Um único lugar nunca foi seu lar, mas uma única pessoa sempre o fez seu.
Pensar sobre isso o fazia refletir sobre um — talvez o melhor —, certo ano de sua vida. No auge de seus vinte e seis anos, não poderia ter aproveitado melhor sua juventude como aproveitou e com quem aproveitou.
À primeira vez que trocaram olhares foi em um bar na Nova Orleans no ano de 1985. O som do jazz soava por seus ouvidos enquanto o corpo suado e sob efeito do álcool balançava de forma calma, seguindo o ritmo relaxante. A aura inocente e de fachada que o outro exalava foi o que lhe encantou e, mais tarde, em um beco próximo, os beijos furtivos que trocaram provou-lhe o contrário daquela personalidade.
Entretanto, Park Seonghwa não era cara de apenas um lugar só e nos poucos dias que restavam em Nova Orleans descobriu que Kang Yeosang também não. Aproveitou ao máximo daquela companhia de um coreano viajante e apaixonante até o último dia ali, se surpreendendo quando prestes a ir para seu próximo destino em Londres, na Inglaterra, convidou o mais novo para lhe acompanhar.
Seonghwa poderia visitar os quatro cantos do mundo, mas nenhum o deixaria mais encantado e completamente apaixonado como Yeosang deixou. Era bom encontrar um pouquinho de si mesmo a cada novo país e cidade visitada, explorar culturas diferentes e ver a realidade que não era passada através de belas imagens. Com a presença dele, tudo parecia um sonho.
Um conto de fadas dos anos 80 que, bem, esperava ter um final feliz.
— Seong-ssi… — A voz melodiosa e gostosa de escutar soou pelo cômodo o chamando, o sorriso que se igualava ao de uma criança presente naquele rosto tão jovial e aventureiro. — Qual será nosso próximo destino?
— Onde você quer ir? — O mais velho perguntou, se aproximando do de fios castanhos e o abraçando-o pela cintura.
— Que tal o Brasil? Dizem que as pessoas de lá são contagiantes.
— Então é pra lá que nós vamos.
O Kang sorriu feliz. Selou os lábios carnudos do companheiro diversas vezes e o puxou para uma dança. Passaram a madrugada dançando na cozinha com uma música qualquer que tocava no rádio, aproveitando o friozinho de Oslo e a neve que caía lá fora enquanto o chá esquentava no fogão.
No Brasil, eles conheceram o nordeste. Ambos ficaram apaixonados pelo povo barulhento e alegre, cheio de energia, assim como pelo calor escaldante que os faziam querer ficar, todo santo dia, nas belas praias que deveriam ser mais valorizadas e cuidadas.
Juntos, pelos quatro cantos do mundo — esses que na verdade, não eram apenas quatro — como desejavam naquele momento.
Momento que não passou de 1986.
Um ano inteiro para ter um ao outro, nos quatro cantos do mundo, para Yeosang pareceu ser o bastante, mas para o Park nunca seria o suficiente.
Foi em Paris que eles se desencontraram, a cidade que muitos julgam ser a cidade do amor.
Porque Yeosang nunca foi de um lugar só e diferente de Seonghwa, nunca foi de uma pessoa só.
Ele pertencia a si mesmo e o mundo o pertencia; não havia combinação melhor.
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