Eddie Kaspbrak é meu melhor amigo desde que me lembro, eu o amo. Até esse ponto, não há nada demais, afinal, garotos também amam seus melhores amigos. Vocês provavelmente não vão ouvir muitos dizendo isso em voz alta, mas é a verdade, e Eddie sabia. O que me assusta não é amá-lo, pois isso é algo natural (se você não ama seus amigos mais próximos, isso sim é estranho), mas a forma como o amo me parece incomum.
Embora eu amasse Bill, Beverly, Ben, Stan e Mike – sim, eu amava todos eles do fundo do meu coração (e quero me matar por dizer isso, eca) –, com Eddie era diferente. Meu amor por ele não era igual ao que eu sentia pelo resto dos Losers, não era do tipo que me fazia apenas querer tê-lo por perto e me divertir com ele. Era mais algo como o amor mostrado naqueles filmes melosos que a minha mãe assiste.
Mesmo que eu não costume prestar atenção (Jesus, não), um dia desses acabei vendo uma ou duas cenas de Titanic enquanto Maggie Tozier, a mulher que me botou no mundo, fungava e lágrimas caíam de seus olhos. O que me chamou atenção não foi o romance, obviamente, mas sim o naufrágio. De um jeito ou de outro, acabei parando para ver o desfecho daquilo tudo. Apesar de ter ficado levemente indignado com o final do filme (o Jack cabia naquela porra de porta sim), me vi ponderando acerca de algumas questões que se formaram na minha mente por conta da obra.
Fiquei me perguntando o que faria no lugar daquelas pessoas. O que faria no lugar da Rose – em um universo alternativo em que aquela porta realmente não tivesse espaço para dois –, então imaginei o que faria caso corresse o perigo de perder alguém daquela maneira terrível. E quando pensei nesse alguém hipotético, somente uma pessoa me veio à mente. O mesmo nome que está no topo do primeiro parágrafo: meu melhor amigo, Edward Kaspbrak.
Quando me dei conta dos pensamentos estranhos que estava tendo, tive vontade de comer meu próprio pé. Contudo, o que foi pensado, jamais pode ser “despensado”. Essa palavra provavelmente nem existe, mas nenhuma existia até ser criada, certo? Enfim, a questão é que estou amando meu amigo como Rose amava Jack, e mais, acho que, se fosse eu no lugar dela, sequer teria sobrevivido após perder a tal pessoa.
Para dizer em poucas palavras, estou fodido.
Depois dos ocorridos daquela tarde em que minha ficha caiu, ou foi violentamente derrubada, não consigo mais ver Eddie da mesma forma. O pior é que ele era inteligente e já tinha ciência de que algo havia mudado. Um dia desses, quando estávamos voltando da escola lado a lado, ele me surpreendeu com uma pergunta.
“Por que anda tão calado, Boca de Lixo?”, questionou. Eu, que não conseguia mais fitar Eddie por muito tempo, acabei desviando o olhar.
“Vocês vivem me mandando calar a boca e agora me vem com essa, Eds? O que houve com o 'Beep-beep, Richie'?”, devolvi a questão, meio emburrado.
Eddie não respondeu, nem mesmo reclamou por eu tê-lo chamado pelo apelido que diz odiar.
•••
— E então, meu bom Richard, já sabe quem vai levar pra festa da El? — A voz de Beverly soou ao meu ouvido e seu braço pesou ao redor dos meus ombros.
— Por que eu precisaria de um par para uma festa de aniversário? No entiendo. — Eu realmente não entendia.
— Porque vai ser no dia 14 de fevereiro, ou seja, dia dos namorados. Além disso, esse vai ser o tema da festa, você estava lá quando ela nos avisou. — Nesse momento, Eddie nos alcançou e começou a andar do lado de Beverly. — Onde você anda com a cabeça, Richie Tozier? — indagou ela, sorrindo.
— Pergunta pra mãe do Eddie — respondi, vendo Eddie revirar os olhos diante do meu comentário infame.
— Vai se foder, Richie — disse Eddie, e nós três rimos.
— Certo, garotos, adoro vocês, mas preciso passar na biblioteca pra pegar uns livros. Vejo vocês depois. — Beverly se despediu, antes de virar à direita no corredor, deixando-nos à sós.
Eu abracei Eddie de lado, como estava acostumado a fazer. Meus batimentos acelerados, entretanto, não eram algo costumeiro. Eddie suspirou, mas ambos sabíamos que ele não estava realmente irritado, igual a quando eu o chamava de 'Eds'.
— Então, com quem você vai à festa da El? — perguntei, como quem não quer nada.
— Não vou — devolveu ele, fugindo do meu toque.
— Por que não? Já tem planos pro dia dos namorados? — eu quis saber, olhando na direção oposta à ele.
— Não exatamente. Se eu for, sei que vou acabar ficando de vela pra todo mundo. — Eddie parecia meio desconfortável de dizer aquilo.
— Você não tem par? Isso é bom porque eu também não tenho. Nós podemos ir juntos. — E quem sabe eu poderia segurar sua mão na entrada como os casais fazem, imaginei, e ri de mim mesmo por ser tão ridículo. — Sabe, pra não acabarmos no meio da troca de saliva de algum casal.
— Que susto. Por um segundo pensei que fosse me chamar pra ser seu par. — Eddie riu. Eu o acompanhei, embora sem a mesma animação.
— E aí, o que me diz, Eds?
— Acho que... — Uma pausa contemplativa. — Ok...?
•••
Faltavam duas horas para a festa quando Mike (o meu irmão, não o Mike Hanlon) veio me apressar. Isso tudo porque ele ansiava para enfiar aquela língua dele na boca da El quando achasse que ninguém estava olhando.
Me arrumei com toda a preguiça do mundo e, ao me olhar no espelho, tive que admitir para mim mesmo que não estava nada mal. As sete listras no centro da camiseta cinza tinham as cores do arco-íris – muito gay, mas não tão gay quanto estar apaixonado por Eddie. A jaqueta preta e a calça de mesma cor rasgada nos joelhos me faziam parecer um pouco mais hétero, mas não se enganem, senhoras e senhores, é alarme falso.
Será que é assim que funciona na cabeça dos idiotas que acham que aparência tem alguma com sexualidade? É assim que eles seriamente raciocinam? Quer dizer, será que eles raciocinam?
— Já terminou aí? — Mike apareceu na porta do meu quarto, em toda a glória de sua camisa rosa pastel passada por dentro da calça. Naquele momento, podia jurar que, entre nós, ele era o irmão que beijava rapazes, porém, o nome de Eddie brilhou na tela do meu celular e me convenci de que esse tinha que ser eu.
— Já. — foi minha réplica.
Atendi a ligação, Eddie disse que estava pronto.
•••
A decoração estava bonita, principalmente levando em consideração que foi montada, basicamente, por Mike e seus amigos. Haviam corações e bexigas vermelhas por todo lugar, tudo combinando com o tema escolhido.
No geral, a festa estava bem agradável. A música era boa e o pai de El tinha pegado o turno da noite na delegacia, um tal de Steve ficou encarregado de ficar de olho na gente, mas não era muito difícil dobrá-lo. Não demorou muito até que o álcool, dentre outras substâncias, começasse a deixar o clima mais leve no local.
— Aqui, trouxe um pra você também. — falei ao chegar em Eddie, que ficou me esperando enquanto fui pegar algo para bebermos.
— Isso é vodca? — Ele cheirou o líquido. Me sentei ao lado dele.
— É um alexander, mas sim, tem vodca dentro. — Dei de ombros, bebericando o drink.
— Jesus, Richie! Você tem noção do estrago que o álcool pode causar no nosso organismo?
Eu rolei os olhos.
— Eu já sei, Eds. Você diz a mesma coisa sobre o cigarro. — Fiz uma pequena pausa. — E sobre a maconha.
— É porque é verdade, seu imbecil. Não é minha culpa que você só goste de coisas que vão acabar te matando — comentou ele, a última parte saindo mais como um resmungo.
— Isso não é verdade — exprimi. Olhei para o céu e tive uma ideia. — Já sei! Se você beber tudo, te mostro uma coisa.
— O que é? — Eddie nunca foi bom em esconder coisas, sobretudo a curiosidade.
— Não posso dizer, Eds, isso acabaria com a graça — constatei o óbvio.
Edward me olhou com toda a incerteza do mundo e, por mais de um segundo, duvidei de que ele faria mesmo aquilo. Todavia, no instante seguinte, lá estava ele virando o copo, fazendo com que todo o conteúdo fosse despejado em sua garganta.
— Porra, isso queima.
Não estava tão forte assim, mas como aquela talvez fosse a primeira vez de Eddie bebendo, lhe daria um desconto.
— Não acredito! Meu menino já é um homem, — fiz uma imitação medíocre da voz de Sonia Kaspbrak. — estou tão orgulhosa de você. — Apertei a bochecha dele de leve.
— Para! — Ele empurrou minha mão. — E se isso era pra parecer a minha mãe, foi péssimo.
— Certo, Eds. — Fiquei de pé, logo segurando a mão de Eddie e puxando-o para que ele fizesse o mesmo. — Vamos. — Minha mão continuou unida à dele conforme o guiava até sua recompensa.
— É bom isso valer a pena. — disse Eddie.
— Vai sim, pode apostar seu couro nisso.
•••
Poucos minutos mais tarde, eu e Eddie Kaspbrak estávamos em cima do telhado da casa de Jane Hopper – mais conhecida como Eleven, ou simplesmente El – depois de nos arriscarmos subindo uma escada de madeira nada confiável.
— Como sabia sobre este lugar? — interrogou Eddie, hipnotizado pelo céu noturno. Eu sorri, também admirando a vista.
Era simplesmente incrível, dava para ter uma visão ampla da cidade de lá. As luzes multicoloridas dos prédios davam um ar mágico. A noite estava especialmente bonita naquela ocasião, cheia de estrelas ao redor de uma lua em quarto minguante.
— Mike me falou. Ele veio aqui com El, algo assim.
— É lindo. — Eddie sorriu, e de repente eu não tinha tanta certeza de que o céu era a maior beleza ali. — Mas por que me trouxe aqui?
— Ora, porque você cumpriu o desafio e...
— Richie — Eddie me interrompeu em tom repreensivo.
Precisei respirar profundamente antes de continuar. Certo, Richie, é agora ou agora.
— Tá bem, eu vou contar. Promete que não vai rir de mim?
— Você é o palhaço entre nós, quem deveria estar preocupado em ser zoado deveria ser eu — proferiu ele.
— Ok — concordei, em seguida, ergui meu mindinho. Eddie, já sabendo o que fazer, envolveu-o com seu próprio dedo. — Olha, eu não quero que ache que sou estranho, eu não sou, tá? É só que a Rose é tão burra, tipo, obviamente cabiam os dois naquele pedaço de madeira e o Jack morreu... E eu fiquei pensando “nossa, ela deve ter ficado muito mal” e quando fui ver...
— Richie. — Eddie segurou meus ombros, seus olhos fixos nos meus. — Eu não estou entendendo uma palavra.
Minha respiração estava descompassada, eu não sabia como prosseguir. Céus, eu não sabia nem por onde começar. Eu só queria abraçá-lo e gritar aos quatro ventos que provavelmente gostava dele mais que ele de mim.
— E-Eddie, e-eu... — Merda, agora entendo o Big Bill. — Caralho, eu não consigo.
— O quê? Me fala. — Dava para sentir a preocupação em sua voz. Eu detestei a mim mesmo por fazer aquilo com ele.
Sem saber que palavras usar ou como esconder que havia algo a ser dito, passei meus braços ao redor da cintura de Eddie. Foi repentino e diferente de qualquer abraço entre nós, mais íntimo, mais especial. Pela primeira vez, parei para reparar no aroma delicioso dos cabelos de Eddie, ou no quão frágil ele parecia entre meus braços. Ainda que confuso, Eddie correspondeu.
— Aconteceu alguma coisa, Rich?
— Aconteceu. — Afastei-me moderadamente dele, minhas mãos continuaram no mesmo lugar. — Sabe que gosto de você, né?
— Acho que sim, somos amigos. — Eddie afirmou.
— Isso. Somos. — Pensei um pouco. — Mas e se eu gostar mais, tipo, muito mais?
A boca de Eddie se abriu um pouco em razão da surpresa.
— Tudo bem — pronunciou, sem me olhar diretamente.
— Tudo bem?
— É. — Eddie parecia tenso.
— Você... Gosta de mim também? — perguntei. Os olhos de Eddie dobraram de tamanho, ele parecia prestes a desmaiar.
Eddie não respondeu verbalmente, limitou-se a assentir com a cabeça. Achei que meu coração fosse pular para fora.
— Ah, sério? — Eu queria ter mesmo certeza. Se ele estivesse brincando ou houvesse entendido errado, eu estava pronto para pular daquele telhado.
Eddie balançou a cabeça novamente, em afirmativa. Eu estava feliz, eufórico. Por dentro, gritava e soltava fogos de artifício, porém, do lado de fora, um silêncio desconfortável pairava sobre nós.
— E agora? — interpelou. Eu não fazia ideia.
— Vamos nos deixar levar pelo instinto, eu acho — sugeri, meu rosto estava cada vez mais perto do dele.
— Instinto? — As mãos de Eddie subiram para minha nuca, um arrepio percorreu meu corpo por completo.
Subitamente, a coisa mais estranha do mundo aconteceu.
Senti meus lábios encostarem com suavidade nos do meu melhor amigo (agora esse título não me parece mais tão apropriado), que eram perigosamente macios. De olhos fechados, aprofundei o contato, pois a boca de Eddie era muito bonita para não ser beijada apropriadamente. Ficamos assim por algum tempo. Quando nos afastamos, minha pulsação estava totalmente descompassada, a adrenalina tomava conta de mim.
— Isso foi... — Eddie não completou a frase. Não o julgo, eu também não saberia definir.
— É — concordei, meio ofegante. — Quer fazer de novo?
Eddie foi quem me beijou dessa vez. Os lábios dele se abriram levemente e vi a oportunidade perfeita para evoluir aquele selar para algo mais intenso. A boca de Eddie foi invadida por minha língua, que procurou a dele com certa pressa. Ambas se envolveram deliciosamente, movendo-se em completa sincronia.
Eu ardia em um calor infernal e torcia para que Eddie sentisse o mesmo, para que pudéssemos queimar juntos. Os dedos dele se enroscaram no meu cabelo, ele puxou minha cabeça para trás de modo possessivo. Buscando por mais proximidade, trouxe Eddie para meu colo, minha temperatura corporal subiu disparadamente.
Separei-me de Eddie apenas para tirar meus óculos, deixando-os esquecidos entre as telhas.
— Gosto de você assim — disse Eddie, ele mantinha as mãos em mim. — Também gosto de você de óculos, mas é que é bom ver seus olhos. São bonitos, e também dá pra saber quando você está dizendo a verdade.
— Você duvida de mim, Eddie Tozier?
— “Eddie Tozier”? — interrogou.
— Acostume-se. Esse será seu nome um dia, sabe, quando nos casarmos — articulei, soando o mais afetado possível.
— Cristo, por favor, não. — Eddie riu, eu fiz o mesmo. — Sendo assim, não vou casar com você, sinto muito.
Pus uma das mãos no peito, fingindo uma careta de dor.
— Quer dizer que está apenas me usando, Eds? — Meu tom também foi choroso, Eddie gargalhou.
— Algo assim. — Nos beijamos outra vez.
Houve um quarto beijo, um quinto, um sexto, até que acabei perdendo a conta. O relógio corria, não obstante, o tempo parecia ter parado, ao menos para mim.
•••
Eddie descansava em meus braços, observando a paisagem tranquilamente, eu fumava. Ele ainda se encontrava em meu colo e nossos dedos permaneciam entrelaçados. Se alguém me perguntasse como acabamos daquele jeito, eu certamente não saberia responder. Estava adorando ficar assim com ele.
— Ei, Eddie...
— Hum? — Eddie brincava com minhas mãos.
— Foi seu primeiro beijo? — Não pude conter a curiosidade.
— Sim. — Ele riu. — Não acredito que fui escolher logo você pra beijar, Boca de Lixo. — Trocamos um selinho demorado. — Viu? Sua boca tem gosto de cigarro.
— Tem razão, sua mãe odiaria saber que o filho dela anda por aí trocando saliva com Richie Tozier. Ela ficaria preocupada de você pegar alguma doença — eu disse e ri.
— Acho que ela odiaria de qualquer forma.
— Você diz por eu ser um cara? — perguntei, Eddie afirmou. Aquilo me irritava, o fato de tratarem como algo errado. — Se for pra minha sogra me odiar, quero que ela me odeie por quem eu sou. — Parei um pouco, ponderando. — Acho que minha mãe vai gostar, ela vai pensar “pelo menos ele não vai engravidar ninguém” — fiz minha voz soar mais aguda para simular a da minha mãe. Eddie soltou uma risada alta.
— Meu Deus, Richie.
Coloquei o cigarro nos lábios enquanto tirava o celular do bolso, desbloqueando-o. Eddie fitou a tela, focando no horário.
— Precisamos voltar, já devem ter sentido nossa falta — ele avisou. Eu já sabia, só não estava com a mínima vontade.
— Só mais uma coisinha. — Abri a câmera do aparelho, procurando, na sequência, uma posição em que só nossas mãos aparecessem.
O flash indicou que a foto havia sido tirada. Eddie sorriu para mim, era um sorriso novo, assim como tudo entre nós seria agora. Era, de algum jeito, diferente, inédito.
— Memórias — justifiquei, sorridente.
— Agora podemos ir? — Eddie apressou. Apaguei meu cigarro, jogando-o lá embaixo. Ergui o indicador, como quem pede para aguardar. Eddie esperou para ouvir o que eu tinha a dizer, foi quando uni nossos lábios uma última vez. A carinha fofa que ele estava fazendo clamava por um beijo.
— Agora sim.
Eddie se levantou e colocou os óculos de volta em meu rosto. Nós descemos dali rapidamente.
•••
— O-onde v-vocês e-e-estavam? — perguntou Bill quando demos de cara com ele na sala de estar.
— Perdidos — eu disse.
— Na cozinha — disse Eddie.
O problema é que falamos quase ao mesmo tempo.
— Pe-perdidos n-na cozinha? — Bill desconfiou.
— Exatamente, Big Bill. Você é mesmo inteligente, meu amigo. — Contornei os ombros de Bill com um braço, olhando ao redor. Apontei para uma direção aleatória, fazendo minha melhor expressão surpresa. — Veja, aquela não é a Bev?
Bill desviou a atenção para o local indicado, nos dando a chance perfeita para uma fuga em grande estilo. Busquei a mão de Eddie e saí guiando-o para longe dali. Ouvi ele deixar escapar algumas risadinhas atrás de mim.
•••
Mal dormi naquela noite, borboletas faziam a festa no meu estômago. Estava morrendo de ansiedade para saber como seria no dia seguinte. As coisas mudariam entre nós? Será que ele agiria naturalmente, como se nada tivesse acontecido? Ou pior, e se ele se arrependesse e decidisse me ignorar?
Em meio a esse surto maluco, peguei no sono. No outro dia, todos os acontecimentos da noite anterior pareciam não passar de um sonho muito bom, cheguei a duvidar de que algo tivesse ocorrido de fato.
Entretanto, ao chegar na escola, tive a confirmação que precisava para acreditar que foi tudo bem real. No corredor, Eddie sorriu para mim de longe e pegou o celular, fazendo algo com o eletrônico. Logo depois, senti meu próprio telefone vibrar no bolso da calça. Ao checar, lá estava uma notificação de Eds, que era como estava salvo seu contato. “Vestiário. Agora.”, dizia a mensagem, sorri para a tela.
Eu não demorei a chegar no lugar indicado.
— Uau, isso foi rápido — pontuou Eddie. Ele se aproximou para arrumar a gola de minha camisa, que provavelmente estava retorcida.
— 'Tava com saudade — afirmei.
— Eu também.
Eddie ainda segurava minha gola quando trocamos o primeiro beijo do dia. Uma de minhas mãos pousaram delicadamente sobre sua cintura, a outra segurou seu queixo. Foi um toque lento e cheio de sentimento. Não fazia muito tempo, mas tínhamos realmente sentido falta um do outro.
— Acho que não devíamos estar aqui — ele comentou, rindo um pouco.
— Não se preocupe, eu já pensei na desculpa perfeita. É só dizermos que você caiu e se machucou, nós viemos aqui procurar coisas para fazer um curativo — declarei meu plano, Eddie achou graça.
— E se pedirem pra ver o machucado, gênio?
Raciocinei por um momento.
— Saímos correndo — formulei, elevando o indicador como quem diz algo intelectual.
— Ótimo plano. — Eddie me abraçou mais forte. — Me deixe aproveitar mais um pouco, só poderemos ficar sozinhos de novo daqui a horas.
— Nem me fale. Por mim, mataria todas as aulas pra ficar assim com você.
Infelizmente, precisávamos ir para a sala, em outras palavras, eu não podia continuar com Eddie pelo tempo que desejava.
Durante as aulas, contava os segundos para a hora do almoço, pois sabia que, quando o sinal tocasse, eu poderia ver meu garoto de novo. Assim como Rose aguardaria a morte para rever Jack, eu teria de esperar o intervalo para reencontrar Eddie. Obviamente, esses dois sofrimentos eram bem distintos e não deveriam nem ser comparados. O meu era obviamente muito maior.
Quando eu e Eddie deixamos a escola, fui tentado a chamá-lo para ver um filme na minha casa. Já pode-se deduzir qual filme foi. Afinal, se essa história começou com Titanic, nada mais justo que terminar com Titanic, não?
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