Tae e Jeon são muito bem recebidos na casa de Jung Hae. Seu pai tem muitos motivos para esta calorosa recepção, uma vez que já foi muito próximo dos pais deles e conviveu com eles durante muito tempo.
-Estou quase me sentindo culpado pelos meus sentimentos produzidos por meu cérebro amargo em relação ao Jung Hae, Tae.
-É? Pois eu lhe parabenizo por sua consciência, Jeon. Pelo menos você agora vai tirar de sua cabeça doida essa ideia de comprar fazendas. E eu devo ser mais maluco do que você por ter vindo aqui. Viemos tomar o tempo de uma pessoa ocupada que certamente vai acreditar em suas conversas já que você é rico. Só estou aqui para não deixar você fazer uma bobagem muito louca. E depois você detesta o Jung Hae!
-Isso é outra coisa, caro boyfriend. Só que o pai do Jung Hae é muito simpático e ainda foi pegar bebidas pra gente.
-Isso torna ele simpático?
-Pelo menos, o torna educado. Mas no que eu estou interessado mesmo é no jantar! Na refeição maravilhosa que ele prometeu. Está sentindo o cheiro?
-Na minha casa também tem comida, Jeon! Até parece que a gente não comeu hoje!! Você nem esperou ele terminar de falar e foi logo dizendo que aceitava jantar!
-A comida de sua casa não tem esse aroma! Sinta! É maravilhoso!
-Está falando mal da minha casa??
-Falar mal é quem tece comentários por trás da pessoa, Tae. Eu estou sendo sincero ao dizer para você que há sim, uma relevante diferença de aromas.
-Isto é uma ofensa! Está hospedado em minha casa e dizendo que as refeições são ruins?
-Não. Eu só comentei que o aroma do jantar que estamos prestes a saborear é ... digamos que mais atrativo do que o da sua casa!
-Pois então coma bastante aqui porque mais tarde não vai ter lanche para você!! Vai ter que vir aqui, de madrugada, bater na porta para o Jung Hae lhe alimentar!
-Ele está vindo. Não fique me reeducando pelo ouvido, Tae... que coisa feia...
-Desculpe a demora. Fui apenas dar uma olhada no jantar que está demorando um pouco.
-Tudo bem. O Tae estava falando que o aroma é incrível! E que está louco para jantar!!
-Verdade, Taehyung?
-Não exagere, Jeon... sim, parece muito bom, senhor Jung.
-Estávamos aqui conversando sobre o que o senhor estava falando. E ficamos muito impressionados. – Diz Jeon.
-É verdade. E o Jeon estava dizendo que apesar de viver na cidade, adora a comida do campo. – Tae, sempre tentando uma boa socialização.
-E você têm toda razão! Nada se compara a um plantio saudável, livre de produtos químicos que fazem muito mal à saúde. E tudo isso contribui para uma cozinha irresistível. Os produtos que vão para a mesa industrializados não se comparam àqueles que estão em terras como estas!
-O senhor tem razão. Até o sabor é diferente. Fazia muito tempo que eu tinha vindo aqui. Retornei para o aniversário de meu pai, naquele dia que nos encontramos na estrada, e voltei agora porque ele está doente.
- Eu jamais sobreviveria sem essa comida maravilhosa daqui! Nem seu pai, Jeon! Não sei como ele se acostumou com a capital!
-Ah...
-Bem, na verdade dá para entender o que o fez adaptar-se tão rapidamente... mas não vamos falar sobre isso... hoje é dia de visita entre vizinhos e amigos e não vamos perder tempo com recordações tristes.
Tae e Jeon se entreolham intrigados com as palavras do senhor Jung.
-Entender...? Recordações tristes? Como assim? Houve... – Pergunta Jeon.
-Está se referindo ao episódio da morte da minha mãe, senhor Jung? O Jeon já está inteirado sobre esse acontecimento horrível. Não tem problema.
-Não. Eu não me referia a este fato que... foi terrível! Devastador para todos! Mas o Jeon, seu pai, antes disso, já havia decidido deixar a fazenda. Mas depois voltou atrás e ficou por mais um tempo até o mês da morte da sua mãe, Tae. Sabem que os pais de vocês eram vizinhos de fazendas, não sabem?
-Sim, senhor, tanto eu como o Jeon, sabemos de tudo.
-Pai, o jantar será servido em vinte minutos.
-Obrigado, filho. Sente-se perto de mim. Bem, meus jovens, espero não estar sendo inconveniente com essas lembranças desagradáveis... então vamos mudar de assunto. O meu filho falou que o Jeon está interessado em comprar algumas terras? Vamos conversar sobre negócios, então.
-Por favor, eu insisto: o que aconteceu antes? –Jeon pergunta, intrigado com este fato não explicado. – Eu realmente gostaria de conhecer os fatos... há alguns pontos vazios em toda esta estória que nos deixam bastante intrigados.
-Ah... nada não... não creio que seja uma boa ideia relembrar. Tanto tempo já passou... o Taehyung era uma criança ainda... acho que nem lembra. Não vale a pena.
-Por favor... eu tenho a mesma opinião que o Jeon... e esta mesma sensação de que falta saber de alguma coisa...o que teria feito o pai de Jeon desistir de morar aqui? Eu pensei que tinha sido a morte da minha mãe... senhor Jung. Nós já estamos cientes de toda a estória. Meu pai me contou e os pais de Jeon contaram para ele também... então... se não se incomoda... eu gostaria... e acho que o Jeon também gostaria de compreender o que houve antes da morte dela.
-Bem... se vocês fazem questão de saber... mas alerto que podem se machucar... os dois.
-Tudo bem, estamos prontos para ouvir. –Diz Tae, ao mesmo tempo que Jeon assente com um gesto de confirmação.
O pai de Jung Hae levanta de sua cadeira, acende um cigarro e caminha um pouco mais para frente da grande varanda onde eles estão sentados.
-Aconteceu há muito tempo... mas até hoje guardo cada detalhe daquela tarde fatídica... daquele dia que... não sei se devo falar...
-O que aconteceu? Pode contar, senhor. Talvez eu até já saiba do que se trata. –Pergunta Jeon, muito ansioso. – Por favor, nos conte.
-Você sabe algo que eu não sei, Jeon?
-Creio que sim, Tae.
-Senhor Jung, não irá fazer muita diferença. Como o senhor disse, já faz muito tempo. Meu pai não falou sobre outro fato fora a morte da minha mãe. Pelo menos não falou sobre algo grave antes do incêndio que a vitimou.
Ainda sem se voltar para eles, o pai de Jung Hae, escuta as palavras de Tae e Jeon, e ainda com seu cigarro, após uma longa tragada, relembra o fato terrível que marcou a vida de todos:
-Seu pai estava fascinado com uma nova atividade, Jeon. E para isso ele havia comprado equipamentos para que praticássemos. Ele, sua mãe, os pais do Taehyung e eu. Como vocês devem ter conhecimento, fiquei viúvo muito cedo.
-Sim, meu pai falou. – Diz Tae, com a mesma ansiedade que Jeon.
-O seu pai havia visto nos jogos olímpicos um certo esporte e botou na cabeça que seria uma atividade divertida para os finais de semana. – Ele diz, olhando para Jeon.
O senhor Jung faz um estalido nos lábios, como um som de pesar... até parece estar vendo a mesma cena do passado neste momento diante de seus olhos, ao mesmo tempo que faz uma expressão de lamento.
Ele prossegue, sob a total atenção de Jeon, Tae e do Jung Hae.
-Pai, quer mesmo falar sobre isso?
-Não se preocupe, Jung. –Diz Tae, com um gesto de mãos, indicando para ele não interromper seu pai. – Por favor, senhor, continue.
O pai de Jung prossegue em sua narrativa:
-Estávamos um dia praticando o esporte que fascinava seu pai naqueles tempos quando... quando aconteceu uma fatalidade.
-Que fatalidade? - Pergunta Tae.
O senhor Jung vira-se para eles e colocando uma bebida, explica:
-Não foi exatamente uma fatalidade porque não foi letal. Mas foi um incidente terrível! Era um final de tarde, já havíamos terminado inclusive de praticar e estávamos todos bebendo, rindo e conversando. Mas eles resolveram fazer uma nova rodada. Estavam praticando tiro com arco quando...
-Com arco? Arco e flecha? –Pergunta Tae, inquieto, sentindo um frio na espinha...
-Sim. O seu pai, Jeon, acidentalmente, atingiu a sua mãe, Tae, enquanto ela arrumava o alvo para seus pais. Foi horrível!
Ao ouvir o relato do senhor Jung, Tae levanta imediatamente de sua poltrona, estarrecido com a espantosa coincidência dos fatos acontecidos entre seus pais no passado, e que coincide de modo incrivelmente similar com os sonhos que ele e Jeon tiveram há algum tempo com o mesmo tema, ou seja, com a prática do arco e flecha.
Na verdade Tae e Jeon sonharam duas vezes com o episódio do acidente do arco e flecha, sendo que no primeiro sonho, o de Jeon, o final é inconcluso, já que termina no momento em que Jeon acerta uma flecha no peito de Tae, acidentalmente. Jeon se desespera e começa a gritar pedindo socorro, ao mesmo tempo que lembra que estão no campo e que não há médicos para socorrer Tae. Ele acordou neste momento de angústia.
Já no segundo sonho, que foi o de Tae, ele estava convalescente, um mês após ser atingido pela flecha de Jeon ao errar o alvo, e os dois estão fazendo planos para o futuro porque estão de mudança definitiva para a capital. Esta é claramente a continuação do primeiro sonho. Neste, Tae está no final de seu período de convalescência e termina com os dois fazendo amor.
Este é o primeiro sonho em que nenhum dos dois morre no final.
-Senhor Jung, está nos dizendo que... que houve... quer dizer, está nos dizendo que o o pai de Jeon feriu minha mãe, acidentalmente? Que ele errou o alvo e... e a feriu? – Tae está muito impressionado com esta informação. Por um momento parece que um turbilhão de ideias onde estão juntos a ficção, os sonhos e a realidade, começam a se misturar, mas...
-Isso é muito louco, mas é verdade, Tae. Eu também já sei sobre isso.
-Você sabe, Jeon? Como??
-Meus pais me contaram antes de minha viagem para cá, Tae. E acredite, isso foi o fim para eles.
-Por que, meu jovem Jeon? Não foi um acidente fatal. Levou um tempo, mas a mãe dele ficou boa. Foi um período extremamente difícil para todos nós.
-Não posso crer... eu realmente estou bastante impressionado, senhor Jung. Então, quer dizer que houve um fato assim... de verdade... não foi apenas um sonho... –Tae está a fazer suas conjecturas, assim como Jeon, mas por razões óbvias de privacidade eles resolvem não ir adiante nas conversas sobre esse episódio do arco e flecha, tão similar aos sonhos que já tiveram.
-Tae... vamos mudar de assunto... essas não são lembranças boas. –Jeon fala baixinho para Tae.
-Sim, você tem razão, Jeon. Por que não me falou sobre isso antes? Estou chocado com essa coincidência.
-Vamos conversar sobre isso depois, em casa.
-Então todos concordamos finalmente em deixar para lá o passado! O futuro nos espera com um belo jantar e... se a memória não me falha, havia aqui uma pessoa com muita fome!! –O senhor Jung, que de fato é muito simpático e sorridente, ao contrário de seu filho Jung Hae, brinca a respeito do declarado apetite de Jeon.
-Sim... eu era... quer dizer, sou esta pessoa. Se bem que agora... acho que meu apetite se foi. Sim, minha fome passou completamente!! –Diz Jeon, desolado.
*
Meia hora depois:
-Posso repetir, senhor Jung?
-Jeon, você já repetiu uma vez... –Tae, baixinho, tentando domesticar a fome de Jeon.
-E o que é que tem?
-Claro, Jeon!! Por favor!! Fico muito feliz quando vejo alguém como você! E muito contente também porque é sinal de que a refeição lhe agradou muito!!
-Jeon, você não havia perdido o apetite? – Pergunta Tae, que a essas alturas está um pouco sem jeito pela quantidade de comida já devorada por Jeon.
-Perdi, mas achei, Tae. Sou muito bom em encontrar as coisas! –Diz Jeon, diante de um belo prato que ele está colocando. Pela terceira vez...
Todos riem bastante com a resposta de Jeon que está bem à vontade.
-Jeon tem um metabolismo muito bom. Não engorda, mesmo se alimentando bastante. E é porque consome refrigerante, salgadinhos... essas coisas. –Diz Tae, que agora é quem dá um leve toque no braço de Jeon, por baixo da mesa, para ver se ele se contém um pouco na hora de pôr seu prato.
-Quer que lhe sirva, Jeon?
-Não, senhor Jung. Prefiro eu mesmo me servir porque ponho do jeito e da quantidade que eu gosto.
-Esse é dos meus!! Sabe aproveitar uma boa mesa, já o Jung Hae...
-Eu vivo em dietas. Tenho tendência para ganhar peso muito rápido.
-Você pratica algum esporte, Jung Hae?
-Eu não tenho tempo, Taehyung. Mas até hoje não entendo porque o trabalho, mesmo que você gaste bastante energia, parece não lhe emagrecer. Você realmente tem que fazer exercícios regularmente. Principalmente agora que vou enveredar por uma carreira que me obriga a ficar parado por muito tempo.
-O meu Jung Hae vai estudar tudo sobre o mundo da tecnologia. E eu devo isso a você, Taehyung.
-A mim, senhor?
-Sim. Seus conselhos foram muito úteis para meu filho.
-Mas eu não fiz nada... foi uma simples conversa.
-Mas é diferente quando é o pai falando e quando é uma outra pessoa. Principalmente se esta outra pessoa tem estudo, é esclarecido e sabe conversar. Eu lhe agradeço muito.
-É verdade, Tae. Quando tivemos aquela conversa sobre habilidades profissionais eu sabia sobre algumas coisas que eu não queria, mas não tinha certeza sobre o que me faria realizado de verdade. Tinha uma ideia, mas não a força necessária para uma decisão definitiva. E como eu sempre tive vontade de conhecer novos mundos, acabei percebendo que quero trabalhar com inteligência artificial, metaverso... enfim... nesta área.
-Eu não entendo muito deste ramo do conhecimento. Mas o Jung Hae gosta muito. Então estou apoiando sua decisão. E depois ele disse que é muito rentável! E isso conta muito não, é?
-Claro, pai. Quando o Taehyung me perguntou naquele dia sobre minhas leituras preferidas eu tive vontade de falar sobre esse assunto, mas achei que tomaria muito seu tempo. Mas foi muito importante porque a partir dali passei a me observar mais... e a me definir, profissionalmente.
-Fico feliz que tenha lhe ajudado, Jung Hae.
-Acho que estou satisfeito agora. Excelente jantar! O que é a sobremesa? – Diz Jeon, encerrando sua deliciosa atividade nutritiva.
Todos caem em uma sonora risada porque Jeon mal conversou durante o jantar. Ele esteve ocupado mesmo foi em saciar o seu “pouco apetite”, que, pelo visto, tinha um século de atraso!
-Eu não estava mais com fome, mas aí eu achei tudo bonito... fui provando, provando... quando eu voltar aqui outra vez estarei com mais apetite!
-Ele está brincando, pessoal.
-Estou não, Tae. Falo sério!
É Tae... Jeon, sendo sempre Jeon.
*
Todos conversam um pouco, mas o incidente que feriu a mãe de Tae volta para a conversa, ainda na mesa, trazido pelo próprio Tae.
-Senhor Jung, não quero me estender mais neste assunto, mas eu gostaria ainda de lhe perguntar algo sobre...
-Sobre o que aconteceu com sua mãe?
-Sim. Se não se importa... como ficou tudo, depois disso?
-Eu estava me perguntando sobre a mesma coisa, senhor. Imagino que as relações entre as famílias não ficaram boas, não, é? – Pergunta Jeon.
-Não, meus jovens, não ficaram. Eu diria que ficaram horríveis. Também, era compreensível. Era um final de semana, não havia médicos nesta região, e... seu pai a atingiu no peito, Jeon.
-Mas... como aconteceu? Acabamos sem entrar nos detalhes porque a informação foi... foi tão inesperada!
-Apenas a sua mãe estava perto do alvo, Taehyung, e o Jeon, seu pai, se distraiu... e a atingiu.
-Ela foi socorrida?
-Bom, foi uma agonia, um corre-corre, todos foram para Daegu com ela. Foi um verdadeiro milagre seu salvamento. Apesar de que a flecha não atingiu um local vital no corpo dela, mas ela perdeu bastante sangue. Porém, no hospital mesmo as discussões entre as famílias começaram. Cada um culpava o outro, acusações de todo lado...Daí em diante... nada mais foi como antes. Depois...algum tempo depois, quando sua mãe ficou boa... vocês sabem... começaram os rumores... os rumores...
-Sobre o romance. Pode falar, senhor. Era minha mãe, mas precisamos saber a verdade.
-Enfim, os rumores acabaram se confirmando com o tempo. Foi quando ocorreu o acidente de seu pai, quando o cavalo o atingiu e ele ficou em uma cadeira de rodas. Para piorar tudo, aconteceu a morte de sua mãe, em consequência do incêndio que destruiu quase toda a fazenda de seu pai, Taehyung. Parecia uma correnteza onde as águas não paravam de rolar e surgir por toda parte. Assim os acontecimentos ruins foram sucedendo... um atrás do outro.
-Mas quanto a este incêndio... foi acidental mesmo? Sei que aconteceu. Meus pais me contaram... mas eu gostaria de ouvir a sua versão dos fatos.
-Sim, Jeon. Apesar de outros rumores que surgiram dizendo que havia sido criminoso, a perícia provou que realmente foi acidental. Logo depois seus pais foram embora para a capital, e... bem, depois de tantos acontecimentos terríveis, aquelas belas tardes de finais de semana ficaram apenas nas lembranças, nas tormentas e... nos sonhos.
-Nos sonhos? O que quer dizer?
-Jeon, quando se vive tantos infortúnios ninguém dorme direito por um bom tempo. Especialmente a mãe do Taehyung.
-Ela tinha pesadelos?
-Sim. O seu pai contava, Taehyung. Acordava no meio da noite sentindo dores e com pesadelos que não a deixavam em paz. Mas... enfim... nada como o tempo para deixar tudo no passado. Como se diz hoje em dia: vida que segue.
-Em uma das fazendas do meu pai está o local onde tudo aconteceu, Jeon. É uma bela paisagem, mas desde esta época meu pai não quis fazer mais nada lá, além de ser apenas um campo de pasto para o gado.
-Sim, bem lembrado Jung Hae.
-Está à venda?
-Ainda não me decidi, Jeon. Então, vamos terminar a sobremesa e conversar um pouco na varanda?
***
Após o jantar eles se reúnem em uma outra sala, porque as informações que o pai de Jung Hae tem é que há entre os convidados um potencial comprador de fazendas.
-Jeon, não quer ir para casa agora?
-Taehyung, ainda não falamos de negócios. E pelo o que eu sei, o Jeon está interessado em comprar uma fazenda, não esta?
-É... estou. Um pouco. Depende da fazenda e da oferta.
-Jeon, outro dia a gente volta e você conversa sobre isso. Vamos acordar muito cedo. Vamos viajar, lembra?
-Lembro! Então, senhor Jung? Como é a fazenda que está à venda? Quero uma que tenha água...
-Água?
-Sim, um rio, por exemplo. E que tenha uma terra fértil.
-Por aqui todas as terras são férteis, Jeon. E todas têm fontes de água natural. No momento eu só posso dispor de duas. Não estou vendendo as demais. Mas lhe garanto que uma é melhor do que a outra!
-Que maravilha!
-Senhor Jung, como o Jeon não entende bem de fazendas, porque você NÃO é do campo, Jeon, vai precisar de um assessoramento para o caso de querer realmente comprar uma. –Tae, sendo precavido com o que Jeon possa fazer.
-Talvez eu deva conversar diretamente com seu pai, Jeon! Vai ser um prazer rever ele depois de tanto tempo... mas...
-Mas... o que, senhor Jung?
-Nada, Jeon...
-Por favor, algum problema em rever o meu pai?
-É que talvez ele não queira me ver... com certeza... mas vamos deixar isso para lá. Certo?
-Deixe para seu pai resolver, Jeon. VAMOS para casa.
-Não, não. Eu sou dono do meu próprio dinheiro e tenho autonomia para tomar minhas decisões. Mas como amanhã cedo vamos viajar, vou marcar com o senhor para quando voltar aqui e eu e o Tae olharmos a fazenda, está bem?
-Tudo bem. Mas... não posso garantir que ela ainda estará à venda.
-Porém... quero lhe dizer desde já, que quero uma bem grande. Qual a maior dessas duas que estão à venda?
-A Fazenda Paraiso. Mas esta é enorme, Jeon. Para você que não tem costume eu sugiro uma outra bem menor.
-Menor? Que tamanho?
-Deixe-me ver... você estuda, é muito jovem... não vai morar aqui, não é?
-Não. Seria mais para ter uma casa no campo mesmo e fazer ela ser muito produtiva. Com o tempo, quero também animais, plantio de árvores frutíferas... por aí.
-Entendo, Jeon. Bom, quanto às árvores frutíferas não se preocupe.
-Toda a fazenda está repleta delas, Jeon. –Diz Jung Hae, o filho.
-Estou pensando aqui, qual seria a melhor opção para você, Jeon...
Definitivamente o pai do Jung Hae, além de simpático, também simpatiza bastante com o Jeon porque vai nas conversas dele, de verdade!
-Jeon, deixe para tomar essa decisão da próxima vez que voltarmos por aqui, sim? Quem sabe um produtor rural possa lhe auxiliar. – Tae, vendo a hora de Jeon fechar o negócio. Mas, Jeon, incorporado com o espírito de um fazendeiro nascido para ser o tal, está possuído pelo espírito empreendedor com “ventos bucólicos”!
-Jeon, no seu caso seria uma espécie de propriedade só para passeios esporádicos. Sendo assim, eu aconselho comprar apenas uma parte das terras de uma fazenda, que tal?
-Mas seria uma propriedade muito pequena... quero algo mais... mais vistoso!
-Nem tanto... – Afirma Jung Hae, esse sim, conhecedor das medidas do campo.
-Dois hectares, talvez. O que acha? – Pergunta o senhor Jung.
-Pequena. – Jeon, resoluto e decidido.
-Jeon, esta é uma extensão de terras grande. – Tae, que sabe muito bem o tamanho que é dois hectares de terras.
-Não gostou? Quer uma maior?
-Sim! Qual o tamanho de dois hectares de terras, senhor Jung?
-Exatos vinte mil metros quadrados, Jeon!
***
Na volta para casa...
Tae está tendo uma crise de riso com o resultado psicológico que a conversa sobre a compra de fazendas e terras produtivas com o senhor Jung Hae produziu em Jeon:
-Não vai parar nunca de rir, Tae?
-Jeon... não estou conseguindo... eu nem pude me despedir direito do senhor Jung... sua cara... olhando para ele e só perguntava o tempo todo: “Vinte mil metros? Tem certeza? Por que vinte mil metros? O que eu vou fazer com vinte mil metros de terras? Meu apartamento tem seiscentos metros quadrados e eu nem conheço ele todo! E é porque eu vivo lá! Vinte mil metros? Tem certeza?? Não teria uma menor, tipo uma fazenda kitnet?”
-Ria, ria... quem ri por último ri melhor, meu caro boyfriend! Isso não vai ficar assim! Não vai! Não sou de desistir! Never!
Tae não consegue parar de rir, dobrando na cadeira, ao lado do motorista, enquanto Jeon, irado e frustrado, dirige o automóvel.
-E ele ainda me esnobou dizendo que o que me ofereceu não era nem uma fazenda inteira, era só uma extensão de terras!! As terras dele dão a volta ao mundo, por acaso? Eu vejo a fazenda do seu pai: ando alguns passos e chego no rio, dou outros passos chego na casa e the end! Por que essa tem que ter vinte mil metros? Pare de rir da minha cara, Tae!
-Eu não posso, Jeon! Só se você não falar mais no assunto e eu perder a memória!
-Tudo bem. Eu não desisti, não!
-Não? Vai procurar comprar terras com outro proprietário?
-Claro que não! Eu vou esfregar na cara de Jung Hae que compro uma das fazendas do pai dele! Inteira!! Todinha! E não um braço de terras! Eu sou quase médico. Trabalharei com o corpo inteiro! Para quê eu vou querer só um braço de terra?? E aquele deus da boiada do Jung Hae, rindo de mim! Que ódio!! Você também! Estava escondendo o rosto sem aguentar de riso...! Odeio todos vocês!!
-Jeon, esqueça esse investimento rural, por favor. Vamos ficar só com o cursinho. Já vai ser trabalho demais! Aliás eu não sei como vamos fazer para dar conta da faculdade e do cursinho.
-NUNCA! NEVER! JAMAIS! Você não viu a cara que o Jung Hae fez?
-Você acabou de dizer isso!
-Estava rindo de mim, igual você está fazendo agora! Vou voltar lá depois e jogar uma montanha de notas de dinheiro na cara dele, como a minha mãe fez jogando os queijos na minha cara. Vou jogar na cara dele! Um pacote enorme de dinheiro! Assim! –Jeon imita como fará para jogar muitas notas em cima do Jung Hae.
-Jeon, acho que você está doido, mesmo. Se nós vamos montar um cursinho, por que pensar em fazenda e mais...
Eles estão chegando na casa de Tae. Jeon desliga o automóvel e eles ainda conversam enquanto descem do carro.
-E mais o quê?
-Com que dinheiro você pretendia pagar a fazenda, Jeon?
-Esqueceu que sou rico, Tae? E ainda não lhe contei tudo sobre a conversa que tive com meus pais. Tenho algumas novidades. Se você parar de fazer bullying rural comigo, eu conto. E também não fui deserdado por meu pai número 1.
-Pai número 1?
-Sim. Cheguei à conclusão que esse negócio de chamar ele de pai adotivo não é muito afetivo. E, apesar de tudo, eu gosto dele. E não quero o desligamento econômico dele para sempre... nunca se sabe, não é?
-Ah... então agora você tem um pai número 1 e...
-Um pai número dois. Ele chegou agora em minha vida, então é o dois.
-Juro, Jeon, você é o remédio para qualquer desengano na vida. Mesmo que não queira, a pessoa ri sem parar com as coisas que você diz e a tristeza vai embora.
Jeon apoia o braço no queixo, e encosta no carro, pensativo.
-O que foi? Vamos entrar. Está pensando no quê?
-Que eu tenho razão. Não posso deixar de chamar ele de pai. Mesmo que ele e minha mãe tenham se separado há muitos anos, eu fui paternalizado por ele e... mesmo que não tenha quase nenhum contato com ele, não saberia como chamá-lo. Então vou ficar chamando ele de pai mesmo, como sempre fiz. Nem sei como é o número 2... ai, ai... minha vida está cheia de News, Tae, cheia de news...
-Ah... News... "paternalizado"... entendi. Jeon, vá subindo que eu vou ver se o pai dormiu mesmo.
***
Trinta minutos depois, no quarto de Tae:
-Tae, como demorou! Eu já ia procurar por você.
-O pai já dormiu. Aproveitei e fui terminar de organizar a viagem dele com o Jay e a enfermeira.
Tae entra no quarto, tira os sapatos, o casaco, fecha a porta de chave e cai na cama, ao lado de Jeon.
-Está cansado?
-Estou. Você, não?
-Não. Já tomei banho, arrumei minhas coisas e estava fazendo aqui umas pesquisas em meu celular.
-Pesquisas, Jeon? Sobre...?
Tae levanta, senta na cama, dá um beijo suave em Jeon e pergunta:
-Procurando outras propriedades para comprar?
-Não desisti, pode acreditar. Mas eu estava vendo outra coisa.
-Hum... vou tomar banho e quero saber desses seus novos empreendimentos, Jeon. Enquanto isso, elabore os vinte mil metros de terra, esqueça-os e concentre-se apenas no nosso cursinho e em seu curso de medicina, meu amor.
-Hum... ainda vou comprar uma fazenda, sim, Você vai ver, Tae. E tome logo esse banho, não passe uma hora como costuma fazer. Não sei o que uma pessoa faz tanto em um banheiro para passar uma, duas horas... eu não tenho paciência.
-Eu sou limpo, Jeon. –Tae fala lá do banheiro.
-Eu também. E sou mais limpo do que você, mas para ser o MELHOR aluno do curso de medicina não dá para perder tempo.
-Você não é o melhor aluno, eu sou! –Tae, saindo por um breve instante do banheiro só para desafiar Jeon.
-Sou sim. Vá logo tomar esse banho, Tae!
*
Algum tempo depois, Tae sai do banho e Jeon está sentado em uma pequena mesa que há no quarto. Ele tem um caderno, caneta e muitos planos, literalmente, sobre a mesa. Ele tirou algumas folhas de caderno, fez alguns desenhos e muitas anotações.
-Vai estudar agora?
-Não. É outra coisa.
-Aliás, por que tem tantos livros em sua mala? Você não abriu nenhum!
-Meu plano era passar três dias aqui, como lhe disse, mas como vamos levar seu pai amanhã, eles voltarão sem ser abertos.
-Hum... vamos dormir, Jeon. Estou cansado. Pegaremos a estrada cedo. O que estava fazendo com esse caderno?
-Planos, já disse. Mas depois conversaremos sobre eles.
Tae vai até um móvel onde há um espelho e começa a escovar o cabelo. Jeon o observa, deitado na cama.
-O que foi? Está me admirando?
-Você é muito bonito.
-Falando nesse tom de voz... está me tentando, Jeon.
-Desde que cheguei nesta fazenda não estou sendo bem tratado.
Tae vira-se para trás, surpreso.
-Não diga isso, Jeon. Estivemos muito ocupados resolvendo problemas... e se não fosse você...
Tae vai finalmente para a cama e deita ao lado de Jeon.
-Se não fosse você, não sei como resolveria tudo, Jeon. Obrigado. Você é muito generoso, gentil... amo você cada vez mais. –Tae beija os lábios de Jeon, suavemente, que acaricia o rosto de Tae, olhando profundamente em seus olhos.
-Não precisa agradecer nada, Tae...
-Preciso sim, Jeon. E lhe pedir desculpas por tantas preocupações... e sei que você diz que não precisa... mas com o tempo, eu vou pagar tudo para você, eu prometo.
-Tae... você não vai me pagar nada.
-A você ou ao seu pai, eu quero pagar, Jeon. O tratamento de meu pai é muito caro e...
-Tae, preste atenção.
Jeon senta-se na cama e segurando as belas mãos de Tae, ele as beija e diz:
-Quem tem uma dívida com você sou eu. Minha família tem uma dívida com vocês, Tae!
-O que está dizendo, Jeon?
-A estória que o pai do Jung Hae contou sobre o acidente e outras coisas é verdadeira, mas está incompleta.
-Incompleta? Como assim?
-Não sei se ele sabe de tudo e não quis falar, ou se alguns detalhes... alguns detalhes sórdidos, ele desconhece.
-Jeon... que detalhes são esses? Ainda tem mais coisas ruins nesta estória toda?
-Sim. E muitas.
-Então me conte!
-Tae, esta fazenda era a mais produtiva e rica da região.
-Sim, eu sei.
-E você sabe porque não é mais?
-Ele me disse que depois do acidente dele e da morte da minha mãe, tudo desmoronou... a fazenda acabou ficando descuidada, quase abandonada.
-Em parte. O que destruiu mesmo a riqueza que havia aqui, a riqueza dos seus pais, foi... nem sei como dizer isso, Tae... é tão horrível...
-Ai, Jeon, o que pode ser tão terrível assim?
-Fico um pouco constrangido de falar... mas... estamos lidando só com a verdade, não é?
-Sim, quero saber. O que eu desconheço ainda? E outra coisa: você já sabia do acidente com o arco e flecha e não me contou?? Por que?
-Tae, desde que cheguei aqui toda a preocupação está voltada pra seu pai e para resolver os problemas urgentes. Essa questão do sonho eu estava esperando por um momento de tranquilidade para lhe contar. Isso fez parte da conversa tensa que tive com meus pais.
-Pois então me conte, Jeon. Quero saber de tudo.
Jeon começa a contar o real desenho da amargura que se transformou em vingança e em dor, alguns anos atrás quando a mãe de Jeon descobriu que estava sendo traída por seu pai.
Ele começa a relatar os fatos a partir da conversa que teve com seu pai e sua mãe, no escritório.
***
Empresa do pai de Jeon, antes dele ir para a fazenda:
Após ouvir a surpreendente declaração de que não é filho biológico de seu pai, Jeon ouve a confissão deles e finalmente compreende a dinâmica familiar.
-Sim, Jeon, você não é filho biológico de seu pai. Desse pai...
-Não??!!
-Não. Quando eu casei com ele, já estava grávida. Grávida de quase dois meses.
-E eu sabia, filho. Sua mãe não me enganou.
-Um momento... então quer dizer que eu... eu não sou desta família?? Você não é meu pai de verdade?? Droga!! Por que estão me dizendo isso só agora??!! Não quero saber de nada!! Não quero ouvir nada!!
Jeon começa a ir em direção à porta de saída do escritório.
-Calma, Jeon, calma, filho... volte aqui.
-Não sou seu filho!!! Foi o que eu escutei, não foi?
-Jeon, sente-se.
-Não quero!!
-Sente-se, Jeon, por favor. – Pede a sua mãe, chorando.
-É por isso que você não se importa comigo, não é? Nunca me vê, não sabe nada sobre mim, nem sabe em que semestre estou no curso de medicina!! Ou senão, está dentro de um avião ou em algum hotel do mundo!!
-Jeon, não diga isso com seu pai, meu filho. Como você acha que ele adquiriu fortuna? Seu pai vive para o trabalho!
-ELE NÃO É MEU PAI!!! EU QUERIA TER UM PAI!!! QUE DROGA!! Eu não tenho pai... – Jeon chora, inconsolável.
-Jeon, eu sou seu pai. Sempre serei...
-Quando eu descobri que estava grávida, minha família me abandonou. Fiquei sozinha, sem ninguém. Eu não tinha nada... apenas a sensação de que estava só e desamparada. Estava com muita vergonha de mim mesma e de todo mundo... eu não sabia o que fazer...
Jeon vai ouvindo o relato da mãe, que é muito triste, e aos poucos ele vai se acalmando também, apesar de muito nervoso. De repente sua vida toma um rumo inesperado com as revelações feitas por seu pai e sua mãe.
Na época que os pais de Jeon se conheceram foi uma experiência muito difícil para os dois, mas pelo menos, nesse tempo, o amor existia.
-Conheci sua mãe em um café. Estava sozinha, sentada em uma mesa. Havia uma xícara de café e uma de chá em sua frente, mas ela não tomava nenhuma das duas.
-Eu coloquei as duas sobre a mesa e pensei em duas decisões possíveis para resolver meu problema de estar esperando um filho e ter sido rejeitada pelo pai da criança que eu estava esperando e por minha família. Eu estava completamente desesperada, meu filho.
-Após quase uma hora, vendo aquela jovem em uma mesa de café, sem quase se mover, na sua indecisão diante das xícaras... eu fiz as minhas fantasias. A imaginei sozinha no mundo, com um problema grave e sem esperanças. E eu não estava errado., meu filho. Percebi que estava certo, principalmente depois que ela começou a chorar.
-Foi um amor à primeira vista, meu filho. Foi um tempo muito bonito. Assim que olhei para seu pai, senti algo que jamais senti no olhar de ninguém: compaixão, doçura, proteção...
Jeon chora, de cabeça baixa, com longos suspiros.
-Quando ela começou a chorar, silenciosamente, eu tirei meu lenço do terno, me aproximei e sentei de frente para sua mãe. Ela me olhou, calmamente, sem surpresas, pegou o lenço de minha mão, enxugou uma lágrima e me disse...
-“Estou grávida”. Foi a minha primeira frase para ele.
A mãe de Jeon sorri e mesmo na triste lembrança seu rosto se ilumina ao olhar agora para seu marido.
-Foi a coisa mais inesperada que fiz até hoje, meu filho. E, provavelmente, o momento mais doce... mais acolhedor.
-E você, pai? O que fez?
A própria mãe de Jeon responde sua pergunta:
-Ele me perguntou então por que eu estava chorando se havia um motivo tão bonito para sorrir... um filho. E perguntou quem me magoou.
-Daí em diante, não nos desgrudamos mais, filho. Me apaixonei por sua mãe no momento em que a vi. Exatos dois meses depois estávamos casados.
-Não se importou com o fato dela estar grávida, pai?
Sua mãe responde:
-Ele apenas se importou em me dar proteção, Jeon. Me disse que o filho que eu estava esperando seria dele também. Lhe amou desde sempre! Jamais esquecerei desses tempos tão lindos... o meu desespero tinha acabado e eu me apaixonei verdadeiramente por seu pai.
-E depois?
-Então fomos morar na fazenda. No campo. Em uma das propriedades dos seus avós, que... de repente, resolveram nos presentear com aquelas terras. – Responde sua mãe.
-Então vocês têm fazendas onde... onde o Tae mora? Ou em outra cidade?
-Sim, a fazenda ficava no mesmo local. Eu estava iniciando na carreira de empresário, precisava de dinheiro. Então sua mãe vendeu parte da fazenda recebida como presente de casamento para um vizinho chamado Jung Hae. Um rico proprietário de terras que morava em uma fazenda muito próxima da nossa.
-O pai de Jung Hae... meu Deus!! Não é possível!! As coincidências... ou nada é coincidência?? - Diz Jeon, aturdido com o que ouve.
-Você o conhece?
-Sim. O conheci daquela vez que estive lá e você foi me procurar. Conheci o filho dele.
Jeon se espanta com esta intrincada estória que agora, como uma colcha de retalhos, ou um perigoso quebra-cabeça, começa a mostrar seu real desenho.
-O Jung tinha um filho, sim. Seu pai vendeu as terras para ele para dar um impulso em seus negócios. Mas como era uma fazenda gigante, ainda ficamos morando lá. Ele sempre amou o campo.
-E esta fazenda? Ainda é sua?
-Não, não, filho. Falei agora que vendemos ela. Quando fomos embora de lá, vendi a outra parte que também era enorme. Mas depois fiquei sabendo que o comprador também foi o Jung Hae que se desfez de quase metade e ficou com a melhor parte, onde há um rio, muitas árvores frutíferas e a paisagem mais bonita. Mas eu não sei se ainda é dele.
-Está realmente... namorando com esse rapaz, Jeon? Sua mãe me contou...
-Sim. Estou, pai.
-É inacreditável as voltas que essa vida dá! Não sou tão antigo assim, mas... é muita coincidência!! Parece até que o tempo... os acontecimentos têm vida própria, o tempo parece uma espécie de corpo que se move... – Diz seu pai.
-Estou comprovando isso agora. Mas a maior parte de toda esta estória continua sendo uma incógnita para mim. Por exemplo, não entendo uma coisa: por que você odeia tanto a família do Tae, mãe? Naquele dia na fazenda quando foi me procurar, fez um escândalo enorme! E agiu como se conhecesse o pai dele! O ofendeu, o humilhou... foi muito desagradável, mãe!
-Jeon, meu filho... não julgue sua mãe de modo tão superficial. Você não pode apontar os defeitos nem as responsabilidades dos atos de alguém sem conhecer... sem conhecer os fatos... os reais fatos de uma estória. Especialmente se esta pessoa é sua própria mãe. E ela também sofreu muito.
-Sem teorias sobre as nossas responsabilidades, pai. Estamos em sessão de revelar segredos, não é? Depois de saber que não sou seu filho, o que mais poderia me surpreender? Agora o que minha mãe fez e faz quando encontra a família do Tae... sabia que outro dia no meu...
-Jeon, não julgue sua mãe sem conhecimento de causa! Não acha que está olhando só para você mesmo? O que sabe sobre a vida?? Tenho minhas diferenças com sua mãe, sim. Mas há muita coisa que você não sabe... e que podem pelo menos explicar suas razões. Sua forma intempestiva e até rude de agir. E eu... eu tenho minhas culpas. Eu sou a última pessoa que poderia julgá-la e condená-la... mesmo que ela tenha cometido erros terríveis... eu reconheço.
-Do que está falando? Por que tem tantos segredos nesta família agora?? Nunca nos vemos, não nos falamos, vivemos afastados do outro, toda a nossa relação é DE DINHEIRO!! SÓ ISSO! E agora... agora fico sabendo que não sou seu filho e ainda tenho que compreender o que EU NEM CONHEÇO??!! QUE INFERNO!! Por que não falam a verdade? O que há por detrás de tudo isso? Minha mãe chorando sem parar e você... até parece que estamos sempre juntos e eu sou o filho que não compreende vocês?? Pai... ainda devo chamar você assim??
-SOU O SEU PAI, Jeon! Posso até ser um pai imprestável e como você diz, nossa relação pode ser só financeira... mas você gosta desse tipo de relação, não é? Você reclama de tudo... não sabe como é a vida... os sofrimentos... você não sabe pelo que sua mãe passou.
-Então me contem. Quero saber de tudo, ok? Sou adulto. Posso entender.
-Ok. Sente-se. Vamos contar.
Todos voltam a se sentar em um sofá. O pai de Jeon pega uma bebida para ele e para a mãe dele.
-Jeon... nós conhecemos a família do seu... daquele rapaz... o Taehyung, há muito tempo. Eu e o seu pai conhecemos aquela família há muitos anos, desde que você era uma criança.
-O quê?? Mãe, está me dizendo que... não estou entendendo nada!
-Éramos vizinhos de fazenda, filho.
-Vizinhos?
-Sim. Quando nos casamos fomos morar imediatamente lá, após recebermos a fazenda de presente. Eu já estava com quatro meses de grávida... minha barriga estava crescendo e eu quis fugir dos olhos curiosos das pessoas... e da minha própria família. Foi então que conhecemos o Dong, a esposa dele e o Taehyung, uma criança um pouco mais velha do que você. Ele tinha dois anos e meio, quase três a mais que você.
-Nós nos demos bem imediatamente. Eu sempre gostei de fazendas, mas sua mãe, não. Estávamos ali porque como ela falou, queria fugir do assédio dos curiosos e principalmente do olhar de recriminação da sua família. A amizade com a família do Dong surgiu naturalmente. Mas depois...
-Depois se transformou no maior inferno de nossas vidas. –Diz a mãe de Jeon.
-Por que? Espere... então eu nasci lá?
-Nasceu aqui, na capital. Perto de você nascer eu voltei com seu pai para cá e depois do seu nascimento eu retornei para a fazenda. Mas antes, eu fiquei uns seis meses com você, aqui, na capital. Em um lugar desconhecido de minha família. Seu pai ficou entre a fazenda e nosso apartamento daqui. Mas quando você tinha seis ou sete meses, voltei para a nossa fazenda outra vez. Durante um, dois anos, foi tudo bem, mas...
-Mas... o que aconteceu?
-Eu a traí.
-O quê?
-Isso mesmo que você ouviu, Jeon. Eu e a esposa do Dong, mãe do Taehyung... tivemos um romance. E um inferno começou.
-Pai!! Com a mãe... não posso acreditar!! É muita coisa de uma só vez!!
-Sim. Eu entendo, filho. Mas o inferno estava apenas começando. Acidentes, traições... um incêndio onde ela quase foi morta.
-Incêndio, onde?
-Lá mesmo, na fazenda. E depois... depois aconteceu a trágica morte.
-Sim. Lembro que o Tae me falou sobre a morte da mãe quando ele era ainda uma criança. Nunca poderia imaginar que... e você sabia, mãe, do que estava acontecendo entre o pai e a mãe dele?
-No início, não. E talvez não seja bom você também saber dessas coisas...
- Quero saber como você se envolveu com a mãe do Tae, como aconteceu o acidente, o incêndio... tudo! –
-Quanto ao romance com a Angelina...
-Angelina? A mãe do Tae?
-Sim. Pois é... ao que parece, amor à primeira vista não acontece apenas uma vez, meu filho. Foi assim que seu pai se envolveu com ela. Conhecemos eles lá e... imediatamente ele se apaixonou por ela... e foi correspondido.
-Não fale assim, Beatriz. Faz parecer que foi algo horrível, como se fosse uma trama macabra construída para a infelicidade de todo mundo!
-E não foi?? Esse romance de folhetim destruiu nossas vidas!
-E tirou a dela! Esqueceu que ela é a única que não sobreviveu a esse enredo horripilante?
-Como assim... pai? A morte dela não foi um acidente?
-Foi... foi sim. Foi um curto-circuito no primeiro andar, em um dos quartos onde ela estava no momento que o incêndio começou. Isso foi legalmente provado.
-Entendo...
-O que quero dizer é que não foi nada planejado... nem friamente calculado... foi uma fatalidade.
-E como soube do envolvimento do meu pai com a...
-Simplesmente aconteceu... e eu percebi quase que imediatamente que seu pai estava enfeitiçado... foi um tempo que eu daria tudo para voltar atrás e apagar.
-Não fiz pelo gosto de trair... nem ela. Simplesmente aconteceu, meu filho. Mas quero que você saiba que durou muito pouco tempo. Na maior parte foi apenas um romance platônico.
-Com muitas poesias e declarações de amor. Ela tinha um livro de poemas completamente dedicado a você, esqueceu? Eu o encontrei em suas coisas, na casa dela.
-E o que aconteceu depois, pai?
*
Voltando para o quarto de Tae, na fazenda:
-Jeon, eu estou sem acreditar no que você está me contando!! É para enlouquecer qualquer um... tudo isso aconteceu?? Parece... parece a sinopse de um filme de terror ou de um desses filmes de fim do mundo.
-Para você ver... quando cheguei aqui, você ainda ficou me perguntando porque eu trazia tanta bagagem...
-Eu estava mal, Jeon... meu pai... as preocupações.
-Sim, eu sei.
*
Voltando para o escritório do pai de Jeon, dias antes:
-Eu estava desconfiada dos olhares, das insinuações e da pouca atenção que seu pai passou a me dispensar. Mas foi a partir do acidente, que tudo ficou pior.
- Acidente? Que acidente?
- Com o arco e flecha... quando eu, sem querer, feri a esposa do Dong...
-A sua amante, você quer dizer... Porque você se distraiu olhando para ela! – Afirma a mãe de Jeon.
-Esperem um instante! Estão me dizendo que...
-Sim Jeon, você entendeu. Estávamos jogando e isso aconteceu.
-Houve um acidente com arco e flecha?? Eu não posso acreditar!
-Aconteceu, sim, filho...
-Pai, você a feriu?? Como assim??
-Eu errei o alvo... foi uma distração... quase fatal!
-Meu Deus!! É inacreditável! - Diz Jeon, completamente aturdido com a terrível e curiosa coincidência com os sonhos dele e de Tae.
- E o que aconteceu depois? Pergunta Jeon.
-Enfim... houve o incêndio e depois disso ela nunca mais teve saúde e morreu.
-Fomos embora de lá, Jeon. Mas parece que a vida resolveu nos jogar novamente naquela fazenda maldita!! – A mãe de Jeon, que jamais gostou do campo, sempre atribuiu sua infelicidade à ideia de seu pai de morar na fazenda. – Veja você agora...
-Diz isso porque eu e o Tae...
-Exatamente, Jeon!! Com tanta gente no mundo, você foi se envolver logo com ele? Por que, Jeon??
-O pai acabou de falar, mãe... essas coisas não são planejadas. E por que a fazenda do senhor Dong era rica e depois perdeu o valor, os animais... tudo? Soube que já foi rica, próspera.
-Porque a sua mãe tratou de fazer uma campanha degradante, insinuando que houve um crime passional lá, que a Angelina havia sido assassinada por seu amante em um dos quartos e que a fazenda era amaldiçoada!
-Mãe!!??
-Ela divulgou estas informações falsas para todos os clientes do Dong! Destruiu a reputação dele! Para fornecedores, clientes, produtores e mais: alegou que o leite produzido lá, a carne de boi, os animais e os produtos ortifrutigrangeiros estavam sendo tratados, alimentados e conservados com produtos que causavam câncer! Disse que havia herbicidas, inseticidas e fungicidas em altíssimo grau e algumas pessoas estavam morrendo ao consumir a carne e os demais produtos da fazenda do Dong. Tudo em nome de uma vingança mesquinha!
-Mãe!! Você fez isso?
-Sim. E não me orgulho. Eu estava ferida, humilhada, Jeon. Quando a esposa do Dong, o amor de seu pai, foi ferida, quem cuidou dela fui eu! Eu a considerava uma amiga! Você entende?? É capaz de me entender? Quando ela retornou do hospital estive com ela dia e noite... apesar de sempre ter tido ciúmes de seu pai com ela... eu não imaginava que o romance já existia. Quando ela se feriu, cheguei a ter remorsos por minhas suspeitas! Quando soube a verdade, enlouqueci de dor!
-É... é realmente um quebra-cabeça, onde alguns corações foram muito machucados e... uma pessoa morreu. – O pai de Jeon deixa cair uma lágrima ao pronunciar estas palavras. - Nesta montagem do tempo, todo mundo ficou infeliz.
-Mas por que diz que a mãe do Tae morreu por causa disso?
-Ela me contou que ela e o Dong tinham brigado. Ela só não me contou o motivo, Jeon. Na verdade o motivo da briga deles é que o Dong tinha encontrado o caderno de poemas dela, escrito totalmente para seu pai! O Dong não falou para ela que havia encontrado o caderno de poemas, mas ficou enlouquecido com a decepção e com medo de perder ela. Então ele encontrou outro motivo para brigar. Por isso estavam dormindo em quartos separados. Ele era apaixonado... e não deixou de amar ela, apesar de tudo.
-Por este motivo ela estava no primeiro andar quando ocorreu o incêndio. Em um dos quartos. - Diz seu pai.
-Então o pai do Tae sabia da traição?
-Ele sabia! O Dong era louco por ela e jamais a confrontou com a verdade! Mas estava se consumindo pela traição e pelos ciúmes e eles brigaram por outros motivos na semana do incêndio. Ele tinha muito medo de perder ela porque sabia o que estava acontecendo.
-E o incêndio começou no quarto dela, mãe?
-Sim, o incêndio começou lá, exatamente onde ela estava. Com a fumaça inalada, ela ficou doente até morrer. Depois disso, viemos embora para a capital. Até hoje.
Jeon levanta, mexe em algumas coisas da sala. Ele move-se, como se estivesse reparando na mobília e na decoração daquele escritório pela primeira vez. Tudo lhe parece estranhamente desconhecido, mesmo sendo o escritório do seu pai.
Jeon diz:
-Não lembro da última vez que estive aqui.
-Faz muito tempo, filho. Por alguma razão, quando liguei para você, pedi para vir conversar comigo aqui. Logo hoje...
Jeon continua a andar pelo escritório daquele que foi seu pai até esta manhã. Há uma pergunta em sua mente e em seu coração, mas ele ainda não conseguiu fazer. Mas a sua mãe o ajuda:
-Quer saber quem é seu pai biológico, Jeon?
-Não...
-Não mesmo? Você tem o direito de saber ... filho. Aliás, ele mesmo já tentou lhe conhecer, mas sua mãe, não deixou.
-Quem é ele?
-Ele é um homem de negócios. Um empresário também.
-Hum... onde vive?
-Na Inglaterra.
-Inglaterra... como sabe, mãe?
-Como seu pai acabou de dizer, ele já tentou lhe conhecer. Muitos anos depois, quando você já estava com cinco anos e... recentemente entrou em contato novamente, Jeon.
-Ele quer lhe conhecer, filho.
-Você não acha ruim, pai?
-Não. Só espero não ser esquecido por você... Jeon, eu queria lhe dizer que...
-O quê?
-Não esqueça seu pai, Jeon... eu... eu sei que não sou muito afetivo... mas eu amo você. Não quero lhe perder. – Diz seu pai, chorando.
-Está bem, pai. Por que não deixou ele se aproximar de mim, mãe? –Jeon está tentando aparentar uma tranquilidade que ele não está sentindo no momento. O que é característico dele em algumas vezes quando se sente acuado e emocionalmente frágil.
-Ele queria lhe reconhecer legalmente. Não achei justo com seu pai. E... ele não tem mais direitos sobre você... bem, esta é uma questão jurídica que... pelo que temos conhecimento... só você pode decidir, filho. – Diz sua mãe.
-Isto quer dizer que a decisão é minha... sobre se quero ele em minha vida?
-Sim, Jeon. Você é maior de idade... e deve ter suas queixas de mim... como acabou de dizer. Não lhe dou muita atenção e apenas lhe chamei aqui porque sua mãe me convenceu que era melhor você terminar o curso de medicina em Harvard.
-Eu não quero sair daqui. Gosto da minha universidade, do meu curso e tenho meus motivos para não querer ir.
-Tudo bem. Não estou impondo nada. E mais uma coisa, Jeon.
-Diga, mãe.
-Duas coisas , na verdade. A primeira é que quero que... bem, não quero, apenas sugiro que independente da decisão que tomar, não esqueça de seu pai... este que lhe amou desde que estava em meu ventre.
-Não vou esquecer, mãe. Não sou mau. Nem costumo prejudicar ninguém.
Neste momento Jeon lança um olhar quase frio para a mãe, como se estivesse a lhe falar sobre suas atitudes no passado.
-Qual é a segunda coisa, mãe?
-Que seria bom você conhecer ele. Pelo que ele mesmo me contou, você é o único filho dele, independente de reconhecimento legal.
-Não vou querer isso.
Jeon pega sua mochila e vai saindo.
-Estou cansado. Perdi um compromisso profissional hoje de manhã e remarquei para o começo da tarde. Vou indo.
-Compromisso profissional, Jeon? Está trabalhando?? Como assim?
-Estou, mãe. Sou professor particular. Dou aulas particulares.
-Mas Jeon... você vai ser um médico!! Tem que estudar e...
-Deixe ele, Beatriz. Jeon, O RH perguntou por você e eu já ordenei ao departamento para lhe assessorar em seu cursinho. Não se preocupe.
-Cursinho?? Você vai trabalhar em um cursinho, Jeon?
-Mãe... eu e o Tae estamos montando sim, um cursinho. Bem, vou embora.
-Jeon, espere um pouco. Há algo que eu queria lhe falar.
-Ainda tem mais??
-Jeon, meu filho, eu e o seu pai vamos ressarcir o Dong pelos prejuízos que eu causei à fazenda dele, por anos, por difamação, calúnias e outros danos materiais. Sei muito bem que nada recupera o tempo perdido e que o dinheiro não elimina outros tipos de danos.
-Sim. Sua mãe pensou nisso e eu estou disposto a ressarcir para ele pelo menos a parte material do que ele perdeu com todas as acusações falsas que sua mãe fez e eu.., eu também fui conivente porque me omiti. Era isso que faltava falar.
***
Voltando para a fazenda de Tae:
*
-Ressarcimento?? Tem certeza, Jeon?
-Hunrumm...
-Você entendeu direito?
-Entendi.
-E o que você falou?
-Fingi frieza.
-Frieza?? Como assim?
-Dei uma meia volta na sala, já que eu já estava perto da porta de saída e disse: “ Fazem muito bem. É digno, honesto e justo. Fico feliz por vocês e por eles também. Mas façam logo esta reparação porque a situação deles não é nada boa! E além do mais, o senhor Dong está muito doente.” Então eu saí e bati a porta.
-De verdade?
-Hanram... mas meu fingimento acabou antes da porta do elevador, Tae. Minha cabeça dava voltas e de repente parecia que eu não pertencia àquele mundo deles... foi muito estranho. Mas depois melhorei um pouco e resolvi vir para cá. Fiquei muito feliz porque eles vão reparar o dano para seu pai, Tae. Pelo menos o dano material.
-Ele vai fazer isso mesmo, Jeon? É sério?
-Seríssimo. Saber que meu pai vai ressarcir o seu pelos prejuízos fez com que minha tristeza quase passasse. Fiquei mais calmo.
-Mas...
-O que foi?
-Não sei se é certo... e nem sei se meu pai vai aceitar, Jeon.
-Tae, não se trata de aceitar ou não. É o certo. Tem ideia da quantidade de perdas financeiras que vocês tiveram?
-Mais do que ninguém, eu sei. Bom, sendo assim... fico feliz também. Desde que minha mãe morreu meu pai passou a ter dificuldades porque perdeu clientes. Meu pai até tentou vender uma parte da fazenda, mas não conseguiu. Enfim...
De repente, Tae percebe que há algo ainda mais estranho nesta estória toda.
-Jeon, há algo que não entendo.
-O quê?
-Se você não é filho biológico dele, então... como ele pode ser tão parecido com você?? Vocês têm o rosto com traços semelhantes.
-Por duas razões: primeiro, ele realmente parecia muito com meu pai biológico. Minha mãe disse que quando ele sentou na mesa, no primeiro segundo ela pensou que era meu pai... o biológico. Quando eu cresci mais, ali por volta dos cinco anos, ele procurou um cirurgião plástico... e adivinhe?
-Ele fez cirurgia para ficar parecido com você?
-Fez. E, não satisfeito totalmente, alguns anos mais tarde, fez novamente.
-Nunca ouvi falar de algo assim, Jeon
-Ah... e o mais importante, Tae! Como fui esquecer disso??
-O que foi?
-Meu Deus!! Eu não poderia ter esquecido!!
-Diga logo o que é, Jeon!
-O meu pai número 2, o que chegou agora é muito, muito rico!
-É? Então você será duas vezes rico de dois pais!
-Exatamente! E adivinhe? Minha mãe disse que ele quer me presentear. Sente-se em débito comigo.
-Humm... e é você quem vai escolher o presente?
-Sim. Vou pedir uma coisa bem cara! Uma fazenda, por exemplo.
-Será que ele tem tanto dinheiro assim?
-Imagine só: ele é dono de indústrias do ramo têxtil, Tae! Tem fábricas de roupas, de tapetes, que foi o ramo no qual começou a fazer fortuna e tudo começou com ele vendendo roupas masculinas e femininas, charutos e tal... até ficar muito rico. Ele contou essas coisas para minha mãe e meu pai, por telefone, tentando se aproximar de mim. Estão conversando para tentar manter um tipo de relação amistosa. Ele pensa um pouco lento, não é?
-Bastante. Demorou esse tempo todo para lhe conhecer?!
-Sim... mas isso é o de menos. Depois do impacto inicial o que me deixou muito impressionado foi o fato dele trabalhar com tecidos, tapetes, charutos...
-Por quê?
-Lembra do sonho do arco e flecha que tivemos Tae?
-Sim. Do seu ou do meu?
-De ambos, Tae! Não percebe? No seu sonho, íamos embora do campo...
-Jeon!! No sonho estávamos indo embora para uma cidade grande para trabalharmos com... roupas, confecções e charutos!
-Exatamente.
-E esse sonho foi a continuação do seu.
-Tae, talvez todos esses sonhos nossos estejam conectados de alguma forma. Não tem como ser uma coincidência! Eu sonho ferindo você com o arco e flecha, e ele termina sem um final conclusivo... você lembra?
-Sim. Não dava para saber se eu morria nele. Mas no meu, eu estava convalescente. E pelo que conversamos e as datas de nossos sonhos nesse estilo foi a primeira vez que um de nós não morria ou desaparecia de forma estranha no final.
-O que acha Tae?
-Não sei exatamente, Jeon. Mas tenho certeza de duas coisas.
-Quais?
-Viemos de muito longe. É como se... se estivéssemos predestinados a nos encontrar nessa vida... e... quer saber de uma coisa muito louca?
-Acho que é a mesma ideia louca que eu tenho. Acha que já estivemos juntos em outras oportunidades, não deu certo... e agora temos outra chance. É isso?
-Bem, Jeon, ou temos muita imaginação e estamos tentando montar um quebra-cabeça que na verdade não existe, ou.... nossa teoria está certa.
-Quebra-cabeça? Você falou quebra-cabeça?
-Sim, falei. Por quê?
-Foi a mesma palavra que meu pai usou na conversa que tivemos no escritório dele.
-Já estamos ficando malucos, Jeon. Estamos vendo mensagens em todo lugar.
-Tae, não consigo parar de pensar que os nosso sonhos com o acidente do arco e flecha tenham acontecido de verdade. É simplesmente inacreditável que seja verdade!
-Pois é. É absolutamente incrível!
-Estranhei bastante na casa do pai de Jung Hae, quando ele começou a contar e você não ficou surpreso, nem se espantou. Agora entendo que seus pais já tinham contado para você... meu Deus... sério... essa estória daria para escrever dez filmes de horror.
-Sim, mas você me dizia antes que ainda tem uma segunda coisa que quer me falar. O que é?
-A segunda coisa... –Tae puxa Jeon para junto dele na cama. Durante a conversa eles trocaram de roupa e vestiram roupas de dormir.
-O que é a segunda coisa? Por que me olha assim, Tae?
-Estou feliz com você, Jeon. Muito feliz. Você é a minha pessoa. Já disse que amo você?
-Muito pouco. E hoje então, só me reprimiu na casa do Jung Hae...
-Você adorou a comida de lá, disse que a daqui não presta...
-Eu não disse isso... só avaliei que o aroma de lá...
Tae não o deixa terminar e o beija.
-Aroma... aroma bom é o seu... Jeon... parece me levar para dentro de sua alma...
-Hum... é? Tem cheiro de quê?
-Quer mesmo que eu diga? O que você acha?
-Acho que cheiro a desejo, a amor... a algo maravilhoso...
-Você é bem modesto. Mas eu amo tudo em você.
-Sim, sou sincero. Sei que lhe agrado demais..
-Demais mesmo... Tae beija Jeon apaixonadamente.
-E lhe digo que você também tem cheiro de ... –Jeon beija Tae no pescoço, nos ombros, no peito... –Você tem cheiro de tudo que é bom... É meu lugar de conforto, é minha casa, onde me sinto seguro e feliz. Eu te amo, Tae... te amo...
-É assim que se sente comigo?
-Sim... quero chegar logo em casa com você e fazer amor, Tae. Muito... aqui... não...
-Não sei porquê... estamos sozinhos nesse quarto e não tem nem uma coruja para nos olhar.
-Pelo sim, pelo não, vou ficar abraçadinho com você.
Tae sorri. Está feliz depois que sente que as coisas estão se resolvendo. E mais ainda porque vai, finalmente, fazer o tratamento do pai.
-Como vamos fazer quando as aulas começarem, Jeon? Não vamos ter tempo para dar tantas aulas particulares.
-Era sobre esses planos que eu estava falando com você.
-Hum... aquele caderno, as pesquisas no celular...
-Sim.
Jeon volta a sentar na cama para abordar um outro assunto.
-Tae, você prestou atenção ao que o Jung Hae falou sobre a conversa com você?
-Sobre os efeitos da conversa e o fato dele ter se decidido por uma profissão?
-Sim. O que achou?
-Que vem mais uma ideia aí em sua cabeça de empreendedor educacional.
-Então você pensou o mesmo que eu.
-Jeon, penso que um dia podemos fazer um cursinho... assim... um cursinho preparatório, sim. E... quando ele me falou isso, pensei em ter uma orientação profissional também. Mas para isso precisamos ter dinheiro, investir muito. Primeiro teríamos que contratar professores e profissionais da área.
-E depois teríamos que ter um espaço porque nem o meu apartamento nem o seu são viáveis . Seria um negócio, uma empresa.
-Jeon, diga-me uma coisa...
-Hum...
-Se você tem já dinheiro, é rico, e agora descobriu que tem um pai número dois também muito rico... tem certeza que quer ter um cursinho? Digo isso porque principalmente no início, não vai dar tanto dinheiro assim... e depois, não temos tempo. Eu sempre fiz de maneira simples, apenas com alguns alunos porque precisava de dinheiro mesmo. Mas sempre dei aulas de noite, até tarde e nos finais de semana. Tem certeza que ficaria feliz fazendo isso?
-Já me perguntei sobre isso, Tae. E sim, tenho dinheiro na hora que eu quiser. A questão é que gostei de trabalhar como professor e o mais importante: seria uma renda gerada por mim, pelo meu trabalho. Não seria uma mesada, entende?
-Entendo. E sempre lhe perguntei sobre isso. Se você não tinha vontade de adquirir sua independência.
-E agora que meu pai disse que vai reparar os danos materiais causados para seu pai, tudo ficará mais fácil.
-Está bem. Jeon. Vamos falar sobre isso depois, ok? Agora descansaremos um pouco. Não dormimos nada e daqui a pouco o dia vai amanhecer.
-Que horas são?
-Três e quinze da manhã. Temos que acordar umas seis horas.
-Coloque o despertador para... sete horas, ok? Seis é muito cedo.
-Tudo bem.
Tae acerta o despertador do celular e deita com Jeon, abraçado com ele.
-Eu nem deveria deixar você me abraçar, Tae. Se divertiu demais esta noite, rindo de mim.
Ainda pensando naquelas inocentes risadas, Jeon?
-Sim. Agora com esse pai número dois, vou comprar logo umas duas fazendas.
-Só para esfregar na cara do Jung Hae?
-Sim. Mas... talvez eu aproveite e faça...
-Um campo de golfe!
-De golfe? Não sabia que gosta desse esporte.
-Eu nunca pratiquei porque é esporte de rico, Jeon. Mas tenho vontade.
-Eu nunca joguei. E sim... seria perfeito em uma fazenda, porque os campos são enormes...
-Enorme é minha vontade de lhe beijar, Jeon...
***
-Esse não é o seu jogo! Já lhe disse que não pode jogar as bolas fora!
-Você não deveria estar aqui. Caia fora! Estou com meu amigo brincando.
-Essa não é uma brincadeira!
-Que menina chata!
-Está falando comigo, garoto?
-Quem é ela, Jeon?
-Eu não sei... apareceu do nada!
-Taehyung! Você é Taehyung! Solte minha bola de golfe!
-Caia fora, estou jogando com Jeon.
-Vou queimar todos os buracos do campo!
-Não deixe ela queimar o campo, Tire ela daqui.
-Eu não vou sair!! Vou queimar todos os buracos!!
A menina sai correndo pelo campo de golfe e joga uma flor dentro de cada buraco do campo, na intenção de queimar tudo.
-Onde está o fogo??
-Suas flores não têm fogo...
-Não ria de mim, Jeon!
-Quero que suba naquela árvore e tire morangos para mim.
-Aquela árvore é do Jeon. Você não deveria ter trazido ela para cá. Aqui é o campo de golfe.
-Vou queimar tudo! Tudo!!
A garota sai pelo campo jogando flores nos buracos do gramado, mas ao invés de fogo, as flores produzem água que vai espirrando por todo o imenso gramado.
De repente o tempo escurece e a menina desaparece no meio da água que espirra do gramado inteiro.
-Onde ela está, Tae?
-Ela foi embora. Deve ter ido levar a árvore de volta.
-Aquela árvore é minha, Tae! Eu subia nela com a minha mãe.
-Jeon, você cresceu... não é mais uma criança...
-Você também!
Enquanto a garota estava lá, ambos, Tae e Jeon, estavam como crianças, entretanto, agora estão em idade adulta.
A água continua jorrando pelo gramado todo. Mas mesmo assim, o solo vai ficando cada vez mais quente.
-Tae, por que o chão está tão quente?
-Eu não sei. Veja, Jeon! A água está secando e as bolas de golfe agora são...
-São bolas de fogo outra vez, Tae!! São aquelas do sonho!! Elas estão de volta, vamos!!
-Corra, Jeon! Eu lhe alcançarei!
Tae e Jeon começam a correr para sair do local, mas as pequenas bolas de fogo os perseguem na corrida, como se fossem vagalumes em chamas, deixando para eles poucas chances de sobreviver.
-Tae, quem são essas crianças?
-Crianças?
-Sim! Estão correndo com a gente!
-Eu não sei, devem estar com medo do fogo também. Temos que sair daqui!
-Jeon... não desapareça agora... corra... eu lhe alcançarei!!
-Eu não vejo mais você, Tae! Onde está?
-Estou no quarto ao lado!
-Onde??
-Não estamos mais no campo?
-Estamos na fazenda! O fogo... está chegando perto...
-Jeon... onde está?? O fogo...
***
-Jeon!!!
Tae acorda sobressaltado, ainda chamando por Jeon.
-Tae?? Estava sonhando?
-Sim...
-Um pesadelo?
-Outro daqueles sonhos sinistros... não aguento mais ter esse tipo de sonho. Estou tremendo...
-Vou pegar água para você.
Jeon levanta rápido e pega água para Tae.
Ele bebe, rapidamente, enquanto Jeon lhe afaga os cabelos.
-Foi tão ruim assim?
-Que sonho estranho...
-Quer contar?
-Não, agora não.
-Tudo bem. Acalme-se, sim?
Tae entrega de volta o copo de água para Jeon.
-Obrigado, Jeon.
-Venha, volte a dormir, ainda é cedo.
-Não, não vou conseguir. Esse sonho me deixou muito angustiado. Está com sono?
-Não muito. Quer ficar acordado? Venha, deite aqui, juntinho de mim.
-Que horas são, Jeon?
-Deixe-me ver... –Jeon olha as horas no celular.
-Cinco e vinte.
-Vamos sair.
-Sair?? A essa hora?
-Sim.
-Aonde quer ir?
-Vamos no rio? Quero tomar banho.
-Tae... ficou tão perturbado assim com o sonho que teve?
-Fiquei... mas quero ir no rio. Vai comigo?
*
Alguns minutos depois...
-E ainda diz que eu tenho um cérebro amargo... olha a sua ideia... cinco e meia da manhã... tomando banho de rio... e está fazendo frio. Já começou o inverno, Tae, sabia?
-Ainda não. Não está tão frio assim.
-Tudo bem. Sou uma pessoa boa, especialmente com meu boyfriend.
Jeon se aproxima de Tae e o abraça.
-Quer que alguém nos veja assim, Jeon?
-E quem vai estar acordado a essa hora além de nós? E depois... ainda está escuro... ninguém vai nos ver. Já lhe dei bom dia?
-Ainda não. Um boyfriend sem bom dia, é o que você é, Jeon...
-Um dia tem que ser bem desejado, Tae... desejado que seja muito bom...
Jeon abraça Tae e os dois se beijam recebendo os primeiros raios de uma manhã que está demorando a chegar. Ainda está escuro, mas há um clarão não muito distante deles.
-Tae... o que é... aquilo...
-O que? Onde?
-Aquela claridade... vermelha... amarela... é em sua casa, Tae!
-A fazenda! A fazenda, Jeon!! Está pegando fogo!!!
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