Diferente dos colégios convencionais, na faculdade não havia o clássico toque do intervalo e os professores manipulavam o horário de suas aulas como bem entendiam. Christopher mal lembrava de como era a escola e o diferente sistema da universidade apenas bagunçou mais a cabeça do Bang.
O australiano olhava para o celular a cada cinco minutos, ansioso em sair da aula pois estava com fome e sua barriga clamava por socorro, ele poderia muito bem sair dali e ir comer em paz, mas não queria o peso na consciência de estar perdendo alguma parte da aula. Quando, finalmente, seu professor finalizou a explanação do conteúdo Christopher colocou o celular no bolso da calça junto da carteira e saiu da sala.
O mesmo estancou logo na porta, como Felix sempre dizia: ele tem um péssimo senso de direção, não lembrava por qual caminho seguir. O Bang olhou para os lados, ainda não havia feito amigos e não queria pedir que o Lee fosse buscá-lo na sala, então sorteou com sua visão uma pessoa aleatória que viria a ser seu possível guia e se aproximou de forma rápida, antes que o escolhido fosse embora.
— Oi! — Seu tom foi alto e claro.
O veterano parou onde estava, encarando o outro com uma expressão confusa e levemente assustada pelo grito repentino.
— … Olá. — Respondeu ainda perdido em meio a situação.
— Oi. Pode me ajudar? Eu cheguei hoje aqui e não sei para onde ir. — O Bang soltou o largo sorriso com covinhas e observou o outro que parecia ainda mais confuso, mas pensou que talvez fosse o seu sotaque.
— Ah, é. Acho que dá, quer ir pra onde? — O moreno perguntava enquanto olhava a hora no celular.
— Um lugar que tenha comida por aqui. — Deu um risinho constrangido.
— Beleza, eu tô indo comer também, pode vir junto. — Disse simples antes de guardar o celular no bolso. — Qual seu nome?
— Chris… Christopher Bang. Mas pode me chamar de Chan também. E o seu?
— Minho. Tu não é daqui, né? — Ambos foram andando juntos pelo corredor.
— Ah, não. Eu vim da Austrália, mas já morei aqui por um tempo.
— Teu sotaque é forte pra caralho.
— É, eu costumo ouvir isso. — Sorriu. — Ahm, você é veterano de música?
— Uhum. E você novato pelo visto. — Brincou.
— É, acho que tá meio na cara.
— Um pouco. Olha, eu tenho que buscar um amigo antes de ir comer, tudo bem pra você? É pertinho daqui.
— Uhm? Ah, sim. Sem problemas.
O Bang abanou as mãos e continuou acompanhando o Lee até chegarem em outro bloco de salas.
— Pode ficar aí, eu volto logo. — O veterano avisou antes de entrar na sala.
— Certo. — O Bang apenas concordou e ficou aguardando ali.
Ele não demorou muito, logo Minho saiu da sala acompanhado do tal amigo. O australiano ergueu o rosto em direção a porta ao ouvir as vozes se aproximando e arregalou os olhos por milésimos de segundos, surpreso com o rapaz bonito que segurava o braço do Lee.
Sentia-se hipnotizado pela beleza de Hyunjin, há quanto tempo ele não tinha aquela sensação de apaixonite adolescente à primeira vista?!
— Agora podemos ir. — Minho disse ao se aproximar do Bang. — Esse é o Hyunjin, meu amigo. Hyun, Chan, ele é novato, tá vindo comer com a gente.
— Ah, mesmo? Bem vindo! — O Hwang sorriu, seu olhar mirava na direção da parede do corredor à sua frente.
— Ah, obrigado. — Chan sorriu de volta, ele parecia ter saído definitivamente do transe. — É um prazer conhecê-lo, Hyunjin. — Tentou ser educado e inclinou o corpo suavemente ao mesmo tempo que estendia a mão para cumprimentar o Hwang, mas não teve resposta.
— Ele não enxerga, cara. — Minho manteve o rosto sério enquanto olhava o Bang.
— É? Ah, eu… não percebi. Desculpa. — O australiano voltou a curvar-se e segurou as mãos atrás do corpo, envergonhado pela cena.
— O que houve? — O Hwang perguntou ao mais velho, que apenas negou.
— Nada, vamos logo.
Eles seguiram juntos enquanto Christopher enviava mensagens a Felix, tentando explicar para onde estava indo. Pararam a caminhada assim que chegaram a um dos refeitórios do campus, cada um buscou comprar o que queria comer e logo estavam todos juntos em uma mesa grande, prontos para receberem seus outros amigos.
— Cadê aqueles bolinhos que tu falou? — Minho perguntava enquanto bebia apenas uma latinha de refrigerante, não podia torrar seu dinheiro comprando os lanches caros dali todos os dias.
— Ah, estão aqui. — O Hwang respondeu colocando a sacola com o pote de bolinhos sobre a mesa dali. — Mas só é pra abrir quando o Jisung chegar.
— Uhm. — O Lee fez careta, mas concordou, esperando ali.
— Meu amigo disse que vai vir pra cá, tudo bem ele se juntar? — Chan perguntou.
— Claro que sim, quanto mais gente, melhor a bagunça. — Hyunjin sorriu e o australiano apenas derreteu com aquela expressão. — Ele também é novato?
— Certo. Ah, é sim. Mas ele faz psicologia. — Respondeu. — E você… você faz o que? Música também?
— Eu faria se tivesse um pouquinho de talento pra isso, mas sou péssimo no karaokê. — o Hwang brincou entre risinhos. — Meu curso é Artes Plásticas.
— Ah, aposto que canta bem. — sorriu. — Wow! Sério? Isso é muito legal… e interessante. É muito complicado estudar isso com… sabe…?
— É sim, mas tenho conseguido desenrolar com ajuda dos monitores e dos professores. Eu espero poder me graduar bem.
— Com certeza vai. — Minho completou sorrindo pro amigo.
— Obrigado. — Hyunjin murmurou de volta.
— BOO! — Mãos pequenas pousaram sobre os ombros largos do Bang, fazendo o mesmo pular da cadeira num susto fofo. — Assustou? — Felix riu com a reação do amigo e, só então, olhou os outros ali. — Olá, não sei se o Chris já falou de mim, mas sou Felix, viemos juntos de Sidney.
— Ele comentou, mas não sabia que era estrangeiro também. — O Hwang sorriu. — Sou Hyunjin.
— Eu, Minho. — Ergueu a mão enquanto tinha os olhos no celular.
— Prazer. — Lix sorriu. — Posso sentar com vocês?
— Pode sim. — O Hwang concordou.
— Obrigado.
— Sua voz é muito bonita. Nunca conheci alguém com voz grossa assim. — Hyun comentou.
— Oh, obrigado. Não costumam me elogiar por ela.
— Eu gostei, vou reconhecer sua voz rapidinho. — Hyunjin sorriu e o Lee o acompanhou. — E você não tem sotaque forte como o Chan.
— Ainda bem. Ah, eu passei mais tempo morando aqui que ele, não perdi o jeito.
— Entendi.
— Jisung tá vindo. — Minho disse enquanto xingava o han pelo chat no celular, frustrado pela demora em chegar.
Este se apressou com as broncas do amigo e chegou aos pulos na mesa onde estavam reunidos.
— Cheguei. — Murmurou levemente ofegante. — Por que vocês não pegaram uma mesa no outro refeitório? Esse é muito longe! — Choramingou.
— Hyunjin queria esse. — O Lee se justificou.
— Ah, só vende suco natural aqui, eu não tenho culpa. — O Hwang se defendeu e pegou o recipiente onde guardava os bolinhos. — Agora que chegou, podem comer os bolinhos.
— Finalmente. — Minho suspirou e já foi pegando um.
— Parecem bons, a gente tá incluso também? — Felix sorriu ao receber a confirmação do dono da comida e pegou um para si e outro para Chan.
— Obrigado, Hyunjin. — Chan murmurou enquanto comia.
— Eu nem sabia que tinha trazido isso. — Jisung falou com as bochechas cheias e, só então, notou a presença de alguém conhecido ali. — Hey! Você é o garoto que esbarrou em mim hoje mais cedo!
— Eu? Ah, é… Desculpa de novo. — O Lee sorriu envergonhado.
— Se esbarraram? — Minho murmurou olhando o Han.
— Foi acidente. — Respondeu. — Ah, sem problemas. Mas qual é o seu nome? Saiu correndo sem dizer nada.
— É Felix. Eu… tava com um pouco de pressa. — Deu um sorriso amarelo e terminou de comer o bolinho.
— Entendi. Pode me chamar de Sung. — Sorriu e o outro acenou.
O Han sentou-se ali com os outros e passou a interagir com os calouros, que ainda pareciam um pouco deslocados. Em pouco tempo, alguém se aproximou para juntar-se a eles, a maioria não notou, mas Felix o viu de longe.
A imagem fez o garoto levantar de vez e encarar a direção por onde vinha o homem.
— Lix? O que foi? — Chan perguntou confuso.
— An? Eu… nada! Eu preciso ir ao banheiro. — Disse enquanto juntava suas coisas ali.
— Quer que eu te leve lá? — Jisung ofereceu a ajuda, mas foi negado.
— Não! Não, obrigado, eu… volto depois. — Disse antes de sair apressado dali.
Todos encararam confusos a cena, mas deixaram pra lá, preferindo imaginar que ele apenas teve uma situação de emergência com seu intestino.
— E aí. — Changbin foi quem chegou ali.
— Pensei que não ia vir pra cá. — O Han comentou olhando o colega de turma.
— Mudei de ideia. — O Seo respondeu simples e sentou onde antes estava o Lee. — Quem era aquele que saiu?
— Uhm. O amigo dele. — Apontou para o Bang. — O mesmo que esbarrou comigo no corredor.
— Ah, sim. — Acenou.
— Chegou um pouquinho tarde, Changbin. — Hyunjin deu um risinho enquanto guardava o pote de volta. — Mamãe mandou bolinhos.
— Eh? E por que não deixaram pra mim?!
— Eu disse que você não vinha e o Minho comeu. — Jisung deu um risinho.
— Porra.
— Não começa a dramatizar. — Minho abanou a mão para o outro.
Mais adiante, todos voltaram para suas devidas aulas e aguardaram serem liberados, para logo estarem aglomerando os corredores enquanto comemoravam o fim do horário.
— Vai direto pro trabalho? — Jisung perguntou a Minho logo que chegou no banco onde sempre se encontram com Hyunjin.
— Uhum, preciso. Quer que eu te deixe em casa? — O Lee perguntou enquanto digitava algo no celular.
— Não, eu vou com o Hyunjin, você pode ir.
— Nesse caso, tchau. — Minho se despediu e tocou o braço de Hyunjin como forma de avisar que já estava indo.
— Tchau. — O Han acenou junto do Hwang e observou o Lee por alguns segundos, até perdê-lo de vista. Só então olhou o outro amigo. — Vamos? Vão vir de buscar de carro hoje ou vai de metrô?
— Metrô, mamãe mudou o horário do trabalho e não tem mais tempo de vir me pegar. — Explicou com um sorriso pequeno e levantou.
— Tudo bem, então. Quer que eu te ajude ou vai com o bastão?
— Posso ir com o bastão, obrigado. — Disse e o Han concordou, seguindo com ele.
Jisung voltou ao apartamento após se despedir de Hyunjin no metrô e tirou a tarde para descansar. O seu hobby preferido de todos os dias era sintonizar o celular na rádio em que Minho trabalhava como locutor, era quando o Han podia deitar no sofá e cantarolar suas músicas preferidas com seu olhar apaixonado e sorriso bobo sempre que ouvia a voz de seu amado, o Lee nunca desconfiaria de sua paixão platônica se não o visse abobalhado, certo? Era assim que ele pensava.
Com o final do dia, Jisung buscou fazer um jantar e aguardou pacientemente por Minho, porém, as horas passaram e o Lee não chegou em casa como deveria. Han sabia o que estava acontecendo e odiava aquilo, odiava de todas as formas.
Já eram quase onze horas da noite quando o celular do coreano vibrou sobre a mesa, não hesitou em atender, era Minho que o ligava.
— Sung? Vem me buscar! — O Lee murmurou quase inaudível do outro lado do telefone, a voz levemente embolada e fala grossa confirmavam o pensamento do Han.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.