INSEGURANÇA
12 de maio de 2013 – Miami
A praia estava mais movimentada do que nunca e tudo isso se devia ao fato daquela ser a melhor época do ano. A felicidade estampada nos rostos das crianças e dos apaixonados dava um toque ainda mais amável as belezas da praia, o que não me lembrava em nada Londres.
Sendo descendente de latinos, as crianças não me aceitavam de fato. Meu país natal nunca fora o lugar que me fizera bem. Quando mais nova, eu não conseguia me relacionar com as outras crianças. Era uma tortura ir para a escola e perceber que não tinha amigos. Eu era sozinha e odiava isso.
Miami era tão diferente. Quando cheguei pela primeira vez a esse paraíso tropical, a primeira pessoa que eu conheci foi Dez. O ruivo era irritante e extremamente infantil, no entanto, algo nele sempre chamou a minha atenção. Mesmo quando tudo ia de mal a pior, Dez não se deixava abalar e isso me fez admirá-lo, mesmo que em segredo.
Suspiro, relembrando o quanto eu me desesperei quando ele descobriu minha paixão por Dallas. Dez, por mais que se fizesse de bobo, era o mais atento aos amigos. Nada conseguia escapar da incrível percepção do rapaz.
Ao contrário do que imaginei que aconteceria, Dez guardou segredo de todos, me apoiou e ainda me revelou de sua paixão por Piper. Nós sempre nos implicamos, mas a partir daquele momento, ele se tornou meu melhor amigo. Ambos sofríamos por sermos apenas os personagens secundários de duas lindas histórias de amor. Ambos sabiam que nunca seriam correspondidos e talvez tenha sido isso que havia nos unido.
- Você está bem? – Questiona Dez, olhando-me com preocupação.
- Estou. – Afirmo, sorrindo de leve para o ruivo.
- Por que parece tão distante? – Pergunta, puxando meu braço com delicadeza, para que eu parasse de andar.
Olho surpresa para o homem e suspiro, sentindo-me frustrada. Dez continuava a me encarar com intensidade e aquilo me intimidava de uma maneira que eu não conseguia controlar.
- Qual o problema? Você geralmente está sempre alegre durante o festival, mas agora parece preocupada. Aconteceu alguma coisa? – Insiste o homem, com seriedade.
- Estou apenas lembrando do passado. – Digo ao rapaz, sorrindo discretamente.
- Por que? Pensei que não gostasse de fazer isso. – Relembra Dez, confuso.
- Eu realmente não gosto, mas ultimamente isso tem sido a minha rotina. – Conto, começando a caminhar na direção de um banco que estava vazio, próximo de nós. Estávamos mais afastados da multidão, mas ainda era possível ouvir as músicas animadas que as bandas locais tocavam e os gritos animados dos jovens ao andarem nos brinquedos mais radicais. Observo o vai e vem das poucas pessoas que passavam pelo local, completamente alheias ao que acontecia ao seu redor e animadas para visitarem alguma atração do parque.
- Isso tem a ver com a Ally? – Pergunta cauteloso, sentando-se ao meu lado.
- Por que acha que isso tem a ver com ela? – Contraponho, surpresa.
- Ally e Brianna são muito parecidas. Acredito que seja difícil para você. – Explica Dez, dando um sorriso amarelado. – A personalidade forte e determinada, ao mesmo tempo, doces e companheiras. Além da aparência.
Brianna foi a minha primeira amiga em Londres. Ela foi a primeira a ver em mim alguém além da fracassada e esquisita da escola, no entanto, ela também foi a primeira a me mostrar o quão cruel as pessoas podem ser.
Por sermos amigas inseparáveis, decidimos entrar no mesmo curso na faculdade e talvez esse tenha sido o meu maior erro. Ser estilista era um sonho de infância e ter minha melhor amiga ao meu lado tornava tudo ainda mais mágico. O que eu não imaginava é que Brianna permitiria que a ganancia subisse a sua cabeça e ela fosse capaz de destruir todo o meu trabalho no dia do desfile mais importante da faculdade para conseguir o primeiro lugar.
Aquele trabalho permitiria que eu conseguisse trabalhar com um dos maiores estilistas do mundo e ainda me formaria com inúmeros méritos, mas isso não pareceu agradar minha melhor amiga. No fim, eu perdi a minha chance e não consegui me formar como todos os outros. Brianna havia destruído o futuro magnifico que me foi reservado.
- Não. Ally nunca seria como Brianna. Ela jamais me trairia e é por isso que ela é a minha melhor amiga. – Sussurro, rindo sem humor e observando o movimento das pessoas. – Mas não é somente isso que vem ocupando meus pensamentos.
- Por que não me conta então? – Questiona Dez, sorrindo incentivador e se aproxima de mim. Ao perceber a minha relutância, ele continua: – Eu quero te ajudar. Confie em mim. Sabe que eu não contarei a ninguém e que te apoiarei.
- Por que isso te interessa tanto? – Pergunto rudemente, olhando nos belos olhos azuis do ruivo. Ele parece surpreso com a minha pergunta e assim que se recupera se afasta de mim.
- Do que você está falando? – Indaga Dez, erguendo uma de suas sobrancelhas. – Eu sempre me importei com você. Faço essas ceninhas de ódio que você quer na frente dos outros, mas você sabe que é uma das pessoas mais importantes da minha vida. É verdade que temos nossas diferenças e você me irrita como nenhuma outra pessoa, mas também é a única pessoa em quem eu confio para me abrir e expressar meus sentimentos sem ser julgado.
Suspiro, novamente. Desde que Dez revelou estar apaixonado por Ally, eu não conseguia melhorar meu humor. De alguma forma, aquilo me incomodava e muito. Eu sabia que ele havia dito que eu era uma pessoa importante para ele no sentindo de amiga e isso doía.
Fecho os olhos e jogo minha cabeça para trás, me encostando no banco. Abro os olhos e encaro o belo céu de Miami. Eu estava cometendo um erro mais uma vez. Meu maldito coração não consegue gostar de alguém que possa corresponder.
- Trish? – Chama Dez, colocando a mão sobre meu ombro. – O que está acontecendo?
Fecho os olhos, mais uma vez, e respiro fundo, virando-me em seguida para Dez. Gavin tinha razão. Ultimamente, tudo o que tenho feito era para chamar atenção do irritante rapaz ao meu lado. E por mais que eu me odiasse por isso, eu sabia que ajudava Ally e Austin mais pelo meu sentimento egoísta, do que pelos dois em si.
Claro que eu torcia e muito pela felicidade dos meus melhores amigos. O amor que ambos nutriam era intenso e surpreendente. Austin e Ally eram a prova viva de que não é preciso tempo para que o amor nasça entre duas pessoas. Poucos dias foram o bastante para fazê-los experimentar os mais variados sentimentos que eles jamais sentiram com qualquer outra pessoa.
Mas, ao olhar nos olhos do ruivo, eu não conseguia controlar o meu egoísmo. Gavin estava certo. Dez é quem eu realmente amo e, por mais que eu saiba que é loucura gostar de alguém que nunca vai me corresponder, eu não me arrependo disso ainda que meu coração fosse sofrer as consequências desses sentimentos.
Dez me encarava confuso. Por mais que eu quisesse desviar meu olhar, eu não conseguia. Seu brilho me atraia de uma forma incontrolável. Ajeito-me no banco, sem nunca deixar de encará-lo, e me aproximo. O ruivo me encara com seriedade e em nenhum momento se afastou. Eu queria beijá-lo, mas sabia que se eu fizesse isso, nada de bom poderia acontecer.
- Desculpa. – Sussurro, afastando-me bruscamente. Eu precisava manter meu controle ou tudo que eu venho tentando controlar desde que cheguei irá por água abaixo.
- Trish, espera! – Grita Dez, quando saio andando apressadamente.
Naquele momento, eu não poderia ficar perto dele. Minhas emoções estavam descontroladas e a última coisa que eu queria era fazer Dez se afastar de mim. Eu preciso dele, não importa como.
Sigo sem rumo, apenas deixando a brisa noturna me acompanhar. À medida que eu me afastava do festival, mais o movimento da praia diminuía até não haver mais ninguém próximo a mim. Suspiro, tristemente. Mais uma vez eu estava sozinha. Como eu odeio esse sentimento.
Sento-me na areia e passo a observar o mar. A noite estava esfriando, mas aquilo não me incomodava. Pego meu celular e passo a olhar as fotos, nas quais eu estava com minha família e meus amigos, mas somente uma prende a minha atenção.
Dez cobria uma parte do seu rosto com meu cabelo, enquanto nós sorriamos minimante. Não era a minha melhor foto, mas a mais especial. Aquele dia havia sido único. Eu havia acabado de chegar em Miami, dias após a traição de Brianna. Meu estado era lamentável e a única coisa que eu precisava era me afastar de Londres.
O ruivo logo notou o que eu precisava e me levou para um passeio completamente diferente em Miami. Nós visitamos a escola que ele frequentou quando criança, conheci sua avó e seu tio preferido, andamos de balão e pude apreciar a vista da cidade sendo banhada pelo pôr-do-sol. Aquele dia havia sido perfeito. Todos meus pensamentos se esvaíram, dando lugar a lembranças mágicas.
- É incrível como você continua sendo um mistério para mim, mesmo a conhecendo há tantos anos. – Fala Dez, sentando-se ao meu lado.
Assusto-me com a sua chegada e acabo desligando o celular e me afasto do ruivo rapidamente. Ele sorri divertido e balança a cabeça, negando. Respiro fundo, tentando controlar meu coração, que batia descontrolado.
- Você me assustou. – Repreendo o ruivo, levando a mão ao peito.
- Essa era a intenção. – Responde Dez, sorrindo traquina.
- Idiota! – Exclamo, dando um soco em seu ombro, enquanto dou um pequeno sorriso.
Ele se encolhe um pouco e massageia o local do soco, rindo divertido. Permanecemos em silencio por um tempo, apenas apreciando a paisagem. Eu ainda não tinha coragem de encará-lo ou explicar qualquer coisa, então agradecia mentalmente pelo ruivo não exigir respostas.
Ouço o mesmo suspirar e se deitar na areia. Olho para ele disfarçadamente, e percebo que sua expressão estava sombria, algo incomum para o sorridente ruivo. Durante alguns minutos, ele encarou fixamente o céu.
- As coisas estão mudando rápido demais para que eu consiga acompanhar. – Comenta Dez, com a voz suave, ainda encarando as estrelas.
- Está assustado? – Questiono, deitando-me ao seu lado.
- Talvez. – Responde sorrindo, enquanto se vira para mim. – Acho que sou mesmo um covarde. Sempre vivi minha vida da maneira mais fácil. Sempre tive medo de me arriscar e agora estou sendo obrigado a passar por mudanças.
- Todos nós estamos com medo. – Afirmo, suspirando. – Ally conseguiu fazer algo que estamos evitando fazer desde que Cassidy sofreu o acidente.
- E o que seria? – Questiona o ruivo.
- Crescer. – Respondo, sorrindo. – O efeito borboleta foi inevitável. Ela foi apenas o bater de asas que precisávamos para que um furacão ocorresse em nossas vidas e tudo mudasse do dia para noite.
- É. Você tem razão. – Concorda, sorrindo minimamente.
Um vento mais forte se faz presente e bagunça meus cabelos, deixando uma mecha cair sobre meus olhos. Dez me olha com atenção e antes que eu arrumasse meu cabelo, o ruivo leva sua mão ao meu rosto e coloca a mecha atrás de minha orelha. Paraliso ao sentir seu toque em minha pele.
Ele continua a acariciar meu rosto e eu simplesmente não sabia como reagir. Sua mão calorosa me trazia a sensação de paz a cada movimento gentil que fazia em meu rosto. E mesmo estando tensa, não consigo evitar de fechar os olhos e aproveitar a caricia de Dez.
- Por que está fazendo isso? – Sussurro, fracamente.
- Eu não sei. Apenas senti vontade. – Admite Dez.
Abro meus olhos instantaneamente, e me afasto. Aquilo era loucura. Ele está apaixonado por Ally. Eu não posso me iludir. Não posso permitir que meu coração se machuque mais uma vez.
Dez me olha confuso e, antes que eu fugisse de novo, ele agarra meu pulso. Olho assustada para Dez e me surpreendo ainda mais ao sentir seus lábios sobre os meus.
Ele segurava a minha nuca com firmeza, enquanto a sua outra mão ainda segurava meu pulso. Sem pensar, correspondo ao beijo, deixando todas as minhas emoções fluírem. Eu sabia que aquilo era errado, mas meu corpo simplesmente não conseguia se afastar.
De repente, voltamos a nos deitar na areia, sem parar o beijo. Meu coração batia tão rápido quanto as ideias em minha mente começavam a evaporar. Eu procurava qualquer pensamento coerente que me fizesse retomar a razão, mas tudo se tornava impossível, quando eu sentia as mãos de Dez deslizando pelas minhas costas.
Meu celular começa a tocar e isso foi o bastante para me fazer empurrar Dez e pegar o aparelho. Ouço o ruivo soltar um pequeno gemido de dor ao bater as costas e a cabeça na areia. Respiro fundo, tentando controlar a respiração e atendo a ligação.
- Alô. – Atendo, agradecendo a quem quer que tivesse me ligando.
- Trish?
- Piper? – Indago, sem acreditar, chamando atenção de Dez, que me olha assustado. – Não pode ser.
- Sim, Trish, sou eu, a Piper. – Confirma a mulher, seriamente.
- Você só pode estar brincando. Enlouqueceu? Depois de tudo que fez ao meu melhor amigo, você ainda tem coragem de me ligar? – Falo, irritada. - Eu juro que a minha maior vontade, desde que você foi embora, é de pegar o seu pescoço e o torcer com todas as minhas forças. Você é a pessoa mais... Ah! – Grito, sentindo a fúria me consumir. – Você é simplesmente a pessoa mais...
- Eu sei, eu sei. Mereço a morte e todos os piores castigos do mundo, mas agora não é o momento para isso. Estamos passando por um caso de extrema urgência. – A maneira como Piper falou pareceu ser realmente algo sério.
- O que aconteceu? O que você fez com o Austin? – Pergunto, começando a me desesperar. – Meu Deus! Ally! Onde ela está? Ela e Austin tinham saindo juntos e... – Olho o contato e vejo que o número era de Austin. – Por que você está usando o celular do Austin?
- Escute, Austin precisa de um favor. Ally está chateada por eu ter aparecido e não quer atender o celular. Eu preciso que a encontre e assim que isso acontecer, ligue para o Austin. – Explica a loira.
- O que ela disse? – Pergunta Dez, preocupado.
Olho para o ruivo e suspiro. Algo me dizia que Piper não estava mentindo. Rezando para que não me arrependesse, respiro fundo e torço para que a decisão de ajuda-la não prejudicasse, no fim, Austin e Ally.
- Eu irei ajudar. Mas não estou fazendo isso por você. Que isso fique bem claro. – Concordo, usando o meu tom de voz mais ameaçador possível.
- Tudo bem. – Fala Piper, demonstrando estar feliz com a minha decisão.
- E não pense que escapou de ser esganada pelas minhas próprias mãos. – Completo, fazendo Dez ri de minha falsa dureza.
- Certo. Muito obrigada. – Agradece, parecendo não se importar com a minha ameaça.
- Ah, e caso esteja aprontando alguma...
- Eu sei que está fazendo isso pelo Austin. Não se preocupe, eu não vou mais atrapalhar a vida de vocês. – Afirma a loira.
- Assim espero. – Digo, suspirando. – Quando eu encontrar Ally, ligo para vocês.
- Tudo bem. Obrigada. – Piper agradece, desligando o celular logo em seguida.
- Nunca imaginei que viveria tempo bastante para receber a notícia de que Piper voltou para Miami. – Comenta Dez, olhando com curiosidade para mim.
- Isso não importa agora. – Digo, levantando-me, enquanto batia na roupa para retirar a areia espalhada. – Preciso encontrar Ally, urgentemente.
- Por quê? Aconteceu alguma coisa? – Questiona o rapaz, preocupado.
- É isso que eu vou descobrir. – Respondo, começando a caminhar em direção ao festival.
- Espere! Eu vou com você. – Fala Dez, puxando meu pulso, assim que conseguiu me alcançar.
- Não. – Nego, friamente, enquanto puxo meu pulso de volta, obrigando-o a soltá-lo. – Eu irei sozinha.
- O que há de errado com você? Por que está me tratando assim? – Pergunta Dez, colocando-se à minha frente.
- Você ainda pergunta? – Questiono, sarcasticamente. – Que tal falarmos do motivo de você ter me beijado? Ou melhor, o motivo de ter me beijado, mesmo estando apaixonado por Ally?
Dez desvia o olhar para o chão. Seu olhar demonstrava toda a confusão que existia dentro de si e meu coração nunca bateu tão forte como naquele momento. Eu ainda insistia em me iludir. Queria que ele dissesse que a paixão por Ally era uma mentira e que na verdade sempre me amou, mas eu sabia que isso nunca aconteceria.
- Eu... – O ruivo tenta dizer algo, mas as palavras pareciam presas em sua garganta.
- Não precisa dizer nada. – Digo, sentindo a tristeza possuir meu coração, após alguns instantes o observando. – Eu já entendi.
Sentindo as lágrimas descerem, volta a caminhar, implorando em silêncio para que o ruivo não me seguisse. O que eu menos precisava naquele momento era ter que ser vista no estado lamentável em que eu estava.
Assim que chego à entrada do festival, respiro fundo e passo a mão pelos olhos, frustrada. Eu não podia continuar agindo como uma adolescente ingênua. Ignorando a dor da desilusão amorosa, passo a procurar por Ally, orando para que a mesma não estivesse muito longe e nem fazendo uma besteira.
Procuro por todo o festival e nada de encontrá-la. A falta de respostas da garota começava a me desesperar. Por mais que eu tentasse ligar para Ally, a mesma ignorava a ligação.
- Cassy, você viu a Ally? – Questiono, assim que encontro a loira sentada com o namorado em uma barraca de tacos.
- Não. – Responde Cassidy, confusa. – Quer dizer, eu a vi algum tempo atrás. Ela me pediu a chave de casa e disse que estava com um pouco de dor de cabeça. Acho que faz uma hora, mais ou menos. Não tenho certeza.
- Obrigada. – Agradeço, começando a correr rumo à casa da loira.
- Trish, o que aconteceu? – Ouço a loira gritar.
- Nada demais. – Grito em resposta e continuo a correr.
Em poucos minutos, estou em frente à casa de Cassidy. O lugar estava completamente fechado, mas ainda era possível ver uma das luzes internas ligada. Arfando cansada, caminho com cuidado até a porta de entrada e a empurro devagar, que por sorte, estava aberta.
A casa estava em completo silêncio. Era possível até mesmo duvidar que havia alguém no lugar. Aproximo-me do quarto da morena e a vejo sentada na cama, segurando uma foto em suas mãos e com uma mala aberta, repleta de roupas, ao seu lado.
- Ally? – Chamo, cuidadosamente.
Assustada, Ally levanta a cabeça e logo percebo que a garota chorava. Comovida, corro até a morena e a abraço com força, sendo prontamente correspondida.
Ally estava tão assustada quanto uma criança que acabara de se perder da mãe. Durante um tempo, permanecemos em silêncio, abraçadas, enquanto a garota chorava.
- O que está fazendo aqui? – Pergunta Ally, afastando-se de mim, após se acalmar.
- Eu estava preocupada. – Confesso, limpando o rosto molhado de minha melhor amiga. – Como você está?
- Arrasada. Cansada. Desiludida. Eu não sei o que me define melhor. – Responde, suspirando. – Piper voltou e eu não sei o que pensar ou como agir.
- Ally, você sabe que Austin te ama. Não tire conclusões precipitadas. – Aconselho, preocupada com a mala ao lado.
- Eu não estou tirando conclusões precipitadas, Trish. Eu vi a maneira como Austin a olhou. Ele parecia tão perdido. Eu vi a confusão em seus olhos e a única coisa que eu pude pensar é que ele jamais irá esquecê-la. – Fala, voltando a arrumar as roupas na mala.
Vejo a foto em seu colo e a pego. Nela, Ally estava vestida de noiva e parecia mais radiante do que nunca. Ela segurava seu buquê de flores e a felicidade estava estampada em seus olhos.
- E o que você vai fazer? Desistir? – Pergunto, desviando o olhar da foto para a garota. – Isso não combina nada com você.
Ally para de dobrar a roupa e suspira, cansada. Ela permanece alguns segundos apenas olhando para suas mãos. A garota respira fundo e me olha com tristeza.
- Eu estou completamente quebrada, Trish. A culpa não é de Austin ou de Piper ou Gavin. A culpa é toda minha. – Explica, dando um meio sorriso. – Sei que parece bobagem, mas eu ainda não estou pronta para Austin. Eu não quero machucá-lo. Não quero cometer o erro com a pessoa que eu mais amei em toda minha vida. Na maneira em que estou agora, Austin e eu nunca conseguiríamos ser felizes.
- Então é isso? Você vai embora e deixar Piper e ele serem felizes para sempre? Acha que essa é a solução? – Questiono, enquanto me levanto. Pego sua mala e retiro todas as roupas de dentro. – Você não pode ir embora. Ally, essa é a sua chance de ser feliz com alguém que você ama. Você lutou durante anos para que encontrasse o cara com quem você viveria pelo resto de suas vidas e agora você simplesmente vai embora com a desculpa de que não está pronta?
- O que você quer que eu diga? – Pergunta a morena, levantando-se da cama e colocando-se à minha frente. – Olha para mim, Trish. Há pouco mais de um mês eu fui abandonada no altar, me envolvi com um grupo de pessoas que sempre viveram temendo o passado, meu pai ficou entre a vida e a morte e eu descobri que tudo o que acreditei ser amor, na verdade, era uma ilusão e voltei a me apaixonar. Como quer que eu encare as coisas?
Suspiro e volto a me sentar na cama. Ally se senta ao meu lado e pega em minha mão, apertando-a, em seguida. Olho para a morena e sorrio levemente, encostando minha cabeça em seu ombro.
- Ao menos ficará para o casamento de Kira e Elliot? – Pergunto, tristemente. – Será em uma semana e acho que eles não conseguirão encontrar uma madrinha para substituí-la.
- Eu... – Ally parece pensar por um momento. – Sim, eu ficarei.
Sorrio, afastando-me de Ally. Ela levanta nossas mãos e entrelaça nossos dedos e sorri, tentando transmitir confiança.
- Depois de tudo o que aconteceu, devemos pelo menos aproveitar o festival, não acha? – Pergunto, dando um sorriso travesso. – Vamos fazer dessa noite uma das melhores de sua vida.
- Ótima ideia. – Concorda, dando uma piscadela. – Eu só preciso de alguns minutos para retocar a maquiagem e arrumar o cabelo.
- Tudo bem. – Concordo, levantando-me da cama. – Enquanto você se arruma, eu vou ligar para Dez. – Minto, sorrindo sem graça.
- Falando nisso, o que aconteceu no encontro de vocês? – Pergunta Ally, maliciosamente.
- Não aconteceu nada. – Afirmo, sentindo meu rosto corar um pouco.
- Sei. E por que eu sinto que isso não é verdade? – Pergunta, olhando desconfiada para mim. – Vamos lá, Trish! Me conta o que aconteceu. Eu quero saber.
Suspiro, dando-me por vencida. Eu realmente precisava conversar com alguém sobre o assunto.
- Tudo bem. Que tal você ir se arrumar e enquanto estivermos indo para o festival, eu conto tudo para você? – Sugiro.
Ally balança a cabeça, concordando e sai do quarto, indo para o banheiro. Suspiro, aliviada, e pego meu celular, apressadamente. Procuro o número de Austin e ligo para o loiro. Não demora muito para que Piper atenda.
- Oi Trish. – Fala, demonstrando animação em sua voz. – Onde vocês estão?
- Estamos na casa da Cassy. – Sussurro, temendo que Ally ouça a conversa.
- Certo. Quero que enrole Ally por mais uma hora e depois a leve para o Evan’s. – Pede a loira.
- Por quê? – Questiono, desconfiada, afastando, em seguida, o celular da orelha, olhando as horas.
- Eu tenho um plano, mas vou precisar da ajuda de todos. – Explica.
- Quando você fala de todos, você está se referindo a Kira, Elliot, Cassy, Dallas, Prince, Manu e Dez?
- Sim. – Responde, como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Eu não vou consegui entrar em contato com todos, então peça para Austin fazer isso ou Ally irá desconfiar. – Sussurro, notando que a morena se aproximava.
De repente, a porta do quarto é aberta, mas para minha surpresa, quem entra por ela é Dez. O ruivo me olhava determinado e a única coisa que eu conseguia fazer era encará-lo.
- Certo, certo. – Fala Piper, concordando. – Não precisa fazer nada além de levá-la para o Evan’s. Pode deixar tudo comigo.
- Trish, nós precisamos conversar. – Afirma Dez, aproximando-se de mim.
- Você está com alguém além de Ally? – A voz de Piper, faz com que eu me lembre que havia coisas muito mais importantes que o meu medo de conversar com Dez naquele momento.
- Sim. Dez está aqui. – Respondo, com a voz um pouco rouca.
- Sério? – Questiona, surpresa. - Bem, isso não importa agora. Pede para o Dez encontrar conosco o mais rápido possível em frente à roda-gigante.
Afasto o celular da orelha, por um momento, e o olho intensamente. Dez me encara confuso, mas ainda assim, demonstrava a sua determinação em não sair do lugar sem respostas.
– Ele estará lá em dez minutos. – Digo, tentando demonstrar uma certeza na qual eu não tinha.
– Tudo bem. Nós estamos indo para lá. – Fala Piper.
– Ok. Ele já está saindo daqui. – Aviso, recebendo um olhar de reprovação do ruivo como resposta.
- Certo. Até mais tarde. – Responde a loira do outro lado da linha. – Beijos. Tchau.
Desligo o celular e o jogo na cama de Ally. Dez continuava a me encarar, com irritação. Suspiro, frustrada, e aproximo-me do mesmo. Assim que estou a centímetros do ruivo, respiro fundo e ignoro meu coração acelerado.
- Piper e Austin precisam de você. Vá para o festival e espere-os em frente à roda-gigante. – Sussurro, próxima o bastante para que somente ele me ouvisse.
- Eu disse que precisamos conversar. – Sussurra Dez, com a voz um pouco mais rouca que o normal.
- E eu disse para você ir para o festival e esperar Austin e Piper em frente à roda-gigante. – Digo, sarcasticamente.
- Trish! Pare de fugir. – Repreende Dez, irritado.
- Eu não estou fugindo. – Respondo, frustrada.
- Trish, você viu se eu deixei a minha escova... – Fala Ally, entrando no quarto, de repente, e parando no meio do caminho. – Ah, eu...me desculpe. Eu não sabia que o Dez estava aqui.
Afasto-me de Dez e olho para minha amiga, que possuía um sorriso malicioso em seus lábios. Lanço o meu olhar mais irritado e tudo o que ela faz é sorrir docemente.
- Oi Ally. – Cumprimenta Dez, com a expressão séria.
- Oi Dez. – Fala Ally, entrando no quarto e pegando a escova de cabelo que estava ao lado de sua mala. – Desculpe ter interrompido a conversa. Eu já estou saindo.
- Não estava interrompendo nada. – Apresso-me em dizer, antes que Ally arranjasse uma maneira de fugir da casa e estragar o plano de Piper. – Dez já estava de saída, não é mesmo? – Encaro Dez com o meu pior olhar, torcendo para que ele entendesse o recado.
- Sim. Eu já estava de saída, Ally. – Responde Dez, encarando-me. – Desculpe ter vindo sem avisar.
- Tem certeza? Não quer ficar mais um pouco? – Pergunta a morena, deixando claro a sua intenção de dar uma de cupido.
- Sim, ele tem certeza. – Respondo, empurrando Dez na direção da porta do quarto. – Tchau, Dez.
- Nossa conversa ainda não terminou. – Fala o ruivo, alto o suficiente para que Ally também ouvisse. – Não pense que conseguiu fugir de mim.
- Tchau, Dez. – Volto a repetir, empurrando-o, totalmente, para fora.
Irritada, fecho a porta com força e encosto-me na porta, gruindo de maneira frustrada. Ally me olha com divertimento, piorando ainda mais o meu humor.
- Parece que alguém está tendo algum tipo de problema amoroso. – Comenta a morena, começando a pentear os cabelos.
- Não começa. – Ameaço, andando a passos pesados pelo quarto. – Ele é o maior dos idiotas. Eu o odeio!
- Sei. – Fala Ally, sem acreditar. – E desde quando amar e odiar é a mesma coisa?
- Ally!
- Ah, Trish, por que você continua a negar que o ama? – Interrompe a morena, aproximando-se de mim.
- Então você pode negar a todos o seu amor por Austin, mas eu não? – Pergunto, ironicamente.
- Ah, então você admite que o ama, mas fica negando? – Aponta Ally, sem se abalar com a minha acusação, rindo de minha tentativa de desviar o assunto.
- Isso não importa. – Digo, desistindo de tentar negar. – Ele gosta de você. Ele já deixou isso claro inúmeras vezes. Não importa se eu gosto ou não dele, porque, no fim, eu jamais serei correspondida.
- Acha mesmo que Dez gosta de mim? – Pergunta Ally, colocando-se de frente para o espelho em seu guarda-roupa.
- O que você acha? – Falo sarcástica. – Eu já perdi as contas de quantas vezes ele disse que está apaixonado por você.
- Eu não sei. Talvez ele esteja confundindo sentimentos ou algo assim. – Supõe Ally, olhando-me através do reflexo do espelho. – A maneira como ele te provoca e se preocupa com você não parece ser apenas amizade. Talvez ele nem tenha notado que gosta de você de outra forma. Ao menos dê uma chance a ele de se explicar.
- Tudo bem. Farei isso depois do festival. – Falo, jogando-me na cama de Ally. – Tudo o que eu preciso agora é de uma boa festa e algo para beber.
Ally ri e balança a cabeça concordando. A noite não estava sendo uma das melhores e o que mais desejávamos era que algo de bom ocorresse. Observo Ally termina de se arrumar, imaginando o que Piper estaria aprontando.
- Estou pronta. – Avisa Ally, batendo de leve em minha perna. – Vamos?
Levanto da cama e suspiro, preguiçosamente. Ela ri e balança a cabeça negativamente, andando até a cômoda ao lado da cama e pegando o celular. Ela olha por alguns instantes as ligações que o mesmo continha e as ignora.
Pego meu celular, que estava sobre a cama, e o desbloqueio, abrindo exatamente em minha foto preferida. Observo a imagem durante alguns segundos e suspiro cansada. Saio da foto e noto que estávamos quase na hora de irmos para os Evan’s.
- Vamos. – Digo, caminhando para fora do quarto. Assim que Ally tranca a casa, começamos a andar em direção à praia. Olho para Ally e sorrio, confiante. – Vamos fazer dessa noite a melhor de nossas vidas.
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