Aquela manhã parecia um pouco mais turbulenta do que o que podíamos chamar de "normal" em sua vida. Estava sentindo uma má impressão que chegava a ser sufocante. Na verdade, durante todos esses dias as coisas pareciam mais fora de ordem do que realmente já estavam. Mas algo em sua mente parecia querer lhe alertar sobre algo que ainda não conseguia dizer exatamente o que era.
Caminhando pelo jardim dos fundos, seus olhos miravam para o céu, fixos como se buscassem algo. Um pouco mais longe, seguindo em direção onde pareciam ser os apartamentos Addison, uma nuvem escura tomava conta, deixando-a apreensiva sobre aquilo. Sabia que estava chegando a hora.
Suspirou alto, mordendo o interior da bochecha enquanto sentia seu estômago revirar por um momento. Se sentia completamente sufocada, se questionando como raios chegou ao fundo do poço dessa forma.
Depois de alguns minutos apreensiva, sentiu certa movimentação logo atrás de você, enquanto uma mão pousou sobre seu ombro, deixando um carinho ali como se quisesse lhe trazer algum conforto.
— Você acha que isso tudo vai dar certo? — reconheceu a voz de Larry, que permanecia com a mão em seu ombro — Digo, acha que a gente vai conseguir…?
— Eu não sei… — você suspirou, virando o rosto para encarar o melhor amigo — Eu realmente não sei…
Larry suspirou, apertando levemente seu ombro. Ele visivelmente estava tão apreensivo quanto você, seus olhos estavam carregados de preocupação e medo. Todos sabiam que estava chegando a hora, e a apreensão era notável quase como se estivesse pairando pelo ar.
Você murmurou para si mesma, desviando novamente seus olhos para a nuvem escura que pairava no céu um pouco distante, sentindo aquela estranha sensação preenchendo seu peito. Larry também olhava na mesma direção que você, sentindo aquela mesma angústia.
— Parece que está vindo dos apartamentos Addison… — o mais velho comentou apreensivo, e você apenas concordou com a cabeça, em silêncio.
— E esta… — respondeu, suspirando aflita.
E então os dois ouviram uma certa movimentação vinda do lado de dentro, como passos apressados, estavam se aproximando do jardim dos fundos. A porta foi aberta de modo brusco, revelando Sal e Todd com suas expressões completamente perturbadas, com os olhos arregalados e quase vermelhos. Você e o Johnson se entreolharam, confusos por um momento, antes de olharem para os dois rapazes novamente.
— O que foi? Por que estão assim? — você quem perguntou primeiro, se aproximando de Sal. Notou que o rapaz estava tremendo, e segurava um papel em mãos. Em seguida, sem dizer nada, ele apenas estendeu o papel em sua direção, e sem questionar mais nada você apenas o pegou.
Seus olhos começaram a percorrer pelas diversas linhas escritas que haviam ali, a caligrafia era bonita e bem feita. A cada novo parágrafo fazia seu coração começar a palpitar, e assim como as de Sal, suas mãos começaram a tremer, com o nervoso que cada palavra lhe trazia.
No fim da carta, havia a assinatura de um nome:
Ashley Campbell.
Seus olhos se arregalaram, enquanto lia e relia as últimas palavras várias e várias vezes, sentindo sua visão ficar embaçada por conta das lágrimas que começavam a se formar em seus olhos. Larry notando aquela estranha tensão pelo ar, tirou o papel de suas mãos, começando a ler de forma desesperada, ficando visivelmente em pânico conforme seus olhos iam descendo pelo papel, concluindo sua leitura daquela carta de despedida.
— Não… — o mais velho disse, negando com a cabeça algumas vezes, abaixando a mão que segurava o papel, deixando com que a carta caísse sobre a grama. Ele estava visivelmente arrasado, todos ali estavam — Porra, Ash… Não…
Você permaneceu em silêncio, sentindo como se as palavras escritas naquela carta viajassem por sua mente, quase conseguindo ouvir a voz da garota ditando elas. Por um momento, a sensação de culpa começou a emergir, onde você pensou que deveria ter agido antes que essa possibilidade fosse possível. E no fim das contas, a dor da perda surgiria para todos ali da mesma forma.
E ainda sim, mesmo em meio ao caos de toda aquela tristeza, sua mente se iluminou com o que era o mais óbvio:
Estava definitivamente na hora.
Fechando as mãos em punhos, você respirou fundo, com seus olhos se firmando sobre a figura de seus colegas e seu namorado. Todos ainda visivelmente perturbados, e você também estava, mas precisavam seguir agora, ou seria tarde demais.
— Eu não posso trazer palavras de conforto agora, por mais que fosse o mais adequado — você começou a dizer, forçando para não deixar com que a voz saísse trêmula — Ashley fez isso, não podemos desperdiçar esse tempo agora — visivelmente Larry estava prestes a protestar, mas você o interrompeu — Se você não quer que as coisas tenham sido em vão, feche a boca e vamos começar a fazer algo de útil — apontou, tentando manter o tom sério, por mais que os sentimentos estivessem uma bagunça — Vamos para os apartamentos agora. Todd me dá as C4 — apontou para o Morrison, que de prontidão concordou com a cabeça, correndo para dentro de casa — Se tudo realmente correr do jeito que é pra ser, você sabe o que fazer Sal. Ashley vai te ajudar do outro lado — explicou, e Sal concordou com a cabeça, ainda parecendo meio perdido, assim como todo mundo.
— O que você vai fazer? — Sal perguntou, se aproximando de você com os olhos carregados de preocupação.
— Eu vou colocar os detonadores no prédio e depois no templo da igreja, não dá pra deixar esse lugar em pé… — você disse, suspirando apreensiva. Se aproximou de seu namorado, segurando-o pelo rosto da prótese — Sal, você sabe que… — suspirou aflita, tentando achar as palavras certas — Que as coisas devem ser feitas, mesmo que sejam mais difíceis do que você acha que pode aguentar… — olhou no fundo dos olhos do rapaz, apreensiva — Tudo naquele prédio está corrompido, não há o que fazer. Você vai entender quando chegar a hora — explicou tudo calmamente — Lembre-se que a culpa não é sua, você não teve escolha… — disse por fim, notando os olhos do rapaz vacilarem por um momento.
Sal ficou em silêncio, parecendo nervoso demais para questionar sobre tudo aquilo que você havia dito. Vocês se afastaram, e então seus olhos miraram o Johnson, que parecia perdido.
— Você fica com o Todd, não saí do lado dele — avisou, vendo o mais velho concordar com a cabeça — Certo, não vamos perder mais tempo agora.
Logo após dizer aquilo, ouviu um estrondo alto de um trovão ecoar pelo céu, que começava a ficar nublado por completo. Aquilo lhe trouxe uma sensação ruim, como se tivesse acabado de receber um aviso.
E então você junto com Larry e Sal seguiram em passos rápidos para dentro de casa. Todd descia as escadas com pressa, já com os detonadores em mãos e a guitarra de Sal, que ele havia modificado com as necrolights, entregando-a para o Fisher em seguida, enquanto os detonadores ele entregava para você.
Todos seguiram para fora de casa e foram até a van, onde Larry rapidamente foi até o banco do motorista, pronto para seguir caminho até os apartamentos Addison. Antes mesmo que Todd conseguisse fechar a porta, o mais velho deu partida, dirigindo com pressa para os apartamentos.
O caminho todo havia sido frenético e apreensível demais, você sentia suas mãos suando com o nervosismo que atingia cada parte de seu corpo e mente. Conseguia sentir seu estômago revirar, e o coração palpitar com força. Naquela altura não conseguia nem controlar a respiração para se acalmar, só conseguia revisar o tal plano em sua mente várias e várias vezes. Se perguntou muitas vezes o que aconteceria caso o plano desse completamente errado? E se o culto realmente conseguisse prosseguir com tudo o que estavam planejando?
Balançou a cabeça em negação, se recusando a continuar com aquelas perguntas tão aflitivas.
E antes que se desse conta, estavam todos finalmente em frente aos prédios. Assim como havia deduzido, aquela nuvem escura rodeava o topo mais alto dos apartamentos, soltando trovões que pareciam mais intensos do que o normal.
Todos desceram da van com pressa, com cuidado você segurava parte dos detonadores, já que o resto usaria para colocar diretamente no templo da igreja. Naquele momento a ficha começava a cair, te deixando mais nervosa, mesmo que determinada. Não tinha como voltar atrás, e essa nem mesmo podia ser uma escolha válida. Aquilo tinha que ser feito, mesmo que no fim acabasse custando muito…
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