0.3; Capítulo – A festa de boas-vindas.
A noite caia tranquila sobre o acampamento, o terreno cercado de pequenas casas estava muito bem decorado e todos celebravam. Em geral Charlie ficava confortável sozinho, mas naquele dia ele estava inquieto, sentindo-se estranhamente só, talvez mais que antes, afinal estava com sua espécie agora e não conseguia socializar nem com ela.
Quando saiu da sua casa, parou: diante dele, o campo que separava as casas havia se tornado uma massa rodopiante de corpos, sua extensão normalmente verde agora repleta de gente dançando, algumas garotas com saias compridas e outras com calças jeans e botas pretas, caixas de sons espalhadas por todo o lado, presas em alguns postes do acampamento.
As pessoas se movimentavam em graciosos círculos, ficavam paradas perto de suas casas observando e conversando, como se o campo fosse um salão de baile. Charlie respirou fundo, enchendo-se de aroma etéreo, sempre fresco e revigorante a qualquer hora, seja dia ou noite. Prendeu o ar por um longo momento de incerteza e, em seguida, soltou tudo de uma só vez, em um assovio determinado. Desejou que os últimos resquícios de timidez, que cobriam seu coração como folhas mortas boiando num lago, fossem levados embora pelo vento suave que brincava com seus cabelos.
– Você está bem? – perguntou Ivan, seu colega de quarto, preocupado por Charlie estar imóvel em frente a porta.
– Eu estou sim – ele respondeu, mesmo não tendo certeza absoluta.
– Topa beber alguma coisa? – Ivan perguntou, sinalizando para que o jovem bruxo o seguisse sem nem esperar a resposta.
De noite caia tranquila sobre a residência Gallard, o terreno cercado de cabanas estava muito bem decorado, Seth queria que todos se sentissem à vontade em sua recepção no acampamento. Ao centro do local uma grande mesa com comida farta e diversos doces, a iluminação do local se dava pelos vagalumes e as luzes que flutuavam; Logo todos chegariam para conhecerem uns aos outros e até mesmo este local onde passariam um bom tempo juntos;
– Faz bastante tempo que não estou na presença de tantas criaturas – falou Alucard, assistindo alguns jovens se divertirem, outros dançando e poucos parados. – Vejo que há algumas sanguessugas aqui, isso será interessante.
– O que vai ser interessante? – Seth perguntou, parando ao lado do drácula. – Espero que não seja relacionado a ferir alguém, não quero que nada saia do controle – ele arrumou suas vestes, desesperado pela perfeição. Olhou para Alucard, notando sua expressão séria. – Porque não vai se divertir, Vlad?
– Você sabe qual é meu padrão de diversão não sabe, velho amigo?
– Sei, mas não vamos falar disso aqui, tudo bem? – Seth combinou com um meio sorriso. – Onde estão os outros? – olhou ao redor, esticou o pescoço, nenhum sinal dos outros tutores, entretanto Charlie e Ivan vinham em sua direção e pelas suas feições tinham alguma dúvida ou pedido.
– Oi, Sr. Gallard, eu e o Ivan podemos tomar alguma coisa? Um suco, talvez? – Charlie perguntou, timidamente.
– Claro, Charlie – Seth abriu espaço para os dois jovens adentrarem a casa. – Fiquem à vontade.
Charlie e Ivan agradeceram com um sorriso, passando pelo bruxo para beber algo na cozinha.
…
Viajar era cansativo; especialmente se você contar com um motorista que praticamente beirava algo próximo à loucura. Não foi à toa que Olímpia teve que tomar remédio para enjôo e se concentrar para não acabar cedendo à vontade de vomitar — se tinha como controlar isso ela não tinha certeza, mas com certeza respirar fundo a ajudava bastante. Como se não pudesse ficar pior, ainda teve que limpar aquela cabana, fato que particularmente a deixou irritada. Certo, não foi somente ela que limpou; mas de qualquer modo, o tal responsável pelo acampamento tinha que ter feito isso antes! Ela pretendia mencionar isso em outro momento. Quando finalmente terminou, a única coisa que conseguia pensar era tomar um banho. Foi uma das primeiras a entrar no banheiro e ali reclamou mentalmente bastante sobre tudo o que tinha lhe incomodado até então, principalmente do cheiro de produto de limpeza que estava impregnado em suas mãos.
A jovem não sabe exatamente quantos minutos passou dentro do banheiro, mas com certeza foi um tempo considerável. Bem, ao menos seu cabelo estava seco e do jeito que a agradava, assim como a roupa que usava: um vestido preto de tecido leve e levemente transparente.
Algumas de suas colegas de cabana estavam no quarto, entretanto sua atenção se voltou a uma em especial, sua parceira de ônibus.
A garota suspirou, sentada em uma das camas, colocando sua bolsa ao seu lado. Era Belle, ela agarrou o zíper e o desceu, sentindo seu braço doer. Dessa vez, a garota não teve a sorte de ter ajuda de Santino para carregar seus materiais de desenho, e pelos deuses, como essas coisas pesam! Ela já estava exausta antes mesmo de começar a limpar a cabana. Inclusive, ele mal teve tempo de cumprimentá-la, exceto por um breve aceno que ele deu a ela algum tempo atrás. Provavelmente ele já estaria arrumado e perfumado como sempre a essa altura para a tal festa que Freya havia dito que aconteceria. Bel se pegou olhando para o lado de fora, observando o céu escuro se tornar um breu. Provavelmente eram seis ou sete da noite, quem sabe. A garota não estava muito disposta a se levantar e trocar de roupa para participar da comemoração barulhenta do lado de fora, apesar de já poder ouvir seu irmão dizer: "Fieb, você me prometeu!"
Antes que pudesse prever, entretanto, Bel estava lá com um caderno apoiado nos joelhos, rabiscando de grafite a visão de sua janela. Estar no beliche menor não a ajudava certamente, mas a garota estava feliz com o resultado, saindo do seu transe com um pequeno sorriso e as mãos cheias de carvão. Ao se dar conta, um rosto estava encarando-a como encarava seu desenho.
Olímpia arqueou uma sobrancelha ao ver Belle do mesmo jeito desde que chegou, e ainda por cima com os dedos sujos de grafite. Bem, ao menos ela poderia dizer que Belle desenhava bem, e muito bem. Só depois de um tempo que a Lefebvre notou o olhar de Oli, que não foi desviado.
– Não vai se arrumar? – a italiana perguntou, virando-se rapidamente para buscar alguns anéis em sua bolsa. – Hm… – ela resmungou ao notar que acabou esquecendo um de seus acessórios que mais usava; bem, ao menos tinha o colar que sua mãe havia lhe dado, uma cruz. – Se continuar aí, não vai aproveitar nada. Se bem que... parece mais uma festa no asilo. Que gente parada.
– Você não os ver não significa que não estão fazendo alguma coisa – Bell respondeu de forma serena, sem sequer perceber tais palavras realizarem de seus lábios enquanto apoiava seu caderno a seu lado na cama. – Quer dizer... Ao menos eu acredito nisso.
Olímpia calçava os sapatos e apesar de não olhar diretamente para a mais nova, seus ouvidos captavam bem as palavras alheias. Não era algo difícil de se fazer, mas a italiana em particular gostava de deixar todos os seus sentidos ligados. Ela deu a última volta no cadarço do coturno, antes de finalizar com um nó enlaçado.
– É, faz sentido – ela disse entediada, pondo-se de pé. – Mas provavelmente estão fazendo algo chato. Você já deve ter ido em uma festa – deduziu. – Sabe que a música é bem mais alta, há luzes, bebidas e… "coisas" ilícitas. Mas você não deveria ir nessas festas.
Belle buscou nos bolsos seu par de brincos chamativos de joaninhas, colocando-nos rapidamente nas duas orelhas, e se levantando da cama. Estava pronta. Bel não era exatamente alguém da última moda, apostava sempre em coisas confortáveis, dando apenas o seu toque, como era o caso: uma calça larga e clara, tênis de cano alto marrons e uma blusa regata de florzinhas vermelhas, que era coberto por um casaco simples de lã; e agora, joaninhas.
A Altieri observou a movimentação da moça e o par de brincos, alegando mentalmente que os achou fofos — com certeza combinava com a estética de Belle, até onde ela podia ver. Ao olhar a garota, Bel não pode evitar de sorrir com o bom gosto da outra.
– Você está parecendo uma modelo! – ela exclamou dando um único passo tímido na direção da outra. – É até engraçado. Quer dizer, você é a fotógrafa e a modelo ao mesmo tempo!
Ao ouvir o elogio, Olímpia sorriu, mas sem mostrar os dentes. Ela gostava de elogios, na verdade quem não gostava?
– Eu sou modelo de vez em quando, sabia? – ela disse orgulhosa, ainda com o sorriso no rosto; afinal, não era de fingir falsa modéstia. – Eu poso para alguns amigos fotógrafos. E ainda ganho um bom dinheiro – Oli falou, passando um pouco de gloss hidratante nos lábios, colocando nas mãos de Belle sem sequer perguntar se a outra queria. A moça de olhos verdes olhou para os brincos de joaninha novamente e pulou seu olhar para as mãos da outra. – Eu não sabia que joaninhas rolavam no grafite – Olímpia apontou para a própria orelha, indicando que os acessórios de Belle estavam sujos. A menina pareceu entender sem muita demora e tentou limpar, mas os dedos ainda estavam sujos. A Altieri suspirou impaciente, aproximando-se da garota e tomando liberdade para passar os dedos a fim de limpar os brincos. Afastou uma mecha de cabelo de Belle e repetiu a mesma coisa do outro lado, afastando-se assim que terminou. – Pronto.
Belle sorriu sem graça, olhando para as próprias mãos logo depois.
– Na verdade eu nunca fui a uma festa como essas que você descreveu – ela avançou para o banheiro em passos rápidos, e começou a lavar as mãos. – E também nunca posei como modelo ou algo assim.
Rapidamente ela se colocou na porta do cômodo, segurando um dos braços e observando a garota terminar de ajeitar o gloss em seu rosto.
– Eu posso... – ela começou a pergunta vendo os olhos verdes da garota sobre si, e fez um gesto indicando os próprios lábios. – Obrigada – a garota agradeceu sem jeito pegando o gloss que a Altieri havia estendido a ela.
– Nunca foi a uma festa como "essa"? – Olímpia pronunciou, mas a leve surpresa logo sumiu. Bell não parecia o padrão de garota que vai em festas de acordo com os conceitos de Olímpia. — Bem, se você for algum dia, não vá sozinha e não deixe ninguém se aproximar demais da sua bebida. Sério, ninguém mesmo. E não aceite convites ou coisas esquisitas – Regras básicas de sobrevivência. Após a segunda fala, Oli olhou para a menina de cima a baixo. .
– Você é bonita, deveria tentar ser modelo algum dia – Ela disse simplista – Hum, você ainda tem algo pra fazer? Se não, vamos logo – A garota girou os calcanhares, indo em direção a saída da cabana junto com a câmera que havia trazido. O céu parecia bonito naquela noite e ela iria filmá-lo.
….
Eu não te conheço muito bem mas já decidi que te odeio pra caralho – Nico anunciou, olhando para Mikhail. A raiva brilhou em seus olhos azuis escuros.
– Estou apenas jogando – Dominique disse calmamente, um sorriso fantasma em seus lábios.
A festa do lado de fora da cabana verde estava surpreendentemente barulhenta e alguns meninos das três cabanas masculinas estavam jogando Monopoly.
Santo Herrera terminava de abotoar sua camisa e ajeitar a gola. Chegou-se no espelho novamente, apreciando tudo que vira. Realmente, ele ficava bem de camisa social, e isso não era nenhuma surpresa; mas... Será que não era demais?.
Dobrando as mangas, ele observava o belo anel que havia ganhado de Seth; este que a primeiro momento havia deixado-o um pouco incomodado, com uma fadiga que não parecia ser sua. Ele tinha certeza de ter ouvido alguém mexendo nas coisas enquanto tomava seu banho, mas vendo tudo tão bem organizado, ele se perguntava se não havia sido coisa de sua cabeça.
– Santo é só uma festa porque precisa se produzir tanto? – um dos meninos perguntou.
– Gosto de parecer apresentável.
Antes de sair em direção a festa, o rapaz borrifou seu perfume mais uma vez, passando pela nuvem agradável e finalmente se dirigindo à clareira que... Para sua surpresa, estava vazia.
– Como anda aí, do lado de fora? – Mikhail indagou de dentro da cabana.
– Não dá pra reclamar – tentou soar positivo.
Um som tocava agradavelmente e o clima da fogueira era acolhedor com os enfeites de flor padronizados demais para seu gosto. Ora, desde quando ele presta atenção em enfeites? Belle quem repararia nisso.
O homem respirou um pouco fundo demais, e observou a mesa ali do lado, cheia de petiscos. Ele havia se oferecido para fazer, mas Seth alegou que seria mais rápido conjurar um simples feitiço de cozinha. Olhando para os lados rapidamente, Santo foi rápido em passar o dedo levemente em um pedaço da torta, provando o recheio. "Boa, mas a minha estaria melhor.", ele constatou.
Hermes respondia evasivamente um campista, os olhos vasculhando o lugar. E quando viu Santo se aproximar dos petiscos postos à mesa...
– Podem me dar licença um segundo? – pediu.
Não esperou que lhe desse permissão, apenas avançou pelo espaço da clareira, passando por campistas, mais pessoas que o abordaram e muitos campistas ansiosos para travar contato com ele. Por fim, encontrou-o, parado sozinho, com o olhar fixo nos petiscos. Conforme se aproximava, admirou as linhas elegantes da silhueta de Santino, demorando-se no modo como os ombros estavam perfeitos na camisa social. Ele não era apenas um desleixado, tinha estilo. Odiou o modo como seu coração bateu forte dentro do peito. Desprezou o fato de ter que, subitamente, arrumar os cabelos bagunçados esvoaçados pelo vento.
– Não fomos devidamente apresentados – Hermes chamou sua atenção, não estendeu a mão, e sim acenou saudosamente com a cabeça.– Sou o Hermes, tutor da casa azul.
Santo observou as feições do outro, estas que pareciam terem sido esculpidas de forma cautelosa, como a de um Deus. Não era seu tipo, mas, ele não poderia deixar de notar sua elegância. Ele sorriu também, estendendo e apertando a mão do outro estabelecendo uma distância habitual.
– Santino Herrera, mas pode me chamar de Santo, ou do que preferir – ele soltou o aperto forte do rapaz. – Sou tutor da casa verde. Ainda não tive tempo de falar direito com todos.
…
– Ainda quero saber porque eles tem um Monopoly da Hello Kitty e não um profissional – Tumay indagou-se encarando a cara da gatinha japonesa.
Dominique olhou para o tabuleiro do Banco Imobiliário infantil, descobrindo que Nico havia pousado em sua propriedade, Park Kitty. Quatro casas verdes já estavam bem colocadas na praça. Seu sorriso pomposo cresceu e ele estendeu a mão esperando.
– Mil e quinhentos dólares da Hello, por favor.
Nico contou amargamente sua pilha de dinheiro colorido. De jeito nenhum ele teria o suficiente. Ele estava certo, ele só tinha 900 dólares.
– Que tal isso? Você me dá 500 libras e suas ferrovias – Dominique ofereceu, olhando as quatro cartas da ferrovia do lado de Nico da mesa.
Nico fez uma pausa e olhou para suas cartas. Suas ferrovias eram sua principal fonte de renda, além das duas concessionárias que possuía e das propriedades marrons. Ele não queria perder este jogo, ele não aceitaria perder. Os dois haviam combinado que o perdedor iria flertar com uma garota ou um garoto do acampamento, o que não era tão ruim. Era pela dignidade de vencer que ele lutava.
Mikhail estava na torcida silenciosa pela vitória do membro da casa azul, enquanto Willy esperava a próxima jogada de mestre de Dominique, Tumay e Igor estavam concentrados no jogo tenso.
– Vai logo – Igor apressou.
– Uma pena que beijos não são uma forma viável de moeda no livro de regras – Nico disse provocadoramente.
– Quando nós seguimos as regras? – as grossas sobrancelhas castanhas claras de Dominique se ergueram e ele sorriu quando os urros dos meninos aumentaram. – Paga em quatro parcelas. Uma para cada ferrovia – Dominique decidiu, os travessos olhos azuis brilhando.
– Combinado – Nico disse, distribuindo o dinheiro para a mão expectante de Dom. Ele o observou atentamente enquanto jogava os dados. – Haha! – Nico disse triunfante quando Dominique pousou em uma ferrovia e sentiu a mão de Mikhail tocar-lhe o ombro como forma de parabenizá-lo.
Dominique fez uma careta e jogou o dinheiro na direção de Nicollas.
– Pegue seu dinheiro imundo, seu bastardo podre – Dom disse, brincando. Ele ainda tinha 800 dólares Hello Kitty restantes.
– Você poderia dizer que tenho o monopólio das coisas – Nico disse com uma cara tão séria quanto pôde. Sua boca se contraiu enquanto ele tentava conter a risada.
– Pelo amor, pare! – Dominique se esforçou para não rir, esfregando a têmpora e se encolhendo com o trocadilho horrível.
Mikhail estava fissurado no jogo quando, de repente, sua barriga emitiu um som grave, um ronco. Ele fechou os olhos fortemente e apertou o estômago.
– Eu não sei vocês, mas eu não vou ficar entocado aqui feito coelho passando fome – Mikhail soltou um bufar, ele podia ser o rei dos introvertidos, mas se recusava a passar fome. – Vou pegar algo para comer – avisou antes de passar pela porta da cabana.
Alguns campistas cumprimentaram e observaram o quanto Delila Zoraichna estava bonita. Alguns garotos até ousaram se aproximar, mas Dalila ainda não havia superado totalmente seu ex-noivo. Mas agora ela estava perdida no meio de um mar pouco amistoso de garotos e pernas sussurrantes. Então, um par de pernas parou bem diante dela. Dalila atirou a cabeça para trás.
Um garoto alto, de cabelos claros, levemente ondulados e olhos azuis luminosos, examinou-a de cima a baixo por um instante. Então, o assombro de Dalila, ele sentou-se ao lado dela no banco de madeira extremamente lustrado sem tomar nenhum cuidado para proteger suas elegantes calças pretas. Com ele sentado e ela de pé, seus rostos ficaram aproximadamente no mesmo nível. O rapaz não lhe dirigiu a palavra. Dalila esforçou-se para pensar rápido.
– Você é da casa azul, não é? – perguntou-lhe após um instante.
– Sim – concordou, desembrulhando um pacote, pegou o pão de forma com presunto e deu uma mordida prazerosa enquanto Dalila franzia as sobrancelhas, incomodado porque aquela conversa tinha acabado rápido demais.
– Você dança? – ela veio com mais uma pergunta.
– Não sou tão bom em dançar, dançar cansa – respondeu o rapaz. Seus modos pareciam suficientemente sinceros para satisfazer Dalila, e a lógica do que ele dissera lhe agradou, apesar do fato de achar sua compreensão difícil. Ela balançou a cabeça com um ar grave.
O rapaz olhou para a multidão girando vertiginosamente.
– O que acha desta festa? – perguntou ele.
Por um instante, Dalila vasculhou a mente em busca de uma mentira expressiva, mas sua empolgação com a verdade logo a dominou.
– Esta é a minha primeira festa de acampamento que participo – confessou, observando-o atentamente para ver a reação que um fato de tal peso exigia. Não ficou decepcionada. Os olhos do jovem não arregalaram-se. Ele balançou a cabeça devagar, captando o significado de sua declaração.
Então, um movimento na multidão chamou a atenção do rapaz. Dalila seguiu a direção de seu olhar, até o rosto de uma jovem decidida, vestindo uma jaqueta preta, abrindo caminho entre um amontoado de campistas a alguns passos de distância de onde estavam. Ela procurava alguma coisa e quando encontrou Dalila, caminhou lentamente até ela. Isso não pareceu nada de extraordinário para Dalila, mas assustou o rapaz. Ele não encarou. As sobrancelhas de Dalila uniram-se enquanto ela devolvia o olhar, tentando compreender qual era o problema dele, para que pudesse saber o que lhe oferecer. Então, o rapaz pareceu recobrar o bom-senso. Desajeitadamente, ele se levantou e saiu com o sanduíche na boca.
– Você está linda – disse a Louise. – Como se tivesse acabado de cair do céu.
Dalila, distraída pela fuga repentina do rapaz, mal pode ouvir o elogio de Louise, apenas quando ela lhe chamou a atenção outra vez.
– Dalila, terra chamando Dalila – Louise brincou, acenando para ela.
– Hã? Oi? O que estava dizendo?
– Estava te elogiando, sua boba – a garota se sentou ao lado dela. – O que houve? Parece um robô.
– Um rapaz estava comendo aqui e do nada saiu correndo para dentro da cabana – Dalila explicou, apontando para a cabana verde. – Será que eu disse algo errado?
– Talvez ele seja tímido – Louise ergueu os ombros e conduzia-o pela mão para o gramado que servia como pista de dança. – Vamos dançar!
...
– Santo? É um nome incomum – disse, surpreso, tentando recobrar parte da sua sedução. – Eu gostei, combina com você. E quanto a falar com todos, você ainda vai ter a chance – Hermes arrancou uma fatia daquela torta de creme e provou. – a magia para cozinhar do Seth é boa, mas faltam aprimoramentos.
– Eu concordo plenamente – ele sorriu, soltando uma leve risada. – Mas ele não vai precisar usá-las por muito mais tempo. Ele me pediu pra tomar conta da cozinha, e eu bem, não tenho magia, então realmente aprendi a cozinhar.
– Você cozinha? – Hermes deixou transparecer um sorriso divertido. Assim como sua pele bronzeada, a risada de Santo era encantadora para ele. – Quer me mostrar as suas habilidades de cozinheiro? – devolveu o pratinho à mesa, esperando por um "sim".
– Acredito que você vai ver amanhã de manhã – o Herrera soltou uma risada divertida. – Inclusive, preciso ver com Seth se alguém tem alguma alergia. Quero fazer algo que todos gostem, sabe? – Santo perguntou, entretanto, quase perdido em seus pensamentos. Ele dificilmente deixava a mente vagar, entretanto, estava distraído com duas garotas que saíram de sua cabana bem mais a frente. Hermes percebeu sua distração. – De qualquer jeito, – ele se virou para o outro, sorrindo sem mostrar os dentes. – Você tem algum "pedido especial"?
– Éh.. – abaixou o olhar, e remexeu os cabelos, não quis pensar que Santo estivesse interessado naquelas garotas, não quis pensar que estava fazendo papel de idiota tentando fletar com o rapaz. Ele levantou o rosto em seguida, como se a frustração fosse um sentimento que deveria ser ignorado. – eu tenho mas, não importa, eu te digo depois – Hermes se virou para ir embora, mas antes de ir, ele perguntou descaradamente; – Você é hétero?
Santino quase engasgou na própria saliva, visto que estava preparado para dizer algo.
– O que? – ele perguntou, olhando para Hermes e para as meninas, e logo soltando uma risada. – Não, eu não sou – ele balançou a cabeça levemente, e apontou com a cabeça para o lado delas. – Uma delas é minha irmã, não tive muito tempo pra falar com ela ainda.
– Ah! Sua irmã – Hermes tampou o rosto com a mão se sentindo profundamente constrangido por ter deduzido errado.
Um breve silêncio se instalou, onde Santino o usou para colocar ambos os polegares nos bolsos da calça, analisando a expressão de Hermes, enquanto umedecia os lábios levemente.
— Pode me dizer o que quer quando quiser. — O Herrera declarou sereno.
– Eu não diria isso se fosse você – exibiu um sorriso sedutor e discreto. – quero dizer, pode preparar panquecas? É o meu prato favorito.
O rapaz sorriu de volta, mordiscando brevemente o começo do lábio inferior, virando-se para a mesa e pegando um copo para colocar o suco.
– Eu não teria pedido melhor! Gosto da minha com bastante melado. Talvez você possa me ajudar a prepará-las amanhã, caso não tenha nada planejado como tutor — ele pegou o copo cheio e tomou um gole, olhando para o rapaz.
Houve um momento prolongado de silêncio. Em seguida, o sorriso que ele lançou na direção dele foi inexplicável, tão confiante e calmo.
– Eu adoraria – Hermes não recusaria por nada.
Belle e Olímpia estavam fora da cabana, elas puderam ver a fogueira e os enfeites, algo que, particularmente, encantou a Lebfrev. As nuances, movimentos e cores do fogo eram tão belos de se acompanhar que a garota poderia ficar olhando a noite inteira; entretanto, algo lhe chamou igualmente a atenção. Olímpia queria tirar uma fotografia daquilo, mas ainda precisava achar um bom ângulo. Seria bom se ela conseguisse tirar fotos de coisas específicas também, como uma "jornalista"; talvez pudessem ser úteis. Mais a frente, próximo a mesa de comidas, Santino estava lá, com sua camisa social. Bel revirou os olhos para si mesma, era óbvio que ele a colocaria. Inclusive, ela havia lhe dado tal peça.
– Ah, meu irmão! – Bell concluiu, e passou ao lado de Olímpia, entretanto, parando e olhando-a logo depois. – Você... – A garota olhou em volta, vendo o vazio que o lugar apresentava. – Quer me acompanhar?
– Irmão? – Ela perguntou, olhando para o garoto que Belle havia indicado. Um dos tutores. – Ah, o tutor né? Você 'tá aqui por nepotismo ou algo assim, Belle? Entendi – Olímpia disse; e apesar de sua expressão séria, estava brincando, parcialmente. Oli olhou ao redor. Não havia nada melhor para fazer e além do mais, os quitutes estavam próximos de onde Bell iria. Ela acenou com a cabeça dando de ombros, acompanhando a maga até os dois tutores.
A garota soltou uma risada, tentando disfarçar o ar sem graça que sentiu.
– Acho que posso dizer sim. Meu... – ela hesitou. Não costumava chamar Esteban de pai mas... – Bem, meu pai é um grande amigo de Seth, e, enfim.
A garota balançou a mão, como quem pede para esquecer. Logo, Santino olhou novamente para o lado após sorrir para o Deus, aproveitando cada segundo do contato que os olhos dos dois estavam tendo. Bell já estava ao seu lado, e ele a abraçou com seu braço livre, conseguindo dar a volta no tronco da mesma.
– Andou fugindo de mim, Fieb – Santo acusou a garota antes de separar o abraço, olhando para a mulher bonita que a acompanhava Bel por cima do ombro da outra.
Os olhos verdes daquela garota bateram nele como um trem descarrilhado, de maneira súbita e aterradora. Foi como se um arrepio interno violento subisse de dentro para fora em único segundo em que o contato se estabeleceu; tudo isso exposto com apenas uma reação: uma falha pontual na respiração do garoto, que pareceu vacilar, encarando-a por tempo demais, e até prolongando o abraço.
– Não começa Santo – ela riu, revirando os olhos levemente antes de se afastar, e se virar para o loiro, dando um sorriso tímido. – Sou a Belle – ela cumprimentou.
Assim que Bell desfez o contato, o rapaz desviou o olhar de Olímpia, sem sequer saber o porquê, apenas precisava recuperar-se.
– Sou Hermes – Hermes a cumprimentou com um gesto de cabeça. – ficou feliz de continuarem conversando comigo depois do momento do ônibus – olhou para o casarão atrás de si. – eu queria mesmo ficar conversando com vocês, mas eu tenho que ir – apontou para o casarão. – Santo, eu te vejo na cozinha do refeitório amanhã – se despediu de Olímpia e Belle, mas pareceu que Santo recebeu uma atenção maior, mais íntima.
….
– Ah, por favor, Charlie – implorou Ivan, com um sorriso charmoso, oferecendo-lhe uma taça. – É uma festa, e você concordou em beber.
Era difícil recusar a bebida e resistir aquele sorriso, então Charlie aceitou, é claro, e tomou um gole tímido, entortando a boca em uma tentativa de sorriso de agradecimento que se dissipou em um acesso de tosse. A concentração do álcool daquele champanhe era forte.
– Eu não gostei – Charlie disse, com uma careta, pousou a taça sobre a mesa. – Acho que vou pegar um suco de laranja.
– Deixa que eu pego – Ivan se apressou, feito um barman que gosta de satisfazer seus clientes. Abriu a porta da geladeira e serviu um copo de suco de laranja a Charlie. – Aqui está.
– Obrigado – Charlie não deixou de sorrir, mesmo quando estranhou o ato gentil do mais velho. – Eu fico pensando em como teriam chamado as laranjas – comentou Charlie. – Se elas não fossem laranjas. Quer dizer, se fossem uma fruta azul desconhecida, será que seriam chamadas de azuis? Será que beberíamos suco de azul?
– O que? – Ivan perguntou rindo. – O efeito da champagne foi mais rápido do que eu imaginava. Vamos lá pra fora – o moreno laçou o pescoço do menor com seu braço, o guiando para fora. – Ah! Eu lembrei que preciso fazer uma coisa na cabana azul – Ivan desceu os degraus com pressa e entrou na cabana, deixando Charlie confuso com a situação.
– Hum?
…
O jogo durou exatas uma hora. Dominique conquistou 100% de toda a propriedade. Ele içou os braços e cantou vitória e Nicollas e Mikhail bufaram.
– Amanhã você flerta com alguém e nós avisa – falou Dom.
– Tá bom! – Nico concordou, aumentando o tom. – Vou sair para comer alguma coisa, vocês vem?
– Claro – responderam quase em uníssono, caindo alguns na gargalhada.
...
Frey se encontrava sentada em uma das mesas que haviam espalhado pelo camp, brincando com seus dedos. Nunca fora muito fã de festas, estava ali apenas porque Seth havia pedido para ela ir. Bebeu um gole de seu suco e olhou em volta, vendo os campistas se divertindo, ela deveria voltar pro dormitório.
– Relaxa – Hermes disse se sentando ao lado dela, quase derrubando a mesa com o seu peso. – as festas daqui não são tão ruins assim, na verdade elas ficam piores quando tem um puta gato, moreno com nome de Santo que de dá um gelo – tentou convencê-la, mas não funcionou. – Quer um gole? – ofereceu o uísque. – te ajuda com os maus momentos.
– Não sabia que permitiam bebidas alcoólicas aqui – falou e até pensou em aceitar, mas repensou - Agradeço, mas acho melhor não, sou fraca pra bebida. – disse rindo.
– Na verdade não permitem bebidas alcoólicas aqui – Hermes sussurrou, sacudindo a garrafa na frente dos olhos, examinando o escorpião dentro da garrafa. – É melhor você não beber, agora que eu notei que tem uma barata aqui dentro.
– Que nojo – riu e negou – Você estava falando do tutor da cabana verde?
– Eu queria beijá-lo, ele é tão gostoso – Hermes apertou os punhos. – mas a única coisa que consegui foi um convite pra ajudar ele a cozinhar.
– É alguma coisa – Freya tentou soar positiva. – talvez, possamos distrair a mente, que tal? Tem algo mais interessante pra fazer aqui?
– Interessante..? – ele fingiu pensar. – tinha banco imobiliário, mas os meninos pegaram primeiro, tem beber.. - estalou os dedos e respondeu; – tem um campinho de crocket atrás da estufa. É um jogo chato, porém um bom passatempo, fora que a estufa é um lugar ótimo para fugir dos campistas melequentos e suados – Hermes desceu da mesa e ofereceu sua mão a Freya. – eu te mostro.
A elfa sorriu e aceitou a mão do deus grego, se levantou da mesa, começando a caminhar com o loiro até a estufa.
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