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História Olimpo - Quarta Provação de Hércules - Parte 1 - História escrita por plutoniana - Spirit Fanfics e Histórias
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História Olimpo - Quarta Provação de Hércules - Parte 1


Escrita por: plutoniana

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 22 - Quarta Provação de Hércules - Parte 1


Ino

No Recanto de Afrodite, somos ensinados a adorar nossa deusa, mas também a temê-la mais do que tudo. Não somente a ela, mas aos seus filhos também. 

Afrodite é a deusa do amor, a emoção mais forte do coração humano. Não precisa ser um gênio para saber que o amor desencadeia outras emoções igualmente poderosas, como o ódio. Ambos os sentimentos são separados por uma linha extremamente fina. E sabendo disso, não é difícil entender porque Afrodite e Ares são amantes de longa data, já que ambos representam essas emoções. 

O problema é que a união desses dois deuses sempre resultou em frutos extremamente perigosos. Deimos e Fobos são alguns dos exemplos disso. Representam medo e pânico, respectivamente, e a mera presença deles já faz os inimigos fugirem ou morrerem de tanto pavor. Mas esses gêmeos nunca foram tão temidos em minha tribo, já que sabemos que os quatro Erotes são muito piores. 

Só fiz uma reza para os Erotes uma única vez: quando tinha quinze anos, e descobri que meu noivo estava me traindo com a gerente do nosso departamento na fábrica em que trabalhávamos, que era uns quinze mais velha. Fui ao templo de Anteros, o mais impiedoso dos Erotes, e rezei a ele por justiça. 

Claro, como qualquer outro deus, ele atendeu meu pedido. Se eu tivesse pedido alguma coisa benéfica, provavelmente ele se fingiria de surdo, como os deuses geralmente fazem. Mas como pedi algo para o mal, ele atendeu prontamente. E na semana seguinte, tanto meu ex-noivo quanto a gerente foram despedidos da fábrica. 

Não é à toa que Anteros é o grande vingador dos corações partidos. 

Dia 21 | Quarta Provação de Hércules

Sakura foi a primeira a acordar. Talvez por ser a única que não estava bêbada. Ela se sentou na cama com dificuldade e olhou em volta, vendo todos os outros doze participantes desmaiados pelo quarto, em posições estranhas, roncando alto, babando nas almofadas. 

A moça tirou o lençol de cima das pernas e se forçou a deixar seus pés cobertos pelas meias tocarem o chão, tomando cuidado para não encostar em Sasuke, que dormia ali no espaço entre a cama dela e de Hinata. 

No momento em que ficou de pé, ela teve que segurar um grunhido de dor na garganta, deixando-o preso enquanto trincava os dentes, tentando não fazer barulho. 

O mais silenciosamente que pôde, Sakura mancou até sair do quarto, evitando pisar nas pessoas e gritar pela dor que subia pelos seus tornozelos e fazia os ossos e músculos de suas pernas se apertarem em agonia. 

— Merda. — ela xingou ao chegar na cozinha e apoiar as mãos no balcão, respirando fundo enquanto se segurava para não gritar e extravasar a dor. 

Precisou de mais uns minutos para criar força de novo e continuar a caminhada até a despensa, onde pegou um pouco de aveia e colocou numa tigela. Depois foi até a geladeira, para pegar leite, só então notando que havia apenas uma garrafa. 

Desde que Tenten saíra, o pessoal estava com dificuldade para administrar os bichos no celeiro, inclusive as vacas. Ainda estavam com bastante carne de pouco nos freezers, mas a única coisa que conseguiam fazer direito era pegar os ovos das galinhas. 

Sentada à mesa da cozinha, Sakura pensava sobre o que fazer para resolver esse problema quando Deidara saiu do quarto, o cabelo loiro solto e bagunçado pelas horas de sono pesado. 

— Bom dia. — ele murmurou sentando-se em frente à ela, com a voz rouca e a cara amassada. 

— Boa tarde. — ela respondeu. 

— Quem te carregou até aqui?

— Eu mesma. 

Ele pareceu impressionado. 

— Pelo visto já tá prontinha pra ir pra Provação de Hércules hoje. — ele debochou, fazendo Sakura rir. 

— Pensei que você ia dormir o dia inteiro, igual os outros. — Sakura comentou 

— Não bebi tanto assim. — ele se espreguiçou, fazendo os ossos de suas juntas estalarem. — Nem posso beber aqui dentro. Já quero dar na cara dos outros sóbrio, imagine bêbado. 

Sakura riu de novo. 

— Já tem algum plano em mente sobre hoje? — Deidara mudou o assunto, encarando a tigela de cereal pela metade da moça. 

Sakura deu de ombros. 

— Não tem muito o que fazer, eu acho. — ela ficou pensativa — Gaara é o titã, você tá com o tornozelo machucado, Suigetsu está com as mãos enfaixadas e eu tô simplesmente fodida. Só tem o Naruto pra ir à luta. 

— As mãos do Suigetsu estavam ótimas ontem enquanto ele segurava aquelas bebidas todas. — Deidara debochou e Sakura riu de novo. — Estou brincando. É, não tem muito o que a gente possa fazer. 

Sakura suspirou. 

— O que me preocupa são as outras equipes. — ela murmurou. — Quem eles vão mandar, sabe? Porque a gente só vai conseguir montar uma estratégia quando formarem o Chalé de Orfeu. 

— O Naruto não corre perigo, na minha opinião. — disse o loiro, pensativo também. — Estando no chalé ou não, acho que ele vai ficar longe da mira do pessoal nesse ciclo. Ele acabou de voltar de uma votação do público, a galera vai ficar com o rabo preso de mandá-lo de novo. 

— Acho que o Suigetsu também não é o alvo. — Sakura opinou. — Vai ser um de nós dois. 

Ele concordou com um aceno de cabeça. 

— Se não puderem vir em mim, vão em você. — Deidara disse. — Nós dois somos mais fracos com o público, quando comparados com Naruto, Suigetsu e Gaara. 

— Pois é. — Sakura respirou fundo. — Temos mais chance de sair que eles três. 

— Eu sei que na primeira votação que for, já tô fora. — ele deu de ombros. — A Metrópole odeia minha tribo porque nunca puxamos o saco deles desde a formação das tribos. Só não somos mais fodidos que a Casa de Hades porque… — ele fez uma careta. — Bom, é o Hades, né? O cara era odiado desde sempre. 

Sakura sabia que o Santuário de Atena também não era um dos favoritos da Metrópole. Talvez ela estivesse numa posição um pouco melhor que Deidara, mas também estava correndo risco, dependendo de com quem fosse para uma votação. 

— Enfim… — ele se levantou para ir fritar uns ovos pro desjejum. — É melhor começarmos a pensar logo nisso. 

#

— Ei. — Karin deu um chute na canela de Sasuke para que ele acordasse. 

— Hm? — ele resmungou, ainda deitado no chão do quarto. — O que foi?

— Precisamos conversar sobre a Provação de Hércules. — disse Temari. 

Sasuke abriu os olhos e virou a cabeça. Sua visão meio embaçada mostrou que Karin e Temari estavam postadas em pé ali, com os braços cruzados. 

— Façam o que quiserem. — ele resmungou, voltando a fechar os olhos e colocando uma almofada em cima da cabeça. 

— Ótimo, porque já decidimos que é você quem vai. — Karin anunciou. 

— Como é que é? — Sasuke até sentou pra falar, furioso por terem decidido sem consultá-lo. — Por que eu tenho que ir? 

— Você sempre quer ir. — Temari retrucou. 

— Hoje não. Estou de ressaca. — ele vociferou. A cabeça dele estava doendo e pesando por culpa das três garrafas de vodka que tomou sozinho e só agora estava sentindo o pesar delas. 

— Todos estamos de ressaca. — Karin resmungou. — Sasori já vomitou umas duas vezes e eu estou a ponto de flechar minha própria cabeça de tanta dor. Só sobra você. 

Sasuke olhou para Temari com certo ressentimento por ela ter ido na semana anterior para a Provação de Hércules. Na verdade, as duas pareciam tão acabadas quanto ele, já que tinham bebido muito mais. 

O rapaz percebeu que tirando eles, só havia Ino e Shikamaru no quarto, ambos dormindo pesado ainda e completamente alheios à discussão. 

Sasuke mordeu o lábio inferior, se segurando pra não xingar ninguém, embora estivesse rezando internamente para Hades fazer as duas mulheres à sua frente caírem durinhas no chão. 

— Quer dizer que hoje, magicamente, vocês decidiram me deixar correr o risco de pegar a Caixa de Pandora? — ele perguntou com a voz carregada de deboche. 

— Você é do nosso grupo, não? — Temari retrucou, cerrando os olhos de maneira irritada. 

— E o fato de eu possivelmente perder e ir pro Chalé de Orfeu não tem nada a ver com isso, né? — ele rebateu. 

— Como assim? — indagou Karin. 

— Está escrito “idiota” na minha testa? — Sasuke vociferou, puto da vida. — Eu sei que vocês vão todos votar em alguém da Quimera de novo, e aí eu que vou ser puxado do Chalé. 

— Você nem sabe se eles vão perder de novo. — Karin respondeu, se irritando também. 

— Eles são péssimos na Provação de Hércules. — Sasuke debochou. — Não ganharam nenhuma até agora. É óbvio que eu vou pra lá com um deles, se perder. 

— Talvez essa eles ganhem. — disse Temari. — Quem vai é o Naruto. 

— Eu sei. — Sasuke voltou a se deitar no chão. — E o que isso importa? Não sabemos quem é o deus que o público escolheu. 

— Você é a pessoa mais negativa que eu conheço. — Karin reclamou. 

— Eu sou realista. — Sasuke resmungou, afofando a almofada antes de deitar a cabeça nela. — Bom, se vocês querem fazer assim, eu quero que todo mundo vote no Deidara.

— Por quê? — Karin franziu o cenho. 

— Se for pra ir com alguém da Quimera pra votação do público, quero ir com a pessoa da tribo mais fraca pra ter certeza de que eu volto. — ele disse num tom que deixava claro que a conversa estava encerrada. 

#

Deidara estava escovando os dentes quando Gaara adentrou o banheiro de novo. 

— Já voltou? — Deidara perguntou num murmúrio quase incompreensível por estar com a escova na boca. Gaara tinha acabado de sair dali depois de tomar banho para começar o dia. 

— Cérbero tá discutindo no quarto. — o ruivo revirou os olhos, se encostando na pia. — Achei melhor não interromper. 

Deidara cuspiu na pia. 

— E já tão brigando por quê? — ele perguntou antes de recomeçar a escovar os dentes. 

— Sei lá, não fiquei escutando. — Gaara deu de ombros. — Parei na porta quando ouvi que a voz de Sasuke estava meio alterada e dei meia volta. Deve ser sobre a Provação de Hércules, eles sempre brigam antes dessa prova pra ver quem vai. 

— Pergunta do Suigetsu depois, já que ele tem olhos e ouvidos por todo lugar. — Deidara ironizou, fazendo referência à placa “fofoqueiro” que Suigetsu recebera na brincadeira da noite anterior. Gaara segurou o riso. 

Sasori saiu do reservado e os dois ficaram observando o rosto meio verde dele, depois de vomitar pela terceira vez. 

Deidara terminou de escovar os dentes e os dois saíram do banheiro. Ao passarem pelo corredor, perceberam que Karin e Temari já estavam na sala, então entraram no quarto sem problema. Ino estava sentada na cama, se espreguiçando. Shikamaru e Sasuke ainda estavam jogados em lugares diferentes do chão, tentando dormir. 

Enquanto Deidara e Gaara se vestiam, Sasuke estava com a cara enterrada no travesseiro, tentando respirar fundo e não sair fazendo confusão pela casa por conta do bando de gente sacana que ele tinha em sua equipe. 

Como Sakura queria que ele jogasse com aquele tipo de gente? Estavam simplesmente cagando pro que acontecia com ele. 

Pra ela era fácil jogar com Quimera, já que eles realmente eram amigos e se importavam uns com os outros. Temari, Karin e Sasori, por outro lado, queriam mais é que ele se fodesse, contanto que não os levassem junto. 

Sakura tentou afastá-lo achando que ele poderia criar relações com outras pessoas além dela, mas a questão era justamente essa. Ninguém ali dentro estava disposto a se arriscar por ele, exceto ela. 

E isso dificilmente mudaria. 

#

— A galera acordou meio nervosinha hoje. — Shikamaru comentou quando ele e Ino se jogaram no chão do Chalé de Orfeu pra ficarem longe do resto dos participantes e discutir o que fazer. — Temari já tava dando uns puxões de orelha no Sasuke lá no quarto. 

— Ai, pelo amor de Afrodite. — Ino revirou os olhos. — Sempre essa ladainha quando chega o dia da Provação de Hércules. Se o Sasuke quer ir pro pau, deixa ele ir, droga. 

— Mas é porque eles têm um gênio muito forte. — Shikamaru bocejou. — Sasuke, Temari e Karin, estou dizendo. Querem estar certos o tempo todo. Por isso as brigas antes de qualquer decisão.

— Que saco. — Ino estava entediada. — Detesto esse tipo de jogo que o Sasuke faz. De ficar flutuando entre os grupos. A gente nunca sabe quando ele vai na da Cérbero, ou quando vai na da Sakura. Essa inconstância me irrita. 

— Não é nem com isso que eu me preocupo. — Shikamaru se sentou e olhou para o lençol e o travesseiro mal dobrados no canto. — Lembra do que eu te falei sobre ele formar casal com a Sakura pra se fortalecer lá fora?

Ino o encarou atentamente. 

— Os dois vieram pra cá ontem. — ele indicou o lençol e o travesseiro com a cabeça.

— Quando isso aconteceu? — Ino ficou chocada. Tinha ficado tão bêbada durante a diversão da noite anterior que nem notou esse detalhe. 

— Em algum momento entre o poker e a dança ao redor da fogueira, eu acho. — Shikamaru não sabia ao certo. Tinha bebido tanto que a memória estava confusa. — Mas na hora que o Suigetsu tava ensinando pro pessoal como era a dança em homenagem ao Dionísio, eu percebi que os dois tinham sumido. 

Ino estivera tão atenta em aprender a dança que mal se tocara do que estava acontecendo ao seu redor. 

— Puta que pariu. — ela deu um soco no chão, ficando possessa de raiva enquanto se levantava e começava a andar pelo Chalé de Orfeu de um lado pro outro. 

— Relaxa, nem sabemos se rolou alguma coisa mesmo. — Shikamaru resmungou, ainda ficando surpreso com o quão rápido Ino conseguia estourar. 

— Você não entende a gravidade da situação? — Ino se virou furiosa pra ele. — Se esses malditos formarem casal, fodeu pra todo mundo. O público vai arrastá-los até a final. Qualquer um que for com eles pra uma votação, vai sair. 

— Já pensou na possibilidade deles já serem um casal e só não demonstrarem nada na frente dos outros? — Shikamaru sugeriu e Ino arregalou os olhos. 

— Do que está falando? — ela perguntou devagar, receosa. 

— Desde o primeiro ciclo que eles têm uma relação estranha. E se estão ficando desde a primeira semana? — ele explicou com uma careta. — Talvez tenha sido por isso que ele voltou da segunda eliminação. Só porque nós não vimos nada, não quer dizer que o público não esteja vendo. 

Ino ficou paralisada por uns segundos, processando a informação. 

Ele teve que respirar fundo várias vezes pra não surtar e falar como uma pessoa civilizada quando tornou a conversar com o amigo. 

— Você acredita nisso mesmo?

— Sei lá. — ele deu de ombros. — Mas tenho certeza que ele não voltou por piedade do público. A Metrópole sempre cagou pra miséria da Casa de Hades, então por que agora ficariam com peninha de um participante de lá? 

— Porque antes não tinha um rostinho bonito para representar Hades. — Ino debochou e respirou fundo mais uma vez, se segurando pra não ter um ataque de raiva e sair quebrando as coisas do Chalé. — Ótimo, eu vou pra Provação de Hércules hoje. 

— O quê? — Shikamaru arregalou os olhos. — Sem chance, deixa que eu vou. 

— Nem pensar. Você já foi antes. — ela o cortou. — Eu tenho que ir. É minha única chance de mudar alguma coisa nesse ciclo. 

— Ficou maluca? E se você perder? Não quero que venha pra essa joça. — ele indicou o estado decadente do Chalé de Orfeu. 

— O estado desse lugar é a última coisa que me importa. Se pra chegar na final, eu tiver que ficar o tempo inteiro aqui, por mim tudo bem. — ela disse decidida. — Mas não vou ficar parada sabendo que sou o alvo da vez. 

Ele não parecia feliz com a ideia, mas achou melhor não discutir. 

— Além disso, se eu vier pro Chalé, isso muda completamente o esquema da votação. — a loira começou a explicar sua linha de raciocínio. — Principalmente se eu vier pra cá junto com Naruto. Gaara não iria me mandar porque isso colocaria Naruto na reta de novo. E a única forma deles me mandarem é pelo titã, teoricamente, já que sabemos que o mais votado será alguém da Quimera de novo. E se eu estiver com a Caixa de Pandora, talvez consiga algo que possa me salvar. 

— É, não temos muitas possibilidades pra seguir. — Shikamaru deu de ombros. — Já estamos fodidos de qualquer forma, já que não tem mais como ganhar os prêmios na metade da temporada. 

— Exatamente. Deixa Quimera e Cérbero se matarem pelos prêmios. O negócio é nos protegermos do Coliseu agora. — Ino assentiu. 

#

Perto das três da tarde, os cinco da equipe Quimera e Hinata estavam reunidos no cafezal, seu local favorito de reuniões. Sakura estava explicando a eles sobre a conversa que tivera com Sasuke no dia da última prova do Coliseu, quando ele lhe revelou a fofoca mal contada. Hinata apenas ouvia tudo com uma careta, mas não disse nada enquanto a amiga repetia o que Sasuke lhe dissera. 

Quando Sakura terminou, ela observou seus amigos todos lhe encarando em silêncio. 

— Resumindo: você deu passe livre pra ele votar em você, de agora em diante. — Gaara foi o primeiro a quebrar o silêncio. 

— É. — Sakura concordou. 

O ruivo se entreolhou com os outros. Sakura ficou confusa vendo o jeito desconfiado como todos se olhavam, principalmente Hinata. 

— O que foi? — ela indagou. 

— Realmente acredita na palavra dele? — Hinata perguntou, ainda fazendo careta. 

— Sim. — ela respondeu como se fosse óbvio. — Por que não acreditaria?

A morena ergueu as sobrancelhas, parecendo chocada com a ingenuidade de Sakura. 

— Gente, já falei que conheço Sasuke lá de fora. Sei que ele não mentiria pra mim. — Sakura falou da maneira mais confiante que conseguiu, embora estivesse se sentindo meio mal com todo mundo a olhando como se fosse idiota. 

— Talvez ele realmente tenha sido sincero. — disse Naruto e todo mundo ficou surpreso por ouvi-lo falar aquilo. 

— Sério? — Suigetsu era o mais chocado por ver que ele estava do lado de Sakura na defesa de Sasuke. 

— Não posso falar muito sobre o cara mas acho que ele não é burro ao ponto de mentir na cara da Sakura de maneira tão descarada. — Naruto explicou seu ponto de vista. — Até porque se ele fizer isso, o público lá fora está vendo. Seria um tiro no próprio pé. 

— Sinceramente? — Hinata perguntou. — Eu não duvido de nada da cara de pau das pessoas aqui dentro. 

— Eu concordo mas… — Naruto deu de ombros. — Não sei. Acho que mentiroso não faz o tipo dele. 

— Cínico talvez faça. — Deidara resmungou e encarou Sakura. — Olha só, quer que eu te mande a real? 

— Como assim? — a rosada perguntou. 

— Eu sei que todo mundo aqui já pensou a mesma coisa, mas ninguém tá com coragem pra falar, então eu falo. — ele até ajeitou a postura pra explicar. — Você sabe que vai ser nessa sua proteção com Sasuke que você vai acabar saindo daqui, né? Porque quanto mais você defende ele, mais força ele ganha lá fora. E se vocês se enfrentarem numa votação, adivinha quem vai dançar?

— Mas eu já sei disso. — Sakura deu de ombros, como se fosse óbvio. 

— Sabe e continua insistindo? — Gaara parecia chocado. 

— Não é como se eu tivesse muito poder sobre isso, né? — Sakura retrucou. — É óbvio que entre mim e ele, o público vai escolhê-lo. 

— Não sei se estou entendendo. — Suigetsu estava confuso. 

— Gente, já estamos em 2354 e vocês ainda não aprenderam como o mundo funciona? — Hinata indagou, irritada. — Entre homens e mulheres, sempre são os homens a serem beneficiados. Nós sempre seremos crucificadas pelas nossas escolhas, sejam elas quais forem. E isso fica pior ainda num reality show. 

— Qualquer errinho minúsculo que tivermos aqui dentro já vai garantir nossa eliminação. — Sakura explicou. — Por que vocês acham que nunca nenhuma mulher ganhou Olimpo? Não é só porque somos “mais fracas”, é porque não conseguimos sobreviver até lá sem errar uma única vez. Eu já estou pirando e não estamos nem na metade da temporada ainda. 

— A realidade é essa, garotos. — disse Hinata, vendo os meninos todos lhe olharem de maneira surpresa enquanto suas fichas caíam. — Nenhuma de nós vai chegar na final, e todas sabemos disso. Por que acham que Ino faz todas essas jogadas sujas? Porque ela sabe que  só vai conseguir ir mais longe se sair passando por cima de todo mundo. É a única chance que ela tem. 

— É por isso que eu estou tentando proteger vocês e Sasuke. — Sakura continuou. — Já que eu não vou chegar na final, quero que pelo menos os garotos que eu gosto consigam fazer isso. 

O cafezal ficou em silêncio por um minuto enquanto os quatro garotos pensavam sobre o que tinham escutado. Essa realidade que eles nunca tinham analisado antes, mas era o mundo em que Hinata e Sakura viviam desde sempre. 

— Foi mal, nunca tinha percebido isso. — Suigetsu murmurou, parecendo envergonhado, como se a culpa fosse dele. Na verdade, os quatro pareciam meio constrangidos. 

— Relaxa. — Sakura o tranquilizou. — Já estamos acostumadas. 

— É. A gente já nasce sabendo disso, não é surpresa. Agradeçam todos os dias por terem nascido com um pau no meio das pernas. — Hinata tentou fazer piada, porém isso só deixou os garotos ainda mais chateados pela situação delas. 

Porém Sakura e Hinata não pareciam tristes com isso, era como se realmente já tivessem nascido sabendo que sempre seriam segundo plano em tudo. 

— Mas vamos voltar ao jogo agora. — Sakura retornou para sua postura descontraída de antes. — Sobre Sasuke… tenho certeza de que ele vai jogar com a Cérbero nesse ciclo, porque foi o que eu disse a ele: precisa ter pessoas que o protejam, além de mim. 

— Ah, por favor. — Deidara debochou. — Ele é muito maluco se realmente quiser proteção daqueles caras. A melhor opção que ele tem é realmente você, porque o resto quer é que ele se foda. 

— Como assim? — Sakura ficou confusa. 

— Eles já tavam brigando de novo por causa da Provação de Hércules. — Gaara explicou. — O mesmo de sempre: a ladainha pra ver quem vai. 

— Todo ciclo é isso, mano. Puta que pariu, o pessoal lá fora já deve ter até marcado esses dias na agenda só pra ver a mesma discussão de sempre. — Suigetsu riu. 

— Mas estavam brigando por quê? — Sakura indagou. — Não queriam deixar Sasuke ir de novo? 

— Não sei, não fiquei escutando. — Gaara deu de ombros. 

— O Suigetsu pode perguntar da namorada dele depois. — Naruto disse em tom de deboche. 

— Você tá com ciuminho, amor? — Suigetsu sorriu e passou o braço por cima dos ombros dele. — Não se preocupe, a caçadora e eu temos uma relação estritamente física. Meus sentimentos são todos seus. 

— Isso era pra me consolar? — Naruto não pôde deixar de rir. 

— Pelos deuses, quanto mais eu olho pra você, mais lembro de Tobi. — Deidara fez careta de irritação, olhando pra Suigetsu. 

— Quer dizer que eu desperto coisas boas em você? — Suigetsu sorriu de canto pra ele. 

— Muito pelo contrário. — Deidara replicou. — Você me irrita tanto quanto ele, e acredite, isso já é muita coisa. 

Suigetsu e os outros caíram na gargalhada. 

— Só imagino as transas de vocês dois. — Suigetsu comentou. — Deve ser um negócio bem puto e “caliente”, ao estilo do deus do fogo. 

Assim como os outros, Deidara não pôde deixar de rir. 

— Santo Hefesto, olha o tipo de gente que eu tenho que conviver. — ele murmurou. 

— Que horror. — Sakura disse rindo. — Eu só imagino a cara da minha mãe vendo essas nossas conversas. Vou apanhar muito quando chegar em casa, já estou até vendo. 

— Pelo menos o seu corpo continua puro. — Suigetsu ironizou. — Não podemos dizer o mesmo da mente, né?

— Talvez nem o corpo seja mais puro. — Gaara provocou. — O que rolou no Chalé de Orfeu ontem? 

— Nós não vamos falar sobre isso. — Sakura pontuou enquanto seu rosto ia ficando vermelho. 

— Ih, acho que nem precisa, hein? — Deidara riu das bochechas coradas dela. 

— Não aconteceu nada. Parem com isso. — Sakura bateu no braço de Gaara, que não parava de rir. 

— Gostaria de deixar registrado que eu não tive nada a ver com isso, tia Mebuki. — Suigetsu falou olhando em volta, procurando câmeras. — Muito pelo contrário, eu fiquei ensinando dança e bebendo na maior pureza com o pessoal. Isso é influência dessa gentalha aqui. — ele indicou os outros. — Que azar, agora sou o único virgem do rolê. 

— Porra, Naruto. Até o Sasuke já corrompeu a Sakura e você ainda não tirou a virgindade desse bicho? — Deidara provocou. 

— Se dependesse de mim já tinha rolado, mas as circunstâncias não ajudam. — Naruto respondeu, divertido. 

Eles continuaram um bom tempo no cafezal, se divertindo com assuntos aleatórios. Demoraram a perceber que tinha algo errado, já que o dia já estava acabando e nada do sinal da Provação da Hércules soar. 

#

Às cinco da tarde, Sasuke se encontrava aflito, embora não demonstrasse. Estavam todos dentro da casa principal, divididos em grupos pequenos e fazendo coisas diversas. 

Sasuke estava jogado no tapete da sala, pensativo. Ele ficou observando enquanto Naruto e Suigetsu ajudavam Sakura com o exercício de fisioterapia, ajudando-a a andar ao redor da mesa. Tinha gente na cozinha, já começando a preparar o jantar, outros jogados no sofá conversando e alguns dormindo no quarto. 

O representante de Hades suspirou silenciosamente, nervoso com a demora para a chamada da Provação de Hércules. 

Não era possível que tivessem dado a eles outro dia de folga. 

Provavelmente seria como o segundo Desafio de Perseu, onde tiveram que passar a noite na cidade em ruínas repleta de névoa. Seria algo que eles deveriam fazer sob a única luz do luar, e isso o deixava um pouco tenso, embora devesse estar acostumado com a escuridão, já que passava doze horas em minas subterrâneas, trabalhando todo santo dia. 

Só que ali em Olimpo não era assim que as coisas funcionavam. A escuridão não era aliada de absolutamente ninguém, ainda mais num acampamento no meio de uma floresta repleta de predadores, um lago de águas congelantes, uma cidade fantasma, e montanhas que abrigavam o temido Coliseu. 

Foi quando eles finalmente escutaram o sinal, e Sasuke foi o primeiro a se pôr de pé e ir até a porta da casa principal, saindo e sendo seguido pelo resto dos participantes. E consequentemente, ele também foi o primeiro a ver a jaula flutuando no meio do lago, o que fez parar no lugar e olhar naquela direção. Todos os outros também paralisaram ao verem aquilo ali novamente. 

Kakashi estava em pé na clareira, diante dos degraus da varanda. 

— Bem-vindos ao quarto ciclo da temporada, olimpianos. — ele os cumprimentou, abrindo os braços. 

Sasuke xingou mentalmente, já pensando que seria prova de resistência mais uma vez. Como a de Atlas foi. 

— A Metrópole decidiu homenagear este ciclo de provas com os queridos Erotes. — explicou Kakashi. — Nossa Provação de Hércules de hoje terá um pouco mais de emoção envolvida, como mandam os quatro filhos de Afrodite, claro. 

Shikamaru se animou ao saber que a prova seria em homenagem aos filhos da deusa que Ino representava. Ele até olhou empolgado para a amiga, porém ficou surpreso ao ver que Ino estava pálida como um fantasma ao seu lado, completamente assustada com o que Kakashi tinha acabado de anunciar. 

De todos os deuses a serem homenageados, os únicos que ela não queria enfrentar eram os filhos de Afrodite, pois sabia o quão perversos e destrutivos eles eram. Se Afrodite já era terrível sozinha, sua união com Ares conseguia dar frutos extremamente piores. 

— Representantes de cada equipe, por favor, desçam. — Kakashi fez sinal para que descessem os degraus. 

Sasuke suspirou e desceu os degraus para se postar em frente ao apresentador. 

Ino engoliu em seco e lançou um último olhar apavorado para Shikamaru antes de descer da varanda também. 

Naruto recebeu todos os “boa sorte” de seus amigos e desceu também. 

Os três ficaram parados na frente de Kakashi, esperando-o continuar. Porém o homem ficou alguns segundos os encarando atentamente antes de finalmente continuar:

— Muito bem, vamos dar início então. — ele sorriu por debaixo da máscara e passou por eles, subindo na varanda e parando ao lado de Sakura, que o olhou confusa como todos os outros. — Você me daria licença? — ele perguntou de uma maneira extremamente educada, fazendo a moça assentir mesmo não sabendo do que ele estava falando. 

Kakashi então se abaixou e passou o braço por trás dos joelhos dela e o outro atrás suas costas, erguendo-a nos braços como se não pesasse nada. A moça segurou um grito de surpresa, se segurando nele por reflexo, assustada e confusa. 

Todos observaram Kakashi descer da varanda com Sakura nos braços, sem entender absolutamente nada. 

— Suigetsu e Sai, nos acompanhem, por favor. — Kakashi pediu enquanto andava com Sakura até o bote de madeira na plataforma do lago. 

Ninguém estava entendendo absolutamente nada, mas os dois garotos fizeram o que ele pediu e o seguiram. 

Kakashi colocou Sakura sentada dentro do bote e esperou até os meninos se sentarem também para começar a remar em direção à jaula flutuante no meio do lago. 

Todos os outros ficaram observando em silêncio, completamente confusos e temerosos, como era o caso de Ino. 

Quando o bote chegou ao lado da jaula no meio do lago, eles perceberam que não era a mesma usada durante a prova de Atlas. Era um pouco menor, e também não tinha correntes penduradas nas grades do alto. Além disso, a plataforma flutuante onde ela estava não era a mesma: essa era redonda como uma boia, o que era um pouco estranho. 

Suspeito, na opinião de Sakura. 

Kakashi abriu a porta e esperou até que os três entrassem. Logo eles notaram que a Caixa de Pandora estava ali dentro, posicionada no canto. Quando o apresentador fechou a porta, eles perceberam que haviam quatro cadeados imensos ali, os quais Kakashi começou a trancar pelo lado de fora. 

— Opa, opa. Eu tenho uma dúvida. — Suigetsu ergueu a mão pro alto. — Por que nós vamos ficar trancados aqui se os representantes são os três lá? — ele apontou para o pessoal os observando na clareira. 

— Vocês são a motivação. — Kakashi respondeu, sorrindo por debaixo da máscara, antes de se virar e entrar novamente no bote, retornando ao acampamento. 

Sakura, Suigetsu e Sai se entreolharam, confusos e nervosos pelo que Kakashi tinha dito. A moça notou que havia um painel com o cronômetro zerado, preso no canto da jaula. 

Ao retornar novamente à clareira, Kakashi se postou em frente a Ino, Naruto e Sasuke mais uma vez. 

— A missão é simples: vocês devem encontrar as quatro chaves para libertar seus amados do castigo dos Erotes. — ele anunciou, tirando quatro chaves do bolso e mostrando aos três, fazendo os três engasgarem de surpresa. — Uma para cada. Quem fizer isso primeiro, salva os enjaulados, e de quebra ainda consegue a Caixa de Pandora. 

Naquele exato momento, todos olharam para a jaula quando um barulho começou a soar dela. 

Dentro dela, Sakura, Suigetsu e Sai paralisaram ao escutar aquele som estranho de uma máquina sendo ligada e sentiram tudo tremer abaixo de seus pés. 

— O que é isso? — Sai perguntou, assustado. 

Ninguém respondeu porque também não sabiam. 

O cronômetro foi ligado, marcando exatamente doze horas e começando a correr de forma regressiva. 

— Suigetsu? — Sakura chamou, ainda paralisada de medo. 

O amigo parecia tão nervoso quanto ela, olhando em volta e tentando entender o que estava acontecendo. 

Foi quando eles sentiram a jaula começar a se inclinar para a direita, e a gravidade os fez ser jogados nessa direção. Antes que pudessem se segurar, seus pés deslizaram naquela direção e foram jogados contra as grades que agora afundavam na água conforme a jaula virava. Ambos gritaram de medo e de dor, principalmente Sakura com seu corpo debilitado. 

— Que porra… — Naruto xingou baixinho, olhando assustado para aquilo. Sasuke e Ino estavam igualmente pálidos observando a cena. 

O barulho de metal ia ficando mais alto conforme a jaula ia se inclinando para a direita, afundando. 

— Merda! — Sai gritou alarmado quando as grades onde estavam apoiados começaram a afundar lentamente na água. — Socorro! 

Sakura começou a gritar também, percebendo que a boia redonda serviria para que a jaula girasse 360º graus com eles dentro, tendo que dar uma volta por baixo d’água. 

— Sasuke, Naruto! — ela berrou apavorada. 

— Vocês tem exatamente doze horas para salvá-los, e o tempo já está correndo. — Kakashi anunciou para os três representantes das equipes, que estavam igualmente apavorados observando a jaula afundando enquanto rodava. — Boa sorte. 

Os outros participantes todos correram para a margem do lago, gritando de maneira aflita enquanto Sakura, Suigetsu e Sai gritavam aterrorizados. Em questão de segundos, eles desapareceram debaixo d’água enquanto a boia continuava girando devagar. 

Se segurando para não ter um ataque de pânico, Ino olhou para Naruto e Sasuke, vendo que eles estavam petrificados ainda, sem saber o que fazer. 

Imediatamente, ela entendeu o significado da prova. 

Era em homenagem a Anteros, o grande deus vingador dos amores não correspondidos. 

Sai estava na jaula porque no dia anterior, ela o rejeitou. 

O que significava que algo parecido deveria ter acontecido entre Sasuke e Sakura, e Naruto e Suigetsu. 

Mas Ino não tinha tempo para pensar nessas questões no momento. Precisava resgatar Sai antes que o tempo acabasse, e tinha quatro chaves para encontrar. 

Anteros era o pior dos Erotes, que causava sofrimento sem ver a quem. Se eles não fizessem nada logo, as pessoas que rejeitaram antes iriam morrer nas mãos dele. 

Foi por isso que Ino foi a primeira se mover. Se tinha alguém capaz de entender um filho de Afrodite, esse alguém seria da tribo da própria. 

Acostumada a lidar com a crueldade da deusa, Ino sabia que não podia perder tempo algum. Cada segundo seria precioso. E foi por isso que ela rapidamente pegou uma tocha no chão e tratou de acendê-la o mais rápido possível, começando a correr para dentro da floresta. 

“Quatro Erotes, quatro direções”, foi o raciocínio que ela teve. 

Quatro direções como a placa que havia no meio da floresta, mostrando as quatro extremidades do Olimpo. 

Enquanto o sol ia se pondo, a jaula debaixo d’água ia girando e levando Sakura, Suigetsu e Sai no embalo. 

Flutuando na água fria, os três nadavam de cabeça para baixo, com dificuldade enquanto prendiam a respiração. O corpo inteiro de Sakura ainda doía conforme ela se debatia. 

A Caixa de Pandora fechada flutuava com eles dentro da jaula, indo de um lado para o outro conforme o objeto imenso girava, os levando consigo. O cronômetro marcava onze horas e cinquenta e oito minutos restantes. 

Sakura estava tentando se agarrar numa das grades, tentando ser levada pelo movimento da maneira mais calma possível. Infelizmente para ela, os meninos continuavam apavorados e se debatendo loucamente na água. Sai acabou chutando a Caixa de Pandora sem querer, e a urna grega foi lançada contra o tornozelo direito de Sakura. 

A moça soltou um grito, que saiu abafado pela água. Várias bolhas saíram de sua boca conforme ela soltava todo o ar presente nos pulmões para externalizar seu sofrimento. A dor foi tão imensa que ela achou que finalmente tinha quebrado seu tornozelo. 

Suigetsu estava sufocando àquela altura, os pulmões já sem oxigênio e começando a doer. 

A jaula continuou girando e eles perceberam que em poucos segundos estariam fora d’água de novo, mas infelizmente, isso não diminuía sua aflição. Sufocando sem ar, era impossível não se debater em agonia. Nenhum deles tinha reagido rápido o suficiente para encher os pulmões de ar antes de afundarem. 

Foram longos segundos até que as primeiras grades emergissem, e quem estava observando do lado de fora, respirou igualmente aliviado na beira do lago. 

Sakura, Suigetsu e Sai emergiram primeiro suas cabeças, inspirando forte enquanto capturavam oxigênio para seu corpo mais uma vez. A jaula ia se inclinando para terminar o giro e voltar à sua posição de antes, e enquanto isso, eles se agarraram nas grades, tossindo e cuspindo água enquanto respiravam de maneira ofegante. 

Mesmo seus braços doendo pelo esforço, Sakura segurava firme enquanto os tendões de seus ombros reclamavam. Ela olhou para a margem do lago, vendo Naruto e Sasuke parados em aflição. 

— Andem logo, porra! — ela berrou a plenos pulmões, despertando-os do transe. 

A jaula parou exatamente em sua posição inicial, e eles escutaram o barulho da máquina parar enquanto seu sistema giratório era desativado. 

Sasuke ainda reagiu primeiro que Naruto. Ele olhou em volta, raciocinando rápido. 

Quatro chaves de quatro deuses que representavam várias faces do amor. 

Não tinha a menor ideia de onde poderiam estar, e Ino já tinha desaparecido. 

O moreno correu até o Chalé de Orfeu, pegando uma das espadas penduradas na parede de armas e também acendeu uma tocha antes de adentrar correndo a floresta. Talvez uma das chaves estivesse pela mata, só não sabia onde. Tinha que pensar, porém não podia ficar parado enquanto isso. 

Quatro Erotes. 

Eros, Anteros, Himeros e Photos. 

Quatro faces do amor. 

Amor inconsequente. Amor não correspondido. Amor sexual. E amor obsessivo. 

Enquanto corria pela mata, Sasuke tentava entender o sentido da prova para tentar descobrir onde as chaves estariam. 

Mas era difícil pensar sabendo que Sakura estava em perigo dentro daquela jaula, dependendo dele para sair com vida. 

A floresta ia ficando cada vez mais escura, já que o sol estava se pondo. 

Se eles tinham doze horas, então precisava salvá-la antes do amanhecer, ou algo terrível provavelmente aconteceria, e ele nem queria pensar no que seria. 

Sasuke corria pela trilha como se sua própria vida dependesse disso. 

Tomado pela culpa, ele não conseguia deixar de pensar na noite anterior. 

Não conseguia se lembrar direito do que aconteceu no Chalé, e isso o apavorava tremendamente. As memórias embaçadas pelo álcool o assustavam pelo malefício da dúvida. 

“Por favor, Hades. Não faça isso comigo de novo”, ele implorava em pensamento, sentindo vontade de chorar. 

Pensou em Sakura no Chalé, rindo enquanto ele contava sobre seus primeiros dias na Casa de Hades, enquanto ainda tentava aprender a usar a picareta para trabalhar nas minas. 

Pensou nas três garrafas de vodka que tomou sozinho e agora pesavam sobre sua consciência. 

Ele torceu para que nada entre ele e Sakura tivesse acontecido, ou então carregaria a morte dela em sua consciência pelo resto da vida. 

#

Naruto tentou usar todo o seu sangue de barata naquela situação. 

Havia um motivo para nunca deixarem os médicos da Basílica de Apolo cuidarem de pacientes que eles conheciam: para não deixar os sentimentos interferirem no processo. 

Correndo pela floresta escura, segurando uma adaga na mão e uma tocha de fogo na outra, o loiro tentou manter sua mente o mais clara possível, afastando sua imaginação terrível da borda. 

Só de imaginar Suigetsu e Sakura se afogando dentro da jaula já o deixava nervoso. E o nervosismo era um dos grandes inimigos deles naquele jogo. 

A pior parte de ter Sakura na jaula era que ela nem podia ajudá-lo a desvendar a prova. 

Naruto sabia apenas o básico sobre os Erotes, então não conseguia adivinhar o segredo por trás daquela Provação de Hércules. 

Se eles eram filhos de Afrodite, então deveriam estar conectados ao amor, de alguma forma. 

Mas o que o amor ajudaria naquela situação? 

Quem sabe as chaves estivessem em algum lugar do Olimpo que tivesse algo a ver com romance. Agora sabe-se-lá que lugares seriam esses, já que tudo ali era feito para machucar e matar. 

Inclusive, enquanto corria pela trilha, Naruto escutou o primeiro uivo na mata, um pouco distante dali.

A noite na floresta tinha se iniciado, e com ela, os grandes predadores vinham também. 

#

Por ter saído na frente, Ino foi a primeira a chegar na encruzilhada de trilhas no meio da floresta. Ofegante, ela parou em frente à placa mostrando as quatro direções: acampamento, cidades em ruínas, montanhas e plataforma do trem. Decidiu ir na mais fácil de todas: o lugar onde tudo começou. 

A garota esperou um minuto para conseguir recuperar o fôlego e criar força nas pernas novamente para continuar correndo na direção sul. 

Podia escutar os sons na mata ficando mais altos, o que significava que tudo na floresta estava acordando. E Ino não tinha nenhuma arma sequer para se proteger, apenas a tocha acesa em sua mão. 

Já que não tinha nenhuma escolha, ela apenas continuou correndo, e rezou para Afrodite protegê-la dos animais que estavam circulando ao seu redor, mas que ainda não haviam notado sua presença. 

Quinze minutos de correria bastaram para que ela chegasse no final da trilha, subindo na plataforma e apoiando a mão nos joelhos, Ino tentou controlar a respiração mais uma vez enquanto observava o trem parado ali à sua frente, com a porta sempre aberta, preparado para receber qualquer participante que desistisse, a hora que fosse. 

A loira olhou em volta, já cansada, porém extremamente determinada. 

A plataforma estava vazia, como de praxe. Os bancos de cimento ficavam debaixo de uma cobertura de pedra. 

Ino correu até os bancos, se jogando no chão para olhar debaixo deles. Ela passou a mão pela superfície de pedra, tentando encontrar cantos onde pudessem ter escondido a chave. 

Ao encontrar algo diferente feito de metal, seus dedos logo agarraram e puxaram. 

— Olá, Photos. — Ino sibilou de maneira irônica quando viu que encontrara a chave com o símbolo do deus do amor obsessivo. 

Enquanto se levantava, ela pensou que provavelmente as outras duas chaves dele estavam em outros lugares da plataforma. Podia encontrá-las e dar um jeito se livrar delas, só para garantir que nem Naruto nem Sasuke colocariam as mãos na Caixa de Pandora antes dela. 

Mas a Caixa de Pandora era a última das preocupações dela no momento, assim como Naruto e Sasuke provavelmente pensavam o mesmo. 

Foda-se a urna. Tinham três pessoas que dependiam deles para verem o sol nascer de novo. 

Ino respirou fundo mais uma vez antes de recomeçar a correr para dentro da floresta escura. 

Ainda tinha três direções para seguir. 

Três trilhas. Três chaves. Três deuses. 

E três pessoas se afogando numa jaula. 

#

Com apenas meia de hora de prova, Sakura já se encontrava completamente pensativa. Estava encolhida no canto da jaula, sentada enquanto tremia de frio. 

Suigetsu estava deitado no meio da jaula, assustadoramente quieto enquanto encarava o céu noturno pela grades acima deles. 

Sai estava encolhido no outro canto, fungando e tossindo de vez em quando, ainda meio abalado com o quase afogamento deles minutos antes. 

Os outros participantes continuavam na beira do lago, aflitos enquanto os observavam. 

Já podiam ver as estrelas brilhando acima deles, e Sakura notou que já era possível ver sua respiração quente quando ela expirava pela boca, transformando-se numa pequena fumaça branca. 

A temperatura já estava caindo drasticamente, e isso fazia os dentes dela baterem pela tremedeira inconsciente. 

Mas a moça percebeu antes que todos que dessa vez, não seria como a prova de Atlas. 

Seria pior, porque agora eles estavam molhados. 

Molhados num frio abaixo de zero, sendo jogados regularmente numa água de temperatura ártica. 

Sakura sentia suas roupas molhadas grudando e incomodando seu corpo, mas esse era o menor dos problemas. 

Ela olhou para as próprias mãos, percebendo que as pontas de seus dedos estavam começando a ficarem roxas. 

Com o corpo inteiro tremendo, Sakura chegou à conclusão de que a probabilidade maior não era de morrerem afogados, mas sim de hipotermia. 

— Por que sou sempre eu me fodo? — Sakura reclamou, amargurada. 

— Que engraçado. Eu estava me perguntando a mesma coisa. — Sai choramingou. 

Ela estava prestes a chamar Suigetsu novamente quando eles tomaram outro susto ao escutarem o barulho alto da máquina sendo ligada. 

— Merda! — Sai ficou de pé apavorado mais uma vez enquanto a jaula começava a se inclinar para a direita, como da outra vez. — Ino! — ele começou a gritar por ela enquanto se agarrava nas grades aos berros, clamando por socorro enquanto iam afundando novamente.

#

Sasuke precisou apagar sua tocha o mais rápido que conseguiu antes de se jogar no chão de terra da floresta e ficar imerso na escuridão enquanto escutava os grunhidos do grande urso que estava se aproximando de onde estava. 

Deitado no escuro, o rapaz até prendeu a respiração, mesmo que isso fizesse seus pulmões arderem por já estar ofegante pela correria interrompida.

Podia escutar os passos pesados do animal em algum lugar próximo à sua esquerda, e isso o fez fechar os olhos e clamar mentalmente por proteção de Hades. 

O medo era tão grande que ele pensava que o bicho podia escutar o som de seu coração acelerado, palpitando tão forte no peito que achou que iria vomitá-lo a qualquer momento. 

Provavelmente o urso podia escutar, se estivesse mais atento. Porém como era uma fêmea que estava passeando com seu filhote pela floresta, ela estava apenas de olho no pequeno andando ao seu redor, mais preocupada com possíveis lobos ou leopardos que estivessem por perto, nem notando a presença do humano a poucos metros, se fingindo de morto. 

Sasuke segurou firme o cabo da espada nas mãos, preparado para se defender caso ela sentisse seu cheiro e viesse pra cima. 

Sasuke não se atrevia nem a piscar, com medo de ser notado ali. 

Ele pensou em sua mãe, sentada no sofá da sala depois de um dia exaustivo trabalhando no crematório. 

Torceu para que estivesse bem. Para que não ficasse tão preocupada com ele. 

Daria qualquer coisa no mundo para vê-la e saber se estava bem. 

Era a pessoa mais importante no mundo pra ele. Tudo que fazia girava em torno dela. A única que lhe restara, e a pessoa pelo qual ele fez um pacto de lealdade a Hades. 

O urso ia se afastando devagar, mas mesmo assim, Sasuke não se atreveu a respirar até não o escutar mais. 

Quando se levantou, precisou criar um pouco de coragem até que seus olhos se acostumassem com a escuridão mais uma vez, e ele pudesse seguir pela trilha escura da floresta, tendo apenas a luz da lua para conseguir distinguir as silhuetas das coisas ao seu redor.

Sasuke

Era tarde da noite quando vi o líder da Casa de Hades pela primeira vez. Estava sentado no cemitério, em frente aos túmulos de Itachi e do meu pai. Fazia apenas uma semana desde que eu e minha mãe tínhamos nos mudado para aquele lugar. 

Meu corpo inteiro doía pelo dia de trabalho pesado nas minas. Estava perto de completar meus treze anos. 

Próximo das onze da noite, escutei passos no cemitério vazio. Olhei na direção do barulho e vi Madara se aproximando devagar, trazendo uma pá sobre os ombros. Ele me viu e veio até onde eu estava. 

— Você é o filho da Mikoto, não é? — perguntou erguendo as sobrancelhas. 

Assenti com a cabeça. 

Ele olhou para os túmulos à minha frente. Não pareceu surpreso com o fato de eu estar ali àquela hora. 

— Mudança difícil? — perguntou enquanto observava as lápides de meu irmão e de meu pai, que além de terem seus nomes, também ostentavam o símbolo do Santuário de Atena, simbolizando que eles eram membros daquela tribo quando vivos. 

Me perguntei internamente se quando morresse, minha lápide também teria aquele símbolo, ou se teria a marca da Casa de Hades. 

— Acho que Hades não gosta muito de mim. — falei tentando soar o menos chateado possível. — Parece que todo mundo que eu amo acaba morrendo. 

Madara ficou me encarando em silêncio, talvez pensando no que dizer a um garoto de treze anos que estava desacostumado a lidar com o deus do Mundo Inferior ainda. 

— Bom… faça um pacto de abstinência pra ele. — ele sugeriu em tom de brincadeira. — Funciona para a maioria das pessoas. 

— Como assim? — não entendi o que ele quis dizer. 

— Nós temos essa tradição por aqui. — Madara riu. — Ofereça sua castidade e em troca, ele não levará ninguém que você ama enquanto se manter virgem. 

Fiquei olhando para ele sem dizer nada, enquanto meu cérebro analisava suas palavras. 

Madara riu de novo da minha cara. 

— Pare de queimar neurônios à toa, moleque. Não está mais no Santuário de Atena. — ele bagunçou meu cabelo. — Vá pra casa e descanse. Os dias aqui são longos. 

E ele se foi pelo cemitério sombrio, me deixando sozinho mais uma vez. 


Notas Finais


Vou mentir não, esse ciclo vai ser tenso e talvez até triste na real, porque além das provas mais emotivas, os poderes que vocês escolheram são BEEEM complicados. Já comecem a rezar aí pra vir coisa boa no Desafio de Perseu, kkkk.

Deuses homenageados:
Erotes - 14.728 (61,5%)
Gêmeos do Caos - 9.159 (38,2%)
Daemons da dualidade - 55 (0,2%)

Poder branco:
"O dono deste poder deve trocar alguém do quarteto a enfrentar o Coliseu. O escolhido pode ser qualquer pessoa do jogo, inclusive os que estão imunes." - 10.920 (52,2%)

Poder preto:
O dono deste poder deve trocar de equipe com alguém. - 14.072 (36,3%)

A única coisa que eu tenho a dizer é: preparem o coração.

Espero que tenham curtido, até mais <3

Playlist da fic: https://open.spotify.com/playlist/5GHgPG9ZkBwObsc2pRpmeA

Instagram: https://www.instagram.com/writer.plutoniana/


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