- está anotando tudo o que ele está dizendo?
- sim. - Jungkook responde-me, centrado em seu bloquinho de notas azuis. Acho que ele esquece o ambiente onde está e, sendo assim, põe a língua para fora como se esforçasse para escrever.
Desconfiado, eu assenti e continuei a escutar Namjoon, que explicava todos os próximos passos para a colaboração que vamos ter com a Gucci.
Estávamos na sala de reunião 04, no andar correspondente. Havia uma mesa enorme com vinte cadeiras confortáveis e eu estava numa das esquerdas, perna cruzada sobre a outra e as mãos sobre a mesa, brincando com meu anel de prata. Jungkook e os outros também estavam sentados ora prestando atenção ora anotando coisas importantes.
Bem, este último não é bem o meu trabalho.
- nossa linha de produção bombou verão passado e vai bombar ainda mais neste. - Namjoon disse, apresentando um gráfico satisfatório. - marquei uma negociação para daqui umas semanas e os outros empresários não demoraram sequer um segundo para investir!
- onde será?
- o quê?
- a negociação?
- não, não me referi a isso. Na verdade, fiquei abismado por você não saber. É claro que é Nova Iorque!
- terra das estrelas... - Jin resmunga sonhador, uma das mãos apoiando seu queixo.
Ele literalmente babava por Namjoon e não escondia a fissura quando o cara está de terno preto.
Este lançou-lhe uma piscadela, e meu irmão suspirara. Eu revirei os olhos, achando nojento.
Verifiquei meu lado esquerdo e Jungkook fazia o mesmo, enrugando seu nariz quase que disfarçadamente. Ele é um bom ator às vezes, e eu só o flagrei por estramos perto.
- é a terra dos apaixonados.
- ei, Namjoon, esta não é Veneza? - Choi sugere, erguendo sua mão.
- tanto faz, desde que alguém romântico esteja nela.
- e quem seria? - Jin questiona, esperançoso.
- eu não sei, meu caro Seok. Garotas e rapazes com olhos expressivos e bocas bonitas podem contar.
- mas que... - resmunguei, balançando a cabeça para não dizer besteira. - desde quando flertar está no cornograma desta reunião?
- é ''cronograma'', irmão.
- vocês entenderam.
Principalmente Jin, que se acomodou em sua cadeira, desconfortável por minhas palavras e meu olhar reprovador.
Esses dois já ficaram uma vez, embora eu nunca tenha entendido como isso funcionava. Eu costumo chamar meu irmão de idiota por ele babar por um cara que, enquanto beijava-o, também se encontrava com uma loira peituda.
- Taehyung tem razão. - Namjoon diz, fazendo pouco caso da tensão de agora a pouco. - precisamos falar do lançamento desde verão. Temos o quê? Três meses para colocar nossas ideias em prática?
- por que não deixamos para Janeiro?
- porque o dinheiro não espera. - Choi respondeu Sehun, em sua pose observador que morde os lábios e balança a caneta. - vamos, digam datas que acham que daríamos conta.
Muitas mãos se erguem, dando-nos sugestões. Algumas boas, outras absurdas; como quando conseguiremos acertar o lançamento em um mês, por exemplo.
Eu quase ri, mas da burrice do comentário, e cruzei os braços. Espiei meu lado esquerdo uma segunda vez, percebendo o quão alheio Jeon estava nas palavras que voavam na sala.
Sem parecer intencional, me espreguicei para dar uma olhada curiosa no bloquinho, mas ele o abaixou.
Resmunguei.
- o que está fazendo, garoto?
Eu poderia vê-lo avermelhar-se de raiva pelo nome. Suspirara para não surtar, ajeitando seu lápis azul.
- estou anotando, como o senhor me pediu.
- não parece. Está desenhando?
- bom, sim...
- Jungkook?
- sim? - levou seus olhos até o meu, descendo-os até um ponto perigoso demais. E, ah, lento também. Eu chamaria isso de manipulação visual, porque ele me levou a fitar meus próprios lábios, também.
Que garoto esperto.
- ãn... - por que eu hesitei? Eu nunca pigarreio! - por que está desenhando em vez de fazer seu trabalho? Gosta tanto assim de o fazer? Então deveria ir para o setor de gráfico.
- não é isso. Eu entendo mais meus desenhos em forma de anotações do que as de verdade. Saca?
- ''saca''? - estranho, virando-me completamente para si. Meus colegas de trabalho ainda falam, mas eu não os escuto. Estou intrigado. - não entendi.
- estou perguntando se você compreendeu o que eu disse.
- ah. - pisco algumas muitas vezes. - então... Eu saquei...?
- sacou.
Meu Deus. O que estou falando?
Parecia que dei um tipo de pane no meu motor central, por que eu me virei trocentas vezes para o lado, para Jungkook, para frente. Eu fiquei ereto, arrumando as minhas abotoaduras, franzindo minha testa.
Até ouvir um risinho do moreno.
- o que foi?
- nada...
- hum, certo. Ei, o que é isso?
- isso o quê? - se afastou quando tentei visualizar seus desenhos, fazendo sua cadeira mover.
- o que está fazendo? Não parece ser da reunião.
- é claro que é.
- deixe-me ver.
- confie em mim, é sobre o assunto do lançamento.
- mas eu não confio em você.
- não tem anda de mais aqui.
- me deixa ver, então.
- senhor Kim...
- Jungkook, mas por que cargas d'água você geme quando-
Calei-me, só agora percebendo o quão alto eu falei isso. E, somado ao silêncio da sala, aquilo parecia um grito.
Todos estavam olhando para nós, inclusive meu irmão, que escondia seu sorriso safado detrás da sua xícara de café.
- quer compartilhar seus pensamentos, Taehyung?
- parecem interessantes... - Jin comenta, piscando.
Eu ponho minha pior cara.
- nada de compartilhamentos por aqui. - digo.
- certeza?
- Namjoon, qual é a data da negociação, mesmo?
Ele sorri ladino com a minha mudança de assunto, se recostando em sua poltrona.
- daqui há uma semana, no Golden Tour. Vamos almoçar na parte de...
Eles continuaram a tagarelar, e eu fingi escutar.
Esse calor me subindo é vergonha? Mas, caramba, eu não sinto vergonha!
Mais tarde, cerca de dez minutos para o meio-dia, havíamos terminado tudo que deveríamos acertar. Cumprimentamo-nos, demos boa tarde, e cada um foi para as suas salas e, quem sabe, para algum restaurante.
Eu e meu assistente estávamos andando pelos corredores cinzas da empresa, sapatos contra o piso de mármore, paredes com quadros esbeltos. Jungkook ainda estava fuçando seu bloco de notas, como se lá houvesse a coisa mais importante do mundo, mas eu tenho certeza que não era sobre Gucci, dinheiro, investimentos, essas coisas.
Eu tive que morder minha língua mais trocentas vezes para que ela não perguntasse o que era aquilo. E por que ele retocava e apagava tanto. Era um desenho, disso eu sabia.
Porém, de quê?
Fora do elevador, eu abri a boca.
- como anda as anotações?
- enormes, mas dá para entender.
- em gravuras...
- em gravuras.
- e você consegue explica-las?
- sempre.
- certo. Então me mostra.
- espera-
Antes que eu agarrasse as folhas de suas mãos, como se eu não agisse rápido Jeon iria escapar, ele arrancou a página em que estava tão empenhado para trabalhar.
Eu? Apenas fiquei com a capa do bloco, que saiu no processo.
Cerrei meus olhos.
- o que tem aí?
- aí, é, tem os empreendimentos que o Sr. Namjoon disse.
- não aqui. Na sua mão.
- na minha o quê?
- mão. Jungkook! - chamei sua atenção, dando alguns passos a mais para si. - me dá isso!
- mas que curiosidade é essa??
- eu que mando aqui!
- está bem, mas... Ei!
Eu parti para cima, estendendo meu corpo para pega-lo, mas Jungkook pôs o papel em um dos seus bolsos traseiros. Ri da sua petulância, pondo minhas mãos em minha cintura, sendo tão teimoso quanto Taeji, quando não quer cortar suas unhas.
Eu não sei que merda me deu nem porque acabei de fazer o que mais odeio: xingar. Contudo, isso nada se torna perante ao que acabei de fazer.
Virar Jeon Jungkook, meu assistente, para ficar de costas para mim e, no meio desse processo, ele ter ficado sem equilíbrio e ter que se apoiar na parede, foi meu pior erro. E pior posição. Mas, céus, eu ainda tive que enfiar minha mão no bolso onde ele colocara a figura para só então ele soltar um grito!
Sinceramente, o que eu estou fazendo?!
- SENHOR KIM! - ele berrou, travando uma batalha comigo ao tentar tirar minha mão do seu bolso.
- eu quero ver o que tem aí!
- m-mas não precisa pegar na minha... A-ái!
Jungkook sabe fazer uns barulhos muito, mas muito inoportunos, mesmo.
Quando eu consegui o que queria - depois de ter bagunçado todo meu terno e meu cabelo, não sei como - faltava apenas desdobrar o papel. Tão perto, tão longe; eu estou agindo de um jeito que não é meu. Todavia, mesmo assim, por mais que eu estivesse curioso para vê-lo, meu irmão apareceu do meu lado, me cortando.
- Tae... - murmura, chocado. - por que... Você está prensando seu assistente contra a parede...?
Olhara para minha cintura, boquiaberto.
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