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História O Tear das Parcas - Mitch odeia a realeza (e olha que ele é britânico) - História escrita por Taifu-no-me - Spirit Fanfics e Histórias
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História O Tear das Parcas - Mitch odeia a realeza (e olha que ele é britânico)


Escrita por: Taifu-no-me e LadyMeow

Notas do Autor


Tão preparados quanto possível, os heróis enfrentam Aëetes, o Rei-Bruxo em um esforço desesperado para libertar Ariadne.
Música e glossário nas notas finais!

Capítulo 15 - Mitch odeia a realeza (e olha que ele é britânico)


Fanfic / Fanfiction O Tear das Parcas - Mitch odeia a realeza (e olha que ele é britânico)

XV - Mitch realmente odeia a realeza (e olha que ele é britânico)

Mitch teve alguns flashbacks de guerra ao encarar o Rei-Bruxo mais uma vez.

Vê-lo flutuando como se fosse o proprietário da gravidade enquanto uma marola de mortos-vivos com roupas de segurança jorrava na direção dele e de seus amigos o fez se sentir tão encurralado quanto no trágico dia de sua morte.

Seus olhos imediatamente buscaram por uma saída, mas o local era apenas uma ilha flutuante em um horizonte espelhado que se perdia na vista além das bordas. O coração de um labirinto sem entradas ou saídas visíveis, reparou o garoto.

Mitch empunhou sua sica em resposta, pronto para o combate e apressando o passo na direção dos spartoi. 

A feição maligna de Aëetes os fitava altiva - Um rosto cinzelado e bronzeado de um modelo, encimado por uma coroa de fogo branco e calor tão forte que a paisagem se distorcia ao seu redor.

MORTE AOS MEIO-SANGUES! - comandou o Rei-Bruxo, apontando para eles com labaredas nos olhos.

A hoste de esqueletos em chamas se aproximou e Mitch abriu caminho entre eles como pôde. 

Seus golpes criavam lampejos escuros com a cimitarra conforme o Ferro Estígio feria a forma deles. Os monstros pareciam pouco gostar do contato com o metal ctônico, pois Mitch conseguiu abrir espaço com seus golpes, fazendo vários explodirem em cinzas ao contato.

Flechas prateadas riscaram o ar e se alojaram nos crânios de dois spartoi aos lados de Mitch. 

Ele encarou Hesper correndo para direita e lançando uma saraivada de projéteis sem parar. A velocidade de seus passos apenas rivalizada com a destreza com que a filha de Apolo sacava uma flecha, a encaixava no arco e disparava na forma dos mortos-vivos a vista.

Mais atrás, Icarus viu seus amigos abrindo caminho e viu Aëetes se aproximar da forma tremeluzente da Deusa Ariadne, do lado oposto da sala há mais de vinte metros de distância.

O garoto observou o mar de spartoi se aproximando de cada um e disse, virando-se para sua companheira empousa: - Seréfone, mantenha-o ocupado!

Os cabelos dela flamejaram, sua voz desencarnada ecoou pelo ambiente junto a um sibilo conforme suas asas se abriam.

Cumprirei nosso acordo de sangue! O Rei-Bruxo deve cair!

Icarus assistiu a vampira alçar voo e rosnar feito um pesadelo, se lançando como uma bala na direção de Aëetes e tomando-o em mãos imediatamente. Ela o agarrou firmemente e rosnou alto mais uma vez, logo afundando as presas afiadas em seu pescoço. O Rei adernou para os lados e gritou de dor, incapaz de articular sua magia para arrancá-la dali de imediato.

Mortos-vivos se aproximaram de Mitch, mas ele rolou para fora de seus braços com largos passos e golpeou o pescoço do mais próximo. O garoto se agachou ao ser atacado e enfiou a cimitarra negra no bucho do inimigo a frente, que evaporou em cinzas ao vento.

O coração acelerado dele acompanhava os olhos, o nervosismo em sua mente se misturando ao cansaço do combate.

Um deles acertou um golpe de cassetete no seu ombro e outro encaixou um arranhão com suas garras esqueléticas, tentando agarrá-lo. Mitch deu para trás, esquivando-se em passos velozes e viu Hesper repelindo golpes com suas falcatas gêmeas, se esforçando para não morrer. Ele grunhiu e voltou a atacar com a sica em mãos, invocando sua parmula novamente na outra mão.

Haviam spartoi demais, pelo menos dez para cada um deles.

Acima deles, Seréfone e Aëetes se engalfinhavam em um redemoinho de labaredas vermelho-sangue e douradas. Metros atrás dos amigos, o filho de Hécate observava o campo de batalha enquanto mais dos mortos-vivos vinham em sua direção.

Icarus estendeu sua tocha ao ver os spartoi cercando os amigos.

Ele bradou: - STETHI! - “PARE!”

O som de sua voz viajou, autoritário. As chamas dos corpos dos spartoi vacilaram por alguns segundos, tomando um tom púrpura-azulado como o de sua tocha enquanto ficavam imóveis.

O filho de Hécate suou imediatamente - Embora ele tivesse experiência com necromancia e magia de invocação, haviam mais de vinte guerreiros-esqueleto só ali. Ele estava gastando poder demais.

Aëetes berrou: - VOCÊ OUSA?! 

Mas foi prontamente atacado pela insistente e poderosa empousa, sendo jogado para os lados enquanto a vampira se banqueteava do ícor do inimigo, fazendo rodopiar a arena espelhada e decair para além da vista deles.

Mitch fitou o garoto e Hesper em seguida. 

- VÁ! - gritou a filha de Apolo, decepando a cabeça dos mortos-vivos paralisados mais próximos e invocando seu arco em seguida. - Liberte-a!

O ruivo correu adiante.

Seus passos ecoaram contra os ladrilhos enquanto os berros de Aëetes superaqueciam a arena. Mitch ziguezagueou mortos-vivos paralisados pela mágica do filho de Hécate, decepou cabeças errantes a torto e a direita, e então achou Ariadne.

Ela estava em sua forma de três metros de altura, as vestes com alguns rasgos e ferimentos dourados com ícor, o sangue dourado dos imortais, manchando sua pele cor de oliva e o vestido púrpura. Seus olhos felinos e esverdeados o fitavam, agitados, seus braços e pernas estavam imobilizados por uma falange inteira de spartoi.

- Oi! - disse Mitch, com um meio-sorriso e já partindo para o ataque com sua sica. 

Ele decepou membros de diversos mortos-vivos, sendo alvejado por alguns que resistiam ao ataque e se mantinham imobilizando a Deusa. Ele fez cabeças rolarem com os golpes, ofegando ao ouvir mais um dos gritos de Aëetes e vendo um halo de luz explodir acima. 

Mitch avistou a empousa cair dos céus, berrando e quicando contra o chão metros ao lado. Um mar de mortos-vivos paralisados a fitou, ela rosnou na direção do Rei-Bruxo, que se recompunha.

Ariadne então se mexeu, os contornos brilhando quase como se estivesse prestes a assumir sua forma divina. Em um só lampejo de movimento, a deusa moveu seu tirso de bronze e golpeou uns cinco spartoi como se fossem baratas.

Eles explodiram e evaporaram.

Presumo que isso nos faça quites, meio-sangue.

- É, bem, uma mão lava a outra, hein?! - disse o semideus-ladrão. - Consegue destruí-lo?

Não é meu destino enfrentar o Rei das Cinzas, receio. Esse mau é todo de vocês para dar cabo.

- Ah, mas isso é tão típico! - reclamou o filho de Laverna, ouvindo um outro grito e fitando algo metros a frente.

Ariadne rosnou alto no mesmo instante que Mitch avistou Aëetes levitando Icarus com um gesto de desdém. Sua vampira enfrentava os spartoi e tentava alçar voo, mas vários mortos-vivos convergiam em sua direção.

Hesper golpeou um esqueleto com sua falcata e a trocou por seu arco em um luzir de movimento. A semideusa viu Icarus ser levitado adiante, o corpo tomado por luz áurea enquanto Aëetes levitava bem sobre o meio do local.

Ela disparou um par de setas contra o rei, réstias luzentes de prata riscaram o ar com o assobio de seu movimento. Aëetes avistou-as e moveu a mão esquerda, fazendo-as sumir em cinzas e fogo quando encostaram em seu peito, como se fossem mera inconveniência.

Hesper gritou de raiva e berrou: - MITCH! ELE PEGOU ICARUS!

Os dedos de Mitch suaram, a mente dele pareceu cheia de ardor. Seus olhos se agitaram pela sala, vendo-se cercado por mais spartoi ainda enquanto a boca ficava seca na tentativa de falar algo.

Aëetes estudou a face do asiático de perto.

Nada mau, para um bruxinho de meia-tigela. 

Icarus se sentiu imobilizado e preso no meio do ar. Sua própria mente brigava contra o impulso com que a mágica o envolvia. 

Poder como aquele não era simples de conjurar, reparou o filho de Hécate. Envolvia poder exercer seu domínio sobre particularmente qualquer coisa e demandava muito poder bruto. A própria gravidade e o calor envolvente que cercava o semideus imortal pareciam abraçar Icarus de todos os lados com uma só mensagem: Curve-se.

Era opressivo e tirânico, mas carismático como a força de atração de uma estrela de nêutrons. Algo tão perigoso e poderoso que o semideus logo compreendeu o nível de poder com que lidavam. Não era nenhuma surpresa que aquele filho de Hélio fosse capaz de conjurar tantos spartoi ou mesmo a terrível Poinê. 

Aëetes não tinha sequer uma parcela de humanidade - era meio-titã e meio-ninfa, um completo semideus imortal com éons de experiência e um ego tão extenso quanto sua longevidade.

Icarus tremeu, imóvel e avistando seus amigos abaixo.

- Solte-o! - berrou Hesper, exasperada.

Ariadne deu um passo adiante e Seréfone rosnou, ainda repelindo os insistentes spartoi com golpes destros de suas garras afiadas como cimitarras 

Mitch permanecia imóvel, completamente paralisado.

Seus dedos, no entanto, formigavam. 

Sua mente agitada foi para um mesmo local confortável e escuro, algo profundo em seu âmago que maquinava constantemente. O impulso do roubo que habitava em seu ser, a faísca divina de sua mãe Laverna que o mantinha em constante movimento. Sua face ficou mais séria e o garoto respirou fundo.

Ele gritou: - Solte-o, Aëetes! Deixe-o ir e podemos negociar!

O olhar cheio de fogo do Rei-Bruxo pareceu coriscar o ar em chamas. 

Os mortos-vivos retomados a seu controle fitaram Mitch, Ariadne e Seréfone em uma reação em cadeia. Hesper, que estava mais distante que os demais, se viu logo cercada. 

Aëetes incendiou sua mão, cada dedo se tornando uma torrente de fogo branco e superaquecido. Icarus tremeu no lugar e foi sendo lentamente atraído em sua direção.

Um passo adiante de Ariadne fez o Rei-Bruxo dizer: - Ele morre com um passo a mais, crianças. -  o que fez uma onda de mau-estar abalá-los imediatamente. - Nenhuma gracinha.

Mitch respirou fundo, desarmou sua sica e enfiou a mão no bolso, apalpando o que havia surrupiado sem os amigos perceberem até então. Com a outra, o herói fez um gesto breve em um surto de movimento. 

Ele disse para Aëetes: - PENSA RÁPIDO! - O que rendeu uma careta confusa do Rei-Bruxo.

Sua mão se esfumaçou por um só momento, suave como uma brisa gélida por alguns instantes. Ele se estendeu para a Deusa e apanhou algo em seu cinto. 

Um segundo depois, ostentou seu novelo em mãos. Os olhos de Aëetes se iluminaram.

- EI! ISSO É MEU! - Ariadne grunhiu e avançou contra ele, subitamente irritada.

Aëetes piscou, vendo a deusa avançar e Mitch fitá-lo de olhos arregalados: - TOME!

O movimento seguinte só poderia ter sido executado por um ladrão experiente ou por um mágico digno do pai de Icarus: Mitch sacou a mão esquerda do bolso e arremessou o objeto no mesmo instante que moveu a direita, cruzando-os e arremessando o novelo de Ariadne na direção da deusa.

Dois lampejos de bronze foram voando pelo ar, Aëetes avistou um veloz objeto e o atraiu para si - apenas para ver a forma de uma esfera brônzea girando em alta velocidade enquanto as placas se ativavam com o movimento, uma a uma, e um ENORME autômato com formato taurino agora vinha em sua direção como um trem desgovernado.

Chifres arqueados de um Touro da Cólquida encontraram Aëetes no ar em alta velocidade. O feiticeiro gritou de dor e caiu vários metros para trás, sumindo da plataforma espelhada e flutuante onde estavam enquanto sua voz ecoava por toda parte.

Icarus despencou dos céus enquanto os spartoi partiam para o ataque.

O garoto rodopiou no ar e temeu se estatelar contra o chão, Mitch gritou seu nome enquanto Ariadne abria caminho na multidão de mortos-vivos flamejantes com golpes reluzentes de seu tirso.

Então, um vulto negro o tomou em mãos.

Icarus viu a forma de Seréfone envolvê-lo, os braços pálidos e o rosto fantasmagórico tomado por raiva. Os cabelos dela reluziam com labaredas e as asas de morcego batiam com violência.

Se me invocar para enfrentar um imortal novamente, vou te matar. - disse sua voz desencarnada.

Ela o pousou no chão e ele agradeceu à empousa com um assentir. O garoto estranhou a mulher-demônio estar de pé mesmo após tantos golpes sofridos, mas ele desconfiou que o fato dela ter provado de sangue de semideus tivesse algo a ver com sua resistência.

As presas dela ficaram visíveis, Mitch e Ariadne abriram caminho até eles enquanto Hesper parecia um redemoinho de lâminas, decepando os membros dos spartoi mais próximos, correndo e ofegando enquanto os alcançava no centro do local.

Os heróis e a deusa se reagruparam, vendo que a maior parte dos inimigos já era cinzas ao vento e os demais desmoronaram sem a presença de quem os conjurou ali em primeiro lugar. Aëetes, tendo despencado da borda, não estava visível.

Um lampejo de movimento seguiu os passos de Mitch, em um milésimo de segundo, seus braços já envolviam o tronco de Icarus em um abraço. O filho de Hécate corou, mas devolveu o gesto e fechou os olhos, trêmulo.

- Me diz que ele morreu. - disse a caçadora de Ártemis, fitando a deusa.

O olhar de Ariadne foi grave.

- Não, vocês só ganharam algum tempo. - disse a Deusa, encaixando seu novelo de lã em seu kolpos mais uma vez e fitando Mitch gravemente. - Não apronte uma dessas de novo! Roubar o símbolo de poder de uma deusa, onde já se viu?! 

- Foi mal. - disse o filho de Laverna, voltando o olhar para Icarus novamente em seguida. - Você está bem?

- Vou viver. - garantiu ele, apanhando o chapéu e colocando-o sobre as madeixas loiras. Suas mãos estavam trêmulas, Mitch reparou e sentiu o coração pesar imediatamente.

Hesper se aproximou dos amigos e os fitou intensamente.

- Como fazemos?! - perguntou a filha de Apolo. - Ainda precisaremos do novelo e do copo, certo, Ariadne?

- É o caminho mais seguro para vocês, mas ele não vai parar. - informou a deusa, ajeitando os cabelos e deixando algo cair com suas tranças desfeitas: Um par de peças de quebra-cabeça, como as que ela procurava antes.

Mitch as agarrou e entregou a Deusa, que abriu um sorriso de felicidade.

- Oh, isso é ótimo! - disse, empolgada e distraída subitamente. 

Seréfone tossiu e cruzou os braços, encarando a deidade.

- Então, sobre o novelo e a missão… - Icarus falou, ofegante.

A deusa estalou os dedos e invocou o quebra-cabeças de novo. Sem nem olhar, ela tirou parte de seu novelo com os dedos e entregou-o para Icarus. A deusa largou o tirso no chão e encaixou mais uma peça com um sorriso no rosto. A última ainda faltava.

- Obrigada pela ajuda, meio-sangues. Isso será o suficiente para a jornada de vocês, prevejo. - disse a esposa de Dionísio, as estrelas cintilando em seu diadema. - E obrigada pelo presente, também. Nem eu ou o Sr. D. esqueceremos o favor.

- Espero que esqueça a encrenca que trouxemos para sua porta. - murmurou Mitch, apenas para receber uma cotovelada de Hesper. - Ai!

- Bem, ossos do ofício. - ela sorriu para os meio-sangues, de um jeito tão despreocupado que Mitch quase esqueceu que haviam acabado de enfrentar seu pior inimigo e um exército de mortos-vivos. No entanto, Ariadne foi mudando a expressão lentamente. - Mas sinto que isso aqui ainda não acabou.

Os três meio-sangues se encararam, fitando a deusa em seguida ao ouvirem um som trovejante sob os ladrilhos. Os vidros espelhados que delimitavam o horizonte foram rangendo numa mesma frequência: Um grito irado e trovejante, como um vulcão entrando em erupção.

O meio do local explodiu em uma espiral de fogo dourado.

Todos se armaram e voltaram os olhares para a silhueta que se elevava do centro.

O Rei-Bruxo os encarava com o terno em trapos perfurados e cobertos por seu ícor. A coroa de fogo branco era como um filete escarpado de luz e plasma cintilante. Suas mãos estavam encobertas por fogo e os olhos eram como estrelas cruéis.

Ele levitava, ofegante e ultrajado.

Mitch o encarou, um sorriso trêmulo cruzando seu rosto. 

Icarus apontou-lhe a tocha e a adaga, Hesper se armou com mais uma flecha enquanto Seréfone rosnava como um grito de guerra. Ariadne, bem no meio deles, acendeu sua coroa como um farol e brandiu o tirso.

O TEAR SERÁ MEU, VERMES! SEUS JOGUETES, ESFORÇOS E TRAMAS EMPALIDECEM FRENTE AOS MEUS DESÍGNIOS! 

A voz dele os atingiu com uma onda de calor, seu poder se espalhando pelo ambiente como o fogo roubando oxigênio.

Um estalado saiu da língua de Ariadne.

- Mais uma ameaça que vem do fundo de sua própria insegurança. - a voz dela serpenteou adiante, o ar ao seu redor se tornou um tom luminoso de lavanda. Seus ferimentos foram sumindo e ela foi ficando maior lentamente. - Vocês conhecem sua missão, meio-sangues. E vocês conhecem o inimigo de vocês. Diante de mim, vocês já provaram serem maiores que seus medos e em meu labirinto, se encontraram mesmo quando tudo parecia perdido.

A deusa bateu com o tirso no chão, espalhando sua luz lavanda por todo o ambiente e suprimindo o poder do feiticeiro. Aëetes, bem no epicentro do local, pareceu um pontinho luminoso e raivoso. Como uma criança fazendo birra no canto da sala.

Não ousem esquecer de quem são. 

ELES NÃO SÃO NADA COMPARADOS A…

Ariadne não o deixou completar, ela arremessou seu tirso como um meteoro púrpura e brônzeo de puro poder. O feiticeiro moveu as mãos e tentou pará-lo com sua mágica, mas foi atingido e derrubado mesmo assim. 

A deusa sorriu para os heróis e os meio-sangues logo entraram em ação.

Hesper foi a primeira, mirando a flecha bem contra a forma chamejante do inimigo e usando mais uma de suas munições especiais. Ela gritou: - Arkýs! - “Rede!” e viu o projétil explodir em uma só onda de filetes metálicos.

Aëetes foi jogado ao chão por um instante, grunhindo de dor e raiva, mas logo explodindo a rede e se libertando. Mas o instante foi suficiente para Seréfone, que avançou com garras em riste e cruzou a sala como um vulto de movimento.

Ela enfiou ambas no peito dele, rugindo em sua face ao passo que a luz ao seu redor aumentava, ameaçando vaporizá-la. 

Icarus moveu sua tocha e conjurou com toda sua força: - SKOTON KIKLISKO!

“CHAMO-TE, TREVA!” 

Suas sombras se projetaram sob a forma da empousa, que viu um véu escuro tomar a forma de várias garras similares às suas. Elas envolveram os ombros, pernas, cabeça e torso do Rei-Bruxo, tragando-o para baixo e consumindo sua luz por alguns instantes.

ORA SEU…!

Mais uma flecha o atingiu no peito, Hesper armou outra e disparou, sem parar nem um instante. Seus grunhidos de dor ocupando as palavras e consumindo a chance de que os feitiços fossem conjurados.

Mitch encarou seus amigos ao ataque e ouviu a deusa dizer: - Me concede a honra, Mitchel Faircreek?

Ele piscou e fitou o mesmo ponto para onde a deusa apontava, com a última peça entre os dedos.

Era o quebra-cabeças, a forma alva do Touro de Creta cintilando nele.

Mitch apanhou-a velozmente e a encaixou no lugar.

Os contornos do tapete de pecinhas vibraram feito a água de uma lagoa atingida por uma pedra. Ariadne sorriu ao lado de Mitch enquanto ambos viam o enorme touro ganhar vida e se erguer do quebra-cabeças.

- Porra, eu quero um desses! - falou o filho de Laverna.

A deusa deu uma triunfante risada e disse: - Quem sabe algum dia, Mitch. Foi bom te conhecer, criança corajosa. - ela piscou e saltou para o touro, se amparando em seu pescoço forte e dizendo: - Até mais ver e boa sorte! Que os Deuses lhe sejam propícios!

E então, a Senhora do Labirinto deu um tapinha no enorme Touro de Creta, que mugiu como um pesadelo e investiu adiante em altíssima velocidade. Mitch os assistiu se afastando e reparou no quão acelerado estava seu coração. 

Aquele confronto tinha lhe exaurido, por dentro e por fora.

 

Icarus viu Seréfone golpear Aëetes mais uma vez e grunhir de dor. A empousa deu um brado feroz e sentiu a magia crescente do filho de Hélio cobrir sua silhueta com um halo cada vez mais visível.

Até mais, filho de Hécate!

A voz desencarnada dela soava altiva e respeitosa, a vampira atacou, mas o inimigo  se levantou em um sobressalto e emanou uma onda de calor fumegante, tanta que Icarus cobriu os olhos.

O Rei-Bruxo rosnou enquanto a empousa virava poeira finalmente, sendo alvejado por mais uma seta de Hesper e grunhindo. Icarus se postou ao lado da amiga, exausto por tanto utilizar magia e incomodado de ver o inimigo ainda de pé.

Eu vou matar cada um de v-

MUUUUUUU! - berrou o Touro de Creta, chifres chocando-se com as costas do rei e o atropelando com tudo.

Ariadne gritou: - IRRÁ!!! - enquanto arrastava o Rei-Bruxo com a cara no chão, para longe da arena enquanto deixavam um rastro de ícor sobre os ladrilhos. - ATÉ MAIS, MEIO-SANGUES! BOA SORTE!

Mitch se juntou aos amigos, vendo a deusa sumir no horizonte cada vez mais longe enquanto seu brilho lavanda aumentava, como um filete de aurora riscando a vista antes do amanhecer.

Ele respirou fundo e guardou sua sica na forma de corrente mais uma vez. Suas mãos se apoiaram nos ombros de Hesper e Icarus, que o fitaram com rostos igualmente cansados. As horas que passaram ali, mesmo sob a distorção mágica de tempo, estavam bem visíveis.

Eles passaram por muito.

- Quero dormir. - murmurou o filho de Laverna.

Ambos meio-sangues assentiram de acordo, igualmente exaustos.

O céu ao redor deles foi sendo tomado por luz e os ladrilhos foram sumindo no horizonte. Os meio-sangues fitaram a luminosidade púrpura encobrir tudo enquanto sumiam naquele amanhecer súbito provocado pela deusa.

Suas silhuetas se misturaram à luz e sumiram no segundo seguinte.

[...]

Mitch piscou os olhos, reparando que estavam de volta a casa de Icarus.

Mais especificamente, eles estavam em seu quarto, todos os três jogados sobre a cama do feiticeiro enquanto o anoitecer caía na janela.

Hesper respirou fundo e soltou os cabelos, Icarus repousou a cabeça em um travesseiro e abraçou sua adaga. Mitch envolveu os joelhos com os braços e respirou fundo, sentindo o cansaço nos ossos e na mente, como um eco fantasma de tudo o que passaram nos últimos dias.

- Vou tomar um banho. - decidiu Hesper, se levantando e parando no batente da porta ao vê-los calados e quietos. - Ei, meninos, nós conseguimos.

Mitch a fitou com um sorriso frágil no rosto, Icarus apenas arrancou o casaco de franjas e o arremessou contra o guarda-roupas. Ele grunhiu para si mesmo e encarou a amiga, fazendo um joinha com as mãos enquanto mantinha a cara emburrada e guardava a adaga sobre a escrivaninha.

- Vamos dormir juntos? - perguntou, mais frágil do que pretendia.

Mitch e Icarus se encararam, assentindo vagarosamente e retomando os olhares para ela.

- Obrigada. - disse, sumindo logo em seguida.

Eles ficaram calados pelos segundos seguintes.

Minutos se estenderam entre ambos, calados enquanto alternavam idas ao banheiro para se lavarem. Os reflexos no espelho pareciam mais velhos por alguns segundos, mas o filho de Laverna sabia que era só o cansaço.

Depois, retornaram ao quarto, respirando fundo enquanto processavam tudo o que passaram.

A cabeça de Mitch repousou contra o travesseiro, seus olhos se fecharam por alguns segundos. O coração em seu peito ainda pensava estar no meio de um confronto por sua vida.

Unus, duo, tres, quattuor, cinque…

Sua voz começou contagem em latim, respirando fundo no dez. 

Ichi, ni, san, yon, go… - a voz de Icarus o interpelou, seu sotaque ressoando contra os ouvidos do ruivo com o repentino japonês. - Roku, shichi, hachi, kyuu to juu. 

Mitch se virou para direita, vendo o feiticeiro repousando na mesma posição que ele e sobre o travesseiro. Ele o fitou de volta, logo respirando fundo como o filho de Laverna fizera antes.

Eles se olharam por longos segundos, mais dez pelo menos.

E respiraram juntos mais uma vez.

- Você é corajoso, Faircreek.

- Tu não sabe quantas vezes pensei em largá-los lá. - admitiu, quase choroso. - E eu teria o feito no Labirinto, lembra? Só não consegui.

Icarus negou com a cabeça e estendeu a mão, tocando no queixo dele com o polegar. A sensação do toque viajou pelo rosto do ruivo imediatamente, rubor tomou-lhe as bochechas.

- Mitch, aquilo foi um trauma. Seu corpo reagiu a ele. Só isso. - disse o garoto, a voz baixa e calma tal qual um abraço. O ruivo conteve um soluço na garganta: Ele gostava tanto de Icarus. - Você ainda foi o máximo lá.

- E você também. E a Hesper, também! - Mitch deu um sorriso sôfrego, lágrimas tênues brilhando no rosto. - Para um bando de desajustados, até que somos legais.

- Concordo. - E ali estava, o precioso sorriso de Icarus, mais uma vez premiando-lhe o rosto. - Mitchel…E-eu sei que posso ser meio idiota e abrasivo…Mas…

- Por favor, me chame de Mitch. Só Mitch.

- Só Mitch, então.

O ruivo revirou os olhos.

- Ah, vai se ferrar, Asato.

A risada grave de Icarus gorgolejou entre eles, seu polegar passeou pela bochecha de Mitch e ele respirou fundo.

- Eu estou tentando dizer, seu grandessíssimo idiota, que gosto mais de você agora que sei quem você é.

Mitch ficou vermelho como um pimentão.

Ele limpou o rosto em seguida e não conseguiu conter o soluço. Icarus o fitou, um tanto perdido.

- D-disse algo errado?!

- O quê? N-não! - Mitch estava chorando tanto. - É só uma das coisas mais legais que…Eu acho que nunca ouvi alguém…Ah, você entendeu!

Icarus assentiu velozmente e então, o abraçou forte.

- T-também gosto muito de você.

A voz de Mitch se abafava no abraço, que se apertou no segundo seguinte enquanto os braços de Icarus Asato envolviam seu tronco.

Os rostos deles se encostavam, o frio gentil foi sumindo enquanto o coração de ambos ribombava na caixa torácica de cada um. Tão próximos que os batimentos se misturavam em uma sinfonia no escuro.

- Posso t-te beijar? - pediu Mitch, fitando a feição do garoto loiro e segurando o fôlego em seguida.

Icarus assentiu devagar e inclinou o rosto na direção dele.

Os lábios de Mitch o encontraram, os olhos se fechando imediatamente enquanto a textura do movimento os envolvia ao som de seus próprios corações. 

Um beijo, depois outro, e outro, jogados no meio do abraço.

Os dois se encararam, a luz do abajur próximo lhes cobria com uma sombra gentil e preguiçosa. Mitch repousou a cabeça no peito do feiticeiro e respirou fundo, sentindo seus braços ainda o trazendo para perto.

Eles ficaram alguns minutos calados, as horas assentando sobre seus corpos. O pensamento de como quase morreram as vezes se fazia presente. Mitch abraçava Icarus mais forte quando lembrava de seu corpo pairando diante de Aëetes.

Um suspiro escapou de sua boca, ele beijou o filho de Hécate na bochecha e assistiu sua face pacífica à meia-luz. 

- Ei, vocês! Par de boiolas! - falou Hesper, se aproximando já em trajes mais confortáveis. - Abram espaço.

- Quanta homofobia. - zombou Mitch, se afastando e estendendo mais um dos travesseiros para ela. 

Hesper deu risada e puxou sua máscara de dormir, seu pijama imitava pequenos pinheiros e era estampado com guaxinins.

Eles se encararam após repousarem sobre a cama.

Mitch deu um cutucão carinhoso na caçadora e disse com um sorriso idiota no rosto: - O quê acha do casal?

- Por Afrodite…- murmurou Icarus, revirando os olhos e escondendo o rosto nos cabelos ruivos do filho de Laverna. 

- São duplamente irritantes. - falou, cobrindo o rosto com a máscara e respirando fundo. - Obrigada por hoje, de novo.

- Estamos aqui. - constatou Icarus, apertando Mitch contra si e respirando fundo.

O cheiro de xampu encheu suas narinas.

Mitch se espreguiçou e voltou a abraçá-lo.

Hesper sorriu e se cobriu.

MITCH.


Notas Finais


*Música*
- Aëetes, o Rei das Cinzas vs Mitch, Icarus e Hesper - https://open.spotify.com/track/3BoRzzNHlOqDu5hpqKJxXy?si=cd8147abb70e438a
- Suor e triunfo/A esperteza de Mitchel Faircreek - https://open.spotify.com/track/0bLjwGh7rtnDZrwbmF31ge?si=c71e0b4fbbf849c8
- Em casa, juntos - https://open.spotify.com/track/4uJebQoHJRosUsCKmktteK?si=daf4729c39ea488b

*Glossário*
- Spartoi (Singular: Spartos) - Um soldado-esqueleto nascido da terra. No mito original, Aëetes planejava matar Jasão com eles, instruindo-o a plantar dentes de drakon na terra, mas Medéia o salvou lhe ofertou uma solução e o salvou na ocasião.

É isto, pessoal. Estamos oficialmente bem na metadinha da história com o encerramento do Arco do Labirinto. O próximo arco é mais voltado para a busca ao Copo de Hélio e em outros vilões enquanto Aëetes faz seus preparativos para rumar ao Mundo Inferior.
Espero que estejam gostando.


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