Domingo às 23h40m
Florence se debatia freneticamente nos braços de seu tio Vincent, que com uma mão segurava o braço de Florence e com a outra tapava a boca da menina. Ele era muito forte e ela estava quase desistindo ao saber que ninguém a ouviria, ninguém a ajudaria no pior momento de sua vida. Estava doendo tanto, de todas as maneiras possíveis. Era o seu tio favorito, era a pessoa em quem mais confiava, era seu segundo pai. Florence, já ofegante e sem forças, se limitava a pressionar os olhos chorando e esperando que pudesse ficar pior. Se ele fora capaz de fazer isso, seria capaz de fazer qualquer coisa, inclusive matá-la e inventar uma história qualquer. E então isso foi o que lhe impulsionou a agir de forma a acabar com aquilo.
A loira, como num reflexo, puxou o braço direito que estava preso e agarrou um vaso que estava no criado mudo, batendo-o com força na cabeça de seu tio.
Aproveitando que o homem estava meio desnorteado, Florence saiu debaixo dele com certa dificuldade, correndo desesperada até a porta. Com as mãos trêmulas cheias de sangue e o coração batendo a mil, a menina com o vestido rasgado procurava pela chave da porta, orando para que seu tio não se virasse. Então ela finalmente a achou, e depois de alguns segundos tentando enfiar a chave no buraco, abriu a porta do quarto e correu para a porta da frente, que estava trancada. Não havia tempo para procurar a chave, Vincent já estava saindo do quarto com certa lentidão e uma feição claramente irritada. A garota escancarou a janela e pulou, torcendo o pé direito. Ainda assim, Florence não hesitou em fugir daquele lugar o mais depressa possível.
Infelizmente, àquela hora da noite, poucas casas estavam com as luzes acesas e não havia absolutamente ninguém na rua para quem ela pudesse recorrer. Além disso, Flora não queria socorro naquele bairro, onde todos eram amigos de seu tio e moravam próximos a ele, o que tornava muito mais fácil para ele resgatá-la.
Aos prantos, ela ainda se apressava mancando e olhando para trás com medo de seu tio segui-la com o carro. Ele sabia para onde ela queria ir, só não sabia o endereço.
Florence caminhava cambaleando pelos lugares mais escuros dos quarteirões e chorava silenciosamente para não deixar rastro. O que lhe ajudou foi o local da festa organizada por sua amiga: uma casa perto da casa de Merida, afinal, 8 blocos não pareciam distante para alguém que precisava de ajuda.
Rosto rosa de tanto chorar, respingos de sangue pela face, vestido rasgado na alça e na beirada cheia de sangue, pé manco, folhas do gramado pregadas dos joelhos aos pés, mãos com alguns cortes e completamente sujas de sangue. Foi assim que Florence apareceu na porta da casa.
Para se certificar de que não havia ninguém seguindo-a, menina checou sua volta antes de apertar a campainha. Assim, a menina que soluçava apertou a campainha e após alguns segundos a porta foi aberta. Merida estava alegre demais apoiada na porta para ver quem era, até que rapidamente se surpreendeu com estado de Florence.
A morena saiu de perto da porta e se aproximou da amiga, analisando-a e demonstrando preocupação ao encará-la olho a olho. De repente, a falante Merida não conseguia proferir uma palavra.
Olhando para o próprio corpo e em seguida olhando para Merida, Florence voltou a chorar intensamente e sussurrou a única coisa que conseguia:
–Me ajuda!
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