Dois dias haviam se passado. Naquele momento, todos estavam reunidos ao redor da grande mesa que havia no galpão, um silêncio meio desconfortável se fazia presente. Sal andava de um lado para o outro, e você sabia que ele estava agoniado.
Vocês dois haviam decidido reunir seus colegas para discutir sobre a situação toda, incluindo o detalhe importante que agora fazia parte da vida de vocês.
Mas, o motivo pelo qual Sal estava agoniado não era esse, e sim a conversa que vocês haviam tido no dia anterior. O rapaz queria a todo custo que você saísse dos apartamentos Addison e se mudasse para lá, junto de todos eles. Mas depois de muito pensar você acabará recusando, não por falta de vontade, mas sim por falta de opção.
Não podia simplesmente dar as costas pra tudo como se fosse a coisa mais simples do mundo. Você sabia muito bem aonde havia se enfiado, e exatamente por saber tanto que não podia apenas esquecer de tudo. Se simplesmente resolvesse sair dos apartamentos Addison como uma forma de fugir, as coisas poderiam ser muito piores a essa altura. Mesmo sabendo o perigo que também estaria correndo permanecendo ali, correria o risco porque sabia que as porcentagens de conseguir fazer algo eram maiores. De forma mínima, mas talvez valesse a pena correr o risco…
— Certo — Todd quebrou o silêncio, se ajeitando na cadeira enquanto organizava os rascunhos que haviam feito — Se a gente seguir a lógica que mais seria correta, eu concordo com a S/n — ele comentou, notando rapidamente Sal parar de andar e olhar para vocês. Era visível em seus olhos que ele não estava contente.
— Mas ela não pode! — Sal exclamou, com o tom de voz já meio alterado — É perigoso, estaríamos praticamente entregando tudo de bandeja!
— Sal… — você suspirou, pensando em alguma forma de acalmar o rapaz, mas ele a interrompeu.
— Você sabe que estou certo! — ele murmurou, apontando — Ela disse que eles iriam atrair você através de… — ele parou de falar ao perceber em que assunto estava chegando.
Todos estavam ali tentando se organizar para saber como iriam agir daqui pra frente, porém, vocês não haviam contato sobre seu "sonho" com Rosenberg, e nem mesmo do detalhe mais importante:
Seu filho.
Você mordeu o interior da bochecha, vendo Sal encolher os ombros desviando o olhar, meio constrangido.
— Ela quem? — Todd levantou a sobrancelha, intercalando o olhar entre você e o Fisher — Do que vocês estão falando?
Ambos ficaram em silêncio. Não seria um problema contar, de forma alguma. Você confiava em todos ali, e não via problema algum em contar — por mais que, Ash fosse uma pequena exceção.
Sal se aproximou de você, puxando a cadeira para se sentar ao seu lado, segurando sua mão enquanto olhava em seus olhos, como se pedisse permissão para que todos soubessem desse único detalhe que ainda estava escondido. Com um pequeno sorriso, você apenas acenou com a cabeça concordando, sentindo seu namorado apertar sua mão antes de se ajeitar na cadeira, com os olhos direcionados agora na direção de seus amigos.
— Não sei se é o melhor momento pra entrar em detalhes a essa altura, mas tem uma coisa importante que acho que vocês deveriam saber… — Sal começou a falar, sem soltar sua mão nesse meio tempo. Todos estavam em silêncio, ansiosos para o que o Fisher iria contar, exceto Larry que já sabia da notícia — S/n está esperando um filho… — o garoto contou finalmente, e de forma atenta você observou a reação dos outros ali.
Larry obviamente não estava surpreso, mas carregava um sorriso no rosto, parecendo orgulhoso de algo. Enquanto Todd abriu um sorriso grande, visivelmente alegre com a notícia enquanto parabenizava você e Sal. Mas, uma reação em específico te chamava a atenção…
Ashley parecia estática em seu lugar. Ela não esboçava reação alguma, a não ser pelos olhos que pareciam estar carregados de espanto. Ela intercalava o olhar entre você e Sal, mas em momento algum abriu a boca para dizer alguma coisa. Era nítido como ela havia ficado arrasada, e você conseguia entender muito bem o motivo do espanto. Obviamente Ashley não esperava por uma "bomba" daquelas, caindo diretamente no topo de sua cabeça.
Você respirou fundo tentando não focar sua atenção toda naquilo, desviou os olhos na direção de seus outros amigos dando seu melhor sorriso. Sally parecia feliz naquele momento, havia notado como qualquer assunto relacionado a seu filho o deixava assim, era como se não existissem problemas no mundo. E realmente queria que fosse assim…
— Ah, certo… Agora eu entendo melhor a preocupação de Sal — o Morrison comentou, coçando a nuca — Acho que a questão agora é mais delicada do que pensávamos, não? Sal disse que no seu… "encontro" com Rosenberg, ela disse que o culto iria atrair Sal através do filho de vocês, basicamente… Não acha que seria ainda mais perigoso agora pra você continuar nos apartamentos?
— Eu sei, de fato… — suspirou aflita, concordando com a cabeça — Mas, a essa altura eu não sei o que é pior… Eu posso continuar fingindo, se eles descobrirem, eu poderia apenas agir como se estivesse cooperando e não vendo problema nisso… Seria jogo ganho na visão deles — explicou, estalando seus dedos — Se eu simplesmente der as costas e deixar claro a traição, talvez seja pior… E, além de tudo não vamos saber sobre como as coisas estão correndo lá dentro…
— Evidentemente… — Todd concordou, ajeitando os óculos — Ambas as opções são perigosas no fim das contas, mas a primeira é a mais inteligente. Seria muito arriscado você confirmar uma traição agora, temos que prevenir… — quando Sal iria falar algo, foi a vez do ruivo interrompê-lo — Nós todos compreendemos sua preocupação, Sal. Também estamos preocupados e perdidos com toda essa situação, porém o mais inteligente pelo menos por enquanto é a S/n continuar ali… Se eles planejam mesmo atrair você através dessa criança, a S/n é como um "ingresso" premiado para eles, não acho que eles fariam alguma coisa que pudesse atrapalhar no plano de cercar você.
— Mas eu não quero que ela se arrisque dessa forma como se fosse uma isca… — o menor suspirou, abaixando a cabeça. Sua voz estava carregada de medo e preocupação, o que te deixava apreensiva. Não queria vê-lo dessa forma, não queria que as coisas fossem tão complicadas assim…
— Está tudo bem, Sal… — você disse, segurando a mão do rapaz com firmeza — Não vai acontecer nada, vai ficar tudo bem…
Ele olhou para você, tentando realmente acreditar que tudo ficaria bem. Era muito difícil a essa altura do campeonato ter pensamentos positivos. Só de ter a menção da ideia de tudo dando errado passeando pela sua mente, Sal sentia um aperto esmagador em seu peito.
— Nós precisamos que você continue, pelo menos por mais algumas semanas — Todd comentou, olhando para vocês — Se você conseguir mais informações que possam ser de extrema utilidade, não hesite em nos contar — ele disse, diretamente para você, que apenas concordou — Eu vou pensar em alguma coisa nesse meio tempo, agora precisamos focar mais que nunca nisso.
— Do jeito que as coisas estão correndo, não duvido muito que algo grande comece a acontecer muito em breve… — você avisou, nervosa — Mas irei dar o meu melhor.
Sal não disse nada, ainda parecendo muito descontente com a ideia de você continuar vivendo naqueles prédios. Se ele pudesse, iria te tirar de lá à força, mas infelizmente as coisas não funcionavam assim.
— Você nos disse algo sobre as almas dos que moram lá estarem corrompidas… — Larry quem comentou, com o olhar meio apreensivo — Isso não seria um problema maior…? E não te afeta também? Já que você mora lá…
— Não exatamente… — você negou, mordendo o interior da bochecha — E em relação a isso, Rosenberg e J… — parou de falar olhando para Larry, engolindo o seco. Não havia comentado para ele sobre Jim Johnson, e não negava que tinha certo medo de qual poderia ser a reação dele — Jim… — disse baixinho, vendo os olhos do rapaz se arregalaram na mesma hora.
— O que!? — ele perguntou rapidamente, meio estático — Jim? Jim Johnson?
— Sim… — concordou, mexendo a cabeça — Rosenberg e o seu pai que tem me ajudado e me passado algumas informações que eu não conseguiria descobrir por si só… — suspirou, batucando brevemente os dedos sobre a mesa — Mas falamos disso depois, Larry, eu prometo… O ponto principal agora é que, há uma forma… Algo como uma "lâmina de Osíris" — explicou, observando Todd anotar tudo — Claro que antes disso, o principal causador disso teria que ser destruído…
— E quem seria o "principal" causador? — o Johnson perguntou.
— Terrence… — você respondeu, e todos a olharam surpresos.
— O que!? O Sr.Terrence? — Larry abriu a boca indignado — Como?
— É uma história longa demais, com certeza… — suspirou, se recordando das diversas anotações que havia encontrado desde que entrara no culto — Resumindo, o Terrence serviu como um "ponto de entrada" para aquilo que eles chamam de "o infinito". E, ele usou um meio muito fácil para conseguir infectar as pessoas ali… — murmurou, observando as próprias mãos meio apreensiva — O chá…
Todos ficaram em silêncio, suas expressões carregando surpresa com aquela informação. Sentia um breve déjà vu ao lembrar-se que também havia ficado espantada quando descobriu sobre Terrence, e foi aí que começou a perceber o quanto as coisas eram realmente piores do que se podia imaginar.
— Teríamos que destruir primeiro o ponto de entrada para depois concluir o resto… Mas não é fácil, o Terrence não fica trancado o dia todo naquele apartamento à toa. A aparência dele é formada por algo que eu não consigo nem descrever… — você gesticulava com as mãos, tentando achar formas de explicar, mas sem realmente conseguir.
— E se colocássemos tudo abaixo? — Todd comentou — Se essa questão com o Sr.Addison fosse resolvida, se conseguíssemos realmente destruir esse ponto de entrada e depois colocarmos a sede do culto tudo abaixo?
— Eu não sei… — murmurou — Não sei se seria realmente tão simples assim, o culto não trabalha apenas em Nockfell… Mesmo se destruíssemos a sede aqui, quantas mais devem existir em todo o mundo?
— Vamos pensar no que está sendo mais complicado e no que está mais próximo de nós primeiro — Larry adicionou — Sei que estamos tentando bancar os "caça fantasmas" e heróis do mundo, mas uma coisa de cada vez. Você acha que a ideia do Todd poderia dar certo?
— Talvez… — respondeu, pensativa — Mas teríamos que resolver primeiro a questão do Terrence e verificar o comportamento dos moradores dos prédios. Talvez nem todos estejam infectados, mas se for o caso, teríamos que conseguir impedir que a praga se espalhe… — explicou.
— Ok, pensamos nisso — Todd concordou — Eu posso projetar alguns detonadores C-4 pra adiantar as coisas. Você acha que conseguiria entrar na igreja e colocá-los lá? — perguntou o ruivo, olhando diretamente para você.
— Acho que seria o mais adequado — concordou, notando Sal inquieto ao seu lado, visivelmente desconfortável com a ideia — Posso colocá-los e ativar logo depois de conseguir sair…
— Bem, eu irei começar agora mesmo então! — ele disse se levantando depressa, pegando as anotações que havia feito — Sal, depois venha me ver. Eu terminei os ajustes na sua guitarra e precisamos testar para ver se está tudo certo — ele avisou apontando para Sal, que concordou com a cabeça.
Logo após Todd saiu do galpão, e minutos depois Ashley também deixou o lugar, sem dizer uma palavra sequer desde o começo da reunião, ela sequer conseguia olhar para vocês.
Apenas você, Sal e Larry estavam ali. Isso lhe trouxe um breve déjà vu da época da escola, quando seus únicos "problemas" eram estudar e tentar confessar seus sentimentos para Sal. Sentia saudades dessa época, sem sombra de dúvidas.
— Eu estou me sentindo um velho agora sabendo que vou ser tio — o Johnson comentou fingindo secar uma lágrima, e pela primeira vez naquele meio tempo você e Sal estavam rindo.
— Mas você é velho — você brincou segurando uma risada, enquanto Larry olhava para você indignado.
O clima havia se amenizado um pouco, e você não queria afundar sua mente naquelas aflições novamente. Ao menos por enquanto…
— Mas falando sério agora, eu estou feliz por vocês, de verdade — o mais velho disse, com um sorriso sincero — Espero que quando toda essa merda acabar, a gente consiga ter um pouco de paz finalmente. Vou levar essa criança pra aprontar todas — o mesmo ergueu o canto do lábio em um sorriso travesso, e você ouviu Sal rir um pouco alto.
— Eu não duvido disso — Sally respondeu, carregando um sorriso contente por de trás da prótese.
As coisas finalmente iriam começar a acontecer agora, e você torcia mais que qualquer coisa que tudo desse certo. Não podia falhar agora, não podia deixar com que as coisas acabassem mal…
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