Jungkook on
Quando saí da casa dele, pus-me andar sem um rumo certo.
Tô fodido. Fodido por estar perdido e por estar apaixonado por um cara que claramente não só me vê como um brinquedo, como também faz isso com todos. Peças de lego que podem ser montadas e desmontadas a todo momento, para construções piores ou melhores do que as atuais.
No meu caso, as piores depois das piores.
Não vou começar com um discurso entristecido ou coisa e tal. Na verdade, ele foi muito simples: apesar dos apesares — e põe apesares nisso —, acabei me apaixonando pelo meu chefe. Eu sei. Ok. Ele é frio, mandão e egocêntrico. Não pedi para gostar dele ou admirar o quão bonito o filho da puta fica quando veste aquele colete com gravata. Só aconteceu.
E fodeu, como eu disse. Falando nisso, quando fodemos até cheguei a pensar em esperança. Qual é. Não sou de me apaixonar, mas aconteceu, e é claro que alguém assim vai pensar em namorar a outra pessoa. Dizem que sexo pode conectar os que não estão e reconectar os que um dia estavam.
Adivinha-se. Não aconteceu. De novo.
Acreditei naquilo, não cegamente, mas com perseverança. O famoso: vai que. Ou: talvez.
Nenhum deu certo, e aqui estou eu sentado na rua. As merdas aconteceram e eu posso dizê-las. Minha mãe morreu recentemente e nem sei como estou aqui, agora. Tendo força pra pensar nisso tudo. E, ah, transei com meu chefe de novo, depois de prometer que eu não faria isso.
Não deu. Odeio dizer disso, mas me senti frágil e só queria ser segurado por alguém. Aparentemente, eu só ia ser segurado se oferecesse sexo. E foi isso. Não tô dizendo que não gostei, mas a razão bate na porta mais tarde: não era pra ter acontecido, merda.
Mas se eu ficar remoendo isso vou enlouquecer. Então prefiro sentar numa calçada e parar com tudo isso. Encontrar um novo jeito pra procurar trabalho, porque eu realmente vou sair do meu atual, e com a experiência dos meses em que fiquei nele, vou poder achar um igual. Ou quase igual. Não importa agora.
O que importa é que meu celular tocou algumas vezes e devido ignorar. Sabia que não era Taehyung, mas não foi por isso que não atendi. Só precisava ficar um tempo sozinho, sem ninguém pra me perguntar nada. Ficar na minha sempre foi o remédio mais eficaz em dias como esse.
Mas eu não poderia rejeitar mais as chamadas. Os carros, mesmo sendo poucos, passam por mim e trazem um ar fresco. Gosto disso, porque me sinto melhor. Por isso, atendo a chamada — uma das trinta que recebi.
— POR QUE MERDA VOCÊ NÃO ATENDE,HEIN???
— NÃO GRITA! Minha cabeça tá doendo, imbecil.
— ah, pronto. Agora eu que sou o imbecil. Jungkook, você passou a noite fora e até o momento não voltou pra casa. O que quer que eu diga?
— qualquer coisa, desde que seja em um tom mais baixo.
Houve um suspiro agudo na linha.
— olha aqui, tanto faz. Só quero que venha pra casa. Prometemos revelar aquelas fotos da mamãe.
— você sabe como imprimir. Faça você mesmo.
— Jungkook! É a nossa mãe e ela está morta agora. Será que dá pra gente ficar junto num momento como esse? Voltei pra cá exatamente pra isso.
— tudo bem. Mas não grita no meu ouvido.
Tive o telefone desligado na minha cara e, quinze minutos depois, um táxi pra me levar pra casa.
Hoseok sempre foi um irmão mais velho irresponsável, apesar de ser bom. Ele quem formou quem sou, com todas as minjas maluquices e manias. É claro que estou feliz por finalmente vê-lo, mas não gostei da circunstância. Nossa mãe teve que morrer para, enfim, voltarmos a ficar juntos.
Ainda não sei se ele vai morar comigo ou alugar alguma casa perto. Até porque nós fazemos muita bagunça quando juntos. Mas eu só sei que ele tá de volta e como sempre fora. Isso é bom, porque ele me distrai de tudo o que quero me distrair.
A visão que me recebe que me recebe assim que chego em casa é de várias e várias fotos no chão. Caminho, com cuidado para não pisar, e encontro Hoseok imprimindo mais delas.
É hoje que perco todo meu papel.
— o que pensa que tá fazendo? — questiono, tirando meu casaco e me aproximando. — para com isso!
— ah,oi, maninho. Tô tirando cópias da mamãe. Tem umas trezentas senhoras Jeon agora.
— você é louco, só pode ser isso. Desliga. Vai acabar com meu estoque.
— para de ser implicante! — reclama, me afastando com sua perna esquerda. Ele não consegue. — só quero fazer uma lembrança dela!
— a gente olha pro tapete de crochê e lembramos dela. Olhamos para a jarra de suco que ela comprou e lembramos dela. Basta olhar pra cara um do outro e lembramos dela. Pra que quer trezentas cópias, então?!
— é uma idéia minha
— me conte, então. — me jogo no sofá vermelho, esmagando minha bochecha direita no meu punho. Não estava com muito ânimo para discutir.
E Hoseok continua a imprimir, trocando as tintas. As fotos estavam mais para Art-Pop do que pra qualquer outra coisa.
Ele apoia os cotovelos magros no encosto do sofá e me coça seus braços.
— bem, basicamente a gente vai colar essas inúmeras fotos juntas, formando uma só. Você que manja dessas artes aí, gostou?
— gostei, mas é trabalhoso.
— trabalhoso= mais tempo com seu irmão mais velho. Qual é. Se anima.
— nhé. — faço cara de debochado, o que faz Hoseok se contorcer de rir. Sempre muito louco. — vou tentar depois de comer e tomar banho. Não exaltamente nessa ordem.
— então essa cara aí é de cansaço? Deve ter trabalhado muito pro chefe. Chefe gostosão, como você, todo gay, fala.
Hoseok é hetero e sempre gosta de me zoar por ser gay. Não porque tem preconceito algum, mas ele gosta de sempre me lembrar.
Eu rio, tapando meu rosto. Sai abafado:
— para com isso. Ele é um babaca, insensível do caralho que acha que o mundo só roda em torno do pau dele.
— uh,nossa. Temos um ressentimento aqui.
— não começa. Por favor.
— mas parece que você pensa no pau dele, também. Sabe, maninho — aconchegou mais seis braços no encosto —, sempre penso em vocês transando na mesa dele.
— HOSEOK! PARA COM ISSO!
— MAS É SÉRIO! E sei que você quer isso.
— não quero. Você não tá entendendo: eu gostei dele,mas ele é um idiota. Captou?
— captei. Mas você ainda quer afogar o ganso. Ou ter um afogado em você.
— puta merda.
Meu rosto corou, e eu joguei o travesseiro nele. Ele acertou sua boca em cheio e Hoseok teve que tossir muito pra se recuperar.
Falei: — nós transamos, mesmo. Foi minha primeira vez tendo... o buraco enfiado. Ele não me preparou muito ou coisa e tal. Foi bastante incômodo no começo.
— você disse que era virgem?
— não.
— por quê?
— não me pergunte.
— mas por que,Jungkook? Devia ter falado.
— eu não sei, tá legal?! — gritei. — não sei! Eu só não disse.
Foi sua vez de fazer a cara debochada.
— se vocês transaram, por que você tá mal?
— não tô mal. É só que ele apenas quer isso. E outra coisa: ele trata todo mundo como se estivesse no topo.
— é de se esperar. Ele é o dono da quebrada.
— mas ele também devia ter educação, e não tem. Ah, quer saber? Foda-se. Vou me demitir hoje e tudo vai ficar bem. — me levantei. Decidido, fui pra cozinha pegar alguma coisa pra comer. A geladeira estava cheia, por sorte. — se gostei dele, tem como desgostar. O cara não é inesquecível.
— não sei, nunca vi. Mas não tem como saber, sou pertencente às mulheres. — ele voltou a imprimir mais fotos coloridas, sorrindo. Era bom tê-lo de volta.
Não deve ser difícil esquecer Taehyung. E a sua personalidade só vai me ajudar a afundá-lo. Tô comendo chocolate agora e é a melhor coisa que eu deveria estar fazendo, porque me deixa em paz para não pensar nessas coisas.
— mas sair do emprego é necessário? — pergunta, recortando algumas imagens que vieram erradas. Senti no sofá novamente.
— sim. Não quero vê-lo. De verdade. E nem vem tentar me dizer o contrário.
— longe de mim, mano. Só quero seu bem, mesmo que ele envolva sair duma empresa rica e que paga bem pra caralho, o suficiente pra comprar coisas que a gente sempre quis e nunca tivemos. —falso,sorriu.
— idiota.
— você sabe que estou brincando. Saia de lá e dê a Taehyung uma banana em forma de adeus. O cara não te merece.
Não merece, de fato.
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