A SOCIEDADE SECRETA DE NEW HALL
Inglaterra, 06h00
Um coro era entoado pelos manifestantes reunidos na praça de protestos na qual se transformara a frente da Sociedade Secreta de New Hall, a atual sede de magia do governo inglês, localizada a quinze
quarteirões da residência do falecido Connor Wickham.
Da janela do segundo andar, Maxwell Coriander, o ministro do sobrenatural, observava a multidão em constante crescimento. Alguns rostos conhecidos, outros totalmente anônimos. Muitos reclamavam e o criticavam. Uma medalha de honra não consola uma família devastada. Todos sabiam. Porém era tudo que ele tinha a oferecer. Um funeral digno da bravura de Connor e condolências à família. Inevitavelmente sua morte deixou todos, sem exceção, em busca de respostas. E ele não tinha nenhuma.
Quem matou Connor Wickham? Foi um homicídio ou um mero acidente? Onde estava o tutor responsável? Onde estava Elikaiah Sinclair?. Todas aquelas perguntas.. eram tortura. Não eram apenas essas agora. Elinor Chevalier também morreu e sua morte não foi justificada pela The Magic Tarot.
Tomou um gole da garrafa d’água que o acompanhava havia algumas horas e soltou um pouco mais a gravata; o paletó fazia companhia para a poltrona da biblioteca desde a noite anterior. Deixou a água escorrer devagar pela garganta, torcendo para que levasse suas dúvidas para algum lugar distante. Embora não reclamasse da situação em que seu amigo estava envolvido, seu trabalho era defender tudo e todos. Gostava de ajudar e dormia todos os dias com orgulho de dedicar seu tempo a melhorar a vida daquelas pobres criaturas da Inglaterra. Queria se sentir daquela maneira novamente. Era difícil pensar em proteger quando as regras eram quebradas de forma tão abrupta. Precisava reencontrar razões.
E uma delas abriu a porta enquanto ele pensava. Ele só percebeu a presença da Grande Líder quando se colocou ao seu lado, braços atrás das costas, olhar determinado e disse:
– Eu o encontrei. Elikaiah Sinclair está nesta localização – Savannah indicou o tablet com o ponto vermelho no centro de um grande mapa verde escuro. – E.. – Savannah deslizou o dedo pelo tablet e com um olhar sisudo amedrontador, continuou: – Encontramos o coelho – era como estavam chamando o suspeito da destruição do apartamento e presumivelmente pela morte do Connor e mais de outras pessoas.
– Você é a melhor, Savannah – Max agradece. – Se eu pudesse estourar um champanhe, fazer de conta que nada aconteceu e que nossa praça não está tomada por manifestantes..
– Muita gente mesmo?
Ele apontou para a janela.
– E não param de chegar. Estão vindo em multidões. A manifestação começou hoje cedo. Um Blogueiro ou blogueira está panfletando mentiras sobre o Eli.
– Se ele estivesse aqui diria: “um youtuber é mais confiável que a palavra de um ministro” – Savannah disse, sem nenhuma sombra de sorriso. Ela entendia bem todos os seus colegas de trabalho, provavelmente fazia parte de estar em um setor que estudava o comportamento.
– Acha que ele ainda está com o Jason Barelli?
– Acho que ele tem um plano estúpido que vai arriscar a imagem e a vida dele – Savannah respondeu. – Teve notícias do Weinhardt? Soube que Sophia Warlock tentou envenená-lo, devemos mandar prendê-la?
– Não. Seria arriscado. Ele pediu para não interferirmos em nada nem contar a ninguém que a bruxa está viva – explicou. – Confio nele para resolver o que quer que seja o problema com a Lady Chevalier, a Ordem e a Warlock – tentou não exibir sua repulsa pela organização aliada e, especialmente pela bruxa do coven Heavenly Oak, falhou miseravelmente. – Tem notícias da Khaleesi?
– Não – Savannah respondeu sem expressões. – Posso dar uma lista do que você poderá fazer agora?
Maxwell se virou para ela e respondeu com a cabeça, esperando.
– Dê o depoimento para manifestação lá fora. Cuide do blogueiro e garanta que ele não espalhe mais fake news. Descanse uma, duas horas e retorne as ligações dos outros. Eles estão furiosos. Não se cobre tanto por não ter notícias o tempo todo. Khaleesi e Weinhardt sabem se cuidar – Savannah se dirigiu a saída, roubando a garrafa d’água. – Eu vou cuidar de encontrar o corvo de circo e o coelho. Pedirei para que tragam um chá de camomila – então saiu.
* * *
A ORDEM DOS ANTIGOS
Localização desconhecida
Elinor Chevalier abriu os olhos pesados. Da cama, ouviu o som de vozes do outro lado da grande porta de madeira que estava entreaberta. Tinha quase certeza que escutou a palavra “tempo” e “acampamento”. Por sorte não expressou em voz alta sua extrema curiosidade. A voz era mais suave, porém firme e Elinor pensou tê-la reconhecido. A dor de cabeça latejava atrás dos olhos enquanto as lembranças embaralhavam o subconsciente. A dor passaria, como sempre, mas, nos primeiros minutos depois de acordar, a sensação era de que cavalos com ferraduras de aço galopavam em seu cérebro.
Respirando fundo, piscou. O quarto estava escuro, com as cortinas fechadas. O ruído do aquecedor trespassando ar pelos registros abafava a conversa que rolava atrás da pesada porta de carvalho.
A conversa cessa. Um homem está chegando, mãos nos bolsos, um sorriso sincero no rosto. Tinha um cabelo loiro ondulado, na altura dos ombros. Sua estrutura esbelta não mostrava nenhum excesso de gordura, e seus olhos azuis reluziam com segurança.
– Como está se sentindo, Srta. Chevalier? – ele pergunta, educadamente com um aceno. – Você se lembra do que aconteceu?
Ela não quer responder nada daquilo, por isso fecha os olhos. Mas algo a faz olhá-lo bem. Não o reconhece e por isso o estranha, sendo uma bruxa vidente esperava que o visse ao menos em suas previsões, mas não, nada sabe sobre ele.
– Estou viva é o que importa – Elinor responde, sisuda e atenta. – Desculpa, mas, quem é você? e que lugar é esse?
– Weinhardt, de New Hall – fez uma pausa. – E esta é a Ordem dos Antigos.
– Você é da.. – sacudiu a cabeça e pareceu um tanto envergonhada pelo desrespeito: – Deuses.. Eu sou tão tola. Eu sinto muito.
Uma figura pequena preencheu um lado da porta. Era Dorothea. Sua filha correu em direção a ela e sem muito esforço, Elinor a pegou no colo. Abraçando-a e sussurrando nos cabelos dela palavras de amor e perdão. Elinor levantou os olhos lacrimejantes para o loiro e agradeceu baixinho.
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