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História O Veneno Que Não Mata - Ódio - História escrita por lilcyjn - Spirit Fanfics e Histórias
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História O Veneno Que Não Mata - Ódio


Escrita por: lilcyjn

Capítulo 1 - Ódio


Seria mais uma noite agitada, e Taehyun, como de costume, estava bebendo veneno esperando que aquele filho da puta morresse.

Ele estava se arrumando no camarim empoeirado da casa de shows, pensando em como tantas decisões imaturas haviam o levado até aquele momento miserável. Na verdade, Taehyun sabia como. Se lembrava exatamente de como suas asas foram cortadas e do momento que percebeu que estava preso em uma gaiola por ter sido um inconsequente.

Então o que lhe restava era continuar engolindo o veneno ácido que jamais mataria quem ele queria ver a sete palmos do chão.

E o nome desse veneno era ódio, quase como na metáfora de William Shakespeare. Ele se embebedava com a própria cólera e depois a vomitava em cadernos que nunca seriam lidos, esperando que sua arte se transformasse em sua salvação. Quantas músicas ele já não havia escrito? Quantas poesias?

A conta estava perdida em algum canto de sua mente miserável, mas não era como se isso fizesse tanta diferença. Taehyun vivia o mesmo dia todos os dias, despercebido como a sombra de um fantasma, mas amado como um troféu do atleta mais importante do país.

Isso fazia algum sentido?

Provavelmente não, mas, de novo, não fazia diferença.

Por isso, só permaneceu finalizando sua pele com maquiagem, porque precisava estar perfeito em cima do palco para ganhar a merda do dinheiro que nem poderia usar como quisesse. Nesses momentos, a vida de Taehyun começava a se passar na frente dos olhos dele, como uma tatuagem em seu cérebro que o impedia de esquecer que era o único culpado da própria desgraça.

Tudo começou quando tinha dezesseis anos, e estava cheio de sonhos e ambições. Taehyun sempre soube que queria ser cantor, mas, além disso, também queria ser uma estrela. Havia uma luz forte em seu coração que sempre lhe dizia que seria capaz de conquistar o mundo, e só precisava ter paciência para que finalmente conseguisse tudo que almejava.

Porém ele sonhou demais, e acabou esquecendo de colocar os pés no chão.

Ele cresceu cantando na igreja que seus pais frequentavam, e foi lá onde aprendeu tudo que sabia sobre canto e piano. Porém não era o suficiente, especialmente porque a igreja - e a religião, de um modo geral - o limitavam. Ele se sentia pequeno, sem identidade, apenas seguindo ordens e desperdiçando a voz linda que tinha.

Então não podia deixar de sonhar com algo maior. E essa ânsia lhe fez cair direto na armadilha de Damian, um homem quase dez anos mais velho que sabia exatamente como enganar um pequeno cordeiro.

Os dois se encontraram pela primeira vez na cidade em que Taehyun nasceu, quando havia acabado de terminar uma apresentação na igreja. Seus dedos estavam dormentes, e ele ainda se recordava de como sua garganta estava seca naquele dia, como se seu corpo estivesse prevendo o que aconteceria.

— Taehyun?

Taehyun provavelmente nunca esqueceria como aquela voz soou pela primeira vez chamando seu nome. Era desconhecida, porém tão forte e bonita que conseguiu ganhar seu coração antes mesmo de ver quem era.

Ele se levantou do banco do piano e olhou para trás, vendo um homem alto e extremamente lindo, vestindo um terno caro e exibindo um sorriso esmagador. Naquela época, foi o seu momento de filme. Seu príncipe encantado. Se ao menos soubesse que seria o seu pior pesadelo…

— Sou eu, quem é você? — Respondeu, curioso.

— Damian Jones, prazer. — Ele sorriu, estendendo a mão. — Sua voz é linda, você é um talento raro.

Taehyun perdeu o ar com o elogio e com o gesto, oscilando o olhar entre o rosto e a mão dele antes de, enfim, apertá-la.

— Muito obrigado… — Disse baixinho, ainda perdido sobre o porquê um homem tão arrumado queria falar com ele. Sua mão tremeu quando desfez o toque, parecendo estar preso em um transe.

— Eu sou um produtor musical em Los Angeles. — Ele disse, fazendo as orbes de Taehyun brilharem. — Mas pretendo me lançar na carreira de cantor, e quero alcançar o mainstream com meu primeiro álbum.

— Que incrível… — Taehyun balbuciou, ainda em choque. Nunca havia ouvido falar sobre ele, mas já estava encantado.

— Sim, pretendo ser incrível. — Riu. — Mas, agora que te ouvi cantar, tenho certeza que preciso de você para isso. Eu preciso de uma voz angelical assim ao meu lado.

E isso foi o suficiente para que o coração de Taehyun disparasse dentro do peito. Para um garoto de dezesseis anos, aquela era a chance perfeita. Ele simplesmente ignorou o fato de que havia acabado de conhecer aquele homem e não sabia porcaria alguma sobre ele, e apenas aceitou sem pensar duas vezes.

Seus pais foram totalmente contra, é claro. Ambos apoiavam o sonho do filho, mas não confiavam em Damian. Sua mãe lhe disse, desde o primeiro dia, que ele apenas se aproveitaria do seu talento e pisaria em cima de qualquer coisa que conquistasse depois, porque era isso que homens ricos faziam. Ela fez Taehyun ler cada cláusula do contrato proposto, mas nem mesmo a fidelidade de dez anos o assustou.

Taehyun estava cego de admiração. Cego de paixão.

Então ele foi embora de sua cidade natal antes mesmo de completar o ensino médio, e cortou laços com sua família.

Agora, aos vinte e dois, queria voltar para casa chorando igual uma criança teimosa, porque sua mãe estava certa em todos os conselhos e broncas que lhe deu. Damian fez de Taehyun a voz de fundo dele, a pessoa que estava sempre ao seu lado, mas sempre um pouco atrás, sentado no banco do piano e nunca deixando a própria voz se sobressair.

E como se não fosse suficiente, usou Taehyun como sua história de amor. Todos acreditavam que eles eram um casal apaixonado, e isso alimentava uma base inteira de fãs, ao ponto de que, se os dois se separassem, seria um completo desastre.

Taehyun temia ser odiado eternamente, porque sabia que o amor dos fãs por Damian era muito maior que o amor por ele, como se não passasse de um fetiche popular. Mesmo assim, Taehyun entendia os fãs, porque também já foi apaixonado por aquele monstro. Tão apaixonado que o deixou roubar tudo de si, até o resto de sua pureza, em um crime que a prova estava enterrada em seu âmago há anos.

Agora, tudo que restava para ele era o maldito piano e a sua linda voz.

— O show de abertura começa em meia hora. — Damian falou, entrando no camarim sem avisar, mesmo sabendo que Taehyun odiava quando fazia isso.

— Eu sei. — Respondeu, arrumando o cabelo.

— Falaram que a banda está começando a fazer sucesso. — Disse, se aproximando de Taehyun. — Estou pensando em chamar eles para minha gravadora.

Taehyun inconscientemente se afastou antes que ele lhe tocasse. Era comum que Damian invadisse seu espaço pessoal e agisse como se não fosse uma pessoa horrível.

— Já basta de escravos. — Respondeu, pegando sua mochila para sair do camarim antes que aquela conversa se estendesse.

O que não adiantou, é claro. Damian segurou seu pulso com força, o puxando em sua direção, e, em seguida, segurou sua mandíbula, o forçando a encará-lo.

— Nem pense em agir assim em cima do palco, ouviu? — Disse, o apertando ainda mais. — Um passo em falso e você já era, ultimamente você anda pior que o normal.

Taehyun cerrou os dentes, pronto para cuspir na cara dele, mas se segurou.

— Não se preocupe, eu ainda sou seu passarinho.

Passarinho era, ironicamente, o apelido que Damian o chamava na frente dos fãs. Taehyun achou lindo quando ele o chamou desse jeito pela primeira vez, mas agora entendia que havia sido proposital.

— Então continue na gaiola e se comporte. — Sorriu, daquele jeito psicopata que faria qualquer um querer vomitar, e o soltou em seguida.

Taehyun ainda cambaleou um pouco, mas não precisou de mais nada para que saísse correndo. A casa de shows estava cheia, então não poderia ir além da área reservada para artistas, mas já estava aliviado por não estar no mesmo cômodo que Damian.

Dessa forma, foi até o banheiro, pois precisava terminar de passar seu hidratante labial e dar uma última olhada na própria aparência. Lá, ele deixou a mochila em cima da pia e, quando a abriu, viu o frasco que sempre deixava guardado junto de sua maquiagem.

Cianeto de potássio.

Este era, de fato, um veneno que matava.

Ele havia achado esse frasco quando caminhava pelos subúrbios de LA há alguns meses, e o guardou como se fosse diamante. Infelizmente, tinha que mantê-lo bem escondido, pois corria o risco de ser descoberto carregando algo tóxico.

Taehyun queria saber se algum dia teria coragem de usá-lo para matar Damian, ou, pelo menos, se matar - ainda que suicídio fosse algo inimaginável para ele. Era difícil não pensar sobre essa possibilidade, mas também tinha medo de ser o único acusado, já que os dois viviam juntos quase o tempo inteiro.

Por isso, apenas se contentava em sonhar com o momento em que jogaria aqueles cristais de cheiro forte em alguma bebida e faria Damian engasgar na própria ganância.

Assim, guardou o frasco de volta e pegou seu hidratante labial, o passando em seguida. Ele estava bonito agora que a maquiagem cobria suas olheiras e seu cabelo estava arrumado, vestindo roupas leves e bonitas. Ao menos isso, pensou.

E quando estava prestes a ir embora, ouviu algumas vozes no corredor, conversando alto sobre alguma coisa. Taehyun abriu uma fresta da porta do banheiro e olhou naquela direção, vendo quatro garotos por perto. Devem ser da banda do show de abertura, ele pensou, prestando mais atenção

— Vocês viram que naquele camarim tem uísque? — Um deles disse. — E é do caro, Johnnie Walker.

— Caralho?! Deve ser do Damian e do namorado dele. Os dois são podres de ricos. — O outro respondeu.

— A gente devia ir lá e pegar um pouco, duvido que vá fazer diferença. — Um terceiro comentou.

Uísque, Taehyun repetiu mentalmente, ignorando até mesmo ter sido chamado de “namorado dele”. Damian devia ter levado aquele troço amargo que tanto gostava, mesmo sabendo que sempre desafinava quando cantava bêbado.

Porém isso acendeu uma luz na cabeça de Taehyun.

Aquela casa de shows estava lotada, e havia vários funcionários andando de um lado para o outro. Se colocasse cloreto na bebida dele, as chances de ser acusado de um crime seriam muito reduzidas e ele poderia se safar.

Como nunca havia pensado nisso antes?

Taehyun abriu a porta do banheiro com força, assustando os quatro garotos que ficaram paralisados no lugar quando notaram quem ele era. Porém estava tão focado, que apenas passou por eles como um furacão e voltou para o camarim, esperando que Damian não estivesse lá.

Para a sua sorte, o camarim estava vazio, e ele notou que o uísque foi colocado em cima de um apoio preso na parede. Taehyun ainda olhou para o corredor uma última vez, antes de fechar a porta e pegar o frasco de cianeto da mochila. Ele caminhou até a garrafa de uísque e a abriu sem pensar duas vezes, sentindo o coração acelerar.

Sua mente ficou em branco, porém precisava ter calma e pensar, apesar de toda a adrenalina. Ele inspirou e prendeu a respiração antes de destampar o veneno e jogá-lo por completo na bebida, para que não precisasse sentir o cheiro tóxico. Aquela era sua única chance, então, quando o tampou o uísque de novo, rezou para que qualquer Deus ouvisse seus súplicos.

E, alguns segundos depois, a porta foi aberta novamente.

Taehyun gelou, apertando o frasco de veneno vazio em sua mão. A pulsação em seu corpo era loucura, sufocava e fazia com que tudo tremesse.

— Taehyun? — Era uma voz feminina, e isso despertou Taehyun do próprio surto interno. — Precisamos passar algumas instruções sobre o show.

— A-ah, sim… — Respondeu, virando para trás. — Um instante, já vou.

— Estarei aqui esperando.

Taehyun assentiu, e só teve tempo de conferir se o uísque estava fechado mesmo antes de sair do camarim, tentando controlar a respiração. A staff o comprimentou melhor e andou com ele pelo corredor, avisando que o levaria para perto do palco, onde Damian também estava, mas Taehyun insistiu que ela falasse dali.

Ela relutou, mas cedeu quando entendeu que Taehyun não a acompanharia. De qualquer forma, não era algo tão importante, apenas informações básicas sobre o palco, instrumentos e saída de som.

Ele tentou prestar atenção, mas seu corpo estava tenso. É um crime, sua mente começou a repetir, como se quisesse puni-lo. Ele fez aquilo tão rápido que se sentiu angustiado, como se toda a coragem que teve estivesse se transformando em culpa.

E tudo piorou quando viu aqueles quatro garotos de antes andando em direção ao seu camarim. Taehyun arregalou os olhos, tentando se convencer de que eles não fariam a loucura de invadir um camarim, porém estava completamente errado. Um deles, de cabelo loiro, foi o primeiro a abrir a maçaneta, e os outros entraram lá com pressa.

Taehyun entrou em desespero, se xingando porque deveria ter previsto aquilo.

— Ainda falta muito? — Perguntou para a staff, tentando não parecer tão aflito.

— Só preciso falar sobre os seguranças que ficarão na frente da plateia. Caso haja invasão do palco, peço que se afaste, e, se preciso, volte para a área vip e deixe que os seguranças cuidem disso…

— Ok, entendi. — Ele respondeu, já se afastando. — Obrigado!

Ele ainda ouviu a mulher falar mais alguma coisa, porém já estava ocupado demais correndo de volta para o camarim.

E quando abriu a porta, a primeira coisa que viu foram os garotos da banda parados na frente da mesa onde estava o uísque envenenado. Não só isso, um deles também estava segurando o frasco na mão, prestes a bebê-lo.

— Não! Solta isso! — Taehyun gritou, assustando todos eles, principalmente o que segurava a bebida, pois a deixou cair na própria camisa. Um cheiro forte de amêndoas instantaneamente se alastrou pelo cômodo, fazendo com que eles tapassem o nariz.

Taehyun correu até eles e pegou o uísque com pressa, fazendo com que derramasse ainda mais no chão também.

— Vocês são loucos?! — Taehyun perguntou, gritando, e, em seguida, olhou para o garoto que estava segurando a garrafa. — Como você pega uma bebida assim? Porra!

Um silêncio ensurdecedor se instalou, porque, aparentemente, ninguém mais sabia o que falar. Taehyun estava tão alterado que nem conseguia sentir o cheiro de cianeto pelo camarim, e tudo que se passava em sua cabeça era como havia fodido ainda mais com sua vida, logo quando pensou que teria uma chance de se salvar.

Ele viu os quatro se entreolharem como se também estivessem com medo do que poderia acontecer, porém um deles, o que estava molhado com o uísque envenenado, deu um passo a mais na frente de Taehyun.

— O que tem aí? — Ele perguntou, jogando o cabelo loiro para trás. — Isso não tem um cheiro normal.

Taehyun sentiu o sangue congelar. Aquele poderia ser o seu fim, e, sem dúvidas, estava mais perto de uma prisão do que nunca.

— Só uísque. É do meu namorado. — Mentiu, odiando a certeza com que falou aquelas palavras falsas.

— Então beba. — O desafiou, olhando bem no fundo de seus olhos.

Taehyun abriu a boca para contestar, porém seus lábios tremeram. E tudo piorou quando uma nova voz surgiu no cômodo

— O que está acontecendo? — Era Damian.

Taehyun não conseguiu olhar na direção dele, ainda paralizado. Ele precisava fazer alguma coisa. Mas como poderia pensar em uma situação dessas? Era impossível, então ele só deixou seu corpo no automático e seus pés se moveram sozinhos até o banheiro do camarim, quase como um instinto de sobrevivência primitivo.

Ele se ajoelhou no chão, abriu a tampa do vaso sanitário e começou a despejar o uísque lá dentro, sendo sufocado com o tempo que levava para que o líquido descesse. O odor desagradável mais uma vez tomou conta do lugar, mas tudo que importava era conseguir se livrar do resto das provas do seu crime.

Enquanto isso, ouviu Damian tentar tranquilizar os garotos que estavam no camarim como o cavalheiro que era, contornando a situação para o lado dele. Taehyun sabia que estava ferrado em níveis estratosféricos, tão fodido que começou a rir quando finalmente esvaziou a garrafa, sentindo as lágrimas descerem pelo seu rosto.

Realmente, era mais um dia bebendo veneno esperando que aquele filho da puta morresse.

— Taehyun, o que você está fazendo aí? — Damian perguntou, parando na porta. Agora, só havia os dois no camarim. — Que porra de cheiro é esse?

Taehyun continuou rindo, e, por alguns segundos, pensou em quebrar aquela garrafa de vidro na própria cabeça, porém Damian a tirou de sua mão rapidamente e a colocou em cima da pia, parecendo ler seus pensamentos.

No entanto, logo depois, Damian o pegou pela gola, entendendo seu corpo e o olhando com orbes furiosas.

— Que porra aconteceu? — A voz dele soou como um rosnado do animal mais selvagem.

— Eu coloquei veneno no uísque tentei me matar. — Mentiu, agradecendo sua vista embaçada por não conseguir enxergar o rosto dele direito.

— Queria morrer em cima do palco? — Ele riu, segurando sua mandíbula de novo. — Já não basta ter me feito passar por esse vexame? O que acha que aqueles garotos vão dizer lá fora?

Taehyun quis rir de novo, porque não conseguia pensar. Era como se realmente tivesse ingerido aquele uísque envenenado, mas reprimiu as próprias reações antes que a violência se tornasse maior. Não era do seu feitio desistir de si mesmo assim, por mais que estivesse afundado na merda.

— Desculpa. — Disse, fechando os olhos e engolindo tudo que queimava em sua garganta. — Minha cabeça estava fora do lugar, eu…

— Você nunca usa essa merda de cérebro mesmo, só serve pra cantar. — O interrompeu, apertando seu rosto com mais força. — Eu não quero mais ouvir uma vírgula sobre esse assunto, não posso me estressar ainda mais ou isso vai arruinar o meu show. Se arrume de novo, sua maquiagem está um lixo que nem você. Vou ficar de olho.

E, pela milésima vez, Taehyun concluiu que Damian nunca morreria envenenado.

Ele era a porra do veneno em seu estado mais puro.

 

 

 

 

Reservado para: Dawn Kiss.

Era o que estava escrito na porta do camarim pequeno que separaram para a banda que faria a abertura do show principal da noite. Ela era formada por Kai, Beomgyu, Soobin e Yeonjun, os mesmos quatro garotos que causaram uma confusão por causa do uísque envenenado.

Eles ainda estavam sem reação, principalmente porque Damian havia aparecido do nada e os tranquilizado como se soubesse exatamente o que estava acontecendo, ainda pedindo para que o esperassem depois do show, pois tinha algo importante para conversar. A educação dele foi inacreditável, e contrastava com o desequilíbrio de Taehyun de uma forma quase assustadora.

Eles só sentiram que podiam respirar de verdade quando voltaram para o camarim reservado, soltando todo ar que prendiam com força. Mesmo assim, quando se olharam, começaram a rir como alguém tivesse contado a maior piada do mundo

— Eu quase morri! — Kai disse, soltando um pequeno grito depois. — Aquilo era veneno!

— Acho que você já colocou coisa pior que veneno na boca. — Yeonjun respondeu, fazendo os outros gargalharem.

— Vai se foder! — Kai apontou o dedo do meio. — Que maluquice do cacete.

— Realmente, eu nunca imaginei que aquele Taehyun seria assim. — Soobin falou, se encostando na parede. — Vocês viram como ele gritou?

— Foi loucura mesmo. — Beomgyu concordou.

Eles já haviam feito muita merda desde que se juntaram, ainda no ensino médio, para formar uma banda de garagem. Já tinham pegado o carro do pai de Kai escondido para viajar de madrugada, fugido da polícia depois de roubar uma caixa inteira de cerveja em um loja de conveniência, falsificado identidade, entre outros muitos momentos de irresponsabilidade que apenas jovens inconsequentes seriam capazes.

Porém nunca pensariam que o mais perto da morte que algum deles chegaria seria com um uísque envenenado.

— Pior que a gente nem tem tempo pra ficar em choque, vamos entrar em cinco minutos. — Soobin avisou.

— Já?! Caralho, bora descer, então. — Yeonjun deu uma última olhada no celular. — E Kai, tira essa blusa antes que eu vomite.

— E eu vou vestir o quê? — Perguntou, descrente.

— Vai sem nada mesmo, até parece que vão achar ruim.

Kai riu, tirando a blusa e a jogando em qualquer canto, já que não tinham muito tempo sobrando. Os problemas costumavam ser resolvidos assim entre eles, de forma rápida, já que ninguém ali gostava de quebrar a cabeça, por mais séria que a situação fosse.

Sem dúvidas, gostavam de viver cada dia como se fosse o último. Era impossível não se viciar na sensação incrível da adrenalina correndo em suas veias quando estavam prestes a subir no palco, como se estivessem lembrando que cada célula em seus corpos estava viva e precisavam sentir o momento.

Porém havia algo diferente naquela noite, em específico para Kai. Afinal, foi ele que deu a ideia horrível de furtar um Johnnie Walker, e também foi o primeiro a tentar bebê-lo.

Então, mesmo quando foi abraçado pelos aplausos e gritos da plateia, Kai ainda estava pensando no olhar desesperado de Taehyun. Era impossível esquecer a voz estridente gritando “Não! Solta isso”, ela continuava ecoando pela sua cabeça, mais alta que a guitarra de Beomgyu quando começou com o solo da primeira música.

Era a primeira vez que estava tocando o seu baixo no automático, sem sentir, de fato, as músicas e o show. Ele só conseguia pensar no porquê tinha veneno em um uísque caro no camarim da dupla mais famosa no cenário da música atual.

Ele só conseguia pensar em Taehyun.

Aquela reação dizia muito sobre o que havia acontecido, ao mesmo tempo que tornava tudo ainda mais confuso. Kai não costumava se importar com as encrencas em que se enfiava, mas daquela vez, havia algo diferente. Algo perigoso. Sentia isso pelo jeito que Damian preferiu reverter a situação para o próprio lado em vez de ir procurar por Taehyun quando ele saiu correndo para o banheiro.

Os dois namoravam certo? Aquele tipo de preocupação deveria existir, pelo menos Kai pensava que namoros funcionavam desse jeito.

Essas questões ficaram tão presas em sua cabeça, que ele precisou se forçar a focar para que conseguisse terminar as músicas do show sem errar. Ele era o baixista, sub vocal, e quem decidiu formar a banda Dawn Kiss, portanto sentia que precisava dar tudo de si em cima do palco para fazer juz à sua posição.

E ainda era engraçado pensar em como teve a cara de pau de chamar alunos mais velhos que ele para formar uma banda, quando, na época, mal conseguia tocar baixo direito. Tudo que ele sabia era que amava música e estava disposto a aprender o que fosse preciso, e como os outros três não tinham muitas exigências, apenas aceitaram.

Soobin era o baterista, e provavelmente o melhor instrumentista da banda, já que também conseguia tocar outros instrumentos e entendia muito de teoria musical. Beomgyu era o guitarrista principal, e sua obsessão era aquela guitarra azul que ele não largava por nada, e, até quando estava longe dela, continuava pensando em alguma música, riff, distorção ou qualquer outra forma de tocá-la. Yeonjun, era o vocalista e guitarrista de base, e quando foi chamado para a banda, só sabia tocar guitarra, mas por ter um corte de cabelo legal e um corpo bonito, apenas decidiram que era o suficiente para que ele fosse o vocalista também.

E quando decidiram lançar o primeiro EP autoral, acabaram estourando na cidade em que moravam, não demorando para que o alcance aumentasse e eles se mudassem para a grande LA em busca de oportunidades melhores. A banda começou a abrir shows de alguns artistas conhecidos, porém souberam que realmente estavam em ascensão quando receberam o convite de Damian para que abrissem o show dele.

Entretanto, agora, Kai já não sabia mais o que pensar.

Assim que suas músicas terminaram e ele saiu do palco junto com os outros, viu Taehyun e Damian do outro lado da área de espera, conversando com uma staff. Um incômodo inexplicável surgiu em seu peito, porque os dois pareciam um livro escrito em uma língua completamente desconhecida, e não saber o que acontecia de verdade o deixou ansioso.

Kai observou como Taehyun estava carregando uma expressão séria, parecendo remoer algo em sua mente pela forma como olhava para o chão como se estivesse vendo a causa de sua raiva. Enquanto isso, Damian estava sorrindo e conversando com a staff como se nada tivesse acontecido, nem sequer tocando em Taehyun.

Bizarro.

— Ei, eu vou pro camarim depois. — Kai avisou aos outros. — Eu quero assistir um pouco do show.

Soobin, Yeonjun e Beomgyu apenas concordaram e se despediram, o deixando no canto do palco.

Então Kai continuou ali, vendo como aquele comportamento estranho permaneceu até o momento em que Taehyun e Damian subiram no palco. A partir do momento em que entraram no campo de visão dos fãs, eles viraram outras pessoas.

Ambos estavam de mãos dadas, sorrindo um para o outro como se existisse um amor genuíno entre eles. Kai estreitou os olhos e cruzou os braços, não conseguindo digerir a cena diante de seus olhos. E tudo piorou quando Damian segurou o rosto de Taehyun delicadamente e deixou um beijo singelo na boca dele, levando a plateia à loucura.

Totalmente intragável.

Kai não aguentou mais um segundo ali, e deu meia volta na mesma hora. Era como se a raiva que Taehyun emanou mais cedo tivesse passado para ele, ao ponto de nem se lembrar que esteve a um passo de beber veneno.

Porém não havia muito o que fazer naquele momento, então Kai caminhou de volta para o camarim com seus pensamentos incoerentes lhe perturbando. E quando abriu a porta, deu de cara com uma cena comum: Soobin, Yeonjun e Beomgyu sentados no chão, com os dois últimos bebendo as cervejas baratas e quentes que levavam para todo show - Soobin estava dirigindo, então apenas os observava.

— Voltou rápido por quê? — Yeonjun perguntou assim que Kai fechou a porta.

— Tem alguma coisa bizarra rolando entre Taehyun e Damian. — Respondeu, sentando no chão e pegando uma latinha também. — Vocês não acharam estranho o jeito que Damian reagiu mais cedo? A gente fez uma merda do caralho e, ainda assim, ele nem tentou entender o que tinha acontecido. Nem procurou pelo namorado!

Os outros três se entreolharam, como se tivessem levado um banho de informações novas.

— Calma, Kai. — Soobin disse primeiro. — Acho que isso não é da nossa conta.

— Eu sei, mas não deixa de ser bizarro. — Tomou um gole, gostando de como o álcool desceu pela sua garganta. Ele estava precisando ficar um pouco bêbado depois de tudo.

— Essa sua cara de preocupação é coisa nova. — Yeonjun pontuou. — Relaxa aí antes que isso cresça na sua cabeça.

Kai não gostou daqueles conselhos, apesar de saber que estavam certos. Que merda, que merda, pensou, mas ficou calado. Não era hora de bancar algum tipo de herói, afinal ele era um ninguém perto de dois artistas grandes que mal conhecia, e realmente era melhor tentar esquecer essa bagunça.

Por isso, continuou bebendo sua cerveja enquanto tentava se distrair com a relação estranha de seus amigos. A cada gole que descia, ele sentia o corpo relaxando um pouco mais, rindo de como Yeonjun tentava flertar com Beomgyu pela enésima vez - sem sucesso, óbvio -, e Soobin fingia que não estava feliz por todos os foras que Yeonjun levava.

Kai preferia não se meter nos sentimentos não correspondidos deles, apenas esperando que aquilo não explodisse e afetasse a amizade deles e a banda de alguma forma.

Porém estavam bem naquele momento, e era a única coisa que importava. Estavam ficando cada vez mais famosos e tendo mais oportunidades incríveis, e a chance de realizar o sonho deles deveria estar acima de qualquer outro problema.

Dessa forma, os quatro ficaram lá por volta de uma hora e meia, esperando para saber o que Damian queria conversar sobre a banda. Por incrível que pareça, Kai estava curioso também. Ele queria observar mais de perto como aquele homem agia, assim como queria ver Taehyun de novo.

Dessa forma, quando ouviram alguns toques na porta, se levantaram e tentaram não parecer que estavam entupidos de cerveja, arrumando o cabelo e as roupas como se fosse adiantar alguma coisa.

— Pode entrar! — Yeonjun falou.

Eles esperaram ansiosamente a maçaneta se mexer, e quando a porta foi aberta, viram Damian e Taehyun entrarem, cada um se expressando de uma forma diferente. Damian estava sorridente como sempre, passando aquele ar confiante que só ele sabia ter. Em contrapartida, Taehyun estava mais atrás, com um olhar arrependido que não parecia sincero, mas que conseguia sustentar bem.

Tudo encenação.

— Boa noite pela segunda vez, meninos. — Damian começou. — Primeiramente, tenho que falar que o show de vocês foi ainda melhor ao vivo! Não há dúvidas do porquê vocês estouraram desse jeito, eu fiquei encantado.

Kai se forçou a sorrir, e agradeceu por Yeonjun ter dado um passo a frente para falar com ele.

— Nós que agradecemos! — Respondeu, sendo igualmente simpático. — O show de vocês é sempre um espetáculo, então ouvir isso é mais que uma honra.

— Não precisa exagerar, eu e o Taehyun sempre tentamos dar o nosso melhor. Por falar nisso, ele queria dar uma palavrinha com vocês, não é, passarinho?

Todos passaram a prestar atenção em Taehyun, vendo como ele respirou fundo e deu um passo à frente, enfim levantando a cabeça.

— Eu queria pedir desculpas por mais cedo. — Taehyun disse, e seu tom era completamente diferente de como haviam ouvido mais cedo. — Foi um mal entendido e eu reagi de um jeito exagerado, então me desculpem.

Kai sentiu o sangue ferver, porque Taehyun não tinha culpa de merda alguma. Foi ele que tentou roubar o uísque, independentemente do que tinha dentro.

— Não… Foi culpa nossa. — Yeonjun disse, coçando a nuca. — A gente que causou o transtorno, vocês estão sendo muito gentis.

— Já passou! — Damian interviu. — Não vamos mais nos preocupar com isso, ok? Principalmente porque eu quero pensar em um futuro com vocês, garotos.

Até mesmo Kai arregalou os olhos com a fala dele.

— Co-como assim? — Yeonjun perguntou.

— Eu quero que vocês assinem com a minha gravadora. Tenho certeza que posso cuidar muito bem de uma banda tão promissora como a Dawn Kiss.

Ouvir essa proposta parecia algo de outro mundo, e os quatro sentiram o queixo cair pela surpresa. Aquela proposta poderia mudar o rumo da banda para sempre, já que a gravadora de Damian era enorme e carregava nomes extremamente importantes dentro dela.

Porém Kai sabia, pelo jeito que Taehyun abaixou a cabeça e trincou a mandíbula, que aquilo seria como assinar um contrato com o diabo.

— Nós vamos pensar sobre isso. — Yeonjun respondeu, ainda sem acreditar.

— Pensem com carinho, ok? — Damian sorriu. — Tenho certeza que não vão se arrepender.

E o futuro nunca pareceu tão incerto.


 



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