Sinceramente… Eu não consigo entender a mente dessas pessoas que dizem gostar do calor. Cara, o desespero começa às cinco da matina quando você não acha posição para dormir e tem que ficar virando de um lado para o outro igual hambúrguer fritando na chapa. E como se não bastasse isso, você abre a janela, entra mosquito, barata, perereca, capivara, tudo! Exceto um soprinho de vento sequer!
Você não consegue comer direito, quatro banhos por dia deixam de ser suficientes e para piorar, ainda tem que andar no meio de pessoas suadas e fedorentas. Você já andou de ônibus em pleno verão? É incrível como algumas pessoas desconhecem a existência do desodorante. Gente, por favor né! O que custa passar um roll on no suvaquinho para não andarem por aí com odor de cecê? Acho que no máximo uns R$ 7,50! Ok, parando para pensar é meio carinho mesmo, dava para comprar uma coxinha com refresco, porém é algo necessário, além de ser uma utilidade pública, porque ninguém merece sentir as inhacas que vocês carregam debaixo dos braços.
Outro motivo que me faz odiar ainda mais o calor é o fato de que os únicos lugares para onde as pessoas querem ir são praia e piscina, que também são duas das coisas que eu mais detesto! “Mas por quê?”, vocês me perguntam. Simples, piscinas nada mais são do que um buraco bem fundo onde todo mundo faz xixi sem que ninguém veja, além de que o cloro, assim como o sal do mar, deixam meu lindo cabelinho — que eu passo horas cuidando — um completo desastre. Sem falar no sol desnecessariamente quente que te torra sem você se dar conta e toda aquela areia que entra na roupa e faz você parecer um nugget de frango. Além de outros inúmeros motivos que eu poderia ficar aqui o dia todo citando, porém isso cansa minha beleza.
E por que então eu estou entrando nesse assunto, senhoras e senhores? Eu explico. Prazer, meu nome é Jung Hoseok, tenho 19 anos e estou aqui para relatar uma das piores e mais frustrantes experiências que já tive em toda a minha vida.
Tudo começou quando meu querido e amado melhor amigo, Park Jimin, decidiu que queria fazer uma viagem de férias. Eram meados de julho, no ápice do verão, época em que as temperaturas chegam à 30°C e ele queria curtir as férias onde? Na praia! Para o meu total desgosto. Ele e meu outro amigo Namjoon — traidores —, um hippie sem noção, o qual eu me pergunto até hoje como ficou tão próximo da gente, decidiram que queriam aproveitar nossas férias da faculdade à beira mar, onde o sol te deixa parecendo camarão frito e mesmo usando uma embalagem inteira do protetor com o maior fator de proteção solar você ainda fica todo se ardendo depois.
E vocês acham que eu aceitei? Pois é, eu aceitei. Mas poxa, vejam se me entendem... Eles são os únicos amigos que eu tenho, eu ia passar as férias completamente sozinho e sem lugar para sair. Indo com eles pelo menos eu poderia contemplar a visão dos bofes sarados e sem camisa, sei lá. No entanto, essa fora uma das piores decisões que eu poderia ter tomado. Ou não, vai saber.
As desgraças começaram logo na manhã em que a gente viajaria. Além de ter que acordar cedo em plenas férias, o que por si só já era uma fatalidade, ao me levantar, o universo logo começou sua conspiração contra mim me fazendo bater meu dedo mindinho do pé com toda força na cômoda do meu quarto. E vou te falar… Doeu. Doeu ‘pra caralho! Doeu tanto que minha vista no mesmo instante se embaçou com as lágrimas que eu felizmente não precisei deixá-las cair. E por incrível que pareça, eu consegui me controlar para não empurrar o móvel escada abaixo a fim de descontar a raiva momentânea.
Apenas respirei fundo e fui me arrumar. Minhas três malas já estavam prontas para passar a semana e se encontravam no andar de baixo, então era só esperar virem me buscar. Que é? Eu juro que só coloquei coisas úteis, é sério! Nunca se sabe quando você pode precisar de um cachecol durante a viagem. Enfim…
Ouvi a buzina seca da kombi de Namjoon — sim, eu disse uma kombi — e claro, como um ótimo amigo que eu sou, obriguei os dois a me ajudarem com as malas, já que eles estavam me obrigando a ir naquela porcaria viagem. Era uma troca justa, não?
— Qual é, bro... Nós só vamos ficar uma semana, pra que tanta mala, bicho? — perguntou o Kim, enquanto arrastava junto ao corpo minha preciosa bagagem.
— O que você tanto colocou aqui, hein? Parece que tô carregando chumbo. — Foi a vez de Jimin protestar.
— Só estou levando o necessário. Agora parem de reclamar e andem logo porque a viagem é longa. — Eu disse por fim e terminamos de ajeitar meus pertences no veículo. Se é que pode se chamar aquela lata-velha dessa forma.
Assim, nos acomodados na Felícia e seguimos viagem. Sim, a kombi tem um nome, além de ter toda sua lataria pintada com flores, arco-íris e símbolos que eu sequer já vi algum dia na vida, a não ser naquele automóvel que o Namjoon cismava em chamar de transporte. Ele dizia que era algo sobre trazer sorte, paz, positividade e todo aquele papo sem sentido de pessoas como ele. Nada contra os hippies, só que na moral, “bros”, eu não entendo uma palavra do que vocês falam! E fora que a própria tranquilidade de vocês já é suficiente para me deixar irritado. Não entendo como conseguem ser tão calmos em situações tão estressantes.
Mas eu não julgo meu amigo, ele é gente boa. Sério, galera. Eu jamais me imaginava sendo amigo de um hipster doidinho de pedra como ele, porém o destino tem um jeito engraçado de unir a vida das pessoas, não é? E isso é mais uma das coisas que eu irei mostrá-los nessa história, espiem só.
Saímos de Dongnae, onde moramos, e iríamos para a Haeundae Beach, ambos em Busan. O trajeto era de mais ou menos uma hora, só que de carro né. Aquele “possante” do Namjoon faria no mínimo umas duas horas até lá. Isso se aguentasse a viagem inteira. O que não aconteceu, óbvio, porque no meio do caminho tivemos que parar pois o pneu traseiro havia furado. Maldita sucata.
— Mas que inferno! Eu sabia que não deveria ter aceitado fazer essa viagem! — Reclamei mesmo. Estávamos no acostamento da estrada, debaixo de um sol escaldante e sem uma sombra de pessoa que pudesse nos ajudar a trocar aquele pneu ridículo.
— Relaxa, bicho. Tu é tão negativo. Fica na paz, os astros estão a nosso favor. — Namjoon começou, com toda sua calmaria do mundo. Juro que eu precisei respirar bem fundo para não jogar aquele macaco, que ele segurava nas mãos, bem na cabeça dele. — Logo cairemos na estrada de novo, morô? — Continuou, ajustando a ferramenta embaixo da kombi para poder levantá-la.
— Você tá muito estressado, hyung. Relaxa, logo chegaremos. Vai ter bofe bonito pra todo lado e quem sabe você não consegue um pra acabar com esse seu estresse? — Jimin se pronunciou, rindo.
— Pra inicio de conversa, eu nem estaria estressado se tivesse ficado em casa! — falei, cruzando os braços em evidente sinal de irritação.
— Que ficasse então, ué. Ninguém te obrigou a vir. — O mais novo fez questão de jogar na minha cara e eu cerrei os olhos em sua direção.
Ok, eu sei que ele estava coberto de razão. Realmente, eu quem aceitei ir naquela viagem idiota, mas eu gosto de fazer drama e estava reclamando mesmo, porque poderíamos estar indo para lugares muito melhores do que uma praia. Mas eu não tinha muitas alternativas, poxa. Aliás, não tinha nenhuma.
Porém, depois deu tudo certo. O Nam conseguiu trocar o pneu e logo já estávamos seguindo nosso rumo. Nunca fiquei tão feliz em estar dentro da Felícia novamente. A gente havia decidido que viajaria nela pois assim teríamos um transporte conosco lá, caso fosse preciso. E a kombi é o único automóvel que tinha disponível, já que Jimin e eu não temos nenhum.
No entanto, vocês pensam que nossos problemas acabaram aí? Não mesmo! Se liguem só.
Demorou mais alguns longos minutos, contudo finalmente chegamos ao nosso destino. Ficaríamos hospedados em um alojamento o qual nosso querido amigo hippie havia arrumado para a gente. Ficava localizado em uma espécie de vilazinha com vários outros alojamentos como o nosso. E quando ele estacionou na vaga, que eu olhei para aquela casinha minúscula feita de bambu e palha de coqueiro, eu garanto para vocês que faltou muito pouco para eu não ter um piripaque ali mesmo.
Cara, imagina o calor infernal que deve fazer dentro daquilo? Sem falar nos bichos que devem fazer morada nas palhas de coqueiro. Só podia ser um pesadelo. Ou uma brincadeira de muito mal gosto. E eu juro que já estava quase perguntando onde estavam as câmeras escondidas. Mas não, galera. Para minha total “sorte”, aquela era uma vila hipster e o Namjoon — claro né, tinha que ser! — conhecia algumas pessoas ali. Eu só queria chorar e voltar para a minha casinha confortável.
Logo eu tratei de me conformar, não adiantaria fazer nada de qualquer jeito. Porém, novamente fiz aqueles dois salafrários carregarem minhas malas para dentro, eles me deviam e muito. Eu só esperava que nenhuma aranha me comesse vivo enquanto eu estivesse dormindo. No entanto, pelo menos o interior do alojamento era arrumadinho e as camas pareciam ser confortáveis.
Os garotos estavam todos serelepes para ir logo à praia, eu não tive outra alternativa senão acompanhá-los. Quando saímos da cabana, ou sei lá como posso chamar aquilo, algumas pessoas vieram nos cumprimentar e pelas roupas que vestiam eu supus que fossem os responsáveis pelo local, os conhecidos do Namjoon. E de fato eram, mas como eu já disse, não tenho nada contra hippies e inclusive esses também eram pessoas boníssimas assim como meu amigo.
Assim que todos foram devidamente apresentados uns aos outros, nos prontificamos em seguir nosso caminho. Eu estava agora com meus óculos de sol e um chapéu, não queria correr o risco de desbotar meu cabelinho perfeito. Eu passo horas fazendo hidratação, escova, tenho todo cuidado para simplesmente estragar tudo? Não mesmo!
Chegamos na praia e nos ajeitamos embaixo de um dos coqueiros que lá tinham. Tudo estava às mil maravilhas… Só que não né, meu povo. O calor era infernal e a sensação térmica era de “abraçando o Capeta”. Sem contar o mormaço e o vento quente que mais parecia o bafo de um dragão. Tratei logo de encher minha pele branquinha de protetor, não queria me queimar todo para não conseguir dormir depois.
Decidimos pedir umas águas de coco geladinhas para ver se refrescava um pouco. Namjoon já estava lá em qualquer canto praticando suas meditações ou sei lá o que. E Jimin, assim como eu agora, admirava a paisagem do mar azulzinho. Tá, isso eu não tenho como negar, a vista é realmente muito bonita, só que isso não é o suficiente para me fazer mudar de ideia em relação às praias. Todo o resto ainda me deixava completamente insatisfeito.
Fui despertado de meus pensamentos quando o Park me cutucou com o cotovelo e apontou para algo, o que eu olhei em seguida e, gente… Quando eu botei o olho naquelas duas figuras maravilhosas saindo da água, segurando suas pranchas… Meu Deus! Se já tava quente antes, imagina naquela hora. Eram dois surfistas, um loiro e um moreno, tinham mais ou menos a mesma altura, porém o de cabelos escuros era um pouco mais forte que o outro. E sabe aquelas cenas de filmes em que mostram as pessoas saindo do mar em câmera lenta e toda sensual, etc? Cara! Foi exatamente assim. Eu consegui ver até as gotas de água pingando do cabelo deles e descendo por aqueles queixos lindinhos, que minha nossa! Eles podiam até não ser pisos molhados, mas vou te falar que eu estava prontíssimo para passar o rodo, ah, se estava.
Eles vieram na nossa direção, estavam rindo e conversavam sobre algo. Quando passaram ao nosso lado, o loiro passou a mão no cabelo e virou seu rosto na minha direção. Nessa hora nossos olhares se encontraram e ele sorriu. E, cacete! Que sorriso! Cara, foi amor à primeira vista! E se vocês não acreditam nisso, não seria o menor problema para mim passar mil vezes na frente dele então.
Entendedores entenderão.
Eles seguiram até um quiosque e eu finalmente soltei o ar que só então havia percebido ter prendido. Olhei para Jimin e este olhou para mim; um leu a mente do outro.
— O moreno é meu! — O Park se pronunciou.
— Fechado! — Concordei, fazendo um Hi Five com ele e selando aquela espécie de pacto em que o amigo não pega o crush do outro, porém eu nem me importava. Eu queria mesmo era aquele loirinho charmoso.
Olhei na direção do quiosque e vi que os dois estavam sentados nos banquinhos que ficam perto do balcão. Eles mantinham a conversa e agora estavam bebendo algum tipo de suco. Só para constar, eu falo “eles”, mas me refiro totalmente ao loiro gatinho mesmo, porque só tinha olhos para ele agora, nem prestei atenção mais no outro. E este olhou novamente para mim, sorrindo. Cara, aquele sorriso abalava todas as minhas estruturas, mexiam com todo o meu ser. Que pitelzinho, na boa. Que homão da porra. Aquele surfista podia até não ser um demônio, mas eu deixaria ele me possuir todinho!
Ele umedeceu os lábios com a língua e voltou sua atenção ao, que eu suponho, seu amigo. Respirei fundo e suguei um pouco da água de coco que eu já havia até esquecido. E foi aí, senhoras e senhores, eu tomei uma decisão que mudaria completamente as minhas férias: Eu tentaria seduzir e conquistar aquele homem, ou eu não de chamo Jung Hoseok. Eu colocaria minhas (não) habilidades de sedução em prática e teria aquele chuchuzinho todo para mim.
Tudo bem, eu sei que eu nem fazia a menor ideia se ele torcia para o mesmo time que eu ou não, mas como já dizia minha querida vovozinha: “Quem não arrisca, não petisca” e aquele loirinho eu estava doido para petiscar. Eu estava mais do que disposto a executar todas as técnicas de sedução que eu já vi em blogs da internet, com certeza daria certo. Aquelas blogueiras são experts em sedução.
E foi assim, meus queridos, que eu descobri que havia tomado mais uma decisão que viraria tudo de cabeça para baixo...
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