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História Orphan Shadows Camp - Interativa - O6. Acampamento, acampar, campista - História escrita por Dark-Dawn - Spirit Fanfics e Histórias
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História Orphan Shadows Camp - Interativa - O6. Acampamento, acampar, campista


Escrita por: Dark-Dawn

Notas do Autor


❝ ‧ Cheguei! Para mais um capítulo. Começo desejando uma boa comemoração e celebração ao Mês do Orgulho LGBTQIAPN+

❝ ‧ Desejo uma boa leitura e espero que aproveite.

Capítulo 22 - O6. Acampamento, acampar, campista


 

Tudo aconteceu cinco horas antes, quando o tutor Killian trouxe "roedores" para que as crianças criassem uma ligação com eles, e que decidissem seus familiares. Ratos! Isso mesmo. Acônito esperava pássaros, corujas, gatos ou até mesmo dragões, qualquer criatura mais… incomuns? Não ratos. O que todos não esperavam é que ele os perdesse ao esquecer a gaiola aberta no final da aula e, ao fim do dia, na cabana amarela, as meninas tinham ouvido uns barulhos estranhos durante a noite, e apesar de mais parecer barulho de gambá ou de gato que de rato, na opinião de Acônito, era uma ratazana do tamanho de um livro, provavelmente a melhor escavadeira da turma dela.

Naquela noite, ela sonhou com vigilantes sanitários rabugentos, ratos enormes vestindo terno e carregando prancheta, avaliando a obra arquitetônica que elaboravam em um local chamado "reino debaixo da cama" ou apenas "debaixo da cama". Então acordou com um barulho de algo sendo arranhado, seguido por um tum vindo de lá de cima. Parecia que alguma coisa caíra no chão. Acônito sentiu seu cabelo arrepiar-se até a nuca. Enfiou a cabeça debaixo do travesseiro, mas a arranhação começou de novo. Ela se sentou na cama e encarou a escuridão com minha lanterna. O vento entrava rasgando pelas frestas da janela, mexendo as cortinas de leve, dando a impressão de que estavam respirando. Tremeu de frio, e talvez um pouco de medo, percorreu o quarto com o facho de luz mais uma vez, vestiu o moletom amarelo do acampamento e agarrou a primeira coisa que encontrou; uma chaleira velha.

Tinha alguma coisa escuta perto da porta entreaberta. Porque diabos a porta está aberta?!, não importava, seja quem for ela acertaria com a chaleira. Ergueu o objeto no ar, se preparou para jogar, quando o bicho deu um passo para frente entrando na luz do luar que vinha pela janela. Salém fora o responsável por aquela arranhação toda ou talvez não, porque um segundo depois, Acônito percebeu o rato em sua boca. 

– Merda. Isso é um..

– Sim – disse com a boca ocupada, largou o rato no chão e lambuzou sua pata felpuda. – Esse é o Mestre Splinter. Dãh! Isso aqui é um familiar ou deveria ser. 

– Esses ratos estão por todos os lados, não é? – ela suspirou, largando a chaleira em cima da cômoda velha. – Quantos você pegou? 

– Uns doze. Sabe como é, eu sou um exímio caçador – Salem estufou o peito orgulhoso por matar tantos, obviamente desejava que fosse pessoas, seus inimigos, porém naquele corpo de gato não tinha muito que fazer. – E você?

– Eu o que?

– Matou quantos? 

– Eu não fico por aí matando ratos, KitKat. Prefiro não me sujar com sangue e tripas – Acônito deu meia volta, ela voltaria para sua cama. – Eu não sei você, animal noturno, mas eu vou dormir. Boa noite. 

 – Ah, que peninha – ele lamentou fingidamente. – Você não vai no acampamento do Hermes, é isso? Okay, então vai dormir, preguiçosa, enquanto eu vou explorar alguns lugares que não constam no mapa do acampamento e, a propósito, outros campistas que vão com o Hermes também irão explorar. É uma coisa que eu sempre admirei nele: petulância, e o fato dele ser um paspalhão. 

– Acampamento-acampar-campista – ela estava ficando louca. – Você não desiste? – Acônito se vira para encará-lo. 

– Não. Eu estou com o meu irmão até hoje, não estou? – ele entrega um sorrisinho presunçoso. – Se você não vai acampar com a sua turminha de campistas então não tenho motivo para nessa cabana deste acampamento. 

– Aí! Como você é.. humph! Tá! – Acônito resmunga com o rosto submerso no travesseiro, mas leva os pés ao chão, coloca suas botas e segue o gato saltitante para fora da cabana. – Mas pare de repetir essas três palavras ou eu juro, corto seus bigodes. 

– Posso citar sinônimos?

– Não me provoca – disse Acônito de dentes cerrados.  

* * * 

CASARÃO

Nos primeiros minutos que se passaram, Kione estava tão absorta na história da perseguição da turma do Scooby-Doo ao vilão que não percebeu os sons de fora nem que estava aconchegada em Seth até que pulou quando um “wiki tiki” saiu do mato. Acabou acertando o rosto dele no caminho, o despertando de sua sonolência. 

– Desculpe – ela disse enquanto continha o riso. 

– Não se preocupe – Seth diz com a mão no nariz. – Está gostando do filme?

– Estou. 

O filme inteiro estava despertando seu interesse. Ela queria descobrir quem estava apavorando a ilha Hanahuna. O começo do filme deixa evidente a irritação dos espíritos Wiki Tiki, criaturas havaianas raivosas e minúsculas equipadas com lanças que atormentavam os cidadãos, que também eram responsáveis pela destruição das cabanas e do sequestro da garota de nome Snuck. Kione acha engraçado como Fred consegue convencer Salsicha e Scooby a se juntarem à investigação apenas mencionando as “nozes da Austrália" e como o homem vendedor de amuletos wiki tiki parece suspeito. Ele poderia estar organizando tudo para ganhar dinheiro, mas por ser contato da Daphne, Kione confia que ele não seja.  

“Todo mundo na ilha sabe que o Wiki tiki é um espírito antigo que mora no vulcão Pulanana”, o vendedor de camisa de cores vibrantes explica e Scooby e Salsicha tremem. O homem não para por aí: “Dizem que 10 mil anos, mais ou menos, o fogo do vulcão tem que ser apagado por um sacrifício humano”, completa lentamente, gesticulando com as mãos de maneira quase que mística. O clima muda e a turma é forçada a se abrigar. A prefeita de Hanahuna promete o “charme havaiano” da ilha, mas tanto a platinada quanto a turma desconfiam que seja verdade. 

* * * 

TRILHA DO TEXUGO

Quando criança, Antony era fascinado pela floresta; imaginava-se empurrando os galhos maciços das árvores e pulando sobre os riachos que se uniam. Subindo no alto das árvores para observar a floresta abaixo dele, fazendo-se sentir como um gigante em seu reino verde. Sempre em busca de algo, ele imaginava aventuras desde governar Terabithia até abrigar criaturas místicas que viajavam de longe para vê-lo, e hoje sua imaginação se tornava muito real. Na verdade, não tão real graças Hermes. 

– Criaturas místicas? Aqui? Hahaha – ele gargalhou altamente. – Não me façam rir. Acreditem em mim, com o Vlad solto, nem aquele veadinho da Disney desejaria morar nessa floresta.

– Bambi – Freya disse.

– O que? – Hermes virou a cabeça, confuso. 

– O nome dele é Bambi – a elfa explicou com um sorriso. – A menos que tenha outro.

– Tem Mickey Mouse, óbvio – o deus grego zombou, voltando a se concentrar na trilha que seguiam. Estava escurecendo, logo não teriam mais o que explorar naquele lado da floresta. Hermes indicou com animação e se agachou para ver melhor. – Vejam cogumelos azuis. Quem quer adivinhar como ficaram assim, hm?

– Hm.. temperatura – Acônito respondeu, sabiamente, mas Hermes riu e balançou freneticamente o indicador, a bruxa psíquica fechou a expressão, queria socá-lo novamente ali na frente de todos, mas não, preferiu desafiá-lo a responder sua própria pergunta. Cruzou os braços. – Diga então. 

– O Seth espirrou aqui, é claro – Hermes levanta com seu sorriso orgulhoso e coloca as mãos na cintura. – Você não sabia? Ele é azul por dentro. 

– Conta outra – Antony não acreditava na história ridícula. – A florzinha tem razão, é a temperatura – ele não sabia na verdade, mas queria estar do lado dela nessa. 

– Você pode provar? – Hermes ficou cara a cara com o lobisomem. 

– Não temos uma trilha para seguir? cof cof – Freya tossiu falsamente, relembrando o tutor. Quando o mesmo deu as costas e seguiu em frente, ela se virou para Antony e Acônito e sussurrou: – Não sei o que é, mas tem algo muito errado aqui. É como se ele estivesse o tempo todo querendo nos humilhar.

– Espera, deixa eu pensar – Antony encarou o teto, a resposta na ponta da língua. – Ah, é! Ele é um babaca!

– Shh! – Freya chiou. – Não. Na festa de boas vindas ele foi legal. 

– Com você, Frey – Connie reforça, incomodada, como se as vozes em sua cabeça já não tivessem lhe dando trabalho agora tinha Hermes em seu pé. Porém, o tom da elfa dizia muito e ela não podia ignorá-lo. – Se você está dizendo.. – um conhecimento em sua voz, também um carinho familiar. – Vamos ficar de olho nele e ficar distante também, senão sabe se lá quem será a vítima da vez. 

– Espero que não seja nenhum de nós, ouviram? – Antony resmungou, andando. Qualquer coisa que estivesse incomodando Hermes, podia ser até piolho, para Tony não justificava a maneira de como estava os tratando. 

Jaden escuta silenciosamente a conversa se desenrolar. Não era tão próximo do grupo, mas ouvir Hermes citar “espirro” e “Seth” na mesma frase o faz relembrar o episódio do Forninho da La Voisin. Ele sente que eles precisam saber, mas não quer bancar o fofoqueiro, não quando se tratava do diretor do acampamento, ainda mais quando não tinha certeza de que havia algo realmente estranho acontecendo com o mesmo. Seu coração dizia que sim, mas sua mente pedia mais informações. Jaden estava curioso e prometeu a si mesmo visitar o diretor para dar fim a sua preocupação. Inspira e expira profundamente, como que para colocar os pensamentos em ordem. E quem percebe é Rex Diehl que brinca ao seu lado. 

– Florestas te deixam nervoso? 

– Q-q-que? – Jaden gagueja, estranhando a súbita pergunta. – N-não. Estava p-pensando – ele evita manter contato pessoal, acredita que se fizer irá contar o que o perturbava tanto. – A-aqui é bo-bonito.

– Não é o meu tipo de ambiente favorito – Rex comenta, encarando o céu alaranjado. – Quando a gente montar as barracas e os sacos de dormir, o que vai fazer primeiro? 

– D-d-deitar – Jaden respondeu, enfiando as mãos trêmulas nos bolsos. Acampar abria uma lista imensa para os seus temores: aranhas, cobras, insetos gigantes, galhos se quebrando à noite sozinhos, histórias de terror e o que sua mente fertil mais podia imaginar. Não era divertido acampar para pessoas como ele ou Charlie, medrosas. Na verdade, Jaden andou observando, até mesmo Charlie parecia estar mais sossegado que ele, o que provocou uma certa vontade de perguntar qual era a receita da coragem. – N-não te-tenho criati-tividade pa-para contar histó-tórias. 

– Hm.. – Rex permaneceu em silêncio sobre o suposto motivo. O medo de Jaden era evidente em seus cortes frenéticos na fala. Rex colocou seu melhor sorriso no rosto, levou a mão ao ombro de Jaden e falou: – Fica perto de mim que eu te protejo. 

– Pro-proteje? – suas bochechas passam do tom rosáceo para o vermelho em segundos. 

– Claro. Sua sorte é que nunca me viu lutando com uma cascavel – aquilo nunca aconteceu, mas se mentir convincentemente pudesse acalmar Jaden, por que não? 

– Lembrando que não é para pisar nesses círculos de fadas, estenderam? – Hermes exclamou de longe. 

A caminhada seguia mais para dentro da floresta, anéis de fadas e placas de “não pise” estavam espalhados por toda parte, curvando-se e balançando enquanto os campistas contornavam. Antony passou por um anel de fada grande o suficiente para cercar seu corpo e se jogou bem no meio dele. Ignorando completamente qualquer instrução do loiro. Ele deixou a terra macia afundar debaixo dele. Seus dedos tocaram a pele no topo dos cogumelos antes de gritar: 

– Eu, rei Antony Barelli de Terabitia, estou aqui para oferecer paz e prosperidade a esse lugar em seu momento de mais necessidade – sua voz ecoou por entre as árvores, correndo desenfreada com o vento até que o silêncio caiu. Agora, o silêncio era algo a que Antony estava acostumado, mas esse silêncio era diferente. O silêncio era ensurdecedor; algo dentro daquele silêncio gritava, mas só estava lá para quem estivesse realmente ouvindo.

Lentamente, Antony se levantou e ao dar um passo à frente, ouviu uma voz:

– Onde pensa que vai, invasor? 

Por alguns momentos, Antony não entendeu. Desceu os olhos e percebeu a criatura. Ele esfregou os olhos, não querendo acreditar no que estava diante dele, mas sua imaginação não correu solta, esta criatura era muito real. Um sapo com físico humano, sob as duas patas e com lanças. Dois sapos, então três e quatro, até que Antony notara que estava cercado por quinze deles. Eles, cada vez mais perto, mantiveram suas lanças pontiagudas. Recuou e foi espetado no tornozelo. 

– Ai!! – ele deu um saltinho para frente e foi espetado de novo. – Droga! Para – se perguntou o que deveria fazer para assustar aqueles sapos e afastá-los. Seu pensamento foi interrompido pelo silêncio. Poeira dourada desceu sob sua cabeça e o som do bater de asas sobressaiu os sapos rabugentos, irradiando por entre as árvores, pequenas fadas. 

– Oh.. que lindo – estupefato de admiração, Tony observou a fadinha se aproximar. – Você é uma fada..? 

– Sim – ela sorriu. – Eu sou – afirmou, porém a expressão dela se fechou e pó de fada foi lançada no rosto de Tony consecutivamente. – Joguem nele, garotas! – ela deu a ordem e o lobisomem foi cercado por mais sapos e mais fadas de todos os lados. 

 * * * 

Kione prova uma colherada do pote de sorvete de chocolate, salpicado de marshmallows e calda de caramelo, sem tirar os olhos da televisão. Enquanto o diálogo se faz entre a turma e o namorado de Stuck, o surfista Manu, Seth e Kione trocam alguns palpites de quem poderia ser o vilão da vez. Seth aposta em Manu, de acordo com ele “a arrogância e sua ambição são coisas que desagradam, fora que ele parece um ator nato”, não quis usar a palavra mentiroso, não queria soar tão acusatório do que já estava. Kione, por enquanto, suspeitava da prefeita, afinal ela não parecia tão cética nos espíritos maldosos ou no sequestro da Stuck, mas somente em agradar os visitantes da ilha. 

O filme passa. A intenção dos espíritos wiki tiki de destruir a competição de surfe parece pessoal. Por que a competição? O que os espíritos ganhariam com isso? As perguntas reforçam a aposta de Seth de que Manu pode estar por trás do ato. Alguém precisa descobrir a ligação do surfe com os espíritos e Daphne se disponibiliza. Ela acende em Kione o interesse por surfe.

– Você sabe surfar? – ela sussurrou para não atrapalhar as vozes da tv. 

– Sim – murmurou. Isso a surpreendeu. E também o sorriso que se estampou no rosto dele. Onde será que ele aprendeu? e como aprendeu?, Kione indagou-se. – Mais tarde eu te conto. 

A atenção voltou para a tela quando um enorme monstro wiki tiki surgiu de trás de uma onda, perseguindo Scooby e Salsicha. A dupla era tão atrapalhada, isso eventualmente dificultava na solução do mistério, mas não era algo que enfurecia a turma. Gallard soprou um riso e Kione cobriu a boca algumas vezes para conter-se. O vilão foge depois de levar uma “surra” das ondas. 

* * * 

ESGOTO (Local desconhecido)

Seus olhos vermelhos se adaptaram conforme avançava naquele buraco de imensa escuridão, então de repente, o ambiente clareou naquela parte do túnel. Vlad imaginou ser a luz de um dos bueiros da cidade, no entanto não era luz da superfície, era como se fosse o tom do musgo, um pouco mais para o preto.

Drácula estranhou. Não pela cor, mas porque não tinha som ou ruídos da cidade, nem carros ou vozes. 

Decidido, transformou-se em uma nuvem escura de morcegos e tentou ultrapassar a tampa do bueiro, mas  sentiu-se puxado para baixo como se a gravidade colossal exercida por algum encanto o atraísse para o chão, consecutivamente sendo devolvido ao chão com grosseria de volta a forma humana. 

Blesteme!!!, mergeți la naiba nenorociților – o Rei da Valáquia xingou e amaldiçoou em romeno, sua língua materna sem paciência para manter sua voz no idioma moderno. Não tinha como estar mais irritado que estava agora, molhado de água de excremento e se sentindo trancafiado feito um animal selvagem. 

O acesso de raiva de Vlad durou um minuto até o conde se acalmar, ele se ergueu e olhou ao redor. Extremo silêncio, exceto por grunhidos dos corpos presos às paredes apodrecidas de lodo. Encarou as pessoas, seus rostos familiares, embora desfigurados, trouxeram as certezas para as dúvidas do vampiro. Aquelas eram as mesmas pessoas do início do túnel. Aquele era o mesmo túnel. Não era para estar ali. Recordou-se dos seus passos, de todos eles precisamente. Não virou a esquerda ou direita. Não houve mais portões em frente depois daquele que ultrapassou ao matar Thierry. Não tinha como andar em frente e acabar no início, exceto por… 

– Magia – disse com repulsa, estava no mundo tempo o suficiente para reconhecer o quanto magia podia ser algo impertinente. – Maldição, Seth. Quando eu retornar, irei arrancar seus olhos. 

Dado alguns passos à frente, o mesmo cheiro morno e fétido preencheu seu nariz. Alucard chegou perto do primeiro portão. O corpo que era para estar ali não estava. Abaixou-se e verificou a água, procurando qualquer pedaço de pele que pudesse ter arrancado de Thierry. Não encontrou nada.

Hesitante, agarrou o celular e discou o número de Gallard. Reportaria o seu estado. Diria que estava preso em um loop temporal e que, ao chegar no acampamento, arrancaria um punhado de cabelos da cabeça do bruxo por fazê-lo passar por isso. A ligação persiste e finalmente a voz soa por trás da linha: “Alô? Você a encontrou? Está tudo bem?”

– Eu vou matar você – Alucard começa, porém é interrompido pela fala continuada do amigo.

“Francamente? Eu não sei o quanto ela pode ter mudado”, Alucard percebe a partir desta frase que o aparelho celular também estava supostamente sendo afetado pelo loop. As mesmas frases que foram entregues assim que pisou naquele maldito esgoto estavam sendo ditas. Gallard, portanto não parou: “Como está a colaboração do Thierry?”.

Alucard não espera. Desliga o celular e encara as horas. 14h28. Horas congeladas ou seja tudo e todos dentro do bueiro estavam parados no tempo. Mais informações foram captadas pelo cérebro do vampiro. Nemesis não podia parar o tempo, nem qualquer outra criatura mágica, exceto um mago do tempo, levando-o a concluir que esse era o parceiro misterioso. Porém, Vlad teve a impressão que o mago do tempo só se deixou descobrir pois tinha certeza que ele nunca sairia da sua armadilha. E essa não é uma boa notícia.

Se continuasse o caminho.. se ultrapassasse mais uma vez o portão, seguiria em frente e cairia no mesmo lugar. A única opção que restava era consultar aquelas almas perdidas, afinal estavam ali por alguém, certamente não por Nemesis. Ela não é capaz, é o que ele pensava. 

Próximos às almas condenadas, ele as analisa bem. A disposição da maioria revelava o desejo de fuga em cada um até o momento da sua captura. Muitos mutilados ainda sangram e se movem na tentativa vã de escapar das raízes. Seja quem fosse o artista da obra, tinha a admiração oculta de Vlad. Sua meta era voltar ao acampamento e aplicar com os campistas desobedientes. 

Recuperou o foco. Estendeu a mão e grudou ao rosto cavernoso de um dos prisioneiros, transferindo um pouco de vitalidade. O homem sugou o ar para dentro dos pulmões e tossiu secamente. Alucard não precisou emitir uma palavra. O prisioneiro pareceu ouvir seus pensamentos. O vampiro olhou no fundo dos olhos opacos. 

– Um homem – arfava, inspirando e expirando como um bicho acuado. Rosnava baixinho. – Ouvi ela dizendo o nome.. – balbuciou. – O nome… o nome… o nome… 

O cadáver parecia mais um disco de vinil arranhado e quando sua boca abriu mais do que humanamente era possível, Vlad interrompeu a aproximação, fazendo uma careta de surpresa, dando alguns passos e afastando-se. Não eram efeitos dos seus poderes. Tinha mais alguém ali. O conde continuou encarando-o e num instante os olhos do homem voltaram ao profundo verde escuro. 

Estava pronto para virar na direção da presença quando, inesperadamente, como todo aquele pesadelo começou, podia jurar que ouviu um sussurrar em sua mente, um toque de um velho amigo, bem lá dentro de sua cabeça.

– Walter…

* * *

Os campistas contornaram as árvores cobertas de musgo e pisaram levemente sobre raízes nodosas que se estendiam sob seus pés como dedos velhos. Os pés de Freya cobertos de lama afundaram na terra úmida quando ela começou a se aventurar para frente, parando de vez em quando para sacudir a terra dos sapatos e para ouvir Hermes:

– Há algumas maneiras de salvar alguém do feitiço causados pelos anéis de fadas: dizem que manjerona silvestre e tomilho desorientam as fadas. Ah, e não pense que fadas são apenas boazinhas. Vigas de metal como vergalhões, por exemplo, são eficientes ao ajudar alguém a sair do círculo caso fique preso, e em alguns lugares dizem que galhos de uma árvore Oriental chamada Sorbus causam o mesmo efeito – o peito estufado, Hermes apontou o polegar para o peito e falou: – Posso ser da mitologia grega, mas entendo bem a mitologia nórdica. 

– Na verdade é celta – tinha algo em corrigir Hermes que a satisfazia Acônito. – E você estava lendo alguma coisa antes de começar a falar dos anéis de fada, não é, Tony? – olhou para trás, esperando que Tony estivesse rindo como ela, porém franziu as sobrancelhas, não tinha risos, nem rosnares. – Frey, ou Tony virou uma estátua ou ele sumiu. 

– O que? – ela virou-se, sem sinal do lobisomem. – Ele estava atrás de mim. Não está lá na frente? 

– Aqui com a gente não – Ivan disse. 

– Hermes, o Antony sumiu – Charlie avisou, preocupado em como o deus grego ia reagir, no entanto sua resposta foi um joguinho de ombros. – Hermes! O Antony sumiu! – repetiu, aproximando-se. – Devemos voltar e procurá-lo. 

– Qual é, Charles! – Hermes abanou o ar, dispensando preocupações. – Pare de exagerar. Ele deve ter voltado para o acampamento. 

– Ou ele pode ter caído em uma dessas armadilhas de fadas que você falou – Ivan se manifestou, se colocando ao lado do jovem bruxo. – Quais são as chances, não é? Alguém como o Antony.. burrinho e .. – olhou para Acônito pedindo perdão com os olhos. – sonso só pode ter tropeçado em um desses. 

– Você tem razão, exceto pela parte do “burrinho”, na próxima não suaviza. Antony é sem-cérebro mesmo – Hermes refletiu com a mão no queixo. – Vamos voltar para procurá-lo. 

O loiro cacheado ajeitou a mochila e o seus equipamentos passando entre os campistas que abriam espaço. Ivan engoliu seco quando Acônito veio em sua direção, achando que receberia um tapa ou um xingamento. Sua atitude o surpreendeu. A bruxa sorriu e empurrou com o ombro. 

– Psicologia reversa. Boa. 

– Não acha que eu exagerei? – arqueou a sobrancelha, devolvendo o sorriso.

– Nem um pouco, eu chamaria o Tony de mula sem cabeça. 

– Anton! – grita Hermes com as mãos ao redor da boca. – Anton! – grita novamente o máximo que consegue sem fazer escândalo. – Vem cá, seu bando de preguiçosos, porque só eu estou gritando? 

– Porque você não pediu? – Freya soprou um riso. – Tony! Cadê você? 

– Tony! – gritou Acônito. – Tony! Que saco! Eu estava começando a gostar da ideia de acampar. Okay, talvez, eu consiga achá-lo com os meus poderes, mas preciso de silêncio.

– Por que não disse antes? – Hermes bateu as mãos nas pernas, desacreditado que estavam perdendo tempo até agora. – Cala a boca todo mundo! – ordenou quando ninguém estava falando. – E se possível segurem a respiração, dizem que isso atrapalha os bruxos psíquicos. 

– Mas vamos ficar sem..

– Segura a respiração e cala a boca! – Hermes berrou, cobrindo seu nariz e boca com a palma da mão e assentindo para Acônito prosseguir com seu plano de rastreio. 

A garota deu uma última olhada. Tem muita gente aqui. Suas sobrancelhas mexeram conforme o pensamento. Odiava que as pessoas olhassem para ela, sentindo que de alguma forma podiam ver que ela era estúpida e não sabia o que estava fazendo. Realmente, ela nunca tentou, mas isso não fazia dela uma estúpida, mas uma novata naquele encanto e como ela sempre dizia: “tudo sempre tem uma primeira vez”. Desta vez, ela estava transbordando de confiança. Fechou os olhos e se concentrou. 

Visualize a energia. Imagine-se o encontrando. Permita que sua visão viaje livremente, explorando o plano como achar melhor. As vozes na sua cabeça a instruíram, eram palavras reconfortantes que Acônito seguiria sem hesitação, se não gerassem um nó no seu estômago. 

Ela meditou e visualizou a floresta o máximo que pôde até que, finalmente, uma sensação de formigamento fez cócegas na ponta dos dedos de sua mão esquerda. Espalhou-se lenta mas consistentemente. Ela quase atribuiu isso à mão adormecendo e quase sacudiu os dedos para se livrar da dormência, mas então … ela sentiu uma estranha sensação de distanciamento de seu braço inteiramente, como se estivesse pairando logo acima dela.

Estava preparada. As íris brilharam em amarelo. Então moveu agilmente as mãos para o alto e lançou para longe o que estava acima dela. A sensação repentinamente parou de se espalhar e a “coisa” caiu nos arbustos. Foi uma mudança tão abrupta que ela abriu os olhos e olhou em volta. Somente quando escutou a gargalhada de Hermes que soube estar de volta. 

– Hahaha! O que aconteceu com você, Anton? – Hermes indagou, engasgando de tanto rir. – Por que está com esses sapos todos? Não me diga que você passou de rei de terabithia para rei dos sapos.

– Vai se ferrar! – Antony reergueu-se, arrancando um sapo da sua cabeça e o atirando na terra. – Eu caí em um desses círculos, porque você não avisou sobre eles?

– Eu avisei – Hermes fez um muxoxo. 

– Você tá bem? – Freya perguntou depois de ajudar a bruxa a se sentar em uma rocha ali perto. Ela soltou uma rajada de ar irritada. – Hermes! Para de rir e me dá o seu cantil de água! 

– Estou bem, Frey – Acônito responde, estica a cabeça para enxergar o lobisomem, os sapos pareciam surgir de dentro das suas roupas, inacabáveis. – Tony, você está bem? Tem muito sapo – não pode evitar uma careta, os sapos não eram os bichos mais bonitos da natureza.

– Dá pra chamar de Sapoman – Hermes engasga e perde o ar. Ivan dá tapas grosseiros em suas costas e começa a rir, descontroladamente. – Alguém explica para o Anton enquanto eu recupero o ar, por favor.

– É.. – Jaden tenta. 

– Você não, Taylor. Se for você, vamos ficar aqui até anoitecer – Hermes implica, aponta para Charlie que estremece ao seu escolhido. – Charles, vai. 

– Eh.. – Charlie sente o mundo diminuindo repentinamente, era esse o mundo das pessoas colocadas no centro? Se sim, me tire daqui. Olhou para Ivan, suplicando por resgate e este não respondeu aos sinais corretamente, não antes de Rex se pronunciar:

– Os anéis de fadas estão associados a portais mágicos entre o reino dos humanos e os reinos dos elfos, dos duendes ou das fadas. Podem ser sinais de boa sorte, em outros, todavia, podem atrair extrema má sorte, por isso as pessoas preferem não arriscar – Rex explicava com as mãos nos bolsos, inclinava-se para frente e para trás na ponta dos pés. – Umas das inúmeras possibilidades péssimas que podem acontecer caso alguém entre no círculo de um dos anéis de fadas são: Ter um olho arrancado; Se tornar invisível e ser preso dentro do círculo para sempre, ser amaldiçoado com um ataque de inúmeros sapos que protegem o círculo, até mesmo morte precoce. 

– Explicou bem, Diehl – o loiro parabenizou. 

– O Antony vai morrer? – Ivan exclamou altamente, juntando as mãos ao couro cabeludo. – O que fazemos?! Podemos evitar?!

– Ele não vai morrer! – Hermes gritou, puxando Ivan pelo colarinho da camisa. – Mas se morrer, enterraremos o corpo aqui e inventamos alguma história de sumiço repentino. Esse emprego é importante pra mim, Anton. Foi mal. 

– V-v-você es-está bri-brincando? – Jaden não tinha mais certeza de nada, Hermes e sua expressão sádica eram suficientes para amedrontá-lo. – V-vai enterrar e-e-ele a-aqui? 

– Jaden, tem razão, porque aqui? Enterre ele em um lugar bonito – Rex piorou a situação.

– Eu não vou morrer! – Tony rebateu, arremessando um dos sapos no rosto do deus grego. – Minhas roupas estão lotadas de sapos, isso não significa que eu vou morrer. Arqueira, florzinha, me ajudam aqui, vai. 

– Acho que o Tony tem razão – Freya começou, braços cruzados, impaciente com o dramatismo do grupo. – Uma das maldições é ser atacado por sapos, talvez aconteça por etapas essa coisa de morte mas..

– Deuses! Eu não vou morrer! – Tony insistiu, irritado. – E você é uma péssima defensora. 

– O que eu posso fazer? Ainda não me formei na universidade de direito. 

– Vocês estão esquecendo que essa lenda de fadas diz que todo aquele que encontrar um anel de fadas na específica noite e fizer um pedido, será atendido – Acônito recobrou e encerrou com um estalar de dedos. – Posso ter feito um pedido enquanto procurava por ele e agora são 18h56. É a minha teoria. Pode ter dado certo. 

– É o que eu ia falar – Hermes disse, dando as costas. 

– É nada – Tony revirou os olhos. 

– Vocês adoram enrolar, né? Quando a gente chegar no “x” já vai estar escuro. Vamos continuar com a trilha ou vocês preferem estudar a anatomia do Sapoman

* * * 

A turma está dentro de uma caverna à procura de Manu, que foi sequestrado como Stuck. Precisam resgatá-los antes que os espíritos wiki tiki os sacrifiquem lançando-os na lava do vulcão. A pergunta entregue por Fred: “Se os wiki tiki odeiam turistas, por que não pegar sacrificar um de nós?”, gera mais dúvidas. 

Não era a prefeita, Kione supõe. Seth tem razão, pode ser o Manu. Mas ao fundo da caverna, no coração do vulcão pulanana, a turma descobre um túnel com controles. Revelando que os espíritos wiki tiki na verdade eram robôs. A turma do Scooby Doo retorna à praia com um plano. A competição de surfe começa, o palco perfeito para o grande monstro wiki tiki. E como previsto, o monstro aparece, derrubando todos os surfistas pelo caminho, implacável. 

– Sabe quem mais surfa bem desse jeito? – Seth pergunta, Kione já sabe a resposta: Manu. 

A turma se esforça para desmascarar o vilão. Kione se surpreende que conseguem se movimentar tão bem em cima de uma prancha no mar. Então ele cai, derrotado, finalmente e a multidão na praia aplaude. Kione sente os batimentos aumentarem.

“E a pergunta é quem é o wiki tiki?”, Velma indaga e Fred opina: “Pois pra mim é Ruben Laluna”. Todos dão seus palpites. Seth e Kione se entreolham algumas suposições são bestas, sem sentido. Velma toma a frente dizendo que todos estão enganados, Kione percebe a inclinação da coluna de Seth, os olhos em admiração silenciosa. “Vocês perceberam que o wiki tiki surfava muito bem?”, Velma ressalta. “E quem é o melhor surfista dessa competição?”, então ela puxa a máscara, revelando:

“Manu?!”, a turma se surpreende ao mesmo tempo. Seth comemora e depois recompõe a pose. Kione parabeniza com palminhas, ele estava certo, era um grande detetive. Quando Stuck aparece na multidão e abraça Manu vestido de wiki tiki ninguém entende. “Manu, forjou seu sequestro para dar medo. Stuck é formada em engenharia de foguetes e robótica e os dois estavam trabalhando para espantar os moradores de hanahuna e comprar as terras a preço de abacaxi. Eu verifiquei o cartório pela internet e todas as propriedades vendidas recentemente foram compradas por Pamela ou Snuki”, Velma explica. 

“E o plano teria dado certo se não fosse esse enxeridos”, Manu resmunga. 

Seth revirou os olhos despercebidamente. Ele estava falando sério? Não tinha como uma fantasia de aparência boba podia enganar a turma? Como um disfarce quase o deixou impune dos seus crimes? Era como colocar óculos e bigode falsos. 

Coincidentemente, Kione sentiu um arrepio subir, pensava o mesmo, mas de maneira mais lúdica. Será que dá certo?, refletia em sua mente. Ela precisava tirar a prova. 

O filme desafiou suas expectativas, a revelação foi realmente muito boa. Quem diria que o melhor surfista da praia fosse o monstro mascarado? O filme se encerra com a câmera se aproximando do dogue alemão, o personagem favorito da platinada, e com sua fala final, que Kione acompanha: "Scooby-Scooby-Doo", diz o cão e ela em uníssono. Os créditos finais rolam pela tela com a trilha sonora principal do filme. 

Seth virou o rosto e suprimiu o sorriso.

– O que foi?

– Você disse Scooby-Scooby-Doo – a cada palavra sua, um riso escapando. – Desculpe, o que quis dizer é que foi adorável – pegou um pouco de chá de astrágalo com mel, apesar do seu estômago estar agitado. – O que achou do filme? 

– Quero assistir a sequência – Kione respondeu, provando mais alguns salgadinhos deliciosos. – Quando podemos assistir outro? – analisou-o discretamente, reunindo coragem para perguntar: – Você se sente bem?

– Hã?, Bem, eu não.. – ele assentiu e administrou um sorriso, mas então desviou o olhar. Era muito doloroso não dizer a verdade e muito doloroso dizer a verdade. – Estou com sono, só isso. Pode me fazer um favor? 

– Sim, qual? 

– Vou tirar um cochilo. Me acorde perceber algo fora do comum, como acampamento em chamas ou brigas, tudo bem? – com esforço, ele se levantou e usou magia para limpar a mesinha e lavar a louça acumulada. – Não fique acordada até tarde, amanhã é um novo dia – ele falou num tom suave de voz, ao mesmo tempo em que se dirigia até a escada. 

– Certo – Kione sorriu e desviou os olhos de Seth, tentando não mostrá-lo como ela estava desanimada e preocupada. – Até amanhã, Seth. 

Espera que os passos parem no andar de cima e a porta do quarto se feche para levantar e andar ligeiramente para dentro da biblioteca. Começaria sua pesquisa secreta agora. Curar seja lá o que estivesse acontecendo com o Seth. Porém, para encontrar ela tinha que entender o que estava acontecendo. Aciona o interruptor e as luzes se acendem, revelando as prateleiras de madeira lotadas dos livros. Repassa alguns dos sintomas em sua cabeça e verifica nas categorias organizadas dentro de uma pasta no notebook posto à mesa. O bruxo e classificação decimal de Dewey, cuja qual ordenava os livros dígito por dígito, dificultaria na procura. 

– Tudo bem, você consegue – disse a si mesmo. 

* * *

TRILHA DO MACACO

As árvores imponentes começaram a engoli-los ainda mais à medida que avançavam, a luz do sol desaparecia e os sons dos insetos tornava-se mais alto. Eles estavam chegando ao topo da encosta, onde o terreno tornava-se plano. Hermes parou na área íngreme para esperar os campistas. 

– Um comentário – disse, apontando para a superfície azul do lago lá embaixo, cuja era somente vista pois os troncos daquela região haviam sido cortados. – Se algum dia sair para caçar ou pegar frutinhas no caso do Charles, não ceda à tentação de parar em um lugar como este, seja para apreciar a paisagem, seja para ter uma visão melhor do terreno. Imagine como somos vistos agora por um animal na floresta, recortados como estamos contra a luz. Dá para nos ver a quilômetros. A menos que vocês queiram ser devorados por um urso.. aí não há o que eu possa fazer. 

Hermes continuou seguindo em frente, notificou que já estavam perto de chegar no local de acampar, mas a situação estava tão drástica que Charlie estava sendo carregado por Ivan, Antony estava transpirando de tanto calor, ou melhor, Antony estava transpirando sapos, porque a maldição ainda persistia. Já Acônito já não aguentava mais carregar um peso extra dentro da sua mochila, e não, não era equipamentos de acampar. 

– Psc! – a voz sussurrada veio de trás. – Já chegamos? 

– Acho que se a gente tivesse chegado não teria tanta movimentação aí atrás – Acônito sussurrou de volta com arrogância, estava cansada demais para forçar simpatia. Droga, ela parecia o Salém agora. – Fique quieto, senão alguém vai te descobrir. 

– Alguém já descobriu – Freya falou, ao lado dela. – O que ele faz aqui? 

– Ele que me incentivou a vir esse idiota – Acônito resmungou, puxando mais para cima a mochila pesada. – Ele deve ter comido uns 20 ratos para estar pesado desse jeito – Frey riu e Acônito a seguiu. 

– Eu não comi! – resmungou o gato dentro da mochila. 

– Shh – Acônito sacudiu a “bagagem”. – Bem.. era vir ou ficar na cabana amarela infestada por aqueles ratos da aula do tutor Killian. 

– Nossa, aquilo vai me dar pesadelos – Freya suspendeu as sobrancelhas, deixando claro que tinha esquecido do ocorrido. – Mas dou graças aos deuses por não ser algo ... pior. 

– O que pode ser pior que ratos? 

– Aranhas – respondeu lacónicamente. – Se algum dia, eu me deparar com um familiar aranha, eu vou congelar ou pisar em cima – tentou soar corajosa, mas não sabia exatamente como reagiria, aracnídeos já eram espertos por natureza, agora aracnídeos familiares soavam ameaçadores. Então, reforçou: – Pisar em cima.

Salém soltou alguns risinhos de dentro da mochila, Freya foi para trás de Acônito, fechou o punho e deu um soco, ouvindo em seguida um “ai”. Ela desatou o laço da mochila e puxou para destampar e ver como o felino estava ali dentro. 

– Você não está cozinhando dentro dessa mochila, não, Salém? – Frey indagou, encarando-o todo torto dentro do espaço. 

– O que você acha, orelhuda? – Salém exibiu os dentes pontudos e foi recompensado por mais um tabefe. – Puta que pariu! Você acha que é divertido ficar me batendo? Deixa só o Seth saber. 

– Acontece que ele me deixou supervisionando você, então digamos que se eu disser eu bati pra educar talvez ele aceite a minha versão – Freya sorriu. – Agora seja um bom gatinho ou bagagem. 

– Os dois – Acônito disse por cima do ombro. – O que me surpreende é que o Tony não sentiu o cheiro, talvez o anel de fada tenha afetado os outros sentidos dele. 

– Ou talvez ele seja um péssimo lobisomem – Salém respondeu. 

– Desculpa – sem querer uma risada breve escapou da elfa e um comentário jocoso: – É engraçado ver ele com esses sapos. 

– É – Acônito cerrou os lábios, frustrada com a aparência do garoto. – Eu estou me aguentando porque se eu disser algo, talvez ele se torne uma piada pelo resto do verão.

– Eu posso ver como ele está? – Salém perguntou com a voz abafada pela mochila fechada. – Prometo não rir, palavra de escoteiro.

– Como se você já tivesse sido escoteiro – Freya revira os olhos pela mentira deslavada. – Você tem cara de quem toca fogo no acampamento.

– Ironicamente, quem diz isso é logo você. Presta atenção, ô orelha de faca, eu fui o primeiro a chegar no acampamento, isso deve significar alguma coisa.

Freya olhou para Salém, depois para Acônito e mais uma vez para o gato que retrucou. Por um segundo, ela sorriu. Era o sorriso de alguém que imaginava uma cena particularmente engraçada e esperava para ver o inevitável resultado. Seus olhos púrpuros voltaram para a bruxa, esperando sua aprovação. 

– Pode mostrar. Quero ver qual vai ser a reação dele. 

Prestes a tirar o gato da mochila, Hermes exclamou, com um bater de palmas. Obrigando todos a pararem no topo da colina. 

– Vejam aqui! – ele chamou para observarem. – O que vocês acham? – perguntou. 

Ivan desceu Charlie dos ombros e os dois abaixaram-se ao lado dele. No solo macio à sombra de uma árvore, viu a marca de uma pata, uma pegada pequena e em forma de coração. 

– Um cervo? – Ivan arriscou, tentando conectar o que via com o que podia deduzir. 

– Óbvio que não! 

– Seth? – Freya arqueou a sobrancelha, mãos na cintura, finalmente entendendo a brincadeira. 

– Sim! Ponto pra Fly – o loiro se levanta, caminha mais um pouco e chama freneticamente com um movimento de “venha” com o braço. – Chegamos. Vamos, seus molengas! Subam!

Animados e esperançosos, pois sua jornada chegou ao fim, os campistas agilizam o passo, no entanto após chegar ao topo do que deveria ser o local do acampamento, todos ficam estáticos e analisam. As expressões de encantamento se convertem em confusão. A clareira era um depósito de minerais de pedras pequenas e pontudas. O vento sopra os cabelos de todos, Freya encara Hermes e rouba o mapa da sua mão, irritada. Corre os olhos pelos pontilhados vermelhos que seriam a trilha pela qual percorreram. Olhou para a direita e esticou o mapa na direção das montanhas e elevação das árvores, concluindo com um suspirar pesado.

– Escalamos o morro errado, cacete! Por isso eu deveria estar guiando o pessoal. 

– O Seth me colocou no comando, não você – Hermes revirou o rosto para a direita e cruzou os braços, não muito a fim de discussão. – Vamos acampar aqui. Jogamos um colchonete aqui um ali e pronto.

– N-n-não tro-trouxemos colchonetes – Jaden toma coragem para responder.

– A gente improvisa. Está anoitecendo – Hermes rebate. – Dorme um em cima do outro.

– Isso soou estranho – Tony murmurou com uma careta, aceitando finalmente os sapos sob sua cabeça. 

– Por isso é bom fazer planejamentos – Acônito bufou, sendo a primeira do grupo a avançar no terreno plano para começar a montar sua cabana. Estava exausta, não faria outra caminhada tão cedo. – Eu espero que amanhã a Frey assuma a liderança, Hermes. 

– Buff, só por cima do meu cadáver – o deus grego disse.

– Okay – Freya disse bem perto dele, aceitando o desafio com um sorriso estampado. 

 * * *

COVEN HEAVENLY OAK 

Após uma longa tarde averiguando a área, Ragnar retorna com seus aprendizes para o Coven Heavenly Oak. Ele não tinha a responsabilidade de ensiná-los, mas queria, porque só assim podia garantir que não cometeriam o mesmo erro que Aurora cometeu antes de ser morta por uma aberração desconhecida. 

– Voltem para seus quartos – disse Ragnar. – Amanhã avançaremos mais ao sul. Tenho mais coisas para ensinar sobre rastreamento e caçada.

Havia um sorriso pequeno em seu rosto que desvaneceu ao perceber Sophia confrontando-o com a testa franzida no semblante. Antes que perguntasse, ela começou a falar: 

– Ah, que bom que você chegou – disse ela, sem esconder a má vontade. – Ele está aqui novamente. Veio por Elinor desta vez. 

– Ofereceu algo para ele beber? – Ragnar indagou, retirando as botas e passando por Sophia que se estremeceu de raiva e perplexidade. – Por que fica furiosa com a presença dele, hein? Ele é só um ser, como a gente. 

– Então é assim que você funciona? Você não o conhece bem nem confia nele, mas se não apresenta ameaça para o coven, você o trata bem e o alimenta? 

– Ele por acaso já te ameaçou? – Ragnar rosna, detestava as intervenções estúpidas vindas da loira. 

– Não. 

– Matou alguém da sua família a sangue frio? 

– Não! – Sophia diz alto. – Mas isso.. – a voz de sumiu por um momento. – Isso é..

– Isso é estupidez sua! – Ragnar grita e inclina mais para perto do rosto dela, e pelo tom aquele não era um pedido. – Pare de bancar a resmungona e larga o pé do cara, porra.

Trouxe sua atenção de volta para a entrada do corredor. Encontrou alguns membros do coven e os cumprimentou rapidamente até finalmente chegarem à entrada da sala de estar. Ragnar empurrou a porta deslizante para a direita. 

– Assim, querido – uma voz rouca instruiu, na voz reconhecia até o mais distante, o timbre doce e aveludado tom.

– Assim? 

A cena que viram era a Sra. Kyteler, a primeira bruxa a ser condenada à fogueira, sentada na cadeira de rodas, perto da janela, suas agulhas de tricô que se mexiam em ritmo frenético. O clique-clique se sobrepunhando ao chiado do fogo e o Grande Líder com seu rosto escondido por uma máscara também com agulhas de tricô, sentando em posição de lótus, supostamente atraindo pela a aprendizagem. 

– Muito ameaçador, Sophia – Ragnar disse, rindo sarcasticamente. Segundos se passaram e nenhum dos dois parece notar sua presença, portanto o lobisomem pigarreia, ganhando a atenção de ambos. – Ofereceram algo para você? 

– Apenas olhares desconfiados, tal como sua parceira está fazendo. 

– Você sabe o quanto um coven pode ser hostil quando compreende o que está sendo tirado dele. Tem sorte por não estarem arremessando dardos em uma foto sua – Ragnar diz.

– Que lisonjeiro – abaixa os olhos e se permite sorrir. 

– Sophia – o Ibrahimovic encara a loira e pede: – Traga uísque escôces, leve a Sra. Kyteler de volta ao quarto e prepare Elinor para partir. 

Sophia ultrapassa a linha entre o corredor para dentro do quarto, olha de relance para o mascarado enquanto o mesmo presta uma reverência a senhora de idade.

– Esse jovem é tão bonito, Rag – disse a senhora na cadeira de rodas. 

– Ele utiliza uma máscara, como pode saber? Talvez ele tenha o rosto todo descamado.

– Trate-o bem, seu abestalhado – olhou para trás, e a expressão em seu rosto seria capaz de azedar o leite. 

Os lábios de Ragnar se apertaram no esforço para conter uma resposta. Sophia e a senhora sumiram do campo de visão, então ele fechou a porta e se acomodou no chão, a frente a mesa de perna curta. 

– Como consegue ser adorável sem precisar usar lacinho, hein? 

– Pretendo ser direto com você, alto sacerdote Ibrahimovic, para isso preciso que confie em mim e não tome minha palavra como uma posição rival, mas a opinião de alguém que deseja o que é melhor para todos – dizia com respeito, o que poucos na terra tinham a despretensão de fazê-lo, ainda sim Ragnar estava soprando alguns ar de riso. Porém, a próxima fala o calou de maneira que nunca tinha sido capaz, esta foi: – Sua parceira, Sophia Warlock é uma traidora. 

– Como? – inquiriu engasgado com o próprio ar. Ragnar inclina-se como para abafar ainda mais o som daquela conversa. – No que exatamente se baseia essa sua teoria, hm? Você nem ao menos vive aqui, cacete! e já vem dando opinião.  

– Acredite, quando se vive bastante, você começa a distinguir as intenções boas das ruins – o mascarado conta. 

Ragnar permaneceu quieto, se falasse agora sairia uma dúzia de palavrões enfurecidos. Ele sentiu que aquele era um ponto muito importante. Porque era! Franziu o cenho, cutucando as cutículas das mãos calejadas. Seu cérebro era como um relógio de pêndulo: matar ou não matar.

– Não deixe que os atos dela te afetem radicalmente. 

A julgar pela maneira como apoiava as mãos sobre a mesa, pronto para se levantar, Ragnar deduziu que a reunião já chegava ao fim. Sentiu-se como se viajasse em um trem que percorria trilhos predeterminados, e não havia como parar ou mudar de direção. Então, atacado por uma fúria violenta, ele agarrou o colarinho do Grande Líder e o trouxe mais para perto do seu rosto.

– Não me diga como reagir a situação, entendeu? – rosnou, nervoso,  mostrando dentes afiados. 

– Não encoste suas mãos em mim – diz calmamente, pressentindo a ferocidade do monstro mal-intencionado antes dele lhe agarrar, o mascarado tinha pressionada a carótida do Ibrahimovic, uma lâmina. 

– Vocês, bruxos nobres, são todos iguais.

– A única coisa que o difere de mim, é sangue de lobisomem. Pense em um exemplo melhor – o mascarado retira a lâmina do pescoço de Ragnar e abaixa até a mesa, espera que ele faça o mesmo e quando o faz, ajeita as vestes. – Não compartilhe essa informação com ninguém nem mesmo com o Seth Gallard. 

– Foda-se aquele nerd e questões do futuro não é problema meu – Ragnar encarou a parede à direita, mostrando sua falta de interesse. A madeira explodiu em um estrondo alto ocasionado pelo pé do mascarado e seus olhos flamejantes focaram no máscara de coruja. 

– Essas questões do futuro serão problema seu se intervir no destino dos pilares. 

– Pilares, buff – Ragnar zombou. – Sophia me contou que o seu pilar idiota veio de outro tempo, é por isso que você está preocupado? Está com medo de que uma garota ignorante estrague as coisas? Você deve ganhar muito bem por esse seu servicinho de merda. Eu já teria pulado fora.

– Precisa viver mais, Ragnar – o mascarado ousa usar o primeiro nome e antes que Ragnar se levantasse, ele acerta o pé no chão e ergue uma parede maciça de terra, impedindo o lobisomem de lhe acertar com um soco que certamente destruiria sua máscara. 

 – Estou atrapalhando alguma coisa? – Sophia perguntou, parada na entrada da sala com os dois copos de uísque escôces na bandeja. – Devo contra-atacar? 

A sala cai sobre um silêncio desconfortante, a parede de terra é devolvida ao chão com um gesto do bruxo nobre de sangue puro. Ele deixa as mãos livres, pronto para reagir a todo instante se a resposta de Ragnar não fosse o esperado. 

– Não – Ragnar responde. Prendendo o seu olhar a Sophia, mas não de maneira incriminatória para não causar suspeita. – Elinor está pronta? 

– Sim – diz a loira, tentando desvendar o que aconteceu em sua ausência. Não pôde segurar o mascarado por muito tempo. – Está esperando na entrada do coven. 

– Obrigado por me receber – o mascarado curva minimamente a coluna para prestar uma reverência rápida. – Enviarei o valor exato para pagar o prejuízo do assoalho. Nos vemos em breve. 

– Muito em breve, eu espero – Ragnar diz, misteriosamente. 

– Não quer o uísque? – Sophia estende, gentilmente, a bandeja. 

– Sim – o mascarado apanha o copo e segue para fora do quarto e mais tarde em direção a saída, porém não beberica uma gota sequer do uísque. 

Elinor esperava sentada no degrau do coven, encerrou o copo de chocolate quente e o abandonou no banco, ao perceber a movimentação do Grande Líder e o mesmo descendo as escadas, ela o seguiu rapidamente, caso contrário ele a deixaria para trás. A mulher se colocou em sua frente e o impediu de passar.

– Vai me levar até minha filha?

– É o que eu pretendo – respondeu, fechou um dos olhos para enxergar as bolas de ar dentro, procurando a substância. Só tinha um jeito de saber. – Aufdecken – recitou o encanto e movimentou sincronicamente os dedos por cima do copo, assim que o líquido tomou uma coloração negra, ele soube. Sophia Warlock tentou envenená-lo. 

– Isso.. – Elinor pestanejou. – De onde tirou isso? 

– Isso não lhe diz respeito, Srta. Chevalier – tentou dizer com educação, não foi isso que pareceu. Envergonhado, abaixou a cabeça. – Me perdoe. 

– Não tem problema, é mais um ogro na minha vida – ela entrelaçou seu braço no dele. – Vamos nos teletransporte, antes que o outro ogro venha. 

– Pode ser uma viagem dolorosa, por favor, prenda o fôlego. 

Elinor sugou o ar e o prendeu dentro dos pulmões. O teletransporte explodiu em um feixe de luz, clareando toda a floresta. Os dois desapareceram. 


Notas Finais


Até logo!!!


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