Estávamos nos aproximando da cidade onde iríamos trocar de ônibus mais uma vez, o motorista falou dez minutos, não via a hora de sair para poder esticar um pouco minhas pernas.
Eu estava olhando para fora da janela, vendo a cidade passar, mas estava sentindo necessidade de conversar com a garota atrás de mim, então foi o que fiz.
- Mais dez minutos e vamos poder respirar um pouco de ar puro – falo de joelho em cima da poltrona para olhar para ela.
- Eu estou precisando esticar as pernas, tipo, muito – ela me deu aquele sorriso largo.
Dez minutos depois paramos na rodoviária, Demi desapareceu pelas portas da lanchonete, eu procurei um lugar para me sentar, eu sei, passei várias horas sentada e reclamando que minha bunda estava doendo, mas o negócio é que se você passa muito tempo sentada, você acaba se acostumando e fica cansada quando fica em pé por alguns minutos, será que isso faz algum sentindo? Bom, para mim faz, só de estar ao ar livre me deixa satisfeita.
Demi voltou segurando uma coxinha em uma mão e uma lata de cerveja e um saco na outra mão, ela se sentou ao meu lado abrindo a lata de cerveja.
- Eu não prestei atenção no que você estava bebendo a outra noite, então não comprei uma bebida pra você, mas podemos dividir minha bebida – ela falou sorrindo – Eu comprei um salgado pra você também, não sabia do que você gostava então, comprei uma coxinha para você também – ela falou me oferecendo o saco enquanto mordia sua coxinha.
- Não, obrigada – falei um pouco envergonhada por recusar o que ela tinha comprado pra mim, foi um gesto doce, mas eu queria permanecer saudável – Acho cerveja super nojento, sem contar que o hálito fica horrível – ela olhou pra mim com uma das sobrancelhas perfeitamente arqueada.
- Será que tudo você acha nojento? – ela perguntou se lembrando do episódio do fone de ouvido – E a coxinha que comprei pra você? – ela perguntou.
- Desculpa, mas evito comer frituras – falei.
- Tudo bem – ela falou colocando o saco em cima do colo – Você me surpreendeu agora, você parecia o tipo de pessoa que não recusaria um gesto tão genuíno e educado de uma pessoa – ela respondeu, mas pelo sorriso que estava estampado em seu rosto, eu sabia que ela estava tentando mexer comigo para eu me sentir culpada.
- Eu agradeço, foi um gesto muito doce de sua parte – falei sorrindo para ela – Mas, eu preservo minha saúde – continuei falando – Você provavelmente deve ter todas as veias do seu coração entupidas pela quantidade de porcaria que come.
- Qual o sentido da vida se não pudermos comer o que temos vontade? – ela falou quando pegou a outra coxinha e comeu olhando para mim – Está uma delícia, tem certeza que não quer nenhum pedacinho? Eu divido com você – ela chegou a coxinha perto do meu rosto e pude sentir o cheiro de óleo.
- Eu passo – falei empurrando sua mão para longe.
- Você é muito fresca – ela falou rindo – Você por acaso é vegetariana?
- Não, só não como um monte de porcarias. Não sou muito de comer carne vermelha também, mas comeria se alguém me convidasse – seu sorriso ficou maior.
- Por acaso você está pedindo para eu te convidar para jantar? – arregalei os olhos e senti meu rosto pegando fogo. Ela estava rindo.
- NÃO – falei envergonhada – Não foi isso que eu quis dizer – o sorriso estava intacto em seu rosto.
- Eu posso te convidar se nossa próxima parada encontrarmos um restaurante que consiga preparar um filé em quinze minutos, então você decide se isso é um encontro – ela mexe as sobrancelhas perfeitamente esculpidas.
- Definitivamente não será um encontro – falei rápido fazendo com que ela risse – Posso te fazer uma pergunta? – já estava um tanto óbvio, mas eu queria ter certeza.
- Claro, manda – ela falou olhando para mim.
- Você é gay? – ela ficou olhando para mim, seu rosto sério, e eu comecei a me arrepender de ter feito essa pergunta – Me desculpe, você não tem que responder – desviei o olhar e escutei ela rindo, me virei novamente para olhar para ela
- Achei que estava bastante óbvio – ela falou sorrindo.
- Um pouco, eu só queria ter certeza.
- Então, sobre o encontro – ela falou.
- Não é um encontro – fui rápida para esclarecer.
- Tudo bem, então se não for um encontro, o que vai ser? – ela perguntou sorrindo.
- Apenas duas amigas compartilhando uma refeição, nada mais.
- Então somos amigas.
- Claro – respondi – Pelo menos até Wyoming que é onde nos separamos.
- Tudo bem, amigas até lá – ela tomou um gole de sua cerveja – Tem certeza que não quer? Está acabando.
- Certeza absoluta – ela tomou mais um gole e se levantou para jogar os papéis e a lata de cerveja no lixo. Fiquei observando enquanto ela se afastava, ela era uma garota muito bonita e seu corpo era de dar inveja a qualquer um. Droga, ela me pegou olhando. Eu preciso me controlar, não posso ficar sorrindo e passar a imagem errada para ela. Sim, ela é linda, mas eu nunca me senti atraída por uma garota, nunca... até agora. Mas nada além da amizade vai acontecer, estou viajando para organizar minha cabeça, eu não preciso de mais alguém para bagunçar tudo.
Ficamos uma hora na rodoviária esperando outro ônibus. Quando o ônibus finalmente encostou, percebo um monte de gente se levantando, conclui que não haveria uma poltrona vazia para que eu pudesse me esticar. Eu queria muito pedir para Demi se sentar ao meu lado, mas não queria dar impressão errada, preferia ela porque, pelo menos viramos amigas.
Entrei no ônibus e encontrei duas poltronas vazias, me sentei na janela e Demi se sentou ao meu lado, ainda bem.
A viagem não foi tão cansativa dessa vez, pois eu tinha alguém com quem conversar, falamos sobre tudo e discutimos muito sobre música, ela era super teimosa, mas ela falou o mesmo de mim, então não sei quem estava certa.
- Vai ficar quanto tempo no Oregon? – ela pergunta.
- Eu não sei, alguns dias.
- Você vai voltar de ônibus?
- Sim.
- Não quero ser intrometida nem nada, mas é muito perigoso uma garota como você, viajar sozinha nesses ônibus.
- Como assim uma garota como eu? – perguntei curiosa – Você também é uma garota, então deveria ser perigoso para você andar de ônibus também, e aqui está você.
- Eu sei que sou uma garota também, mas você parece ser um pouco desligada das coisas que acontece ao seu redor.
- Tipo o quê?
- Você não é o tipo de pessoa que percebe quando um homem está olhando para você com segundas intenções e isso pode ser perigoso quando você está sozinha. Não estou querendo flertar com você nem nada, mas você é assustadoramente linda, o que complica ainda mais a situação – o sorriso queria aparecer em meu rosto, mas eu me controlei para não deixar ele sair.
- Tem certeza que não está flertando comigo? – sorri divertida – Porque isso me pareceu muito como um – ela ficou séria olhando para mim.
- Estou falando sério, é perigoso, e você pode se machucar.
- Eu precisava disso, ok – falei desviando o olhar – Não se preocupe, eu sei me cuidar – ela suspira e deixa o assunto morrer – Me fala sobre seu pai – peço para ela que fica um pouco quieta por alguns minutos.
- Ele é um ótimo cara, ele nos ensinou a sempre lutar pelos nossos sonhos, e nos criou para sermos pessoas fortes, e ele disse que pessoas fortes não choram – ela tinha uma expressão triste no rosto – Ele está morrendo – deu de ombros – Mas temos que seguir a vida e vivermos o presente – fiquei um pouco chocada pela forma que ela está falando, estava na cara que ela estava sofrendo, mas um segundo depois ela coloca um sorriso no rosto e é como aquela tristeza fosse coberta por uma máscara.
Durante todo a conversa que tivemos, percebi que tínhamos mais coisas em comum do que eu queria admitir.
POV Demi.
Fiquei um pouco surpresa quando ela perguntou sobre meu pai, eu nem sabia que ela lembrava disso. Essa garota é diferente, e mesmo estando ao lado dela, eu não paro de pensar nela, o que você está fazendo comigo Selena?
Ela está dormindo agora, e eu tenho que me controlar para não ficar observando. Toda aquela conversa de como é perigoso viajar sozinha, foi porque ela não percebeu que tem um homem que não para de olhar para ela, desde que eu entrei no ônibus, eu notei que ele não tira os olhos dela, por isso falei que ela parece ser desligada, pois ela não notou isso. Ele está sentado nas poltronas da frente, e desde que comecei a conversar com Selena, ele parou de olhar um pouco, mas eu continuo de olho nele, porque se ele tentar alguma coisa com ela, eu arranco a cabeça dele. Mas estou um pouco preocupada que vou terminar a viagem antes dela. E se aquele desgraçado continuar? Só espero que ele não esteja indo para o Oregon também. Espero que ele pegue outro ônibus antes de eu me separar de Selena.
Coloco os fones de ouvido e ligo meu Ipod, deixo no aleatório, quando a música começa a tocar, eu abaixo o volume, pois não quero incomodar Selena. Viro a cabeça para olhar para ela dormindo, eu queria conhece-la melhor, saber o que ela esconde, mas talvez seja melhor assim, eu já tenho bagagem demais.
- Fala sério – escuto uma voz ao meu lado. Abro meus olhos devagar e percebo que estou deitada no ombro de Selena.
- Bom dia – falo sorrindo. Ela quer sorrir, mas finge estar brava porque deitei em cima dela.
- Se importa? – ela pergunta, pois eu estou deitada ainda.
- Não – me levantei e me espreguicei sentido meus músculos doloridos – Me desculpa por isso – falo, e ela está olhando séria para mim, e como ela é linda quando acorda, abri o maior sorriso que tinha e ela não aguenta e sorri também.
- Seu hálito está horrível, está com cheiro de vagina – ela fala.
- Como você sabe qual é o cheiro de uma vagina? – pergunto e ela desvia o olhar envergonhada me fazendo rir. Abri minha mochila e peguei a pasta de dente, colocando um pouco na língua e chupando.
- Isso é nojento.
- É melhor do que está com hálito de vagina, não acha? – ela estreita os olhos pra mim e olha para outro lado. Estou adorando mexer com ela.
O ônibus parou na próxima parada e todos os passageiros começaram sair em fila, Selena está na minha frente. Assim que coloquei meus pés no asfalto percebo que ela está olhando para mim.
- Pronta para procurar uma comida saudável? – ela pergunta sorrindo pra mim.
- Eu te desafio a encontrar uma comida saudável nesse lugar – falei em tom de deboche.
- Desafio aceito – ela fala e pega minha mão me arrastando para loja de conveniência. Passamos pelas comidas gordurosas e fomos em direção as geladeiras, ela aponta a geladeira onde só tem suco – Tem uma variedade de sabores – ela aponta.
- Eu não gosto de suco, eu prefiro uma cerveja ou um refrigerante.
- Não seja tão teimosa e escolhe logo um suco – ela fala autoritária. Eu gosto. Fiquei olhando para variedade de suco até que optei por um suco de laranja.
- Sério? Laranja! – ela fala.
- Ok, estou começando a achar que você gosta de me contrariar – falei – Quando eu finalmente escolho um sabor, você me critica – falei tentando faze-la se sentir mal, o que funcionou.
- Não é isso – ela suspirou – Laranja é muito ácida e tem muita vitamina C, você só vai ficar com mais sede durante a viagem e não é tão bom para acompanhar a comida – ela respondeu. Abro um sorriso para ela que retribui, resolvi trocar o sabor, afinal, ela está preocupada comigo.
Acabamos tomando suco e comendo lanche natural, o que eu fui me tornar.
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