Levi
Eu estava paralisado e aquele cheiro cítrico já tinha me embriagado por completo. "Vamos Levi, dê meia volta direto para o refeitório", pensei. Claro que não consegui.
Estava perdido em meio aos meus dilemas sobre ficar ou ir embora, e me assustei quando percebi que ela havia virado o rosto e me chamado.
Natsu: Capitão? Está tudo bem? - me olhou esquisito.
Pigarriei. Merda. O que eu respondo?
Levi: Sim, pirralha. - eu só sabia dizer isso, caralho?!
Natsu: "Vamos Levi, dê meia volta direto para o refeitório". - me assustei quando a ouvi repetir a frase que eu disse a mim mesmo. Estava tão em choque de vê-la ali que não percebi que disse em voz alta.
Levi: Como é? - me fiz se sonso.
Natsu: Você tava plantado ali, me olhando com essa cara esquisita, falando isso. Precisa de ajuda pra achar o caminho? - maldita, tava tirando sarro da minha cara.
Levi: Insolente mesmo, não? - retruquei.
Natsu: Você vai sentar ou vai embora?
Levi: Isso é da sua conta? - incrível como o "modo automático" aparece rapidinho.
Natsu: Sim.
Levi: Como? - nem acreditei no seu atrevimento.
Natsu: Você estava parado aí, me encarando. Não vai vir aqui porque eu estou no seu lugar?
Não consegui responder.
Natsu: Eu só vim tomar uma brisa. Está muito calor.
Se tem uma coisa que eu tinha reparado, era na sua camiseta colada no corpo por conta do suor, e naquele shorts curto valorizando suas curvas. "Merda, porque não fui embora?", pensei.
Natsu: Eu acho que roubei o seu lugar de descanso, capitão.
Levi: Como?
Natsu: Você tá bem mesmo? - se aproximou de mim e colou a mão na minha testa - Não está com febre..
Fechei os olhos ao sentir seu toque no meu rosto. Suas mãos eram macias. Me recompus.
Levi: Claro que não estou com febre, pirralha. - retirei suas mãos -
Natsu: Então por que tá tão esquisito? - me desafiou.
Levi: Não é dá sua conta. - retruquei.
Natsu: Ok. Eu já vou indo então, estou com fome e hoje é sexta feira. Pode ficar com o seu lugar de descanso de volta. - eu vi que ela se aborreceu com a minha grosseria gratuita.
Quando passou por mim, o vento soprou de novo, bagunçando seus cabelos e fazendo aquele cheiro cítrico pairar no ar de novo. Maldito cheiro cítrico.
Sem pensar direito, alcancei sua mão e a segurei delicadamente. Ela parou e me encarou, surpresa pelo toque.
Olhei-a nos olhos.
Natsu: O que foi? - nhm, ácida.
Não sabia o que responder, se quer sabia porque tinha pegado na sua mão.
Natsu: Capitão?
Levi: Desculpe, soldada. Estou com a cabeça em outro lugar. - me rendi
Natsu: Percebi. - alfinetou.
Levi: Pode ficar.. eu preciso descer, de qualquer forma.
Natsu: Eu não posso ficar, hoje é o dia que vou tocar.
"Vou ver se ela tá aqui, perai" - ouvimos vozes. Soltei suas mãos. Abriram a porta.
Reiner: Oh, desculpe a intromissão, Capitão Levi. - olhou para ela - Cadete Natsuno - assentiu com a cabeça, corando.
Levi: O que deseja, cadete? - "envergonhado com o que, Reiner?", pensei.
Reiner: Erm.. já está na hora do jantar e.. as meninas estavam procurando Natsuno. Estão todos ansiosos pela música.. - tentando se recompor.
Natsuno: Certo. Tenho que ir. - olhou pra mim de novo, um pouco provocativa, me encarando com aquelas orbes verdes. Seria aquilo um convite pra alguma coisa?
Assisti-os se retirarem do terraço. Fiquei um pouco ali pra acalmar meus ânimos. Percebi o olhar do soldado para ela e.. não gostei? Por que isso me incomodaria? Suspirei e coloquei as mãos nos rosto, passando pelo cabelo o empurrando para trás. Bufei de novo. "É melhor eu descer.." .
.
Cheguei no refeitório e estavam todos em volta do "palco" que o Erwin usava para dar os recados. Tinham dado um jeito de trazer o piano para lá e formaram um círculo ao redor dele. Os mais à frente estavam sentados, mais ao fundo, de pé. Percebi alguns muitos "baba-ovos" sentados na primeira fileira, esperando ansiosamente pra que ela começasse a tocar. "Tsc.. pervertidos." rangi os dentes. Sua gangue estava em pé ao lado de Erwin e Hange. Me juntei à eles.
Natsu: Fiquei pensando no que me disseram sobre esse lugar precisar de mais "vida". Preparei mais de uma música pra vocês e decidi que também vou cantar. - acabara de sentar no piano.
Sasha: IIIIHAAAA AÍ SIM! - tsc, barulhenta do caralho.
Natsu: Espero que gostem. - sorriu. Que sorriso era esse, meu deus?
Ela respirou fundo e posicionou as mãos no piano. Começou a dedilhar as teclas e a melodia atingia nossos ouvidos delicadamente. Nunca pensei que eu pudesse apreciar qualquer tipo de música. Não que eu não gostasse, eu só realmente não ligava pra isso e confesso que não entendia o porquê de alguns gostarem tanto, como Hange ou Sasha. Senti a melodia vibrar por todo o meu corpo e acabei relaxando. Estava me acostumando com aquela sensação nova quando ela começou a cantar. Eu não sabia descrever o que era aquilo. A voz, a combinação dela com o som do piano, e o que eu senti quando deixei tudo aquilo me envolver. A voz era suave, mas não era doce como de um anjo ou uma menininha. Era uma voz intensa, com sentimento, as vezes um pouco mais grave dependendo do momento da música. Era definitivamente a voz mais bonita que eu já ouvi em toda a minha vida.
Ela nos hipnotizou por cinco músicas. O refeitório ficou em absolutamente total silêncio, sem querer perder uma nota sequer. Quando terminou, a enchurrada de palmas, comemorações e euforias foi absurda e contrastava 100% com o silêncio que pairava no ar minutos antes. Hange logo se empolgou e convenceu Erwin a liberar as bebidas alcoolicas para os maiores de idade, afinal, amanhã era sábado. Que mal isso poderia fazer?
Se soubessem..
.
Natsuno
Fiquei bastante feliz com meu desempenho e a recepção calorosa de todo o quartel. Hange quis comemorar a primeira apresentação com alcool. "Nada mal", pensei bebericando o terceiro drink de frutas que ela tinha me dado. Já fazia um tempo que estávamos comemorando e estavam todos conversando em pequenos grupos espalhados pelo refeitório. Pra variar, Jean e Eren estavam discutindo sobre algo sem sentido, Mikasa trocava algumas conversas com Sasha e Armin, e Connie tentava acompanhar. Erwin veio até mim, me parabenizando pela apresentação.
Erwin: A apresentação foi ótima, soldada. Obrigada por nos proporcionar esse momento. - estendeu o copo para brindar comigo.
Natsu: Obrigada, comandante. - sorri e brindei com ele.
Erwin: Com licença, tenho umas coisas pra conversar com Hange. - assenti com a cabeça e ele se retirou.
Acabei por procurar Levi pelo refeitório. Eu havia o visto enquanto eu cantava, mas quando abrimos as bebidas, não o vi mais. Me surpreendi por sentir falta da presença daquele carrancudo. Terminei minha bebida e vi Reiner se aproximando. O refeitório já estava quase vazio.
Reiner: Você foi ótima! - me entregou mais um drink de frutas.
Natsu: Obrigada - respondi, sentindo o alcool subir um pouco.
Reiner: Teremos o prazer de te ouvir de novo na semana que vem?
Natsu: Acho que sim. - Eu conversava com ele, mas procurava Levi em meio aos soldados que se retiravam do local. Onde ele estava? Ele não iria vir falar comigo? Vi meus amigos acenarem pra mim e subir para os dormitórios.
Reiner: Ótimo! Sua voz é linda e eu tenho certeza que eu não sou o único que pensa assim. - disse, pegando na minha mão, acariciando-a.
É, entendi o que tava rolando. Olhei para sua mão encostada na minha, depois olhei-o nos olhos.
Natsu: O que está fazendo?
Reiner: Eu acho você bonita.. - me encarou.
Natsu: Agradeço, mas você precisa soltar a minha mão. - disse forçando a retirada.
Reiner: Você não gosta? - manteve o toque.
Natsu: Eu não te dei permissão. - fui ríspida e forcei que me soltasse, não conseguindo. Já tava meio mole da bebida.
Reiner: A gente pode conversar em algum outro lugar? - falou com uma certa malícia.
Natsu: Eu não quero. - encarei-o.
Levi: Cadete Reiner. - não o vi se aproximar, sua voz era séria e seu olhar furioso.
Reiner: C-Capitão Levi. - gelou
Levi: Não me parece que a soldada está gostando do que está fazendo. Na verdade, penso ter ouvido ela pedir que parasse.
Reiner empalideceu com a presença do capitão ali. Soltou minha mão e me lançou um olhar como se eu tivesse sido salva pelo gongo, mas que da próxima vez não escaparia. Eu não precisava de Levi para me resgatar, eu espancaria Reiner facilmente, mas eu senti o alcool subindo e já estava bem bêbada.
Olhei Levi nos olhos.
Levi: Você está bem? - me olhou com um pouco de preocupação.
Natsu: Sim. Apenas bêbada. - tentei continuar olhando-o, mas eu estava atortoada.
Ele riu baixinho. Acho que foi a primeira vez que vi esse olhar nele.
Levi: Sinto muito pelo infortúnio. Me assegurarei de que ele não venha a te incomodar de novo, pirralha. - começou.
Natsu: Você tá vendo esse copo? Tem alcool aqui.
Levi: Isso é nítido.
Natsu: Isso quer dizer que eu sou maior de idade.
Levi: E o que eu tenho com isso?
Natsu: Eu não sou pirralha.
Levi: Ainda não sei quantos anos você tem. Então, é pirralha.
Natsu: Desse jeito que não vai descobrir mesmo.
Ele não tinha aquele olhar de agressividade dos outros dias. Ele estava me provocando, mas dessa vez era ele quem brincava e eu quem ficava pistola.
Natsu: Ta se divertindo né? - revirei os olhos.
Levi: Qual o problema? Prefere minha cara de bravo, cadete?
Pensei em responder a primeira coisa que eu pensei. "Prefiro você de qualquer jeito, capitão" mas não estava tão bêbada assim. Me limitei a olhá-lo nos olhos, apenas.
Levi: O que foi? - parece que percebeu que eu estava prestes a dizer alguma coisa e desisti no último segundo.
Natsu: Nada.
Levi: Fala.
Natsu: Não.
Levi: Por quê?
Natsu: Porque não é da sua conta.
Nos encaramos e ele riu. Eu estava incrédula no tanto que ele estava tranquilo. Só agora reparei que ele segurava um copo com whisky. "Tá explicado.", pensei. Estava zueiro porque estava alterado também. Não tiramos os olhos um do outro, e nem percebemos que o refeitório inteiro ja havia se esvaziado, estando só nós dois.
Não tiramos os olhos um do outro em nenhum momento. Percebi ele se aproximando e eu também indo pra mais perto dele. Deixou o copo na mesa do lado (estávamos de pé) e eu não demorei a fazer o mesmo. Chegamos mais perto um do outro.
Levi: Não sei porque eu estou fazendo isso.
Natsu: Você não está fazendo isso sozinho.
Me olhou de novo com aqueles olhos profundos, examinando a minha alma. Meu coração acelerava tanto que tenho certeza que ele conseguiu ouvir todos os meus batimentos.
Levi: Natsuno. - arrepiei ao ouvi-lo chamar o meu nome pela primeira vez.
Natsu: O que foi?
Levi: Eu preciso tentar uma coisa..
Não deu tempo de responder. Ele colocou suas mãos na minha cintura e zerou a micro distância que ainda havia entre nós. Senti meu rosto corar e não desviei o olhar em nenhum momento. Ele aproximou seu rosto do meu e me beijou devagar. Quando eu correspondi, ganhou intensidade e eu entrelacei meus braços em volta do seu pescoço. A tentativa "despretensiosa" do capitão deu lugar a um beijo intenso, desejoso e excitante.
Eu poderia morar ali.
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