Luna estava debruçada sobre uma mesa repleta de papéis. Ela já não sabia qual era sobre o Open e qual era sua apostila de história. Quando Tamara perguntou quem poderia organizar o Open, já que ela estaria fora da cidade por uns dias, Luna prontamente se voluntariou. Achava que conseguiria fazer tudo, mas percebeu que sua tentativa de ser Katniss Everdeen falhara.
Ela não salvaria a Capital. Ou os distritos.
Já não lembrava bem o enredo do filme, mas sabia que, com certeza não salvaria o Open, pelo contrário: ele iria por água abaixo. Ou a nota dela no teste de história iria.
É claro que os meninos tentavam ajudar da forma que podiam, mas eles tinham o emprego, a banda e a própria apresentação para preparar. Então, Luna se via basicamente sozinha.
- Ai... - ela gemeu ao perceber que tinha anotado que Pedro Afonsin havia sido o fundador da Argentina.
Do outro lado da praça Matteo a observava com deleite. Viu quando ela saiu do Roller estressada, enfiando papéis dentro da mochila rosa de qualquer jeito e fora atrás dela. Tentara se convencer de que iria segui-la apenas para não perder quando a mexicana tivesse um surto, mas no fundo sabia que estava indo ajudá-la.
Afinal, sempre fora assim. Ele estava sempre pronto para salvá-la.
Quando ela deitou a cabeça na mesa, ele soube que era a sua chance. Se aproximou vagarosamente, sorriso malicioso no rosto, e sentou-se no banco do outro lado da mesa dela. Ela levou dois segundo para notar que havia alguém com ela e levantou a cabeça. Gemeu quando viu quem era e o sorriso dele aumentou.
- Mauricinho, o que você quer? Eu não tô bem pras suas gracinhas.
- Olha só, a pessoa vem aqui disposto a ajudar e é assim que é recebido. - riu. Luna levantou uma sobrancelha.
- Ajudar?
- Uhum. - ele acenou.
- Me ajudar?
- Eu não tô vendo nenhuma outra Menina Delivery por aqui... - respondeu olhando ao redor. Ela abriu a boca para respondê-lo e ele logo a interrompeu - Você precisa da minha ajuda. Nem vem com essa história de que consegue fazer tudo sozinha, você, obviamente, precisa de alguém. - ela suspirou. - O que você tá tentando fazer? - perguntou sorrindo. Luna quis arrancar os dentes dele, um a um, com um alicate.
- Eu tenho o Open pra organizar, ensaiar pras apresentações, cuidar da pista e estudar pro meu teste de história.
- Ah, claro. Você tinha tanta pouca coisa pra fazer que resolveu adicionar o Open...
- Se você for ficar me criticando é melhor ir embora. - ele respirou fundo e encarou os papéis na mesa de mármore.
- Uma coisa de cada vez. Quem tá tomando conta da pista enquanto você tá aqui?
- O Nico.
- E você tem que voltar pra lá que horas? - perguntou tirando caneta e um caderninho da mochila dele.
- Daqui uma hora. - se sentia derrotada.
- Não precisa soar tão derrotada, Menina Delivery. Eu tô aqui agora.
- Claro, eu esqueci que o Mauricinho pode tudo.
- Pode tirar sarro...você vai ver só. - ela riu levemente.
- Já consegui arrancar um sorriso de você, viu só? - ela balançou a cabeça. - Agora... - ele começou a separar os papéis em duas pilhas: o que era do Open na direita, apostila de história na esquerda - você vai estudar pro seu teste.
- Mas o...
- Agora - ele disse mais alto - você vai estudar pro seu teste. - pegou a pilha dos papéis do Open e colocou a apostilha no centro da mesa. - Quando você tem muita coisa pra fazer e não sabe por onde começar, você não faz tudo ao mesmo tempo. Você começa pelo mais importante. Então, é melhor você começar a estudar. Se tiver alguma dúvida eu vou estar bem aqui. - Luna o olhou rapidamente e deu um pequeno sorriso enquanto o via organizando a ordem das apresentações do evento.
- Antes de dormir você revisa o assunto do teste que você estudou hoje, certo?
- Sim, senhor!
- Engraçadinha. - Luna e Matteo riam enquanto estravam no Roller. - Eu vou mandar as anotações que eu tenho do ano passado do seu e-mail, alguma coisa lá vai te ajudar.
- E agora eu vou procurar a Jim e a Yam pra pedir que fiquem um pouco mais pra me passar as coreografias.
- Já tá começando a pensar como uma pessoa bem organizada. Que orgulho. Eles crescem tão rápido... - ela riu.
- Você é ridículo!
Quando Luna terminou de ensaiar com as meninas percebeu uma prancheta azul em cima do balcão. Eram os papéis do Open. Quem havia se inscrito, quem havia desistido, a lista das músicas, a ordem das músicas e quem as iria cantar. Luna havia anotado tudo isso, mas estava mais confuso que a Claire Fraser quando percebeu que havia viajado no tempo. Tudo o que Matteo fez foi organizar: uma folha pra quem havia se inscrito, outra para os desistentes, uma folha só pra listar as músicas e ao lado quem as iria cantar. A primeira música era Sobre Ruedas, com todas as meninas cantando. "Damas primeiro.", ela reconheceu a caligrafia dele e riu consigo.
No dia seguinte Luna acordou com o telefone tocando, mas não era o despertador.
MATTEO BALSANO
- Mauricinho? - ela atendeu sonolenta. Ela olhou o relógio e ainda faltavam uma hora e meia para o despertador dela tocar. Eu vou matar esse garoto!
- Bom dia, flor do caribe!
- Por que você tá tão feliz? Ainda nem amanheceu, Matteo! - ela o ouviu rir do outro lado da linha.
- Eu achei meu caderno do ano passado...
- Não podia esperar a gente se encontrar na escola?
- Eu ainda não terminei. Paciência, gafanhoto. Eu te liguei agora porque falta meia-hora pro colégio abrir, e esse deve se o tempo em que você se arruma e a gente chega lá.
- A gente?
Trinta minutos depois o carro de Matteo parou na frente da mansão. Enquanto o chofer dele dirigia, ela reclamava das piadinhas que teve que ouvir dos pais enquanto saía sobre formigas na cama, ser a primeira vez que ela não estaria atrasada. Eles foram um dos primeiros alunos a chegar no Blake e os únicos alunos na biblioteca do colégio. Matteo explicava para Luna o assunto da prova que ela faria dali dois dias e depois a fazia explicar tudo para ele, sempre que havia algo a ser corrigido ou adicionado ele intervinha. Quando Luna estava no meio de uma explicação foi interrompida pelo barulho do seu celular.
- Sabe o que é isso? - ela perguntou a ele.
- Hum?
- Meu despertador!
- Você está na biblioteca, senhorita Valente. Abaixe seu tom de voz. - ele brincou.
Mesmo tendo reclamado com Matteo por tê-la acordado, Luna estava agradecida porque agora ela podia dividir seu dia entre a pista e os ensaios. Quando estavam descendo a escada, Luna parou de repente.
- Algum problema? - Matteo perguntou, um degrau abaixo dela.
- Obrigada, Mauricinho. - ele, com certeza, não esperava o abraço que ela lhe deu.
- Eu disse que estava sempre pronto pra te salvar.
Luna e Matteo mantiveram o mesmo ritmo daquele dia: ele a buscava em casa, estudavam juntos na biblioteca e assim Luna tinha o resto de dia livre pra pista e os ensaios. No dia da prova Matteo fez uma grande revisão para ela, mas ele era interrompido a todo tempo por uma tosse ou um espirro.
- Matteo, você ta bem?
- Aham. Acho que usaram algum produto diferente pra lavar o uniforme e o cheiro tá me irritando.
- Tem certeza?
- Tenho. Vamos lá, a gente ainda tem meia hora.
Luna desceu a escada correndo deixando Matteo pra trás com seus espirros e o melhor amigo se aproximando.
- Nossa! - Gaston exclamou. - E esses espirros vieram da onde?
- Do meu nariz.
- Às vezes eu esqueço que você tem um ótimo senso de humor. - Matteo riu e tossiu em seguida. - Onde você tava?
- Na biblioteca.
- Você tá louco?! Não é à toa que você tá espirrando e tossindo desse jeito. Você sabe que não pode ficar na biblioteca, você tem alergia à poeira e aos ácaros que ficam nos livros. E caso você não tenha percebido lá tem centenas deles! - Matteo deu as costas ao amigo e entrou no banheiro - E como se isso já não fosse suficiente - ele ligou a torneira - quando você fica muito tempo no ar condicionado - Matteo espirrou - isso aí acontece.
- Tá bom, mamãe, eu já entendi. - lavou o rosto.
- O que você tava fazendo lá?
- Tava ajudando a Luna com a prova que ela vai ter hoje?
- Ah, que bonitinho, você foder sua saúde pra ajudar a Luna a conseguir uma nota alta. Depois vem me dizer que não tá apaixonado.
- Você tá um saco hoje, hein!
- Você tá com seu remédio aí?
- Não.
- É claro que não. - Matteo revirou os olhos saindo do banheiro.
No dia seguinte era o dia do Open. Por mais que Matteo tenha passado o dia anterior se medicando e de repouso ele havia passado quatro manhãs visitando a biblioteca por uma hora. Um comprimido não daria conta disso tão fácil. Os espirros tinham diminuído consideravelmente, mas compensação ele acordou com o corpo amolecido, sem vontade de fazer nada. Mas, mesmo assim, foi para a escola. Quando chegou em casa, ao invés de ir ao banheiro tomar banho e ir diretamente ao Roller como sempre fazia, ele deitou no sofá.
- Matteo? - Karla, a empregada, se aproximou.
- Hum. - ele resmungou de olhos fechados.
- Você tá bem?
- Uhum. - ele se afastou ao sentir a mão gelada dela em sua testa.
- Você tá quente.
- É minha temperatura natural.
- Não é não. Vá lá pra cima tomar um banho, que já já eu subo com um remédio pra essa febre.
- Você nem sabe se eu tô com febre.
- Quente desse jeito eu nem preciso de um termômetro, mas tudo bem, eu vou buscá-lo também. Você precisa de repouso.
- Não.
- Como não?
- O remédio que você me dá sempre me dá sono, eu não posso dormir. Eu tenho que ir pro Roller.
- Matteo, você precisa...
- Eu não preciso de remédio ou repouso, eu preciso de um café. Ou energético. Talvez os dois.
O Open correu perfeitamente bem. As meninas iniciaram com Sobre Ruedas, os meninos seguiram com I'd Be Crazy. Ambar, Delfi e Jazmín cantaram Chicas Así; Matteo, Gaston e Ramiro cantaram Prófugos; Luna e Nina cantaram Sin Fronteras; as apresentações continuaram por mais uma hora até que eles encerraram com todos cantando Vuelo juntos.
- Gaston, você viu o Matteo? - Luna perguntou.
- Ele foi pra casa. - respondeu colocando o braço ao redor de Nina.
- Já?
- É, ele tava com febre. As idas à biblioteca deixaram ele meio mal.
- Ele ficou doente por causa da biblioteca?
- O Matteo tem uma facilidade enorme em ficar doente e ele tem alergia a meio mundo de coisas, na lista estão, poeira, ácaros e ar condicionados. O ar gelado deixa a garganta dele irritada, nem sei como ele conseguiu cantar hoje. E tudo isso se encontra embrulhadinho na biblioteca.
- Por que ele não me disse nada?! - Luna perguntou aflita.
- Porque ele queria te ajudar.
- É o que o Matteo faz. Sempre fez. - Nina disse sorrindo.
Matteo ouviu quatro batidas na porta do seu quarto.
- Tá aberta! - ele esperava que fosse Karla com mais remédios ou Gaston. Talvez seus pais, mas era Luna. Ele se ajeitou na cama encostando as costas na cabeceira.
- Huh...achei que seu quarto fosse mais...
- Mais...
- É bem simples! - uma cama twin size no meio, a mesa do computador encostada na parede esquerda e o restante da parede era tomado por fotos e pôsteres. Luna viu uma foto deles no meio da confusão, era o dia da competição internacional e eles estavam no camarim se arrumando. Na foto Matteo estava passando blush nela, Luna pôde se lembrar das besteiras que ele falava enquanto o fazia só com a intenção de fazê-la rir e não ficar tão nervosa. Ao lado dessa foto havia uma dele com o Gaston e a Nina. Matteo estava usando os óculos dela e fazia sua pior imitação de um intelectual, Nina cobria os olhos mas estava rindo e Gaston a acompanhava. Tinha um violão jogado no chão ao lado dos patins e capacete dele e o closet na parede direita.
- Sinto muito em te decepcionar. - ele riu.
- Gastón me contou o motivo de você estar doente.
- É claro que ele contou. - ela sentou na cama ao lado dele.
- Você não deveria ter feito aquilo. - ele deu de ombros.
- O que é isso na sua mão? - ele apontou para a garrafa térmica e a caneca vazia na mão dela.
- Chá! Vai te ajudar com a garganta. É mel, gengibre e eucalipto.
- Parece uma delicia. - fez uma careta e Luna riu.
- Tem mel!
- Eu não gosto de mel. - ela ficou séria e ele começou a rir.
- Como isso é possível?!
- Como é possível as pessoas gostarem dessa coisa?
- Porque é uma delícia!
- Tem gosto pra tudo... - ela começou a colocar o chá na caneca. - Ah, não. Você não vai me fazer beber isso.
- Cada gota. - ela entregou a caneca a ele. - Bebe.
- Tem um cheiro enjoado.
- Bebe! - ela ria da careta dele enquanto bebia. - Viu? Não foi tão ruim.
- Esse chá tem o gosto da minha morte.
- Mal agradecido. - mas ela sorria para ele. Ele segurou a mão dela.
- Obrigado.
- Ei, eu tô sempre pronta pra te salvar.
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