos acordar cedo.
Tae olha para Jeon sem compreender e achando que ouviu mal. Ele levanta e vai até o sofá onde Jeon já está deitado e enrolado com o cobertor que ele tirou da mochila.
-Você vai viajar comigo?? Como assim? Vai para a casa de meu pai comigo? Eu lhe convidei?
-Não. Não me convidou. Mas eu vou mesmo assim.
-Como você sabia que eu vou... isto é... nem sei como lhe perguntar as coisas, Jeon.
-Você me falou que adiou sua viagem. Então vi os horários para Daegu na internet e soube que planejava ir cedinho. Aqui estou eu. Vou lhe levar e pronto.
-Mas, Jeon... você nem está falando comigo depois que me beijou!!!
-NOS beijamos, Tae. Você também estava na cena e foi bastante receptivo.
-Juro que por mais que eu me esforce não consigo entender você. Então vai me levar?
-Sim.
-E vai me trazer?
-Sim. Você não quer que eu deixe você lá, volte e vá buscar no dia seguinte, não é?
-Jeon, é meu pai que eu não vejo já faz tempo. Lá é muito pobre, é o campo, no fim do mundo, não tem comida chique, não tem acomodações de luxo, e é o aniversário dele com três ou quatro amigos vizinhos que têm pelo menos três vezes a sua idade. Por que quer ir comigo?
-Boa noite, Tae. Preciso dormir logo porque se de ônibus são três horas e vinte e cinco minutos, vou levar umas duas horas dirigindo porque meu automóvel é importado e...
-Jeon!!!
-Diga, Tae. Não fique mal humorado comigo porque estou fazendo o favor de lhe levar, ok?
-Eu não lhe pedi para fazer isso.
-Mas eu quero fazer e tenho meus motivos.
-Quais, Jeon?
-Sou... sou uma pessoa boa. Só isso.
Tae desiste e vai para seu quarto, mas antes ele diz:
-Vou acordar às cinco horas da manhã e se você estiver dormindo ainda eu não vou chamar. Vou viajar sozinho.
-Estarei pronto e acordado a essa hora. -Diz Jeon, já com a coberta sobre o rosto, preparado para dormir.
***
Cinco horas da manhã:
-Então você vai mesmo comigo?
-Eu estava pensando, Tae: por que acordar tão cedo e sair ainda no escuro? Esse seria o horário para você que ia pegar o trem.
-O ônibus.
-Pois é. Então eu resolvi que nós vamos tomar café tranquilamente e depois a gente pega a estrada, ok?
Tae ainda não se refez do choque de ver Jeon se infiltrando assim em sua vida sem pedir licença. Ele está sentado no sofá, diante de Jeon com as duas mãos juntas, sob o queixo, como costuma fazer quando algo lhe chama bastante a atenção.
-Jeon, sabe quantas horas eu dormi depois que você chegou?
-Não. Três?
-Umas duas ou menos.
-Por quê?
-Porque a minha cabeça estava tentando desfazer os nós que você dá, Jeon.
-Dormiu mais do que eu. Veja: fui cedinho para o supermercado, e comprei algumas coisas para a gente tomar café. Aqui em sua casa não tem quase nada. Como você vive, Tae? Minha pobre geladeira tem muito mais coisas do que a sua despensa inteira.
-Jeon, essa não será uma viagem divertida para você. Meu pai é velho, é...
-Não importa. Vou assim mesmo. E não precisa me perguntar porque estou indo. Já lhe respondo: tive alguns sonhos ruins, pronto.
-Está bem. Você está insistindo. Vai dirigir e eu vou dormir em seu automóvel de luxo.
-Tudo bem.
Eles levantam e vão para a mesa tomar café.
Tae dá uma olhada na mesa, nas coisas que Jeon comprou já prontas.
-Eu não gosto desse tipo de café, Jeon.
-Mas eu gosto e fui eu que comprei. Faça do seu.
-Estou apressado. Vou tomar esse mesmo.
Eles começam a comer e Tae decidiu ficar tranquilo porque percebeu que não há mais argumentos que possam fazer Jeon não viajar com ele.
-Sonhou comigo outra vez e ficou assustado?
-Não. Vou porque quero conhecer um lugar diferente.
-Lá não há nada para ver, Jeon. Você não vai gostar. Nem eu gosto. Mas, tudo bem. Já que você insiste...
Tae lava as coisas do café da manhã e guarda tudo no armário. Antes deles saírem, ele verifica as portas e janelas e descem para iniciar a viagem.
-Onde está seu automóvel, Jeon?
-Aqui.
Jeon aciona o controle remoto para abrir o porta-malas.
-Esse carro é seu??
Jeon está com uma Land Rover Discovery luxo, novinha, novinha.
-Sim. Entre. Não pensou que eu fosse viajar com aquele carro de passeio, não é?
-Não pensei porque não ocupo meus pensamentos pensando em algo que não faz parte da minha realidade.
-Ponha suas coisas aqui.
-Minha nossa, Jeon, que carro enorme! E que tantas coisas são essas aqui no porta-malas? Você vai ficar morando em Daegu?
Ele entram no carro para finalmente viajar.
-Estou levando algumas coisas básicas como saco de dormir, e alguns utensílios que talvez lá não tenha.
-Lá também não é o fim do mundo, Jeon.
-Nunca se sabe, nunca se sabe.
-O que é aquilo?
-Espere, vou fechar.
Jeon aciona o controle remoto e fecha um compartimento com taças de cristal.
-Você tem uma geladeira dentro do carro?
-Sim.
-Nossa... vida de rico é outra coisa. Eu tenho uma geladeira na minha cozinha, comprada de alguém que me vendeu porque estava comprando uma nova.
-Vamos?
Eles entram no carro, e Tae diz:
-Vou dormir, bye.
-Deveria pelo menos ser educado já que não sou seu motorista, Tae.
-Você que quis vir. Eu não lhe pedi. E por sua causa eu não dormi nada.
Eles seguem viagem e o tempo começa a fechar.
***
Algum tempo depois, na metade do caminho:
-Espero chegar antes desse temporal.
Jeon fala sozinho porque Tae estava dormindo e acorda nesse momento.
-Temporal? Ah, nãoo...
-Não se preocupe, estamos na metade da viagem. Você dormiu e eu, uma alma boa, estou dirigindo sem ter nem com quem conversar.
-Está bem. Já passou meu sono. Desculpe, Jeon. E... obrigado por vir comigo.
-Hum...
***
Depois de uma viagem um tanto difícil porque a estrada está com lama por causa das últimas chuvas, eles chegam na fazenda do pai de Tae, uma pequena propriedade nos arredores da cidade.
-Chegamos muito cedo mesmo. Se eu tivesse vindo de ônibus ainda estaria muito longe daqui. Só chegaria ao meio-dia.
-Mas aqui é fim do mundo mesmo! Que lugar feio, Tae!!!
-Não reclame, eu lhe avisei! Esse seu carro vai parecer uma nave espacial aqui. É só pobreza! Veio porque quis.
-Tudo bem, já lhe disse que sou muito adaptável.
-Veremos!
-Seu pai sabe a hora que você chegará?
-Sim. Enviei uma mensagem. Espero que ele tenha lido.
Finalmente a viagem chega ao fim.
-Nossa, o tempo fechou mesmo!
-Mas amanhã fará sol. Eu vi na internet depois que os colegas avisaram que ia chover hoje.
O pai de Tae ouve a buzina do automóvel e sai de dentro de casa:
-Meu filho!! Nem acredito que você já está aqui!!
-Olá, pai! Como está?
Jeon vê o pai de Tae:
Ele é um senhor de aproximadamente sessenta e cinco anos, sorriso largo, e está em uma cadeira de rodas.
-Seu pai é...
-Ele sofreu um acidente há muitos anos e desde então está em uma cadeira de rodas, Jeon.
-Você veio com um amigo, meu filho?
Tae abaixa-se e beija o pai e depois o abraça.
-Como está, pai? Estava com saudades de mim?
-Claro que sim, meu filho!
-Pai, esse é Jeon, um amigo. Jeon, este é meu pai, Dong-hae.
-Como vai, senhor? Obrigado por me receber.
-Por que não me avisou, meu filho? Eu teria preparado melhor as acomodações para receber seu amigo!
-Não se preocupe comigo, senhor.
-Seja bem-vindo. Agora estou duas vezes feliz!
-Obrigado.
-Vamos entrar, vamos entrar. Taehyung, meu filho, eu quase não dormi esperando esse dia clarear para esperar você.
-Finalmente estou aqui, depois de tanto tempo, pai.
O pai de Tae olha Jeon, feliz em ter mais uma visita para seu aniversário.
-Seu amigo é seu colega de curso?
-Sim. Ele é meu colega.
-Estou contente em você ter trazido ele. Um sopro de vida a mais nesta casa. Seong, mostre o quarto do Taehyung para ele levar suas coisas. É tudo muito simples, meu filho. Taehyung, seu amigo não se incomoda de dividir a mesma cama com você?
Jeon olha para Tae, assustado com essa novidade. E antes que Jeon diga alguma coisa, Tae imediatamente responde:
-Claro que não, pai. O Jeon é uma pessoa simples também.
-Que bom. Então vão se trocar e voltem para tomarmos um café. Vamos conversar um pouco antes do almoço.
***
Já no quarto de dormir, olhando para a cama de casal...
-Pretende que eu durma com você na mesma cama, Tae?
-Você pode dormir no chão, se preferir, Jeon. Eu lhe avisei.
-Aqui não tem central de ar? Está muito quente e... o clima está úmido.
-Até que tem, mas é no quarto do meu pai. Aqui na cama nós podemos dormir sem roupa para não sentir calor. Eu vou adorar!
-Engraçadinho. Mas eu não vou dormir com você. Veja!
Jeon tira seu saco de dormir da mochila e bate nele, sorrindo.
-Como é bom ser inteligente e prevenido!
-Tudo bem. Arrume sua cama no chão e vamos tomar café. E Jeon, nada de falar em clima úmido. Aqui não tem essas coisas e a gente vive como pode, ok?
-Não sou alienado, Tae. Sei onde estou. Por que só sabe reclamar de mim? Não vê todas as coisas boas que faço para você?
-Vamos Jeon, antes que você comece a falar de toda a sua bondade humana. – Tae diz, pegando a mão de Jeon para eles irem comer alguma coisa com o pai dele.
Já na mesa:
-Tomar café é modo de dizer, meu filho, porque já está quase na hora do almoço. Mas, diga-me, jovem, gosta muito do curso de medicina?
-Ah, sim. Gosto muito.
-Mora com seus pais em Seul?
-Não, moro sozinho.
-Ah... como você, meu filho.
-É sim, pai. O Jeon é um excelente aluno.
-Então os dois são os melhores, tenho certeza.
-E você, Taehyung? Ainda muito esperto? Porque bonito como você é... não invente de se casar agora. Você ainda não tem nada... veja sua mãe...
-Pai, podemos conversar sobre outra coisa? Pode ser? Vou pegar algo.
-O que é?
-Uma lembrança.
-Uma lembrança para mim?
-Sim.
Tae levanta para ir buscar o presente de aniversário do pai e Jeon fica na mesa com ele.
-Taehyung é muito inteligente. Sempre foi. Eu gostaria de ter feito mais por ele, mas... infelizmente eu não pude. Diga-me...
-Jeon.
-Diga-me Jeon, ele continua sendo um bom aluno?
-O Tae é um aluno excelente, senhor. Todos os professores admiram ele.
-Ah, continua o mesmo, então. Fico muito feliz.
O senhor Dong tenta pegar a xícara de café, mas tem dificuldade de encontrá-la, quase derrubando no chão.
-Aqui, sua xícara, senhor, tome.
Jeon entrega a xícara para o senhor Dong e percebe que ele não enxerga bem também. Ao dirigir a palavra a ele, um de seus olhos parece olhar em outra direção.
-Desculpe, filho, não sou muito bom de uma visão. Esse meu olho esquerdo não é bom.
-Sinto muito, senhor.
Tae retorna e entrega o presente ao pai. É uma camisa.
-Um presente para mim! Obrigado!
O pai de Tae abre o pacote e se emociona. Ele estende a camisa e dá um sorriso para os dois.
-Obrigado, filho. Não precisava. Está muito bonita, mas você não pode comprar presentes. A vida é muito difícil, não é?
O senhor Dong faz a pergunta olhando para Jeon, que confirma.
-Sim, é. – Jeon responde.
A casa do pai de Tae realmente é muito simples. Ela é uma propriedade antiga, é muito grande e tem dois pisos, mas não está muito bem conservada. Seu pai tem alguns animais com os quais faz negócios, além da venda de leite e hortifrutigranjeiros, que está relacionada a produtos ou atividades desenvolvidas e provenientes de hortas, das granjas e pomares, ou seja, um mundo absolutamente diferente de tudo o que Jeon jamais teve contato direto. É um mundo rústico, sem qualquer tipo de luxo, e sem algumas coisas básicas, como por exemplo uma rede de abastecimento alimentício nas proximidades, o que faz com que a agricultura seja tão necessária para a sobrevivência e também pela dificuldade de acesso dos meios de transporte.
Jeon nunca esteve em um ambiente assim e está um pouco desconfortável de maneira geral.
Enquanto conversam à mesa, o pai de Tae é sempre o mais falante e coloca o filho a par de algumas novidades da fazenda. Logo em seguida, o almoço é servido e de pois da refeição o senhor Dong se retira para descansar um pouco.
Jeon então diz para Tae:
-Vou olhar por aí, um pouco.
Jeon sai da casa e vai olhar ao redor da propriedade.
Tae o segue.
-O que foi, Jeon?
-Vamos amanhã cedo?
-Já quer voltar?
Jeon não responde.
-Eu lhe avisei que aqui não era bom. Outra dimensão para você, não é, Jeon?
-Sim, é. Mas eu quis vir. Está tudo bem. Há cavalos aqui, Tae?
-Há. Mas estão no estábulo. Amanhã poderemos montar.
-Não!
-Não? Por quê?
-Você não tem costume, Tae. Você vive na cidade.
-Quem já aprendeu a montar não desaprende, Jeon. E você pode ficar na casa. Vou apenas dar umas voltas pela propriedade. Apesar de não ser meu ambiente preferido esta paisagem é apaixonante. Gosto de ver, pelo menos de vez em quando.
-É... tem gosto para tudo.
-Mas, veja, Jeon, você não pode negar que a vista é linda! Amanhã vou cavalgar um pouco.
-Eu irei com você.
-Tudo bem. Quer conhecer um pouco daqui? Venha, vou lhe mostrar. É tudo muito simples, mas é bonito. Eu gosto desta paisagem, acho maravilhosa, mas jamais moraria aqui também.
-Sim, é um pouco bonita.
-Sei que que você não acha graça nenhuma aqui. Eu entendo, Jeon. Esse é um lugar só para quem ama a terra e tudo o que se faz aqui.
Enquanto conversam, eles se afastam um pouco da casa, sem prestar atenção ao caminho que fazem.
Tae mostra a propriedade para Jeon. Ele o leva para ver algumas plantações, como as hortaliças, os pomares, as frutas e a principal delas, a plantação de arroz, e também um lago que fica próximo da casa e o campo para criação de gado.
-Você me falou que era uma propriedade pequena. Mas vejo que é enorme.
-Nunca esteve em uma fazenda, Jeon? Isso aqui é grande em relação às casas e apartamentos urbanos. Veja, a fazenda de meu pai vai até aquela montanha.
-Tudo isso?
-Sim. Mas é pequena em relação a outras fazendas.
-O que ele faz exatamente aqui?
-Quase nada. Como você viu, ele não anda, também não enxerga bem. Mas há pessoas que trabalham aqui.
-Hum... então o que ele vende?
-Leite, galinhas, porcos, ovos... enfim, essas coisas e animais que você acabou de ver.
-Entendi.
-Essa é a vida por aqui.
-E isso não dá muito dinheiro?
-A fazenda depende de muitas coisas para funcionar. Uma delas é o acesso. E como você viu, a estrada para cá é muito ruim. E nas chuvas... nem me fale, fica quase impossível chegar aqui. Então, isso tudo acaba sendo mesmo apenas uma fazenda familiar. Para seu próprio sustento.
-E os cavalos, onde ficam?
-Do outro lado, no estábulo. Não são muitos. Tudo aqui é pouco, restrito, Jeon.
Jeon escuta tudo o que Tae fala e o olha curioso por saber que há pessoas que gostam de viver tão longe de tudo.
-O que foi, Jeon?
-Nada, não... apenas pensando comigo mesmo como é que que tem gente que gosta de viver tão longe da cidade, do movimento...
-Nisso, nós dois concordamos, Jeon... Você está muito calmo. O que tem?
-Não é nada.
-Está louco que chegue amanhã para ir embora?
-Também.
-Não sei que ideia louca foi essa sua de vir comigo e eu não impedi você.
-Pelo menos não estamos brigando, Tae.
-Ai, Jeon, é difícil entender você. Passa a semana inteira sem falar comigo e aí de repente, de madrugada, vai na minha casa e viaja comigo.
-Acho que está anoitecendo, Tae. Está ficando escuro.
-Sim e daqui a pouco vai chover... aliás, já começou a chover, Jeon.
Começa a chover e eles correm para voltar para casa, que já está um pouco distante.
-Corra, Tae, você não pode adoecer outra vez.
-Se eu adoecer você vai cuidar de mim?
-Não fique mal-acostumado, foi só uma vez!! Onde está sua casa? Não estou vendo!
-Não é por aí, Jeon, é do outro lado. Droga, andamos demais e nos distanciamos muito.
Tae para um pouco, tentando encontrar a direção da casa.
-Você não sabe voltar, Tae?
-Espere um pouco, preciso me orientar!
Tae olha em volta e tenta refazer em sua cabeça o caminho que fizeram até o local onde estão.
-Tae, lembre logo, isso aqui é muito assustador!
-Calma, Jeon, o lago fica daquele lado e a casa fica no final, é lá! Vamos!
-Você vai adoecer, Tae!
-Você cuidará de mim!! Vamos rápido!
Enquanto eles correm sob a chuva, Jeon passa a lembrar de seus sonhos e fica aterrorizado. Não há muitos motivos para isso a não ser algumas coincidências como o fato de estarem no campo e o temporal repentino do qual eles estão fugindo. Porém nas últimas semanas, depois de alguns sonhos aterrorizantes, Jeon anda com muito medo que algo ruim aconteça com Tae.
-É daquele lado, Jeon! Está vendo?
-Como você esqueceu o caminho de sua casa, Tae?
-Não reclame! Quase nunca venho aqui. Vamos logo, a chuva está aumentando!
Finalmente Tae e Jeon chegam em casa. Realmente eles estavam um pouco afastados da propriedade
-A casa, Jeon, chegamos!
Eles entram completamente molhados pela chuva e passam direto para o quarto de Tae, que acomodará Jeon também.
-Que loucura! Como chove loucamente assim, de repente? –Tae pergunta e começa a tirar a sua camisa porque está completamente molhado. Já anoiteceu e o tempo, literalmente, fechou, com raios e trovoadas.
-Você não vai se secar, Jeon?
Jeon não pode. Está fascinado olhando as costas de Tae, que se enxuga com uma toalha que acabou de pegar no banheiro. São belas, quase douradas e largas. Mesmo Tae sendo magro, seu corpo parece uma escultura, tão perfeita é a proporção de seus músculos.
-Jeon, há outra toalha no banheiro. Meu pai já mandou colocar lá para você. E tem sabonetes e...
Tae vira-se para trás, estranhando o silêncio de Jeon, que está parado, olhando para ele, sem dizer uma palavra.
-O que foi?
-Seus... cabelos... estão molhados.
-Sim. Tomamos um verdadeiro banho... não foi?
Tae conhece esse olhar que Jeon lhe lança. Ele reconhece porque é quando a outra pessoa guardou suas armas e está sem defesas diante de quem está à sua frente.
-Jeon... está tudo bem? Não vai se enxugar?
-Sim... estamos molhando o quarto... seu cabelo, Tae, está muito molhado.
Jeon pega a toalha que está com Tae e começa a enxugar suas costas. Ele junta seus longos cabelos em uma das mãos e com a outra começa a enxugar as costas de Tae com movimentos suaves.
-Jeon...
Jeon está em silêncio, mas Tae sente o hálito quente dele em seu pescoço.
-Você não pode adoecer, Tae... não pode...
-Cuidará de mim se isso acontecer?
-Sim. Creio que sim.
Jeon afasta totalmente os cabelos de Tae e beija seu pescoço.
-Não faça isso, Jeon...
-Por quê? – Jeon pergunta e beija outra vez o pescoço de Tae, molhando outra vez as costas dele com a água que escorre de seus cabelos e também porque sua roupa está toda molhada e Jeon não se secou ainda.
O temporal fica mais forte e as luzes da fazenda se apagam, agora iluminando a propriedade apenas com o brilho dos relâmpagos que explodem em raios de desejo nas faces de Tae e Jeon.
Tae vira-se para Jeon e o adverte:
-Aqui está um pouco longe de Seul para você sair correndo para casa depois de um beijo, Jeon.
-Eu sei, Tae. Então aqui é o melhor lugar, porque... porque ficarei como quero ficar...
-E como é que você quer ficar, Jeon?
-Sem saída, sem opção depois de lhe beijar, Tae.
Seus olhos são luzes na escuridão lá de fora, porque nesse quarto há um mundo iluminado lutando para finalmente brilhar.
Tae impõe seu doce olhar agora como uma fera que fareja sua melhor caça, ao roçar o rosto de Jeon com o seu.
-Eu...
-Diga, Jeon...
-Acho que quero lhe dizer algo.
-Estou esperando.
-Acho que eu precisava dessa tempestade mesmo.
-Por quê?
-Porque... porque de uns tempos para cá, a tempestade me fazia ter medo, mas agora... agora ela me dá coragem para dizer...
-O que quer me dizer, Jeon?
-Para dizer que te amo, Tae. Que estou apaixonado por você... não sei... A única coisa que eu tenho certeza é... é que estou completamente louco por você e não sei mais o que fazer...
-Eu também estou louco por você, Jeon. Você, a minha pessoa certa... acho que encontrei.
Tae toca o queixo de Jeon e circula sua boca com seus dedos macios. Jeon fecha os olhos e solta os cabelos de Tae para descer suas mãos por suas costas, antes do beijo que vem em seguida cheio de paixão.
Apenas um beijo a enfrentar as feras que andam soltas sob o inverno em pleno verão que os visita nessa noite.
A coragem venceu o medo e afastou os fantasmas que voltaram para o passado.
Agora Tae e Jeon resgatam as mãos perdidas no ar e trocam os mais loucos abraços ávidos para se encontrar.
-Senhor Taehyung!!! – A porta se abre repentinamente e uma funcionária de seu pai os vê se beijando, iluminados pelos mesmos raios que festejam um amor nascendo depois de tanto tempo!
-Senhor...desculpe...
Sim, as feras estão soltas. Tae e Jeon confessaram que estão apaixonados um pelo outro.
Finalmente! Até os raios da noite já sabem disso!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.