Point of View of Thomas Darcy
- Tom. – ouço o voz de Teresa do lado de fora do meu quarto. – Tom, por favor, acorde. – ela insiste, desferindo três batidas pesadas na porta.
- Argh... – gemo passado e cansado, culpa do dia extremamente estressante com o retorno da Baronesa e minha irmã. Tess tagarelou o dia todo sobre os assuntos do seu matrimônio com Benjamin Bennet e Lady Brenda me alugou o restante do tempo livre, conversando sobre coisas que eu não queria saber.
Isso roubou todas as horas que tinha planejado em passar ao lado de Newtie depois da nossa fantástica noite juntos. Eu queria mais. E aposto que ele também.
Levanto da cama e ascendo a lamparina do quarto. Confiro o horário no relógio de bolso deixado sob a mesinha ao lado da cama. Não estou decente, então coloco rapidamente um roupão e abro a porta. Minha irmã invade o quarto como um temporal.
- Tess, são duas da madrugada. O que houve? Você está bem? – é só o que minha mente ainda operando em modo lento consegue questionar.
- Bingley... – ela diz chateada, com os olhos frios.
- O que tem Bingley? Minho está bem? – indago preocupado com meu amigo.
- O Sr. Arthur faleceu. – ela finalmente revela.
Não sei se fico mais aliviado em não ser nada com Minho em si, ou se me puno por pensar assim, já que o pai dele faleceu.
- Quando foi isso?
- Um mensageiro chegou a pouco com a notícia. Minho vai partir. Creio que já está fazendo as malas. – me avisa, com uma certa ansiedade. – Nós temos que ir, Tom. Conhecemos o Sr. Arthur e sua família. Arden precisa de nós agora, assim como precisei dela quando papai partiu.
- Nem cogitei em não ir, Tess. Preciso falar com Minho. – abraço minha irmã e calço os chinelos de couro, seguindo pelo corredor dos quartos, já agitado com a notícia.
Passo pelos aposentos da Baronesa, que parece um baile de criados dançando de um lado para o outro, fazendo suas malas. Gemo com a cena. Está claro que ela vai conosco.
A porta do quarto de Minho está entreaberta. Entro sem bater, caminhando devagar até meu amigo, sentado na ponta da cama, aos prantos. Eu nada digo. Sento, o abraço com força e ele chora ainda mais. Entendo a sua dor e é algo imensurável. O Sr. Bingley e ele eram muito próximos, possuíam uma verdadeira relação de pai e filho. Permaneço alguns minutos confortando-o, para somente após ele fungar o suficiente, tomar as palavras para mim.
- O que aconteceu? – questiono.
- Mamãe explicou na carta que foi uma parada cardíaca enquanto dormia. Ele não sofreu. – diz sério, muito mais sério do que ele é.
- Quando foi isso?
- Há um tempo atrás. – ele volta a chorar. Eu sei o motivo. Ele não estava lá para ajuda-lo, como gostaria, ou para enterrá-lo devidamente, segurando a alça do seu caixão e confortando a irmã. – Necessito... necessito ir para Nova Iorque. Arden e minha mãe precisam de mim.
- Claro! – penso ser essa a menor das preocupações agora. Há outros tramites que devem ser providenciados, com relação ao inventário e bens da família. – Irei com você. Eu cuido da parte burocrática. – não faria diferente.
- Obrigado Thomas. Você e sua família sempre foram muito especiais.
- Você e a sua também, meu amigo. Agora venha, vou lhe ajudar a fazer as malas. Quando partimos? – pergunto despreocupado.
- Quando o sol nascer.
Oh!
Esperava que fosse mais tarde, mas guardo este pensamento para mim. Vou atrás das bagagens e o ajudo com as roupas, enquanto meu cérebro busca uma forma de avisar Newtie que preciso partir as presas para os Estados Unidos.
- Tom? – Tess está parada na porta do quarto do doutor, apreensiva. Desvio meu olhar a ela, que entra e fecha a porta. – Como faremos? – ela sussurra preocupada. Minha irmã tem o mesmo temor que eu.
- Ainda não sei, pequena. Mas daremos um jeito de avisar os Bennet. – beijo sua testa e a informação parece ter atingido Minho.
- Sonya... – ele balbucia e seus soluços chegam a partir meu coração.
- Ela ficará bem, Minho! – Tess sempre positiva, levantando a esperança de todos. – Ela compreenderá a sua ausência, assim como Benji compreenderá a minha.
E Newtie a minha!
Finalizo as tarefas no quarto de Bingley e pergunto se Teresa deseja ajuda. Ela nega, dizendo que as criadas estão fazendo a maioria das coisas por ela. Corro até meus aposentos e faço minhas malas de qualquer jeito. Pego poucas roupas, mais para a viagem exaustiva de navio. Não levo jeito para essa função, então pretendo comprar roupas novas na América.
Junto-me a Teresa, atrás de Lady Brenda. Confidencio a Bingley e minha irmã que vou cavalgando até Longbourn avisar os Bennet sobre nossa partida repentina, tranquilizando todos.
- Você só pode estar louco? Perdeu o juízo, Thomas Darcy? – a Baronesa me repreende na biblioteca, quando comunico o meu plano. – Esta estrada é perigosa para seguir no mais completo breu e ainda mais de madrugada. Negativo. Vamos arranjar outra saída. – ela tenta bater o martelo.
- Lady Brenda – volvo o mais sensualmente possível seu nome, na tentativa de seduzi-la com meu charme que a confunde – Teresa necessita informar o noivo e Bingley sua namorada – e eu o Newtie, mas... ninguém precisa saber...
- Darcy – ela aproxima-se de mim, sorrateira, com um olhar descomunal – Está tentando me enganar, como me enganou na estação de trem? – questiona bem esperta. Eu poderia estar blefando, mas desta vez não era o caso. Newtie entenderia meus motivos. Ele é maduro suficiente.
- De maneira alguma, Baronesa. Assim a Srta. me ofende. – saio em minha defesa.
Onde está meu advogado?
- Ofende-me a sua capacidade te tentar me ludibriar com este truque barato que tenta fazer. Ficará com saudades de Newton Bennet, suponho! Por isso deseja correr como um cachorro faminto até seu mais novo amiguinho.
Não seguro meu queixo caído com a perspicácia dela, mas logo disfarço meu incomodo aparente.
- O que sugere então? – dou-me por vencido. Não porque sou fraco, mas porque desejo poupar Newtie e sua família das loucuras que Lady Brenda é capaz de cometer.
- Escreva uma carta. Conte detalhes do que aconteceu. – diz erguendo a sobrancelha bem delineada, já maquiada o suficiente para aquele horário. – Deixe no escritório do Sr. Bennet. Logo que ele chegar, peço para um funcionário avisá-lo, está bem? – sorri.
- Sim. – murmuro e já acomodo-me na poltrona de couro da biblioteca, escrevendo para Newt.
Netherfield, Inglaterra, 17 de Julho de 1898.
Newton Bennet,
Infelizmente precisamos partir as presas.
O pai de Minho, Sr. Arthur, faleceu em Nova Iorque e necessitamos cuidar de alguns assunto a respeito disso, além de prestar nossas condolências ao clã do nosso querido amigo. Espero que sua família entenda nossa viagem repentina, que infelizmente será demasiadamente longa devido a distância e meios de transporte.
Avise o Sr. e a Sra. Bennet que o casamento de minha irmã ainda está de pé com Benjamin e peça para Sonya ter paciência. Minho voltará por ela, assim como eu voltarei por... Netherfield.
Nos vemos em breve.
Cuide de todos como sempre cuidou.
Atenciosamente,
Thomas Darcy.
Infelizmente fui obrigado a manter uma linha mais formal em minhas palavras, sem a chance de chama-lo de Newtie ou dizer metade das coisas que desejava. Sentiria sua falta e esperava que o loiro sentisse igualmente a minha.
Coloquei a pena de volta ao tinteiro e fechei a carta, correndo até o escritório de Newt, largando-a sobre sua escrivaninha.
Permaneci alguns minutos ali, sozinho, absorto em meu sentimento de saudade, observando o lugar onde o homem que eu desejo, trabalha. Rio sozinho quando encontro um exemplar do Patinho Feio escondido no meio de uma pilha de papéis e ordem de pagamento dos funcionários. Não acredito que aquele marmanjo anda lendo contos para crianças!
Seguro uma gargalhada com a idéia que brinda minha mente fértil. Comprarei algum conto erótico para ele na América. Newt precisa ampliar seu leque de leitura urgente!
Point of View of Baronesa Brenda de Hurst
- Todos prontos? – lanço aos três convidados que me encaram já dentro da carruagem. Os morenos concordam. Estamos prontos para partir. – Somente darei uma última palavra aos criados e já seguiremos viagem. – dou o ultimato a Thomas, Minho e Teresa.
Sinceramente?
Não há necessidade alguma em enfrentar uma longa viagem até Nova Iorque e gastar a minha beleza, tendo que aguentar os lamentos de Minho sobre a morte de seu pai. Mas, não dou ponto sem nó. Estou apenas fazendo o que meu pai pediu: tentando conquistar Thomas Darcy e, uma viagem para os Estados Unidos certamente nos aproximará. Além de me tirar do meio do mato.
Primeiramente sigo até o escritório do jovem Newton Bennet e deixo uma lista de obrigações para o administradorzinho cumprir na minha ausência. Trabalho árduo, específico, cheio de regras, mas quero que ele se lasque.
O sol nem apontou no horizonte ainda e já me sinto realizada com minhas maldades por um dia.
Procuro pela a carta que Thomas escreveu, a leio e dou risada. Coloco fogo nela, sem piedade.
O fato é: estou disposta a estragar as coisas por aqui e fazer um favor a Teresa Darcy e Minho Bingley. Dou gargalhadas ao imaginar a cara dos mocorongos dos Bennet quando pensarem que fugimos de Netherfield, largando eles para trás. Tenho certeza que não existirá mais casamento quando Teresa voltar e Sonya, bocó do jeito que é, pensará que Bingley não a quer mais, trocando-a por uma moça mais cosmopolita e bem instruída.
Repouso a carta no chão e espero o fogo consumi-la, para só depois bater meus pés sobre as cinzas e dizimar as provas. Volto para a sede da fazenda e chamo TODOS os criados que viram a movimentação e sabem para onde estamos indo. Adoro a cara de pavor dele, enfileirados lado a lado, morrendo de medo das minhas palavras.
- Quem ousar dizer para onde estamos indo e qualquer outra coisa que aconteceu nesta casa hoje, considere-se sem emprego e sem perspectiva de vida, já que farei questão de evitar que consigam um emprego até o último dia de suas vidas. Estamos entendidos? – dito tirana, fazendo uma dúzia de corpos tremer.
- Bom bom. Até a volta! – dou as costas, ganhando a porta principal. Desço os degraus com graça, sorrindo quando vejo um lugar vago no banco ao lado de Darcy. Acomodo-me ali, fazendo questão de roçar meu corpo ao seu.
- Pronta? – ele questiona e afirmo, dando o comando para o condutor partir.
Os três estão mudos, tensos. Nervosos na sua essência.
Corto o clima – Relaxem, cavalheiros e senhorita. Tudo vai dar certo. Vamos deixar a preocupação com os Bennet de lado e voltar nosso foco para dar forças e toda a ajuda possível a família Bingley, não é mesmo? – digo no meu mais puro cinismo emanando do meu ser.
- Com certeza, Lady Brenda. – Teresa quebra o silêncio, sorrindo fraco. Minho assente com a cabeça, repuxando um riso frouxo para a esquerda.
Mas Thomas... Thomas me ignora.
Seus olhos estão pregados na janela, perseguindo desesperado o horizonte, onde sei que Longbourn fica localizada. Acho que suspira e até enruga a testa, mordendo os lábios num misto de autocontrole e nostalgia.
Bennet, Bennet, Bennet. Newton Bennet.
Murmuro pra mim mesma. Maliciosa.
Não felicitarei as coisas pra o loiro e o bando de caipiras tacanhos que chama de família e se julgam no direito de ter a atenção de Teresa, Minho e principalmente meu Thomas Darcy, nome esse que tem gosto de mel em minha boca e um lugar cativo no meu coração.
Voltarei noiva de Tom. Não aceito nada menos que isso, nem que eu tenha que jogar bem baixo para ter o que almejo, ou então não me chamo Baronesa Brenda de Hurst.
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