Os dias se passaram e a vida de Matthew parecia incrível com a nova namorada que arrumara. Quem dera que ele iria arrumar alguém através do seu serviço? Mas tudo durou até ele saber que ela estava sendo traído desde quando se conheceram. Infelizmente essa relação não durou e Matt sentia falta de desabafar sobre as coisas da vida com sua amiga. "Acho que vou ligar hoje para ela… talvez ela ainda queira falar comigo", pensou puxando seu celular mas logo o guardou como duas senhoras cliente da floricultura comentaram um ocorrido que chamou a atenção do rapaz.
– Pobrezinha… Cleusa você tinha que ver, eu só fui fazer meus exames e ela era a única jovenzinha no hospital. Era belíssima, mas estava magra que só, coitadinha.
– Será que mesmo nessas condições o namorado dela a aceitou?
– Eu não sei… acredito que a pobre coitada não namore, mas que há alguém que ame.
– Com licença… gostariam de ajuda? – Matthew interrompeu a conversa para continuar seu serviço.
No rumo dessa conversa ele se lembrou de Belle. Pelo que ele sabia, Belle também era realmente belíssima mas nunca a vira com algum namorado ou paquera e também nunca fez questão de perguntar porquê. Pensou em encorajá-la a encontrar alguém especial. Após esse deleite nos pensamentos voltou seu foco no serviço. "Quem sabe ela precisa de um encorajamento... É... acho que farei isso.", pensou o rapaz. Decidiu puxar o celular e logo escreveu uma mensagem de texto com a seguinte mensagem: "Oi Bel... então, parece ser totalmente repentino e esquisito, mas devido a umas conversas que escutei acabei lembrando em você... Bem, só queria dizer sabe... se você tem algum paquera em segredo. Se você não consegue chegar até ele por algum motivo, pode contar comigo que dou meu jeito. Sabe... queria que você encontrasse alguém que lhe fizesse feliz, até porque nunca a vi com alguém... Se quiser conversar sobre hoje estou livre! Só espero que não esteja escondendo nada de mim hein mocinha? haha!"
Mais algumas semanas se passaram e ao acordar com o sol batendo em sua face e coração acelerado decidiu levantar naquela manhã de folga. Tinha sonhado com Belle essa noite, um sonho maluco na qual a moça estava presa dentro de um telefone gigante flutuando no espaço e sua boca estava amordaçada. E o engraçado era que quem estava amordaçando-a era ele mesmo. Do outro lado estava ele em terra firme segurando o cordão do telefone e, ao puxar o fio para si, o cordão havia estourado e levado Belle para longe, cada vez mais e mais longe de si.
Decidiu pegar seu telefone e ligar para sua amiga, já que nada o atrapalharia agora. Antes analisou a mensagem que tinha mandado e até então não fora visualizada. Ligou. O telefone tocou até cair na caixa de mensagens. O rapaz estranhou, pois Belle sempre andava com seu aparelho em mãos. Decidiu esperar uns 15 minutos, afinal ela pode estar ocupada. Quando o telefone de Matthew tocou; "Belle" aparecia no televisor do aparelho e logo tratou de atender.
– Bel! Oi! É o Matthew, eu tentei te ligar mas acho que estava ocupada – ele forçou uma voz simpática para não ficar constrangido.
Do outro lado o silêncio constrangedor foi cortado por uma voz tristonha e rouca.
– Matthew…? Matthew Colins?
– Ah, sim, sim sra. Lars. Desculpe-me, achei que fosse a Belle. Talvez eu liguei errado?... Bem, ela está? – um "não" rouco e abafado deu para ser escutado. – É… Sabe onde posso encontrar-me com ela? Ela disse que queria conversar comigo, mas na correria acabei não tendo oportunidades… – disse separando um lápis desapontado um pedaço de folha rasgada de uma agenda do ano passado. – Ah, obrigado por passar o endereço, saúde à senhora!
Matthew caminhou por um campo belíssimo que seria perfeito para levar a família e montar um piquenique. Seria perfeito se o mesmo local não estivesse ocupado com várias lápides. O rapaz não entendeu muito bem, procurou por alguém além dele naquele local e não encontrou. Sua mãe não disse que Belle estaria naquele campo? Matthew pegou o papel com o endereço e comparou com o nome da rua. Ele estava no local certo, mas…
– Você veio… – uma voz fraca e tristonha se fez presente atrás dele. Virou-se assustado e notou a presença da Sra. Lars com um estado crítico: olhos profundos com olheiras e vermelhas, como se tivesse virado as noites chorando, e estupidamente magra. – Ele realmente veio…– a senhora murmurou essas palavras como se sentisse falta de ar olhando para alguma lápide perdida naquele campo.
– Vim… foi esse o endereço que a senhora me passou, não foi? E a Belle…? Onde está?...
A senhora com físico de pessoa enferma o abraçou pelos ombros guiando-o pelo gramado verde entre as lápides de diferentes formas e tamanhos até o posicionar em frente a uma em específico. Ele se abaixou e leu a lápide em voz alta.
– Be… Belle Lars…? – sua voz saiu desafinada e sem tom. O garoto olhou confuso para a mãe ali em pé que se segurava para não chorar. – O quê… o que aconteceu? Esses dias eu falei com ela!
– O que ela disse à você? – perguntou a mãe firme.
– Eu… – o rapaz hesitou – eu não sei…eu só… eu disse para conversamos amanhã e… – lágrimas grossas brotavam dos olhos do moreno que ainda parecia confuso.
– O "amanhã" para alguns, Matthew, é longe demais. Para outros, perto demais. Mas para Belle, o "amanhã" nunca existiu. – As lágrimas então rolaram pela sua bochecha e pingaram na terra abaixo dele. – Provavelmente ela não tenha te contado, mas Belle tinha leucemia – Matthew arregalou os olhos em direção à senhora. – Descobrimos isso quando ela tinha 5 anos de idade e decidimos contar para ela aos 6 quando os médicos disseram que ela não viveria muito tempo. Qualquer dia poderia ser o dia dela ir embora…
– Mas… Ela sempre estava com um sorriso no rosto e sempre elogiando o dia não importa como estivesse… Não posso acreditar… não… Por que ela não contou nada?! Eu achava que era o melhor amigo dela... – o rapaz não conseguia segurar as lágrimas.
– Ela não queria que outras crianças e adolescentes da sua idade a refutassem por ter uma doença terminal. Ela também tinha o pensamento fútil de que quanto manos envolver-se com as pessoas, menos laços criaria e menos pessoas iriam sofrer quando ela se fosse... – Sra. Lars acabou secando uma lágrima e limpado a garganta antes de continuar. – Quando ela era pequena eu a peguei chorando escondida num dia de chuva. Achei que estava chorando porque não podia brincar lá fora… mas na verdade ela virou para mim e disse que estava triste porque o céu sabia que ela iria embora e ia me deixar aqui sozinha e por isso as nuvens estavam chorando – ela mostrou um sorriso fraco e triste. – Mas aí eu a disse que todos os dias são belos, não importava se fosse ao meu lado ou no meu coração. Eu a ensinei que por mais que os dias possam ser cinzentos e chuvosos, desde que ela esteja bem, sorrindo e feliz por ela estar ali, os dias sempre serão belos.
Um silêncio foi tomado naquela situação até que Matthew decidiu falar.
– Eu… não sabia… não notei. Nunca notei. Nunca prestei atenção porque sempre achei que amanhã as coisas iriam se arrumar… – ele deu uma risada triste. – Eu deveria ter passado perfume – murmurou. – Eu… eu sou um babaca por nunca ter prestado atenção nela... Não era dieta, né sra. Lars? Era a doença que estava matando ela né?! – Ele a olhou desamparado e ela confirmou de cabeça baixa segurando o choro. – Estava até pensando em falar com ela e encorajá-la a encontrar alguém especial… Senhora Lars me diga, ela… pelo menos havia alguém que amava e a amava de volta? Alguém que a fizesse feliz?
A mãe apenas balançou a cabeça e levou a mão ao nariz segurando o choro.
– Havia alguém que ela amava… mas que nunca pôde falar isso para ele.
– P-por quê…? – a voz do moreno falhou.
– Porque para ele, no amanhã que tudo ia ser esclarecido.
Dito isso mais lágrimas encharcaram os olhos de Matthew após ter percebido que a pessoa de quem Belle amava era ele. Sempre foi ele. Ele se lembrou da sua promessa naquele parquinho enquanto Belle limpava seus machucados... "Vamos nos casar e ter vários filhos!". Um grito doloroso foi se formando dentro do garoto até que fosse liberado entre soluços. Foi então que Matthew percebeu que ele a amava também, mas havia perdido tempo sempre deixando para o amanhã aquilo que ele nunca perdeu tempo prestando atenção ao seu redor, a coisas que para ele pareciam ser fúteis demais. Mas agora o tempo passou, o amanhã chegou e um novo sol nasceu. Novo dia começou com novos acontecimentos, e Matthew não podia reverter isso.
A mãe de Belle colocou sua mão nas costas do garoto e ambos sentiram o calor quente do sol daquela manhã. Matthew olhou para aquele sol e deixou o calor daquele dia preenchê-lo enquanto o silêncio consolava-os.
– O sol dessa manhã está belo… – murmurou por fim com sua voz fraca.
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