Após boas horas de sono, acordei em um susto com um pequeno baque da carruagem em uma pedra que se encontrava na estrada. Ao retirar a máscara de meus olhos, uma luz clara veio de encontro a minha visão, dificultando-me a enxergar os presentes na carruagem. Ergui as palmatórias até as pálpebras, afagando-as delicadamente.
– Finalmente! - Referiu-me Melody, dando uma pausa a sua leitura de " Os mistérios das Sereias, volume dois ". Aquele livro fora lhe dado por meu pai, na intensão de fazer Mel conhecer um pouco mais de sua família submarina. - Nossa mamãe, você dormiu muito.
– Ah, querida... - Senti aos músculos das bochechas um reflexo involuntário que fez-me bocejar. - Noite passada não dormi muito, o bebê queria nadar.
– Nadar? - Indagou-me ela, incrédula.
– Sim. Como ele também é metade peixe, necessita do mar algumas vezes. E ontem, as cinco da manhã ele me acordou para isto.
– Hm, entendo. E pelo visto, não foi só você que apagou, o papai está dormindo até agora.
Observei Eric, que, encostado ao assento do veículo, encontrava-se aos roncos. Gargalhei, controlando-me para não acordá-lo.
Assim, direcionei olhar para a janela, fitando por esta a estrada. A lua já havia se erguido aos céus, e o sol nos abandonara. As árvores gigantescas tornavam tudo mais obscuro aquela noite. Entre tanto, já conseguia avistar o porto próximo a nós.
Cinderela morava num reino que fazia fronteira ao meu. Ele era conhecido como o reino de Cristal, onde tudo parecia brilhar ao ser tocado pelos raios solares. Desde a água cristalina, até a estrutura do palácio onde ela vivia. Era tudo belíssimo, eu estava realmente animada para a nossa chegada. Acho, que até mais que Melody.
– Mel...
– Sim mamãe?
– Está gostando do livro?
– Estou! - Exclamou animada - É tão mágico, juro. Eu gostaria de ser Sereia vinte e quatro horas por dia!
– Haha... Somos tão diferentes, não é meu amor?
– Sim, mas não fique triste mãe! Eu amo a nossa casa, a minha escola... Mas... - Ela sorriu, abaixando sua cabeça de volta ao livro. Avistei a página a fotografia de uma sereia, ela parecia tão real.
– Filha, um sorriso pode ter dois significados: Ou ele mostra o quanto você está bem, ou esconde o quando você está mal. Diga-me, o que se passa?
– Ah mamãe, é que... Eu não sinto que a terra é o meu lar. Sabe? Sinto-me presa! No mar a vida parece ser tão divertida, tão livre.
– Sei como se sente, já lhe disse... Eu era um verdadeiro peixinho fora d'água.
– É, e eu me sinto como um peixe num aquário. Mesmo estando na água, ele sempre sentirá falta da liberdade que poderia ter no mar.
– Olhe, você sabe que pode morar lá se quiser. - Senti um aperto ao peito ao dar-lhe esta opção. Era difícil pensar na minha vida sem Melody. Ela era o meu bebê! Mesmo estando tão crescida. Ela já era uma mulher!
– Eu sei, mas eu não abandonaria vocês, nunca! Mas, mãe... Eu estou apaixonada.
– Apaixonada? - Chocada, indago-a. Mantivemos o tom de voz baixo, no intuito de não acordar Eric.
– Sim. Lembra do Jason? O tritão que lhe falei? Eu o amo mãe. Ele é tão meigo e especial, ele até fez um desenho nosso! Quer ver?
– Oh! Quero sim filha.
Melody abriu sua bolsa rapidamente, retirando de dentro desta um diário. A capa deste possuía a cor verde-água e colado nesta uma foto de Mel em sua forma aquática. Ela folheou as páginas do livro até chegar ao centro, onde se encontrava um desenho de uma casal.
– Olhe. - Ela me entregou, e assim pude ver melhor o desenho: Melody com seus cabelos negros molhados, se encontrava sobre uma rocha, vestida de um vestido que havia ganhado de natal a poucos dias. Ela estava segurando as mão de um menino metade homem, metade peixe, que dentro d'água a observava sorridente. A expressão de minha filha no desenho era triste, fazendo-me sentir um aperto ao coração.
– Filha, ele é lindo! E um ótimo desenhista.
– Sim... - Concordou ela, observando o desenho com lágrimas aos olhos.
– Ei, não fique triste meu amor. Sabia que eu tinha a sua idade quando me apaixonei pelo seu pai?
– Jura?! - Indagou-me surpresa.
– Sim! Na verdade, tinha dezesseis anos, você terá essa idade daqui a poucos dias.
– Verdade! Nossa mamãe, o vovô aceitou bem?
– Não...Foi dificil, mas no final, ele concordou com o nosso amor.
– Será que o papai ficaria chateado?
– Filha, saiba de uma coisa, na minha época, minha mãe já havia morrido...- A figura de minha mãe veio a tona em meus pensamentos, passara tantos anos que não a via, sentia tanto a sua falta todos os dias. Daria tudo para ouvir pela ultima vez a sua voz. - E mesmo, sozinha, eu consegui o apoio do seu avô. Irei lhe ajudar com o seu pai!
– Sério?! Mãe eu te amo! - Ela ergue-se, se jogando sobre meu colo. Envolveu-me com seus braços, pondo sua cabeça em meu ombro. Mergulhada aos cabelos negros de Melody, retribui o abraço, apertando-a em meus membros superiores.
– Eu também te amo meu bebê!
– Bebê? Jura?
– Hahaha.. Minha mocinha!
– Melhorou. - Disse-me ela, sorridente.
Ficamos algumas horas conversando, enquanto Eric dormia. Até que por fim, Melody pegou no sono. Fiquei acariciando suas madeixas, notando o sorriso em seu rosto. Era por ela que eu iria lutar contra Úrsula e suas amigas bruxas, era por ela que eu iria me sacrificar! Eu nunca deixaria ninguém machucá-la.
Foi no instante dos primeiros raios solares a surgirem ao céu que o coche chegou ao porto. Acordei Melody e Eric, e juntos fomos para o navio de viagem da família real. Na enseada, alguns camponeses se encontravam, acenando para nós. Melody ao descer da carruagem, acariciou os cavalos e caminhou até seus súditos, cumprimentando-os com um belo sorriso aos lábios. Acompanhando-a, mandei beijos a estes.
Na embarcação, tomamos café ao deque. Este estava delicioso. Café, leite, chá, achocolatado, pães, manteiga, queijo, apresuntado, ovos, bacon e frutas. Comi apenas um pouco de pão com queijo e tomei uma xícara de chá, acompanhado de uma laranja.
– Filha, sabe de uma coisa? - Pergunto-a, após um gole caprichado em meu chá.
– Diga mamãe.
– A comida dos humanos é bem mais gostosa que a dos tritões.
– Hahaha! Verdade.
– Obrigado? - Disse Eric, sorridente.
Caímos na gargalhada e continuamos a comer. Quando terminamos havíamos chegado ao reino de Cindy. O sol refletia os cristais do palácio em nossa direção, cegando-nos. O reino de Cristal era um dos reinos mais belos de todos da Terra Encantada.
– Bom, vamos, Cinderella está nos esperando. - Ancorado à baía, descemos da embarcação, despedindo-nos dos servos deste.
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