Em mais uma das viagens de sua mãe, Florence teve de ficar na casa de Merida. Há alguns dias vinha sentindo uns sintomas esquisitos que a deixavam fraca, e na casa da amiga foram-lhe oferecidos alguns remédios, mas Mei também achou melhor marcar uma consulta no médico. Quando ligaram, as palavras de Flora ficaram tão embaraçadas que a atendente do consultório achou que fosse um trote e desligou.
– Com quantos anos a gente começa a fazer isso sozinha? – As duas caíram na gargalhada. – Caramba, quero que minha mãe me leve ao médico e diga o que tá acontecendo comigo.
– Ah, pois eu vou me certificar de que ela não faça isso quando voltar, bonita. Toma vergonha nessa cara! Já está indo em bares, no mínimo também precisa ir ao médico sem acompanhante.
Por fim, conseguiram marcar a consulta já para terça-feira. No resto do sábado Florence não saiu de casa com Merida e à noite iniciaram uma maratona de filmes. Era mais de 3h da manhã quando viu que a amiga estava apagada ao seu lado, portanto achou melhor desligar a TV. Já não estava tão interessada naquele filme.
Com o sono custando a vir, a menina viu no celular uma solução para se entreter enquanto Merida dormia. Então o celular vibrou com uma notificação.
Henry: Isso é hora de criança estar dormindo.
Florence revirou os olhos e sorriu diante do que Henry tinha mandado a ela.
Florence: Tenho 19 anos!!! Não sou uma criança.
Henry: É sim.
Henry: Olha essa cara de bebê que você tem.
Henry continuava a escrever mensagens sem abreviar, sem mandar emoji, sem mandar figurinhas e sem rir, mas Florence já sabia quando ele estava sorrindo ao enviar alguma coisa.
E aquela era uma das ocasiões.
Florence: KKKKKKKKKKKKK eu te odeio!
Florence: Não estou conseguindo dormir, besta
Florence: E você, por que tá acordado uma hora dessas?
Florence: É hora de homem trabalhador estar na cama descansando
Henry lhe enviou uma selfie. As primeiras coisas que Florence reparou foram seus olhos azuis e sua barba. O homem apoiava o queixo em uma das mãos e tinha uma feição séria, mas com um leve ar de divertimento. Estava em sua sala no escritório e não tinha mais o paletó e nem a gravata vestindo-o, somente a camisa branca.
Henry: Preciso fazer jus ao adjetivo “trabalhador”.
Florence: Pai amado, que obra divina e soberana vinda dos deuses celestiais imaculados
Florence: Quem é esse seu amigo gato?
Florence: Me apresenta
Do outro lado da cidade, Henry balançou a cabeça e riu.
Vou te apresentar umas palmadas, menina, ele pensou. Contudo, não se julgava íntimo suficiente para mandar uma mensagem daquelas.
Henry: Está falando igual suas amigas atrás de mim.
Florence tapou a boca para não gargalhar.
Florence: É o Efeito Cavill, uma hora ou outra a gente acaba caindo
Florence: Mas enfim, você realmente tá trabalhando agora? Num sábado??? (sábado pq ainda não dormi kkk)
Henry: Estou.
Henry: Um cliente nosso nos deixou com uma puta dor de cabeça na última semana...
Florence: Esse ursão deve estar cansado :(
Henry: Ursão?
Florence: Sim
Florence: Você parece um urso, já te disseram isso?
Uma gargalhada alta ecoou na sala do Henry.
Essa garota tem cada ideia...
Henry: Só você para me fazer rir às 3h da manhã.
Florence: Bom que pelo menos você fica mais esperto pra trabalhar kkkkkkkkkkkk
Pensando em como continuaria a conversa, Henry logo tornou a mandar mensagem.
Henry: Mas e você, meu bem?
Henry: Está melhor?
Florence: Minha garganta tá coçando um pouco, talvez essa seja uma das razões de eu não ter conseguido dormir ainda :(
Florence: Mas acho que deu pra perceber que eu estou com sono, né kkkkkk
Florence: Conta uma história pra eu dormir? [emoji triste]
Alguns segundos depois o celular dela começou a vibrar com uma ligação.
Flora mordeu o lábio inferior e atendeu com um sorrisinho.
– Foi desse número que pediram um contador de histórias?
Mais uma vez ela teve de conter o riso.
– Henry! – O repreendeu quase num sussurro. – Você não pode me fazer rir, a Merida tá dormindo do meu lado.
– Tá bom, desculpa! – Ele sussurrou de uma forma divertida, mas logo voltou ao tom normal de sua voz, o grave que fazia qualquer um estremecer. – O que você quer que eu conte?
– Qualquer coisa. Amo a sua voz... – Henry sorriu ao ouvi-la admitir aquilo. – Poderia ser um bom narrador.
Ela apoiou a cabeça no travesseiro e colocou no viva-voz. Considerando o fato de que a amiga dormia feito morta enquanto o filme ainda estava passando na TV, ela provavelmente não se incomodaria com algumas frases trocadas com Henry. Só não podiam exagerar, como rir e acordar o resto da família.
Henry pensava na história que contaria.
Antes de começar, o advogado suspirou pesadamente.
– Havia um menino muito pobre em Los Angeles...
– Qual era o nome dele?
– Ele não tem nome.
– Como assim ele não tem nome? Você precisa dar nome a ele.
Derrotado, Henry murmurou um “tá”.
– William, então. William morava perto de uma praça, e um dia um garoto rico... – Henry pausou para pensar em outro nome. – Charlie, como se chamava, chegou lá com o brinquedo mais legal do mundo e deixou o Will brincar com ele. O menino estava encantado... Nada do que ele fazia no cotidiano se comparava às vezes em que Charlie aparecia na praça e o emprestava o brinquedo por alguns minutos que fossem.
Florence prestava atenção na história. Não fazia sentido com nada e não sabia de onde Henry estava tirando aquilo.
– Quando Charlie custava a aparecer pela praça, Will andava muito... muito, muito... só para ir à loja mais próxima de brinquedos e ver o seu desejo na vitrine – a voz de Henry soava distante, e Flora até pensou que ele talvez estivesse triste. – Ele ia lá sempre. Só pra ver o brinquedo, Florence. Nem que ele juntasse latinha por dez anos conseguiria comprá-lo. Aquilo não pertencia a ele, nem nunca pertenceria. – O homem suspirou. – E ainda assim ele se contentava em ir lá... mesmo sabendo que o brinquedo nunca seria dele.
Após o tom fúnebre com que Henry terminou a história, Florence estava quase lagrimando.
– Meu Deus, Henry, te pedi uma história pra dormir, não pra me fazer chorar! – Falou indignada.
– Desculpa... acho que também é o sono batendo por aqui.
Ela ficou calada por algum tempo, ainda pensando na história.
– Inventou isso agora?
– Sim.
Florence ficou ouvindo a respiração de Henry. Estava com mais sono, mas não o suficiente para desligar.
– Queria poder comprar o brinquedo pra esse menino – ela confessou. – Me parece martírio ficar indo a algum lugar só pra ver o que não pode ter.
Do outro lado da linha Henry riu fraco pelo nariz.
Ah, se você soubesse...
– Justin Bieber – do nada o homem ressuscitou o nome do cantor. – Ainda gosta dele?
– Gosto.
Henry suspirou.
– Já foi a um show dele?
– Sim, há uns três anos.
– Gostaria de namorar com ele?
Ela fez uma careta diante da pergunta repentina.
– Há um tempo eu gritaria “sim” escandalosamente se você me perguntasse isso – Florence riu. – Antes era meu sonho, né...
– Certo. Sendo o seu sonho namorar com ele e ainda assim você vai a um show. Somente um show. A cada três anos. Como você se sentiria ao final de cada show?
Florence sentiu seu peito apertar. Sabia como era aquela sensação.
Ela ficou em silêncio, triste.
– Eu choraria sabendo que só o veria periodicamente e que eu nunca passaria de uma fã pra ele... Mas com certeza eu iria ao próximo show.
Foi a vez de Henry rir.
– Viu? Você entende o menino pobre perfeitamente.
– Ai, droga, você me ganhou! – Os dois riram. – Isso é muito triste... Ainda bem que não sou mais tão idiota quanto antes, pelo menos agora o Justin terminaria o show dele e eu ficaria feliz. Coitado do Will.
Henry assentiu, ainda que Florence não pudesse vê-lo.
– Mas vamos fingir que eu comprei o brinquedo pra ele – Flora disse com a voz um pouco rouca. – Já que é uma história fictícia a gente pode ter um fim menos dramático, né?
Ela não ia desistir daquela história ter um bom final.
– Tá bom – Henry disse e ouviu Florence bocejar. – Se sente mais sonolenta?
– Sim...
– Então boa noite, flor. Se você piorar da febre e essas coisas, me liga, ok?
Ela deu um sorrisinho, se aninhando no edredom.
– Pode deixar, papai.
– Não sou seu pai, menina – ele riu.
– Mas às vezes age como se fosse. É engraçado e fofo. Será que o Guilherme vai me tratar assim quando formos mais íntimos?
Henry franziu o cenho.
– Quê?
Florence riu com a entonação da voz dele.
– Não fica com ciúme – brincou. – Ele e minha mãe estão saindo, acredita? – Flora continuava a conversa ainda de olhos fechados. – Espero que dê certo...
A voz dela foi se esvaindo na última frase e Henry concluiu que ela havia dormido, então desligou o celular com o esboço de um sorriso no rosto.
Quarta-feira
Henry e Armie almoçavam num restaurante próximo ao escritório. Não era tão luxuoso, mas a comida era boa, e quando tinham muito o que fazer, preferiam ficar ali perto. Conversavam sobre quase terem sido prejudicados pelo advogado da parte contrária no caso mais recente e polêmico que tinham pegado, quando Florence ligou para Henry.
– Alô? – Ele atendeu deixando o talher de lado.
– Oi, Henry! – Flora respondeu com um sorriso evidente na voz. – Como você está?
– Melhor agora – sorriu. – E você? O que a médica falou ontem?
– Ah, ela disse que não era nada... E eu também já tinha melhorado bastante, mas só pra confirmar, ela pediu que eu fizesse uns exames.
– Ótimo, então.
– Hoje vou fazer um trabalho aí perto do escritório, queria te ver... Já faz um tempo, né?
Fazia quase duas semanas que não se encontravam, principalmente por causa das ocupações de Henry. Não deveria, mas se sentiu culpado. Queria estar dando mais atenção a ela.
– É, já faz. Você pode vir aqui sim, mas vou precisar terminar algumas coisas antes, tem problema?
– Não tem problema, não. Já estou indo pra casa da minha amiga e depois passo aí, ok? Beijo!
– Abraço!
Ele bloqueou o celular e colocou no bolso do paletó, voltando a mexer na comida que estava no prato. Sentiu um olhar sobre ele.
Era Armie reprovando-o.
– O que foi?
– Você sabe que não está mais “tapando um buraco” na vida da Florence, né?
Henry desviou o olhar e suspirou. Ele sabia. Tinha se envolvido muito mais do que queria, e de uma maneira tão natural!
– Não sei o que eu faço – Henry confessou com um olhar distante.
– Eu começaria falando que sou casado, no mínimo. Se quer ser amigo dela, precisa jogar limpo. Se quer ser outra coisa... Também precisa.
Henry terminou de mastigar o último pedaço de carne que havia no prato e deu um gole na sua água.
– Porra, eu sou um covarde – falou com as sobrancelhas quase unidas. – Acho que já fui longe demais com a nossa amizade pra dizer que sou casado, Armie. Ela nunca mais vai querer olhar na minha cara.
Armie ergueu as sobrancelhas e deu de ombros, como se Henry não tivesse muitas opções.
– Ou é isso ou você se afasta dela, Henry. Podem conversar e se ver de veeeeez em quando, mas manter uma distância que diga que não são íntimos o bastante para que você conte que é casado, caso um dia ela venha a descobrir. Você me entende?
Henry assentiu.
Não gostava de nenhuma das opções, mas por um lado sabia que tinha de se afastar dela. Estavam próximos demais e ele sabia que aquilo era errado. Errado pra todo mundo. Desde sempre sentia olhares tortos sobre ele e Florence, e tinha certeza que os amigos e a família da menina não tiravam conclusões boas daquilo. Não era normal um homem da idade dele ficar se encontrando com uma adolescente, e ele não queria problemas para ela, ainda que fosse só um preconceito. Florence não merecia ficar mal falada na faculdade ou onde quer que fosse.
Tinha se apegado demais e isso não tinha como dar certo, não tinha!
– Vou me afastar dela – pegou um guardanapo e limpou os lábios.
Seria uma tarefa um pouco difícil, já que ela sempre o mandava mensagem. Precisava de um plano para mantê-la longe.
Já às 16h, no escritório, Florence chega e é bem recepcionada pelos funcionários, já que alguns a tinham reconhecido por ser a segunda vez que ela ia ali.
Florence senta-se próxima à recepção, ao lado da porta de vidro que separa a sala de Henry Cavill. Mais umas três pessoas estavam ali, mas provavelmente nem todas iriam falar com o moreno.
– Com licença, senhorita Hill – Paola se dirige a ela. – O senhor Cavill mandou eu perguntar se não prefere esperar lá dentro, na sala dele.
A menina deu de ombros e se levantou.
– Tudo bem – sorriu para a secretária de Henry.
Lá dentro o homem estava um pouco nervoso com a decisão que havia tomado. A distância então teria de começar a partir dali, certo?
– Como eu estava com saudade de você! – ela o abraçou forte quando ele se levantou da poltrona.
Henry inspirou o cheiro de camomila dos cabelos dela e devolveu o abraço na mesma intensidade, sentindo que seu coração estava próximo de despedaçar por ter que se afastar daquela menina.
– Aquele esquema que te falei, certo? – Ela assentiu.
Brian estava resolvendo algumas coisas em outra sala e por isso não estava ali. Assim, Florence ficou à vontade para ficar olhando as coisas que compunham a decoração da parte de Brian.
Diferentemente de Henry, Brian tinha alguns porta-retratos, uma prateleira com livros de Direito e ficção científica, e uma pequena coleção de miniaturas de bolas de basquete. O moreno, por sua vez, não tinha muitas coisas que caracterizassem o local como dele. Bem... Talvez a formalidade.
Florence se sentou no sofá que havia ali e pegou algumas revistas para ler, mas de vez em quando parava para fitar Henry, concentrado, com o cenho franzido enquanto lia alguma coisa que parecia de extrema importância.
Consegue ficar ainda mais lindo desse jeito...
Então Henry a encarou e ela prontamente desviou o olhar, envergonhada. O advogado sorriu de lado com a reação da loira.
– O que foi?
– Nada...
Então é isso que as mulheres sentem quando estão perto dele? Se sentem nervosas, intimidadas e... Com esse negócio entre as pernas?
Ela tentava se concentrar em algum crime que estava na revista, mas sentia que Henry a estava encarando e isso fazia com que a sala diminuísse de tamanho significativamente.
– Vou te esperar lá fora – Florence se levantou abruptamente.
Dessa vez foi em direção ao bebedouro e tomou dois copos de água perto de onde ficavam as cadeiras.
– A menina do vestido de bolinhas!
Florence se virou e viu um sorriso rapaz loiro de olhos verdes.
– Ei! – Ela o abraçou. –O meu vestido era legal, tá? – ambos riram.
Tinham se conhecido da primeira vez que Flora visitara Henry. Brian era um cara simpático e divertido. Não devia ter mais de 20 anos.
– Está esperando o Cavill? – Ela assentiu.
– E você, resolvendo pepinos pra ele?
– É, digamos que sim. Ultimamente temos muito trabalho a fazer, principalmente nós, os estagiários – Brian fez uma careta. – Não vejo a hora dos dias de glória chegarem. Cavill pode não ser a pessoa mais legal de todas, mas eu adoraria trabalhar aqui de verdade.
– Tenho certeza que vai – ela pôs uma mão no ombro dele.
– Enquanto isso, não quer ir à copa? Lá tem potes de amendoins, jujubas e confeitos de chocolate. Cavill odeia que acabem rápido com aquilo, mas é inevitável – confessou rindo. – Ou comemos, ou ficamos loucos.
E os dois seguiram para a copa, conversando por alguns minutos até Brian dizer que precisava organizar uns papéis e levar para o seu chefe. Assim, a menina tornou a sentar-se na recepção.
De dentro da sala, Henry ouviu uma voz conhecida.
– Senhor? – Brian foi abrindo a porta da sala de Henry vagarosamente.
– Entre, Parker. – Disse o homem concentrado em seu notebook.
O rapaz fechou a porta e se dirigiu até Henry, levando consigo alguns papéis. Era um
estagiário muito eficiente e organizado, e fazia de tudo para agradar seu chefe. Não
era um puxa saco, mas era inteligente. Queria trabalhar na Cavill & Hammer Law Firm
quando se formasse, e aquilo não era para qualquer um, por isso ele dava seu melhor.
– Esses aqui são para o senhor revisar e esses precisam da sua assinatura. – O moço indicava enquanto Henry passava o olho nos papéis, assentindo com a cabeça.
Brian estava estático e calado vendo o chefe analisar aqueles documentos. Queria muito lhe fazer uma pergunta, mas ponderava se era adequado ou não. Henry não dava margem para lhe tratarem com intimidade e sempre colocava os funcionários em seus lugares. Mas Brian era curioso e Florence parecia uma garota tão legal...
Vendo que seu chefe estava prestes a terminar, o rapaz criou coragem para falar.
– Senhor Cavill, posso lhe fazer uma pergunta?
– Sim. – Disse sem fazer nenhum contato visual.
– Aquela garota ali fora... Florence.
Henry ergueu o olhar pela primeira vez. Com os olhos estreitos, o moreno largou os papéis e se apoiou na mesa, prestando total atenção na fala de Brian. O menino, que ao chegar na sala estava confiante, tremeu com aquele olhar. Não havia dito absolutamente nada e seu chefe já parecia querer matá-lo.
– Ela... Ela é... Sua sobrinha?
Encarando-o, Cavill endireitou sua postura na cadeira e cruzou os braços. Negou com a cabeça, ainda com um olhar que poderia estar tirando um raio-x de Brian.
– Por quê?
Parker ficou ainda mais nervoso. Engoliu seco. Ele era sempre o mais confiante na
presença de Henry, mas naquele momento estava envergonhado de si mesmo.
– É que... – buscava as melhores palavras. – Me perdoe, senhor, eu não deveria estar
lhe perguntando nada, posso pegar os papéis e me retirar?
– Não seja um covarde, Parker, me diga aonde você quer chegar.
Derrotado, o garoto não tinha escolha a não ser continuar a conversa.
– É que é a terceira vez que ela vem aqui e... Eu queria saber o vínculo que vocês têm.
– Ela é bonita, não é? – Henry perguntou sério.
– Sim, senhor.
– Está interessado nela?
Cavill estava tão intimidador como costumava ser ao fazer as perguntas nos tribunais.
As batidas do coração de Parker se aceleraram e ele não soube o que responder.
Poderia deixar seu chefe enfurecido.
– Eu fiz uma pergunta. – a voz de Henry soou mais grave que o normal.
– Não sei, senhor, não a conheço.
– Então ela não é interessante o suficiente para você? – seu merdinha?
– Não é isso, senhor, eu só... Ela é bonita e parece muito legal.
– Convide-a para sair! – disse se inclinando novamente à mesa.
Henry se assustou com a própria voz. Era para ser um pedido, mas soou como se fosse uma ordem que, se fosse cumprida, contraditoriamente, ele fuzilaria o rapaz. O advogado teve a ideia de juntar os dois, mesmo que odiasse isso. Brian parecia ser um cara responsável e tinha mais ou menos a idade de Florence, e era melhor que ela ficasse com alguém para que Henry a tirasse da cabeça dele. Ele não podia alimentar algo que não podia existir.
Brian não sabia se franzia o cenho ou arregalava os olhos.
– Perdão, senhor?
– Você não é surdo, Parker. Foi isso que você ouviu.
O rapaz estava desconsertado.
– Sério mesmo?
– Sim. – Analisou o rapaz e depois olhou em seus olhos, como se o desafiasse. –
Formariam um belo casal.
Novamente, a voz de Henry saiu num tom diferente do esperado. Queria incentivar o estagiário, mas sua voz soou carregada de sarcasmo e isso provocou uma reação contrária. Tinha medo de convidá-la para sair, mas também tinha medo de não convidá-la.
– Tudo bem, vou fazer o que me pede.
Cavill assentiu, organizou os papéis e os ergueu para Brian.
– Pode ir.
– Com licença, senhor.
O estagiário caminhou até a porta e a abriu, dando a Henry a visão de uma Florence toda sorridente enquanto conversava com Bárbara. Quando o rapaz ia saindo, ouviu a voz de seu chefe.
– Espera, Parker.
Meu Deus do céu, esse cara não vai me deixar em paz?
Parker fechou a porta e se virou novamente para o seu chefe, que andava a passos lentos em direção ao moço.
– Só uma última coisa.
Brian já prendia a respiração e tinha a postura de um militar, tentando não borrar as calças como estava prestes a fazer minutos atrás. Henry o encarava sério e estava perto suficiente para fazer Parker sentir o cheiro do amaciante de sua gravata.
– Aqui no escritório você é um exemplo de profissional, mas eu não te conheço como pessoa. Então quero que você saiba que se partir o coração daquela garota – ele olhou para Florence através do vidro e apontou para ela. – Você vai se ver comigo. – Parker continuava impassível. – Fui claro?
O rapaz assentiu.
– Está dispensado.
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