Era de madrugada quando Sasuke sentiu a mão de Hinata tocar seu ombro, primeiro um toque suave e um leve apertar de dedos que logo progrediu para um chacoalhão enquanto ela resmungava seu nome ainda sonolenta.
— Sasuke-kun, você esta acordado?
— Agora estou. — respondeu enquanto ligava o abajur e sentava na cama, voltando suas orbes escuras para a Uchiha deitada ao seu lado. — Aconteceu alguma coisa?
A barriga de sete meses ocupava um bom espaço na cama, Hinata tinha travesseiros a cercando mas ainda era difícil ficar confortável, Sasuke suspirou a olhando antes de passar a mão por seu rosto, os olhos levemente inchados das noites mal dormidas, o Uchiha não podia deixar de se sentir culpado nesses momentos onde sua esposa mal conseguia dormir ou reclamava de dores espalhadas pelo corpo. Ser acordado por ela no meio da noite tinha se tornado um hábito bem comum, mas dessa vez algo lhe dizia que não teria que buscar somente um copo de água ou outro travesseiro no armário.
— Estou com vontade de comer dango.
— Dango? — Sasuke repetiu, surpreso com o pedido. Além do enjoo de peixe no início da gravidez, nas últimas semanas Hinata tinha adquirido uma pequena aversão a doces, isso incluía até chás que ela passou a beber quase sem açúcar, então pedir por algo assim no meio da madrugada era de certa forma muito inusitado. Ela também não era uma grávida com muitos desejos, sendo a primeira vez que um deles ocorria em tal horário. — Agora?
— Se eu estou pedindo agora... — ela o fuzilou com o olhar, fazendo Sasuke engolir em seco.
As variações de humor estavam vindo com tudo nos últimos meses.
— 'Tá bom, eu vou ver se temos ingredientes suficientes pra fazer. — ele respondeu já afastando as cobertas e pulando da cama.
Sasuke sabia fazer dango? Não, mas teria que aprender. Hinata por sua vez se sentou na cama, coçando seus olhos pelo sono, mal tinha conseguido dormir e acordou com uma vontade absurda de comer o doce que só de pensar lhe dava água na boca. Mas tinha um porém.
— Fazer? Não, Sasuke-kun, eu quero os dangos do senhor Lin.
Ele que já estava próximo a porta, voltou para seu ponto de visão com uma expressão confusa no rosto.
— Hina, são quase quatro horas da manhã, a loja abre somente às sete. — o tom de voz do ex nukenin era igual ao que se usa para explicar a uma criança que ela não pode comer o doce antes do jantar.
— Até lá minha vontade já vai ter passado, tenho certeza que o senhor Lin vai ser compreensivo, afinal estou grávida. Você não quer que nosso bebê nasça com cara de dango, quer? — ela passou a mão na barriga, fazendo uma carinha inocente e um biquinho no final.
— O que?
— Você não conhece o ditado? Se uma grávida não come o que sente vontade, o bebê vai nascer com a cara daquilo que ela queria e não pode comer.
Sasuke ficou em silêncio, parecendo raciocinar o que ela havia dito.
— Isso é sério? — ele questionou mais uma vez, como se ponderasse a ideia dela estar dizendo a verdade mas ainda ter uma pulga atrás da orelha.
— Sim sim. — Hinata balançou a cabeça e cruzou os dedos, repetindo a palavra para dar ênfase.
— Eu volto já. — e com isso Sasuke pegou sua capa e saiu de casa em plena madrugada para tentar explicar a um senhor de idade que sua esposa grávida e um tanto mimada precisava comer os dangos de sua loja nesse exato momento, ou dali dois meses eles teriam um bebê com cara de dango sabor chá verde para cuidar.
-...-
Sasuke teve que bater quatro vezes na porta antes de um senhorzinho baixo vestindo um pijama azul o atendesse. O Senhor Lin piscou algumas vezes quando o viu, quase como se não acreditasse no que seus olhos estavam vendo. Eles se conheciam pelas vezes que o Uchiha passou a comprar um doce para sua esposa quando ela ainda gostava.
— Uchiha... Sasuke? — ele falou um tanto incrédulo, o que o herói da última guerra ninja queria na sua porta às quatro da manhã.
— Desculpe incomodá-lo a essa hora, senhor Lin. — o moreno desviou o olhar, desacostumado a ser tão formal. — Mas preciso que me venda alguns espetinhos de Dango.
— A essa hora? — o senhorzinho olhou para os lados, tentando entender o que estava acontecendo. Ele morava do lado da loja, então Sasuke tinha esperança que talvez tivesse alguns prontos para o dia seguinte. — Desculpe, mas não sobrou nada do dia anterior, pode retornar quando eu abrir e terei alguns prontos para você.
— É para minha esposa, ela esta com desejo. — tentou argumentar, sabendo que ele conhecia a ex Hyuuga e já tinha os vistos juntos.
— Hinata? Ela é uma menina tão boa... mas infelizmente não tenho nenhum dango pronto.
— Eu espero ficar pronto. — Sasuke respondeu rapidamente, vendo-o ficar pensativo, percebendo que ele iria negar novamente, o Uchiha mordeu o interior da bochecha, sabendo que teria que apelar. — Escute, senhor Lin, Hinata esta grávida e com desejo de comer dango agora, e se meu filho nascer com cara de dango, eu vou voltar aqui, e o senhor não vai querer isso... vai?
O velhinho engoliu em seco, arregalando os olhos por alguns instantes.
— E- Eu vou ver o que posso fazer. — dito isso ele retornou para dentro, mas Sasuke sabia que havia aceitado preparar o doce naquele horário.
Batendo na própria testa, o Uchiha virou de costas encostando na parede, a que ponto tinha chegado, ameaçando um senhor de idade só pra conseguir um doce para sua esposa grávida, sempre pensou que Hinata estava o deixando louco, mas agora tinha certeza.
Voltou para casa cerca de uma hora depois com uma sacola de doces na mão contendo três espetinhos, dois de chá verde, e um caramelizado, sem ter certeza de qual a perolada queria, mas sabendo que os de chá eram a sua preferência.
Hinata o esperava no sofá, e quando viu o doce seus olhos brilharam e ela os devorou em poucos minutos, não sem antes lhe oferecer um pedaço que foi aceito com muito custo, pois nunca foi um grande fã de sobremesas. Após isso, a morena dormiu em seu ombro enquanto viam TV no sofá, e ele pegou sua mão esquerda e ficou admirando sua esposa, a aliança em seu dedo de continha seu nome dentro, e como, apesar de tudo, estava muito feliz em tê-la ao seu lado.
O mais devagar possível, Sasuke se levantou e a pegou no colo a fim de levá-la para a cama, Hinata mesmo dormindo se aconchegou em seus braços, procurando esconder o rosto na curva de seu pescoço como de costume, fazendo-o sorrir. O peso de ter as duas pessoas mais importantes de sua vida em seus braços era reconfortante, subindo as escadas, ele refletiu mais uma vez em como sua vida mudou de uns tempos para cá, não era mais sozinho, não era mais o ultimo Uchiha e tinha ganho uma família novamente, essa que faria de tudo para proteger, pois agora ele podia, tinha forças suficiente para mantê-los seguros e garantir que não perderia mais ninguém importante.
E se precisasse iria treinar e ficar ainda mais forte, tudo isso para garantir que ficaria ao lado de sua família pelo resto de sua vida e que seus filhos jamais precisariam sentir a mesma dor que ele sentiu no passado.
-...-
Semanas depois, Hinata fechava uma marmita e a embrulhava em um paninho branco, caminhando o mais rápido que a barriga de 37 semanas permitia.
Encontrou Sasuke ajustando a mochila nas costas, fazia algum tempo que ele não saia em missões de longa distância que parecia estranho colocar seus equipamentos de novo. O Uchiha voltou sua atenção para si assim que ouviu seus passos, e fez uma cara de surpresa ao ver o embrulho em suas mãos.
— Eu disse que não precisava se incomodar. — ele falou gentil, pegando o pacote enquanto lhe dava um beijinho na testa como agradecimento.
Hinata sabia que apesar dele não querer que ela fizesse nada ultimamente além de repousar e esperar o bebê nascer, Sasuke havia ficado feliz em receber o obento antes de partir em missão.
— Não foi nada. — respondeu sentindo suas bochechas ficarem rosadas e assim que o ex nukenin colocou a mão em sua barriga, o bebê se agitou, tirando-lhe um riso fraquinho enquanto colocava a destra para sentir também. — Ele sempre reage quando você toca, já esta escolhendo o preferido.
Sasuke sorriu com o bico que se formou em seus lábios, bagunçando seu cabelo em seguida.
— Não é isso, de certa forma eu passo menos tempo com ele do que você, só deve estar sentindo minha falta.
— Convencido. — resmungou, lhe dando um empurrãozinho antes de assumir uma postura séria de novo. — Tome cuidado, ok? Sei que é uma missão diplomática, mas não baixe sua guarda.
— Não se preocupe com isso, ou melhor, não se preocupe com nada ou o bebê vai sentir. — concordou com a cabeça, sabendo que seu filho ficava mais agitado quando estava nervosa. — Volto em dois dias, e Karin vai ficar com você enquanto isso.
Em outras ocasiões diria que não precisava de babá, entretanto com o parto tão próximo, se sentiria mais confortável com alguém ao seu lado para ajudá-la se necessário.
— Vá com cuidado. — reforçou, levando a mão para o rosto de seu marido e o puxando para um beijo lento, apreciando o sabor um do outro se misturando em suas bocas.
— Tchau, Hina. — ele disse quando se separaram, se abaixando para dar um beijinho rápido em sua barriga. — E bebê.
Ela riu, acenando para ele que logo sumiu de sua vista usando o teleporte.
Karin veio em sua casa minutos depois, logo após perceber que não podia mais sentir o chakra de Sasuke no distrito, e ambas ficaram até a hora do almoço conversando e separando as roupas e acessórios do bebê para formar uma bolsa de maternidade.
— Acho que vou começar o almoço. — Hinata murmurou próximo ao meio dia, sentindo a fome se aproximar cada vez mais.
— É uma boa ideia, o que quer comer? Eu faço pra você. — a Uzumaki questionou, se levantando da cama.
— Por favor, não seja como o Sasuke. — a Uchiha brincou, se levantando também. — Vamos preparar algo juntas.
— Se é o que quer... — Karin respondeu, já um pouco à frente. — Mas entendo ele, sua barriga esta enorme, deve ser doloroso ficar em pé por muito tempo.
— Doí menos do que parece. — Hinata sorriu, apoiando a mão na protuberância, costume que tinha pego desde que sua barriga se tornou grande ao ponto de não ver os próprios pés com tanta facilidade. — A pior parte é a dor nas costas no fim do dia.
Ambas desceram as escadas conversando sobre a gravidez e tudo que tinha mudado nesses últimos meses, Hinata citou inúmeros mudanças em seu corpo e também como sua paciência diminuiu um pouco, logo ela que sempre foi muito calma e tranquila, vinha sentindo muito stress nos últimos dias.
— Mas acho que um pouco disso é medo. — confessou enquanto começava a cortar uns legumes. — Apesar de ter conversado com Kurenai sobre, ela é minha única referência de mãe, então estou um pouco assustada de como vai ser o parto, e depois disso também. Cuidar de um bebê recém nascido não é fácil.
A Uzumaki escutou em silêncio, cortando algumas cenouras para fazer yakisoba.
— Fácil não é, mas você vai ter muita ajuda, Sasuke vai pegar uma folga, e eu também posso ajudar e por mais que não pareça, Juugo é bom com crianças. — ela riu um pouco, fazendo uma nota de que ele era bom com as crianças que não corriam de medo dele quando o viam. — Já Suigetsu, bom... ele não vai servir pra muita coisa.
— Que cruel, Karin. Você vai ter muita coisa para ensiná-lo então. — a Uchiha piscou, deixando a outra um pouco vermelha.
— E q- quem disse que eu quero um filho daquele idiota? — a ruiva gaguejou, se atrapalhando nas palavras fazendo Hinata rir de sua falha tentativa de mentir.
Antes que ela pudesse responder, a campainha tocou e Karin arregalou os olhos, parando de falar.
— Sui? Ele devia estar em missão com Juugo.
Agora o trio tinha se tornado ninjas de Konohagakure também, mas Karin tinha preferido não pegar missões agora que Hinata podia precisar de sua ajuda de uma hora para outra, afinal com oito meses, quase nove, o bebê podia nascer a qualquer momento.
A Uzumaki foi abrir a porta, e Hinata foi atrás, um tanto curiosa.
— O que vocês dois estão fazendo aqui? — a de óculos perguntou, ajeitando-o para esconder seu rubor ao ver o namorado.
— Nossa missão foi adiada, esta tendo uma tempestade de areia no deserto que liga Konoha a Suna, então vamos esperar passar. — o espadachim respondeu, já entrando na casa e levantando uma saca de marmitas. — Com fome? Trouxemos o almoço.
As garotas se entreolharam e deram de ombro, pelos menos agora seria um trabalho a menos para se fazer naquele dia.
Depois de comerem, os quatro se reuniram na sala de estar para conversar, mas Hinata insistiu em preparar um chá para que ficassem mais à vontade, e quando Karin ofereceu ajuda, ela recusou dizendo que podia preparar algo tão simples sozinha. Contudo, a Uchiha não imaginou que fosse escorregar graças a pouca água acumulada próximo a pia, seus reflexos ninjas amortizaram a queda, mas não a evitaram totalmente e acabou caindo sentada, apoiando o corpo com as duas mãos no chão.
Um pequeno grito escapou de sua boca com o susto, e logo seus três convidados estavam a sua disposição. Ainda jurou ouvir Suigetsu falar "Sasuke vai nos matar" baixinho, enquanto Karin e Juugo a ajudavam a ficar em pé.
— Por Deus Hinata, você esta bem? — a Uzumaki perguntou, o desespero quase palpável em seu tom de voz.
— Sim, não foi uma queda tão feia. — respondeu, sentindo seu bumbum reclamar por ter recebido a maior parte do impacto. — Ino me alertou sobre a possibilidade e me ensinou a amortecer a queda, vai ficar tudo bem.
— Talvez devêssemos levá-la ao médico. — Juugo comentou, ainda lhe dando apoio pelo braço.
— Não acho que seja necessário, estou bem, de verdade. — os tranquilizou, colocando a mão na barriga quando o bebe chutou como se reclamasse da agitação repentina. Era sempre assim quando se mexia muito, fazendo-a acreditar que ele tinha o temperamento tão forte quanto o pai.
Mesmo assim eles a convenceram a voltar a se sentar, concordando que Karin devia passar a noite ao seu lado, a Uzumaki apesar de não ser oficialmente uma ninja médica, tinha conhecimento básico na área, e se algo ruim acontecesse, sua habilidade regenerativa viria muito a calhar.
-...-
Durante a missão, Sasuke não conseguia disfarçar seu desconforto. O ex nukenin sentia um incômodo percorrer todo seu corpo não o deixando percorrer o caminho em paz, tornando difícil tarefas simples como desviar de obstáculos que apareciam sem aviso prévio em sua frente, pois era como se estivesse perdido no próprio universo, e o rosto de Hinata não saia de sua cabeça.
Era como se algo o alertasse para voltar a Konoha urgentemente.
Parando para descansar já tarde da noite, fez uma fogueira com auxílio do Katon e se sentou próximo a uma árvore, se pegando olhando para o anel de casamento distraidamente em seu dedo. Sua esposa é uma pessoa gentil e calma, mas também muito teimosa, sabia que Hinata não tomaria os devidos cuidados de repouso que insistia para que ela tomasse, alegando que eles eram um "exagero". Talvez realmente fossem, mas ele se sentia bem mais seguro cuidando dela dessa forma.
Respirou fundo, sua missão era diplomática, carregava consigo um pergaminho de extrema importância para a vila de Kirigakure, se não fosse isso já teria retornado, ou melhor, nunca teria saído do lado de sua esposa grávida. Ajustando a gola da capa, levou seu olhar para cima e observou o céu estrelado por alguns segundos, a inquietação fazendo seu coração martelar no peito.
— Que se dane. — resmungou, se levantando em seguida apagando seus rastros.
Se Kakashi fosse demiti-lo, então que fizesse, mas algo lhe dizia que Hinata iria precisar de si e estava voltando para ela custe o que custasse.
-...-
Durante a madrugada, Karin acordou sonolenta, jurando ter escutado alguém chamar seu nome. A ruiva pegou o óculos que estava na mesinha ao lado da cama e o colocou depois de coçar um dos olhos, ficando em silêncio por alguns segundos para ver se realmente tinha ouvido coisas. Quando nada chegou até seus ouvidos, deu de ombro e voltou a se deitar, contudo outra vez seu nome foi dito, e dessa vez a Uzumaki tinha certeza que ouvira a voz de Hinata.
Com pressa, se levantou da cama tropeçando na coberta e quase caindo no chão, a voz da Uchiha era calma, mas sabia que a perolada nunca a acordaria se não fosse necessário. Karin atravessou o corredor e abriu a porta do outro quarto, se deparando com a luz acesa e uma Hinata em pé com uma das mãos na barriga, olhando para baixo enquanto uma boa quantidade de água escorria por suas pernas através da camisola lilás que usava no momento.
— Acho que a bolsa estourou. — ela disse baixinho, levantando a cabeça em sua direção.
— Você acha? Por Kami, eu gostaria de ter sua calma. — falou de volta, já abrindo o guarda roupa para procurar pela bolsa de maternidade que sabia que ela tinha separado.
— Karin... ainda não era a hora prevista. — a fala veio cheia de preocupação, fazendo a ruiva parar de se mover e entender que Hinata estava sim, preocupada, mas não era de sua natureza fazer um escândalo. — Eu cai hoje, quais as chances disso ter adiantado o parto?
A Uzumaki piscou, ela não sabia a resposta, apesar de ter uma habilidade relacionada a cura, não era uma ninja especializada nisso.
— Eu não sei, Hinata. — foi sincera, vendo uma expressão de choro começar a se formar no rosto da morena. Preocupada, caminhou até ela segurando suas mãos e dando um leve aperto, tentando acalmá-la. — Mas não se preocupe com isso, você já esta de nove meses, adiantar alguns dias é normal, vai dar tudo certo.
As duas escutaram barulho de passos vindo da escada, depois do acontecimento no almoço, ambos decidiram que iriam dormir na sala para garantir que nada acontecesse com Hinata e, se acontecesse, eles estivessem ali para ajudar. Quando Suigetsu entrou no quarto e viu que a bolsa havia estourado, ele arregalou os olhos, voltando sua atenção para a namorada.
— Karin! Por que você esta parada aí? Não deveríamos levar a Hinata para o hospital imediatamente?
— Está tudo bem, Suigetsu. — foi Hinata que o acalmou. — A bolsa estourar é o primeiro sinal do parto, mas ainda nem começaram as contrações.
— Então o bebê vai nascer hoje? — Juugo perguntou inocente.
— Provavelmente sim. — Hinata sorriu de olhos fechados, os reabrindo quase em pânico logo em seguida. — Verdade, o Sasuke-kun vai perder o parto!
Os integrantes do time Taka se entreolharam, e Karin soltou as mãos da Uchiha, indo até o guarda roupa para terminar de pegar as coisas que ela iria precisar.
— Eu vou atrás do Sasuke, sou a melhor rastreadora de chakra daqui, vou acha-lo, ele ainda não deve ter ido muito longe. Juugo — o olhou por um segundo através da porta. — você leva a Hina para o hospital e fica com ela lá até retornarmos.
— E eu? — o espadachim perguntou, recebendo uma revirada de olho da ruiva.
— Você vai comigo, idiota. Se encontrarmos alguma ameaça no caminho, você vai ser a distração.
— Espertinha. — ele brincou, colocando as mãos na cintura. — Tudo bem, vamos fazer isso dar certo pro idiota do Sasuke poder ver o parto de seu primogênito.
Hinata sorriu, quase chorando de emoção, novamente ela se pegava sendo surpreendida pela amizade sólida do time Taka com seu marido, Sasuke realmente tinha sorte por ter amigos tão bons.
-...-
Karin ficou surpresa quando percebeu que não precisou ir muito longe, quando ela e Suigetsu percorreram alguns quilômetros além das terras de Konoha, a Uzumaki logo sentiu o chakra frio e denso que era o de Sasuke, tão característico dele que era impossível estar enganada, o Uchiha estava voltando.
— Ele esta vindo por conta própria. — falou para o namorado.
— Sasuke? — ele questionou com as sobrancelhas levantadas.
— Não, Madara. — brincou, vendo-o revirar os olhos. — É claro que é o Sasuke, quem mais seria, idiota?
— Eu não sei, estou preocupado, ele vai nos matar se alguma coisa acontecer com a Hinata e não estivermos lá para protegê-la.
— Ei, nada vai acontecer. — a ruiva sorriu naquelas poucas vezes em que ela demonstrava seu lado gentil para o platinado. — Vamos de encontro com ele, e com sorte Sasuke já conseguira usar um de seus portais para retornarmos a Konoha com mais agilidade, voltaremos antes do amanhecer.
O outro concordou com a cabeça, e assim ela virou o rosto para frente, assumindo uma postura mais séria sem que ele percebesse. Por que Sasuke estava retornando? Não era do feitio dele abandonar uma missão sem nenhum precedente, só esperava que não fosse um motivo tão sério.
Nem passou por sua cabeça que o motivo do Uchiha estar voltar para casa de forma súbita era apenas por sentir que precisava disso, que sua esposa precisava dele, e que cometeu um erro ao aceitar aquela missão deixando-a sozinha tão próxima do parto. Sasuke não demorou para sentir a presença de seus ex-companheiros de time vindo em sua direção e seus passos se apertaram consideravelmente.
Então algo realmente tinha acontecido... Ele não imaginava que sua conexão com Hinata fosse tão grande, mas estava feliz de já estar perto de casa.
— Hinata, espere por mim... - Pensou, um pequeno sorriso se formando em seu rosto. Ele estava voltando.
-...-
Levou menos de uma hora para que Hinata se arrumasse e fosse ao hospital com Juugo, o grandalhão foi muito cuidadoso levando-a até o local, auxiliando-a quando as contrações deram sinais de estarem começando. Assim que adentrou o local, já a colocaram em um dos quartos privados, e ele entrou como seu acompanhante, afinal não havia mais ninguém para essa função.
— Você pode apertar se quiser, Hinata-san. — ele falou, estendendo a mão esquerda quando seu rosto se transformou em uma careta de dor.
— Obrigada, Juugo-kun, mas posso aguentar sozinha. — sorriu pra ele, tendo o gesto retribuído no mesmo instante. — As dores estão aumentando aos poucos... acho que não vai demorar muito até o bebê nascer.
— Ele vai chegar a tempo. — o alaranjado comentou, sabendo o motivo de sua preocupação. — Sasuke é muito teimoso para perder uma batalha para algo tão bobo como o tempo, ele virá.
Hinata riu baixo, tendo que concordar, Sasuke era capaz de achar um modo de voltar no tempo se fosse necessário, só para conseguir o que queria.
— Acho que estou me preocupando à toa.
— Relaxe um pouco, vou pegar um copo de água para você.
— Obrigada. — agradeceu, antes de gemer baixo e colocar uma das mãos na barriga.
Como uma kunoichi, já havia passado por muitos tipos de dores em sua vida, mas nada se comparava às das contrações, era um tipo de dor diferente, aquela que dava agonia e você simplesmente queria parar de senti-la de qualquer jeito, fazer passar de qualquer forma, e te deixava ansioso por não saber quando ela viria novamente.
Juugo voltou com a água, e enquanto bebia, houve uma batida em sua porta, rápida, indicando que a pessoa iria entrar de qualquer jeito, provavelmente uma das enfermeira. seu cenho se franziu ao ver que quem havia praticamente invadido seu quarto, era Sakura.
— Hinata, então você realmente esta aqui, como esta se sentindo?
A princípio, ficou imediatamente em alerta, Juugo também levantou sua guarda, mas a Haruno parecia muito tranquila, lendo seu prontuário ao lado da cama como se nada tivesse acontecido entre elas no passado. Tudo bem, já fazia muito tempo e Sakura nunca mais apareceu em sua frente depois disso, mas ela não era o que se podia chamar de confiável.
— O que esta fazendo aqui, Sakura? Pensei que tinha sido afastada do seu cargo. — perguntou, vendo os olhos verdes encontrarem os seus no instante seguinte.
— E eu fui, mas retornei há menos de duas semanas, não sou mais uma médica também, apenas enfermeira. — ela fez uma pausa, sua voz tinha um tom de lamentação notável. — E pego os piores turnos possíveis.
— É uma pena. — soltou um tanto irônica, segurando um gemido de dor em seguida, o que não passou despercebido pela outra.
— Esta sentindo muita dor? — a pergunta parecia honesta, Hinata se surpreendeu com isso.
— Um pouco. — respondeu, afastando os fios azulados que começavam a grudar em seu rosto pelo suor.
— Aqui —Sakura caminhou até um dos armários, tirando uma bola de pilates do mesmo e colocando-a no chão próximo a sua cama. — posso te auxiliar em alguns exercícios, vai ajudar com a dor.
A Uchiha piscou algumas vezes, completamente desconfiada. Seu olhar se moveu para Juugo que possuía a mesma expressão que a sua, ela sabia que uma fala dela, e ele atacaria Sakura sem pensar duas vezes. Ele parecia estar apenas esperando seu comando.
— Sakura, o que você quer? — perguntou, vendo-a levantar o rosto em sua direção novamente, e respirar fundo.
— Hinata, eu sei que errei, e que nenhum pedido de desculpas vai consertar o que eu fiz com você no passado, mas eu não quero mais nada. — ela fez uma pequena pausa, parecendo refletir. — Eu perdi tudo, meu marido, meu emprego, meus amigos, a admiração da minha mestra... nem meus pais olham direito na minha cara depois que a fofoca chegou até eles também. — ela riu sem ânimo. — Só quero trabalhar, e ajudar você é uma das minhas funções.
A morena observou-a estender a mão em sua direção para auxiliá-la a se levantar da cama, Hinata segurou-a com muita hesitação, e quando sua destra alcançou a dela, apertou-a firme, um olhar sombrio se apoderando de seu rosto.
— Vou aceitar sua ajuda, mas eu juro, se você fizer algo contra o meu bebê, eu vou te matar. — ameaçou, vendo-a arregalar os olhos antes de suavizar sua expressão, concordando com a cabeça.
-...-
Sasuke não demorou muito a chegar no hospital acompanhado de Karin e Suigetsu, mas para sua surpresa e decepção, Hinata já estava em trabalho de parto. Apesar de suas claras ameaças, ninguém queria deixá-lo entrar no meio do procedimento, até que no meio da pequena multidão que se formou para tentar contê-lo, uma cabeleira rosa surgiu, afastando os outros enfermeiros que avaliavam o caso.
Sakura podia ter sido rebaixada, mas o medo que ela colocava nos outros funcionários ainda existia, e com sua influência, acabou conseguindo deixar o Uchiha passar.
Hinata ficou muito aliviada quando o viu entrar, e ele a deu forças até o último segundo, sem conseguir explicar o sentimento que o invadiu ao ouvir o choro de bebê ressoar naquela sala de hospital. Foi algo totalmente novo, olhar para aquele serzinho fez com que um misto de sentimentos atravessasse seu corpo de uma vez só, seus olhos seguiram os médicos pelo quarto enquanto segurava a mão de sua esposa com força, ele agora apertava-a mais do que ela anteriormente, tirando um riso da morena que o olhou nos olhos, cansada, mas muito feliz.
Sasuke engasgou quando pegou a pequena garotinha no colo pela primeira vez, ela era tão pequena, tão linda, tão... dele. Acomodou-a nos braços vendo-a parar aos poucos de chorar, levou-a até Hinata e colocou-a contra o peito da Uchiha que fechou os olhos, levando o rosto até o topo da cabeça com ralos fios escuros e depositando um beijinho ali, fazendo um leve carinho em suas costas.
— Ela é tão linda, Sasuke-kun. Precisamos decidir o nome. — concordou com a cabeça, olhando a pequena fazer leves movimentos com as mãos, como se estivesse começando a descobrir que nasceu.
— Harumi. — falou em seguida, ganhando a atenção de Hinata já que a escolha do nome era a dela.
— Pensei que gostava de Akane. — a perolada comentou, passando os dedos pela bochecha da bebê.
— Não, você estava certa, ela é mais Uchiha Harumi que Akane.
— Uchiha Harumi. — ela repetiu, sorrindo boba. — Eu gosto.
— Vai ser isso então. — ele se abaixou ao seu lado, afastando a máscara cirúrgica para dar um beijo em sua testa. — Obrigado, Hinata, você não sabe o quanto me faz feliz.
A Uchiha sorriu em meio as lágrimas que surgiram em seus olhos, e ali, em seus braços, a família deles estava finalmente completa.
-...-
Horas depois, Sasuke estava andando pelos corredores em direção à ala neonatal. A pequena Harumi tinha ido fazer os check ups básicos, e Hinata, como uma mãe muito preocupada, pediu que ele fosse atrás para garantir sua segurança. O Uchiha iria virar o corredor para ver a filha por trás do vidro e checar se estava tudo bem quando reconheceu a presença parada ali, alguns metros de distância.
Um pequeno sorriso maligno surgiu em seu rosto, se lembrando das palavras da esposa quando foram designados para um quarto e puderam ficar sozinhos com a filha para que ela lhe desse de mamar. Hinata, sentada na cama com Harumi no colo, observou atenta e curiosa quando a bebezinha forçou os olhos, apertando-os antes de abri-los e revelar as duas pérolas mais lindas que Sasuke já viu, depois das da ex Hyuuga ao seu lado.
Hinata pareceu apreensiva e orgulhosa ao mesmo tempo, e moveu o rosto para sua direção o olhando antes de dizer:
— Meu pai vai estar aqui em pouco tempo, ele provavelmente tem informantes para avisá-lo do nascimento. — ela fez uma pausa, se voltando para a filha. — Sasuke-kun, o que vamos fazer?
— Ele vai ter que me matar primeiro antes de tocar me você ou Harumi, Hina. — respondeu, ocupando um espaço na cama ao lado da esposa, sentado de frente para ela. — Fique tranquila, eu não vou sair do seu lado.
— Você sabe... ele tem o direito sobre todos os Byakugans e-
— Não se preocupe com isso. — a parou, colocando uma mecha teimosa de fios azulados atrás de sua orelha. — Eu vou dar um jeito, Kakashi esta do nosso lado. — ela sorriu pequeno, ainda preocupada, mas um pouco mais aliviada com suas palavras reconfortantes. — Aproveite essas primeiras horas com nossa filha, ouvi dizer que é muito importante.
— Todas as horas são importantes, Sasuke-kun. — ela brincou, aproximando o corpo para lhe selar os lábios. — Obrigada, querido.
Ele sorriu em resposta, observando-a agora bem mais tranquila, iniciar o que seria a primeira vez daquela conexão mágica que só mãe e filha podiam ter.
No fim Hinata estava certa, o homem realmente tinha informantes, e já se encontrava no hospital junto de seu conselheiro mais antigo observando sua filha através do vidro. Sasuke poderia agir nesse segundo, acabando com os dois antes de lhes darem chance de piscar, mas então o que alegaria depois? Afinal, pisar naquele local não era proibido, e não teria provas de que as intenções de Hiashi eram ruins. Não poderia se dar ao luxo de ir preso agora, não depois de experimentar a maravilhosa sensação de pegar sua bebê no colo pela primeira vez. Ele queria aproveitar mais disso, de preferência em liberdade.
Por isso esperou. Ocultando o chakra, ficou parado vendo o que seu sogro iria fazer, mas para a sua surpresa, escutou os passos dele se afastando, o homem que o seguia pareceu indignado, o parando sem entender o que havia acontecido para ele simplesmente dar as costas, quando os planos deles ali deveria ser outro.
— Hiashi-sama? Onde pensa que esta indo? Precisamos encontrar aquela desertora e acertar a papelada. A criança tem nosso doujutsu!
Hiashi continuou como se nada tivesse acontecido, e só quando ele segurou seu braço, foi que seus olhos frios se voltaram para o outro.
— Eu vou dizer apenas uma vez, e quero que escute bem, Satoru-san. — ele fez uma pausa, e Sasuke notou de longe o tom ameaçador em sua voz. — Nos vamos esquecer que Hyuuga Hinata um dia existiu. — surpreso, o Uchiha levantou as sobrancelhas, espiando para ver se estava entendendo corretamente. — Vamos deixar ela e essa criança em paz, e caso encerrado.
— Mas- — Satoru tentou relutar, contudo, novamente as orbes geladas de Hiashi se voltaram até ele, ameaçadoras.
— Mas nada, não se esqueça das nossas posições, o líder do clã Hyuuga sou eu. — e com isso ele se virou, sendo seguido em silêncio pelo velho que outra hora resmungava.
Sasuke esperou que eles saíssem para ir em direção ao vidro, vendo Harumi na primeira fileira de bercinhos, dormindo tranquilamente envolta de um cobertor. Aparentemente a pequena que mal havia nascido já estava mudando as coisas, ele sorriu, ela era uma Uchiha afinal, e não viria ao mundo se não fosse para revolucionário, de uma forma ou de outra.
-...-
Alguns dias depois, Hinata cantarolava uma música enquanto fechava os botões frontais do macacão lilás que colocava em Harumi, sentada ao seu lado na cama, Karin observava tudo atentamente mantendo um brinquedo em mãos caso a pequena começasse a chorar.
— Sasuke tem razão, Hinata, Harumi-chan se parece muito com você. — a ruiva comentou, ajustando o óculos no rosto.
— Eu não tenho tanta certeza. — a morena sorriu, olhando para a filha arrumada, ela parecia com sono, mas os olhos perolados ainda podiam ser vistos por mais que estivessem quase se fechando. — Os olhos e o formato deles são meus, mas o cabelo é tão escuro quanto o do Sasuke, gostaria de ter uma foto dele bebê para comparar.
— Ela também é muito tranquila. — Karin brincou. — Felizmente não tem o temperamento horrível do-
A ninja sensorial parou de falar assim que sentiu a presença dele na porta.
— De quem, Karin? — a voz firme invadiu o quarto, e ela se virou para seu antigo colega de equipe, um tom rosado em suas bochechas por ser pega no flagra falando mal dele.
— S- Sasuke, você não devia estar esperando lá embaixo junto com os outros? — Karin perguntou, tentando disfarçar seu constrangimento. — De qualquer forma, vou encontrar com o Sui, ele fica arrasado quando não me tem por perto.
E assim ela saiu, acenando para Hinata da porta. Sasuke balançou a cabeça em negação antes de ir até sua esposa e cumprimentá-la com um beijo.
— Já esta tudo pronto? — a Uchiha perguntou assim que se separaram.
— Sim, só estávamos esperando por vocês. — ele voltou-se para a pequena Harumi pegando-a no colo com todo cuidado do mundo.
Ao ver Sasuke com sua filha no colo, seu coração acelerou e Hinata apreciou a cena enquanto levava uma das mãos ao peito e a apoiava ali, suspirando ao pensar em como tudo havia mudado em sua vida depois daquela primeira noite que teve com o Uchiha. Nunca imaginou estar casada com o ex nukenin de Konoha, e que ele poderia lhe mostrar que o amor ainda valia a pena, e principalmente, que ela ainda merecia ser amada.
E enquanto descia as escadas ao lado do moreno com a bebê no colo para ir de encontro ao antigo time Taka que já esperava do lado de fora da casa, ela pensou que mesmo se pudesse, não mudaria nada de sua trajetória. Havia sim passado por muita coisa, mas foi graças a isso que encontrou seu caminho, que se tornou uma Uchiha e que teve o privilégio de dar a luz a pequena Harumi, que significava não somente o início de uma das partes mais importantes da sua vida, como a restauração de todo um clã que um dia foi assombrado pelos tempos sombrios do passado.
Foi por isso que eles decidiram tirar aquela foto em frente a casa principal com todos os moradores atuais do distrito Uchiha, porque um dia eles sabiam que aquele local antes vazio, estaria preenchido por bem mais do que sua família, Karin, Suigetsu e Juugo, afinal aquele era apenas o início do que Hinata e Sasuke pretendiam conquistar juntos.
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