História Olhos Pincelados . HyunChan . MinSung . ChangLix - Capítulo 17

Changbin foi liberado de suas aulas um pouco mais cedo que o habitual. Então decidiu que seria divertido ir à quadra coberta do campus e pegar uma bola de basquete para jogar um pouco sozinho.

Ao chegar lá, subiu as arquibancadas para buscar, em um cesto dali, uma das poucas bolas que ficavam disponíveis abertamente para os alunos usarem sempre que quisessem. Enquanto subia pacientemente, notou que não estava sozinho. A silhueta de um rapaz solitário chamou sua atenção, então desviou sua rota e foi caminhando até o jovem.

— Felix? — murmurou ao reconhecer o moreno, seu semblante estava entristecido.

Changbin crispou os lábios ao imaginar o porquê. Recordou-se de sua conversa com Wooyoung horas atrás, talvez já tivessem terminado, talvez aquilo que ele fez tivesse sido uma péssima ideia.

— Ah, oi, Changbin. Não te vi. — murmurou, passando os polegares sobre os olhos para limpar algumas lágrimas.

— Quer companhia? — perguntou baixo e recebeu uma afirmação.

O Seo então sentou-se ao seu lado, o observando.

— Aconteceram algumas coisas hoje… Eu… acabei terminando meu namoro com Wooyoung…

Changbin mudou sua expressão para surpresa ao ouvir que ele havia terminado, suas sobrancelhas arquearam e seu corpo ergueu-se sem que notasse.

— Você terminou? — murmurou.

— Uhum. Nossa relação nunca foi perfeita… mas eu insistia em dar mais e mais chances pra ele… acho que cheguei ao limite hoje — disse enquanto encarava o chão, fungando baixo. — Não devia ter tentado um relacionamento novo…

— Não, isso não tem nada a ver — negou imediatamente. — Não é porque ele agiu mal com você que não deveria procurar outros relacionamentos… haverá alguém que te tratará como merece. Só precisa ter calma e… conhecer novas pessoas — murmurou, mesmo que o doesse falar aquilo.

— Acho que está certo, mas é difícil… — murmurou e deu um risinho triste. — Não acha estranho eu estar recebendo esse conselho de um ex namorado? — olhou o Seo.

— Talvez seja. Mas eu só quero que fique bem, de verdade — murmurou enquanto retribuía o olhar.

— Uhm… — acenou com a cabeça. — … Eu… posso te confessar uma coisa?

— Claro…

— Eu estou começando  a achar que… a pessoa certa… a pessoa que "me trata como mereço"... — fez aspas com seus dedos. — … é alguém com quem já tive um relacionamento no passado. 

Changbin crispou os lábios ao ouvir a resposta, sem saber como reagir àquilo.

— Talvez não… — disse baixo. — Também tenho algo para te confessar…

Pensando em algo ruim, o Lee o encarou preocupado, mas concordou que ele falasse.

— Eu sabia… sobre Wooyoung tentar forçar relações com você… — murmurou. — Na primeira vez… eu os vi passando pelo complexo e segui porque achei estranho estarem ali, então eu vi… e hoje mais cedo… eu imaginei que fosse algo parecido.

Felix o encarou surpreso com aquela revelação.

— Eu… também tentei resolver as coisas do meu jeito… de novo. — confessou enquanto desviava o olhar para o chão. — Na primeira vez eu… ameacei ele, o mandando parar de fazer coisas que te incomodavam e… e hoje… tentei o forçar a se afastar de você e… terminar o namoro — finalizou, sentindo-se ainda mais envergonhado por seus atos.

— Estava… tentando me proteger? — murmurou e ele acenou devagar com a cabeça. 

Felix teve lembranças das vezes em que o via na diretoria do colégio, após o vídeo vazado, todas por arrumar confusão com outros garotos. Parecia sempre estar um semblante triste, mesmo que os hematomas em seu corpo mostrassem que tinha raiva. Lembrou-se de quando Changbin confessou ter ido parar no reformatório, acusado por tantas agressões que fez, por tentar usar a violência para punir quem  o importunava pelo video.

— Acabei batendo nele hoje também… desculpe por continuar sendo um imbecil, eu só… não aguento ver outra pessoa te machucando e… acabo fazendo besteira sem pensar. Eu… eu entendo se não quiser mais olhar na minha cara, acho que não mudei merda nenhuma desde aquela época… mesmo tendo tentado. — murmurou, cada vez mais baixo, mas Felix pôde ouvi-lo com clareza.

— Obrigado — A fala surpreendeu o Seo, fazendo-o encarar Felix em completa confusão. — Obrigado por ser sincero e contar o que fez — murmurou. — Eu não concordo com o que fez, é verdade… mas fico bem em saber que não me escondeu nada e… e que não ignorou minha situação… digo, mesmo nós estando um pouco distantes um do outro, você agiu como um amigo próximo com instinto protetor. Eu o compreendo. 

Changbin o ouviu atentamente e sentiu seu peito apertar com as palavras do outro, agora era ele que queria chorar.

— E não diga que não mudou. Eu o conhecia muito bem e posso dizer que é um homem extremamente diferente do garoto que esteve comigo. Você sabe reconhecer seus erros e, por mais que possa falhar alguma vez, está insistindo em mudá-los. Isso é o que te faz ser alguém melhor agora. 

Changbin concordou com a cabeça lentamente, seus olhos estavam marejados e ele tentava seca-los.

— Além do mais, sejamos sinceros, violência não é a solução. Mas Wooyoung estava merecendo uns tapas — brincou, uma tentativa de quebrar a tensão.

— Não me faça rir de algo assim… — disse o Seo, dando um risinho fraco e contido pela vontade de chorar.

— Desculpa… — murmurou com um sorriso pequeno, observando o coreano. — …Não fique mal por isso, está tudo bem… E não quero me afastar de você. — disse — Pelo contrário… — murmurou mais baixo.

— Obrigado… — ele respondeu em mesmo tom. Felix sorriu minimamente.

Lentamente o Lee levantou-se de onde estava.

— Changbin… posso te pedir algo?

— Uhm? Pode — assentiu sem pensar duas vezes, tentando recompor-se.

— Posso te abraçar?

A pergunta o deixou surpreso novamente. 

— Tem certeza disso? — murmurou, ainda tinha medo de que ele não se sentisse confortável.

— Uhum.

O coreano levantou-se como ele e abriu is braços suavemente. Feliz se aproximou sem relutar, primeiro envolveu o corpo do moreno com seus braços e depois escondeu o rosto em seu peito, permitindo-se fechar os olhos para apreciar o toque. Changbin ofegou ao tê-lo tão perto novamente, circulou o corpo pequeno com seus braços fortes e apertou suavemente, sentindo Felix apertar suas roupas ao mesmo tempo. 

O Lee respirou devagar, emitindo um som semelhante a quando se está chorando, seu peito havia se aquecido com o contato. Depois de tanto tempo, sentia-se protegido envolto dos braços do Seo, talvez seu coração realmente estivesse pedindo aquilo. Changbin também sentiu seu peito relaxar, em um sentimento bom que não conseguia descrever, ele se permitiu fechar os olhos também e apenas sentir o mais novo ali. 

Ambos demoraram bons segundos naquela posição, então Felix lentamente afastou-se, tendo seu olhar nos olhos de Changbin. O Seo respirou profundamente e afastou as mãos.

— Eu… eu estava indo jogar basquete. Não quer vir? É… é bom se distrair. Não é? — murmurou, sem jeito por toda a cena anterior.

— É sim. — Felix concordou. — Podemos jogar…

— Vou buscar a bola. — O Seo saiu apressado para buscar a bola, era claro para o Lee que ele só estava fugindo para não ter que tocar em um assunto mais delicado.

Enquanto o observava, Felix sorriu e deu um risinho baixo, negando com a cabeça e, só então, andou pacientemente até a quadra.

— Aqui. Podemos começar. — O mais velho entregou a bola a Felix e correu para dois metros de distância dele, ficando de frente para o Lee.

O australiano segurou a bola e não teve reação alguma. Ficou apenas observando o Seo por alguns segundos, sentia como se estivesse vendo novamente aquele garoto quieto e atrapalhado que adorava esportes e o arrastava para a quadra para jogarem um pouco. Felix não sentia adoração pelo baquete, nem tinha vontade de jogá-lo, apenas passou a gostar do esporte por todas as vezes que jogava com ele. 

— O que foi? — Changbin estranhou ele continuar parado ali.

Felix apenas deu um risinho ao sair do transe e lhe jogou a bola.

— Binnie… — murmurou o antigo apelido do Seo. Ele sorriu ao ouvi-lo.

— Bbokie. — chamou-o de volta, segurando a bola e, só então, iniciando um jogo a dois.

✩★✩

Durante a tarde, a dupla de amigos, Han e Hwang, estavam sozinhos em casa. Hyunjin estava em seu quarto, lendo um dos conteúdos das provas que logo chegariam, quando ouviu um barulho alto vindo da cozinha.

Franzindo a testa por achar estranho, já que Jisung raramente era de ficar na TV ou ouvindo algo no celular no volume alto, Hyunjin saiu do quarto e foi caminhando em direção de onde viera o barulho.

— Oh, eu te atrapalhei? Desculpa — disse Jisung ao ver o amigo se aproximando. Ele estava sentado à mesa, ouvindo algo em seu celular, já com o volume baixo. — Eu esqueci que o volume tava no máximo e cliquei sem querer — confessou constrangido.

— Não, tudo bem. Eu só achei estranho e vim checar o que era — Hyunjin coçou a bochecha com o indicador. — O que está fazendo? Achei que fosse estudar nesse horário também.

— Eu ia, mas… — O Han parou ao ouvir a voz no celular.

"Este foi Start Line do 3racha!

Agora, aí vai uma música para aqueles que estão solitários em seus quartos e com a cabeça rodeadas de problemas. Lembrem-se, vocês não estão sozinhos.

Senhoras e senhores, Silent Cry de Stray Kids!"

— Esse é o Lino? — Hyunjin perguntou surpreso ao ouvir também. — Sintonizou na rádio que Minho trabalha?!

Jisung crispou os lábios.

— Uhum… — confessou baixo.

— Vocês não conversaram ainda, não foi? — o Hwang murmurou, sentando-se em uma das cadeiras vazias.

— Não. Eu não tive coragem… e também não acho que deveria ir atrás, foi ele que causou tudo isso… — Suspirou.

— Uhm… tem razão nisso. Lino também está com medo de falar com você — Hyunjin recebeu a atenção do Han com sua fala. — Ele ficou em cacos quando o viu com Seungmin.

— Mesmo? — Jisung crispou os lábios.

— Mesmo. E… se o interessa saber… mesmo sabendo que você está comprometido, ele terminou o namoro com Yuna. Me disse que mesmo que vocês não ficassem juntos, ele iria te provar que estava mudando para alguém melhor. 

— Ele… fez mesmo isso? — indagou surpreso e recebeu uma resposta afirmativa do Hwang, então gemeu frustrado. — Eu não estou comprometido.

Dessa vez foi Hyunjin que ficou surpreso.

— Seungmin e eu nunca tivemos nada, apenas estava saindo com ele para nos conhecermos, mas não nos comprometemos. Pra falar a verdade, somos bons amigos, sua companhia é divertida, mas não acho que serviriamos como casal — explicou.

— Oh… E por que não me disse quando o perguntava?

— Eu sabia que você ia dizer ao Minho, preferia omitir. Só isso. — Jisung apoiou o queixo em sua mão.

— Eu compreendo… — murmurou, logo a música que tocava na rádio foi finalizada e Minho voltou ao comando.

"Agora teremos um pouco de música Ao Vivo. Para ser mais específico, do locutor preferido de vocês, estou certo?!

Bem, sei que nunca cantei aqui. Na verdade nunca cantei em público, mas desta vez é por uma boa razão, então… devo me esforçar para conseguir.

Essa é uma canção autoral, um pedido de desculpas para alguém… bem, vamos começar!"

A dupla de amigos encontrou-se em uma situação de confusão e surpresa, afinal, Minho era extremamente tímido para cantar em público. E mais ainda, não era comum que ele mostrasse uma de suas canções.

Ambos então passaram a dar atenção a voz do Lee, buscando compreender a letra a cada palavra cantada.

Out of Touch (Dove Cameron)

Trad*YT*Lyrics de Músicas

Acordei do lado errado de você esta manhã. Ontem a noite, eu disse algumas coisas no calor do momento.

Você sempre me perdoa, como eu poderia esquecer? Você fica na minha cama quando eu preciso de alguém.

Sim, eu te faço passar por algumas coisas, mas, pelo menos, não são entediantes.

Quem vai me dizer que estou fora de alcance quando as luzes se acenderem e eu ainda estiver fodido?

É verdade, eu espero que seja você.

Quem vai me chamar a atenção por todas as minhas merdas, quando eu for longe demais e você estiver cansado disso?

É verdade, eu espero que seja você.

Você me ama mesmo quando estou me sentindo mal. Você não desiste de mim quando testo sua paciência.

Você sempre me perdoa, como eu poderia esquecer? Você não vai embora quando estou sendo negativo.

Não, você nunca suaviza os problemas e é por isso que você é o melhor.

E eu estou tentando não te empurrar demais.

Sim, eu estou tentando, mas não está sendo bom o suficiente.

Quem vai me dizer que estou fora de alcance quando as luzes se acenderem e eu ainda estiver fodido?

É verdade, eu espero que seja você.

Quem vai me chamar a atenção por todas as minhas merdas, quando eu for longe demais e você estiver cansado disso?

É verdade, eu espero que seja você.

Ao finalizar, Minho tentou dizer algo mais direcionado em relação a pessoa para quem dedicara a música, mas não encontrou palavras. Então apenas agradeceu e voltou a programação normal.

— Isso era pra ser um pedido de desculpas? — Jisung murmurava enquanto tinha  uma mistura de sentimentos que fazia seus olhos lacrimejarem.

Ele podia enxergar perfeitamente cada uma das cenas que foram citadas na música, poderia dizer que aquela era a perfeita descrição de toda a relação que tiveram antes de separar-se. Mas foi a primeira vez que ouviu Minho reconhecer cada pequeno esforço que fazia por ele.

Hyunjin notou o jeito choroso do Han, sabia bem ele ficava emotivo em algumas situações em específico, e aquela era uma. O Hwang esticou cuidadosamente a mão sobre a mesa, buscou pela de Jisung e a segurou suavemente ao encontra-la.

— Eu… acho que na verdade foi uma forma de se declarar pra você. E mostrar que agora enxerga os problemas do passado — murmurou. — Ele ainda está aprendendo essas coisas, convenhamos, pedir desculpas não é o hobby dele… — Hyunjin deu um sorriso pequeno. — …Além disso, sabe como ele fica sobre cantar para outras pessoas, então… acho que ele realmente está se esforçando dessa vez… do jeitinho dele.

— Eu não sei, talvez tenha razão — disse baixo. — Você… sabia disso? — perguntou Jisung.

— Não. Também fui pego de surpresa. — respondeu.

— Olha, sinceramente, eu sei… que está se esforçando e querendo pedir desculpas, mas não acho que isso anule tudo o que fez. — murmurou. — Ao mesmo tempo, sei que em parte isso também foi culpa minha, fui eu que aceitei ser a segunda opção e insisti nisso, mesmo sabendo das consequências.

— Eu entendo, não sei como as coisas aconteciam detalhadamente entre vocês. O que tenho certeza é que você gostava muito dele… e foi a primeira vez que vi Minho realmente se apaixonar por alguém. Não vou mentir que eu quero que vocês fiquem juntos, mas não posso impor que isso seja o melhor para os dois. Minho está decidido a melhorar, então… acho que fica nas suas mãos decidir… em ir além do perdoar e tentar ter o romance que você queria ter com ele… ou deixar as coisas como estão, e buscar alguém que te faça melhor.

— É… — sussurrou após ouvir tudo e passou alguns segundos pensativo.

Hyunjin então sentiu Jisung soltar a mão, e em seguida o barulho da cadeira da mesa sendo arrastada, o fazendo entender que Jisung estava levantando-se.

— O que vai fazer? 

— Vou ser um idiota que ama alguém que não devia… só mais uma vez — respondeu o Hwang enquanto guardava seu celular. — Não me espere hoje e… — parou próximo ao Hwang. — … obrigado por se meter entre nós dois e tentar consertar nossa bagunça — agradeceu abraçando o Hwang. — Estou indo. — Afastou-se apressado, pegando capacete e a chave de sua moto.

✩★✩

Ao terminar o programa, Minho ainda precisou conversar com seu chefe e, só então, pegou o elevador para o térreo do prédio. 

Ele suspirou pesado enquanto encarava seu semblante entristecido refletido nas portas do elevador. Ao abrirem-se, Minho ergueu um pouco mais o rosto e deu dois passos a frente para sair do elevador.

Ele estancou ali. 

Seus olhos arregalaram-se ao ver um rapaz não muito distante, à sua frente. Estava encostado na parede, próximo a saída do hotel. Tinha um sorriso mínimo no rosto e olhava em direção a ele.

— …Jisung?