— Isso não vai dar certo. De verdade, é uma má ideia.
Hua Cheng revirou um dos olhos e mirou o outro friamente.
— Luo Binghe, nós estamos nessa força tarefa a mais de uma semana. Se você amarelar agora eu juro por Taizi Dianxia que chuto sua bunda de volta pro abismo — disse ele, ganhando somente um olhar em branco vindo de Binghe.
Em um dia normal, Luo Binghe ficaria completamente bravo por ter sido chamado tão diretamente por alguém mais novo que ele. Mas, visto a situação atual, ele não tinha muito o que fazer. Seu estômago revirava mais e mais conforme o tempo passava.
— Dá um tempo pra ele Hua Chengzhu — Wei Wuxian estava observando os dois conversarem fazia algum tempo. Ele permaneceu analisando a situação, de forma milagrosamente silenciosa. — É normal se sentir nervoso, Luo-shixiong. Se eu fosse pedir o Lan-er gege em casamento, também estaria super ansioso agora.
— Sim, é verdade. Mas Luo-shixiong, você e o imortal Shen já estão juntos há muito tempo. Não precisa ter tamanha insegurança — Hua Cheng tentou seu melhor para confortá-lo. Depois do que Wei Wuxian disse, ele imaginou como reagiria se estivesse na mesma situação que Luo Binghe. Falar na verdade era bem fácil, mas se fosse ele planejando uma surpresa para pedir Xie Lian em casamento, provavelmente estaria uma pilha de nervos também.
Tudo bem estar com sua pessoa amada por muitos anos, no entanto, casamento é um grande passo. Seria uma ligação para o resto da vida.
— Eu não sei se o shizun vai dizer sim — Binghe balançou a cabeça, parecendo meio maluco. — Eu não sei muito sobre a profundidade dos sentimentos dele. Sei que me ama, mas será que é tanto ao ponto de passar o resto da vida comigo? Eu tenho que choramingar toda vez que quero algo dele e faço isso com tanta frequência, que agora se tornou um reflexo automático.
— Você é mesmo um lorde demoníaco? — Hua Cheng perguntou confuso e Wei Wuxian gargalhou alto.
— Luo-shixiong, tenho certeza que existem outros métodos pra você ter o que quer dele, sem precisar chorar toda hora — Wei Wuxian teve que engolir as frases debochadas que lutavam para sair, vendo o estado lamentável de Luo Binghe. Por deus, era muito humilhante.
— Que métodos? — ele se virou, um tanto esperançoso.
— Você pode embebedá-lo. Mas tenha em mente que se ele for um bêbado teimoso, vai fazer somente o que ele mesmo quer — Wei falou aquilo com muita seriedade.
Os outros dois apenas olharam meio chocados para ele.
— Eu não vou embebedar o shizun. Ele ficaria furioso depois.
— Santo Taizi Dianxia, Hanguang-jun sabe que você tem feito ele beber propositalmente? — Hua Cheng estava sinceramente chocado.
— Antes eu tinha que obrigá-lo a beber, hoje em dia ele faz isso sozinho — informou Wei, na maior naturalidade existente.
— E então? — Luo Binghe não sabia se dava risada ou se preocupava.
— Ele bebe um copinho de sorriso do imperador, desmaia e acorda bêbado. Em dias bons ele vai roubar alguma galinha, trazer coelhos para o quarto ou vandalizar alguma parede.
— E nos dias ruins? — Hua Cheng sentiu que se arrependeria da pergunta.
— Ele me amarra ou me prende em algum lugar, aí me fod-
— OK! Entendi — tentando apagar a imagem terrível que surgiu em sua mente, Hua Cheng balançou a cabeça e se virou para Luo Binghe. — Escute, você pode fazer coisas melhores para conseguir o favor do imortal Shen. Seja gentil com ele, auxilie-o em tudo que ele precisar e esteja sempre lá para ajudar em suas necessidades. Se isso não funcionar, construa um templo.
Wei Wuxian caiu na risada de novo: — O que? Um templo?! Mas o imortal Shen nem ascendeu a deus.
— Eu sei. Mas um altar serve pra muitas coisas além de oferendas e orações — o sorriso de Hua Cheng revelou exatamente o que ele queria dizer, causando uma nova onda de risos em Wei.
— Eu acho que só vocês seriam estranhos o suficiente pra fazer isso num templo, Hua Chengzhu — debochou Wei.
— Estranhos? Falou o cara que se empala numa espada — disse Hua Cheng com desprezo.
— Você construiu uma caverna com mais de 10 mil estátuas do seu deus. Se empalar com uma espada não é nada perto disso. Esquisitão.
Os dois começaram uma rodada de discussões sobre quem era mais esquisito e Luo Binghe sentiu sua cabeça latejar.
Hua Cheng era bastante tranquilo a maior parte do tempo, mas quando ele se juntava com Wei Wuxian, Luo Binghe se sentia extremamente velho. Os dois brigavam com frequência: Hua Cheng não gostava de ser contrariado e Wei Wuxian tinha como esporte provocar os outros sem parar – resultado disso era dor de cabeça para quem estava em volta deles.
— Vocês, parem — Luo Binghe pediu com voz calma, mas por dentro estava com vontade de sufocar os dois. — Eu gostei da ideia de Hua shidi. Claro, tirando a parte do templo. Shizun não iria gostar de uma coisa extravagante assim. Vamos manter o que já tínhamos planejado antes.
— Ótimo! Espere o shizun chegar que vou tocar a música — os outros dois olharam para Wei Wuxian. — Ah, eu esqueci, desculpe. Você chama tanto shizun que eu acabo ficando contagiado. Assim que o Shen-shixiong chegar, eu vou tocar.
— Eu mando as borboletas logo depois — Hua Cheng o alcançou o buquê que vinha segurando aquele tempo todo. — Pega. Entregue pra ele e faça o pedido. Respira fundo, nada de amarelar — e então colocou os dois dedos na têmpora — Gege, estamos prontos aqui. Vocês podem trazer o imortal Shen — ele ouviu Xie Lian do outro lado da comunicação e sorriu docemente. — Que bom, gege. Você fez um ótimo trabalho. Eu amo você. Até.
Wei Wuxian fez som de vômito, correndo assim que Hua Cheng virou para ele com sangue nos olhos.
…
Não demorou nada, mas a espera pareceu durar horas para Luo Binghe. Ele estava tão nervoso que suas mãos suavam intensamente e o coração parecia de alguém que estivera numa maratona. Hua Cheng e Wei Wuxian haviam ficado escondidos atrás de si, esperando as próprias deixas.
Quando Luo Binghe viu seu shizun vindo do lado oposto, conversando calmamente com Taizi Dianxia, seu coração ficou ainda mais frenético. Ele levou um susto quando reparou Hua Cheng ao seu lado, suspirando alto.
— Ele é perfeito — disse ele, parecendo soltar aquilo inconscientemente.
— O Shizun? — Luo Binghe perguntou, ganhando um olhar estranho.
— Gege.
Luo Binghe revirou os olhos.
— Lan Zhan! Como chegou aqui tão rápido? — Eles se viraram somente para ver Wei Wuxian encarar surpreso Lan Wangji, que em algum momento havia surgido atrás deles. — Ah, você também estava com saudade de mim?
Lan Wangji respondeu com um "hm" e os outros dois se entreolharam, enquanto Wei ria e falava besteiras para ele.
— Gosto é gosto — dizia Hua Cheng.
— Pobre Hanguang-jun — completava Luo Binghe.
Ao voltar seu foco novamente, Binghe pode ver que Shen Qingqiu agora estava bem perto e olhava confuso para ele. Ele só não saiu correndo porque Hua Cheng o segurou no lugar, dizendo baixo: "Coragem homem!" e voltando para cutucar Wei Wuxian para que ele começasse a tocar.
Luo Binghe respirou fundo, indo de encontro com Shen Qingqiu. Apesar de todo o nervosismo, ao vê-lo, um sorriso largo surgiu em seu rosto e ele pode sentir o coração ficar aquecido. Ele era louco por Shen Qingqiu. Séculos poderiam se passar, mas ele não poderia simplesmente amá-lo menos.
A música suave da flauta de Wei Wuxian começou a ecoar, docemente.
Shen Qingqiu estava confuso como o inferno vendo Luo Binghe vir tremendo mais que vara verde até ele, enquanto os outros os observavam com cara de besta. Ele mentalmente julgou eles por parecerem tão bobos, mas não falou nada. Confusamente parou onde estava e esperou Luo Binghe alcançá-lo.
— Shizun, que bom que veio — disse Luo Binghe, escondendo alguma coisa às suas costas.
Shen Qingqiu franziu o cenho, olhando-o desconfiado.
— Eu estava no meio do congee que você me fez hoje cedo, quando Xie Lian-shidi e Hanguang-jun me arrastaram até aqui. Aconteceu alguma coisa?
Respirando profundamente, Luo Binghe preparou seu coração para o momento, prestes a se ajoelhar no chão.
— Shizun, eu pedi para eles te trazerem porque tenho algo muito importante pra te pedir. Eu…
E assim que ele olhou para o chão, se preparando para ajoelhar, algo estranho no solo chamou sua atenção. Ele travou completamente, fazendo Shen Qingqiu olhar na mesma direção que ele.
— O que foi? — e nesse momento, o que poderia ter sido um dia uma cabeça, finalmente irrompeu do solo. Shen Qingqiu arregalou os olhos e deu um pulo para trás, igual um gato escaldado.
Quando a coisa finalmente tirou a cabeça do solo e estava lutando para sair completamente, Shen Qingqiu ficou mais aterrorizado ainda, assistindo a coisa parecer querer pegá-lo. Sem mais, ele se virou e correu.
— Shizun!
Luo Binghe teve alguns segundos de duvida entre correr atrás de Shen Qingqiu e chutar aquela coisa de volta para terra, mas ao ver o cadaver tirar o que deveria ter sido um buque um dia e fazer um som esquisito como um choro enquanto olhava na direção de Shen Qingqiu tristemente, ele congelou. Nesse meio tempo, seu Shizun já havia sumido no horizonte.
Vagarosamente, Luo Binghe se virou para o grupo atrás dele. A marca vermelha brilhava carmesim e os olhos estavam assumindo a mesma cor. Ele sentia a fúria o tomar.
Os outros estavam congelados, ainda processando a cena ridícula que havia acabado de acontecer. Quem reagiu primeiro foi Hua Cheng, acertando a nuca de Wei Wuxian com um tapa.
— Wei Wuxian! Você acabou de estragar todo nosso plano! Demoramos semanas pra isso, seu idiota! — ele só não esganou Wei Wuxian porque Xie Lian o segurou.
— Como eu iria saber que tinha um cadáver justo ali?! — ele coçou a própria cabeça com a flauta. — Esse lugar não deveria ter um corpo, ainda mais um com um buquê. É uma coincidência incrível.
— Coincidência incrível? — Hua Cheng respirou fundo. — Você controla os mortos, chama os mortos, os mortos te obedecem, mas você não consegue saber quando tem um morto por perto?! Que diabos!
— San Lang, foi um acidente — Xie Lian tentou remediar a situação. — Tenho certeza que o sênior Wei não quis fazer isso propositalmente.
— Não, não mesmo! — disse Wei Wuxian, se escondendo atrás de Lan Wangji ao ver o olhar assassino de Luo Binghe.
— É melhor esconder ele, Hanguang-jun, porque eu juro que se eu botar as mãos nele, ele vai virar a porra de um bastão humano — Luo Binghe falou isso, virando as costas e chutando o cadaver antes de correr atrás de Shen Qingqiu.
Lan Wangji somente o encarou, como se desafiando ele a tentar encostar um dedo em Wei Wuxian.
— Lan Zhan, acho melhor a gente encher o Recanto das Nuvens com feitiços anti demônios. Eu sinto que ele vai tentar derrubar a montanha — Wei Wuxian murmurou.
— Não se preocupe. Ele não vai — Lan Wangji era o reflexo da calma e graça, mas estava pensativo a respeito da situação.
— Vamos ter que pensar em outro plano para ajudar ele no pedido — Hua Cheng se virou para Xie Lian.
— Nós podíamos fazer uma festa na cidade fantasma, San Lang. Tenho certeza que todos iam ficar felizes em recebê-los — disse Xie Lian, sorrindo. — Se fosse no festival Yuanxiao, a gente poderia soltar lanternas e deixá-los a sós. Tenho certeza que seria muito romântico.
— É verdade! Taizi Dianxia é um gênio! — Wei Wuxian saltitou em volta dele, ganhando uma risada de Xie Lian e um olhar atravessado de Hua Cheng.
— Você não está convidado — Hua Cheng soltou.
Wei Wuxian mirou Lan Wangji que o deu um sorriso muito pequeno, um leve curvar de lábios, como se achasse a situação engraçada. Como não iria adiantar choramingar para ele, Wei Wuxian se voltou para Xie Lian, cruzando as mãos em frente ao corpo como se estivesse muito envergonhado:
— Taizi Dianxia, eu posso ir? — ele usou sua melhor cara de cachorro que caiu da mudança.
Rindo, Xie Lian olhou para Hua Cheng, amolecendo o coração do outro em um instante.
— Deixe ele ir, San Lang. Ele e Hanguang-jun. Nenhum de nós vai causar problemas.
Hua Cheng respirou fundo, querendo negar, mas não conseguindo. Com um balançar de cabeça ele deu autorização, causando uma pequena comemoração.
— Então a missão "casar Luo Binghe" ainda está em aberto!
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