Fui tomar um banho quando meu irmão chegou para cuidar do sobrinho, no caso, meu filho. Arrumei a gravata azul marinho, e as abotoaduras de minha blusa social, dando uma última olhada pelo espelho. Dara uma piscadela ao meu reflexo, ele parecia bem melhor do que minutos atrás. Ainda na cama, eu havia acordado parecendo um gato estropiado. Meus cabelos pareciam estar sonhando, meu short subiu e minha camisa também. Foi difícil limpar meu rosto todo amassado.
Corri contra o tempo enquanto comia pedaços de uma torta vermelha. Foi aí que Taeji balançara as mãozinhas e me abaixei, sentindo estas grudentas - de mingau - sujarem meu cabelo. Eu me lamentei, claro, já estava chorando quando Yoongi bateu em minha cabeça.
— O meu cabelo está cheio de maisena, todo mundo vai ficar olhando.
— Vai logo, 'cê vai se atrasar.
— mas e se todo mundo ver?
— Não quero saber, 'cê tem que trabalhar 'pra pagar a minha faculdade.
— Ora, seu...
— Vai.
Dei vários tapas em seus braços, meus movimentos eram seguidos pelos olhos curiosos do bebê. Mas por pouco tempo, pois no outro ele estava quase engolindo a colher de plástico - de abelhinha, valhe dizer.
Como o super homem que sou, minha rapidez incontestável, tirei-a de suas mãos.
— Se alguma coisa acontecer aqui, se você queimar minhas panelas...
— Re-la-xa.
Tentei.
As ruas estavam gélidas e as árvores magricelas sacudiam. Meu óculos escuros não impedira a visão do meu carro estacionado, nem de uma chupeta encontrada no porta-malas. Foi aí que me deparei com o painel, ele mostrava a estaca zero de gasolina. Quis me jogar de uma árvore de um metro, para que eu não morra de verdade.
Não acredito que terei que deixar meu sedã, sendo este meu segundo filho, sozinho. Dá até agonia.
Então passei a andar por aí. A empresa onde trabalho não era tão longe, mas a pasta que eu carregava era meio pesada, então eu deveria pegar um táxi. Há um ponto duas quadras daqui, não seria cansativo, afinal. Mas fora conturbado.
Aquela voz.
Eu senti quando alguém tocou meu ombro e, lento, me virei. Jungkook. O moreno estava suado, os cabelos arrebitados pela corrida e uma pasta simples - daquelas escolares - estavam em suas mãos.
— Ca-caramba, você anda tão rápido!
— O que está fazendo aqui?
— Vim perguntar seu nome. O senhorzinho ali não quis me dizer, mesmo que eu tenha tentado subordina-lo e...
— Você o quê? Pelo amor, me esquece, maníaco. Daqui a pouco vai me assediar. — neguei com a cabeça, já voltando a andar.
Jungkook me seguiu, e eu quis socá-lo até... Até não dar mais.
— Qual o problema de dizer? É tão difícil?
— Escute. — virei-me para si bruscamente, o olhar sério me banhando. — eu não quero conversar contigo e nem temos assuntos. Você derrubou aquele troço em mim, lembra?
— Cara, foi sem querer!
— Não me chama de ''cara'', moleque. Não seja um chiclete, eu estou praticamente te mandando embora, isso não é o suficiente?
Jungkook suspirou profundamente e cansado, apertando sua camisa preta. O olhar preso nos sapatos.
— Só queria saber, mas deixa 'pra lá. Bom dia.
Ele andara para frente, me deixando para trás com uma cara de tacho. Sim, não precisa me dizer o quão fui rude com ele. Mas sou assim, fazer o quê, aberto para meus parentes - alguns - e para os meus amigos, o resto é... Resto.
Nervoso, arrumei meus cabelos e pude sentir o mingau já seco. Merda. Como vou entrar com isso no meu ambiente de trabalho?
Vi um táxi livre, já perto de seu ponto. Apronto minha pasta, já entrando. Todavia, me deparei com Jungkook fazendo o mesmo que eu. Nós franzimos o cenho.
— O que faz aqui?
— O que está fazendo?
Dizemos em uníssono. Respirei fundo massageando as têmporas.
— Jungkook, eu entrei primeiro.
— Mentira, fui eu.
— Preciso chegar ao meu trabalho.
— Eu também.
— Porr... — me corto. — só saia, ok?
— Não.
Ele cutucou o motorista e lhe perguntou quem entrara primeiro, tão infantil. Mas não ouvi mais, pois entrei em outro táxi. Que se ferre.
X
A grande empresa reluzia com suas janelas de vidro. De fato, era linda a forma como as árvores médias foram colocadas na frente. Era luxuosa, centro de atenções direta e indiretamente.
Agradeci ao senhorzinho do carro, pegando-o e dando-o uma gorjeta fraca. Que é? Pelo menos dei.
Tirei os óculos escuro para guardá-lo, mas parei. Parece que alguém também estava do lado de fora, os olhos envoltos no prédio alto. Parecia maravilhado, pois abriu a boca. Eu sinceramente não acredito que esse cara me seguiu até aqui. Preciso chamar a polícia?
— Dê meia volta. — eu disse, atraindo sua atenção. — juro que eu mesmo posso te tirar daqui!
— 'tá me seguindo?
— Eu?! Por que eu perderia meu tempo com isso?
— Não sei, vai que 'cê é bocó. — deu de ombros, passando a andar para frente.
Cocei minha cabeça. Inferno, como mata alguém sem ninguém saber? Será que dá? Ou ele vai fazer muito barulho? Espera. Ele entrou na minha empresa?
Também adentrando pude vê-lo parado na recepção. Ele parecia entregar alguns documentos para a moça, que escrevia no computador. Apertei meus olhos, apertando a ponta de meu nariz para não estressar-me. Quando abri a boca, Jimin entra em minha frente.
— Bom dia, Taehyung. Quer dizer, Senhor Kim.
— Que foi?
— Está de mal humor? Posso buscar um cafézinho.
— O que esse senhor está fazendo na minha empresa? - aponto para as costas de Jungkook, e Jimin seguiu meu dedo.
— Oh, esqueci de dizer. O Senhor tem um novo assistente.
— Não...
— Sim. O nome é...
— Jungkook não tem capacidade nem para alimentar um bebê, quem dirá ajudar alguém?! Jimin, eu...
— 'tá dando 'pt, é? — ouço a voz do miserável, seu sorriso ladino o acompanha prontamente.
Enquanto isso, Jimin arregala os olhos.
— Ei, não fale assim com o chefe!
— C-chefe?
Gelou.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.