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Lua de Sangue.
Na Idade do Ferro, em um dos berços das civilizações, durante o Império Acadiano, existia uma "sociedade secreta" chamada pelos historiadores de Os Masquerade; uma fraternidade de mesopotâmicos que estudavam e realizam pesquisas sobre os "demônios noturnos", isto é, as criaturas da noite. A fraternidade não tinha um título exato, mas a sua única característica marcante eram as máscaras e os rostos pintados por de baixo da peça feita de barro, por isso, foram chamados de "Mascarados", "Ocultos", "Camaleões", "Vultures", e entre outros nomes.
Os Masquerade estudaram sobre astronomia, anatomia humana, vampira, e de uma criatura semelhante ao um gato que, nas escrituras antigas feitas pelos pesquisadores desse grupo, possuía cordas vocais. Entre outras pesquisas feitas pelos membros, o mais importante foi a descoberta do Nosferatu, e da Lua de Sangue. Nos registros quase danificados pelo o tempo, foi possível descobrir que os Masquerade estudaram sobre o vampiro poderoso como o Nosferatu, mas além disso, descobriram uma fraqueza bastante natural de um Nosferatu, a Lua de Sangue: neste eclipse lunar total é necessário que também haja uma superlua, quando a Lua, a Terra e o Sol se alinham perfeitamente, a sombra do planeta obscurece o satélite enquanto recebe os raios da estrela, fazendo com que a Lua fique vermelha. Após sete anos tentando capturar um terrível Nosferatu que caçava crianças em uma vila, aqueles cientistas mascarados mantiveram a criatura em cativeiro para que eles estudassem mais afundo sobre o vampiro. Com isso, os Masquerade perceberam que não se tratava de qualquer vampiro, a criatura era habilidosa e traiçoeira, possuía um canto sedutor e transmutava em um corpo de mulher, quando se vítima se aproximava, era fácil para matar a sua presa e transformar de novo em uma criatura alta, magra, dedos longos com unhas afiadas e orelhas pontudas; a criatura estraçalhava o corpo de suas vítimas em segundos. Durante a pesquisa sobre o fenômeno da Lua de Sangue, resolveram transferir a criatura para outro cativeiro, um poço fundo e largo, que dava para vê as estrelas, e naquela noite, a lua iria está perfeitamente posicionada acima do poço; os cientistas ficaram observando o fenômeno, e descobriram outro: o Nosferatu capturado não se transmutou em monstro, tampouco cantou de forma hipnotizante. Os Masquerade chegaram a conclusão de que, a Lua de Sangue anula os poderes daquela espécie de vampiro, que naquele tempo chamavam todos os tipos de vampiros pelo nome "Nosferatu".
Os Masquerade deixaram de existir depois da queda do Império Acádio. Os vários registros de estudos e descobertas foram quase perdidos, porém, milênios depois, foram resgatados e salvos pelos Hellsing, que acreditam perfeitamente que os Masquerade foram o primeiro passo para o surgimento da interesse do ser humano em se defender das misteriosas criaturas da noite através de pesquisa e estudo, entretanto, foi um grupo bastante violento em relação a exploração dos seres sobrenaturais que caminham pela a terra.
— Que tipo de coisas você já vivenciou? — Ludwing pergunta.
Ainda naquele bar, a luz do sol da manhã entrava através pelas janelas do lugar, os dois vampiros haviam passado a noite no local. Com os pés em cima da mesa, Lumière observava discretamente a moça do balcão ir embora naquela manhã.
— Não entendi a pergunta. Como assim já vivenciei? — questionou Lumière.
— Você sabe — Ludwing não parecia encontrar as palavras certas para construir a pergunta. — Morte, assassinato, injustiça.
— Ah, isso — Lumière sorri. — Ora, ora, Ludwing. Está interessado no passado do Nephilim à sua frente?...
— Só responda. Estou ansioso demais para ficar apenas parado.
— Está bem — tentou ficar sério. — Como já contei antes, a história de Romero não foi a única triste. Assim que me tornei Nephilim, na época que ainda éramos chamados de Nephalem, fui chamado como ajudante em um caso de um orfanato repleto de cadáveres de crianças...
Ludwing sentiu um arrepio tenebroso em sua nuca.
— O sobrinho do famoso Dorian Van Hellsing, Baltazar, ficou encarregado de lecionar um Nephalem em um novo trabalho como ajudante de um Hellsing. O meu trabalho era escrever relatórios, praticamente, eu não ria fazer nada além de escrever anotações para Baltazar. Ele era tão importante quanto o seu tio, pois quando ele tinha apenas dezoito anos, havia assumido o caso do desaparecimento de Dorian. Enfim, isso não é importante agora. Ainda não havia relatórios sobre a chacina no orfanato, na época, a igreja católica tinha uma forte aliança com Instituto Van Hellsing, e pediram para que o caso seja investigado o mais rápido possível. Quando entrei por aquelas portas, fui pego desprevenido por um chão inteiramente coberto de sangue e corpos de crianças mortas... Essa imagem nunca saiu da minha mente, como lembrança macabra: aqueles rosto virados de lado, seus braços e pernas curtas e frágeis em posições tortas, e seus olhos abertos que expressavam medo... Nunca esqueci. De primeira vista, Baltazar concluiu que foi um vampiro que realizou o massacre, pelo simples fato de quê cada vítima tinha dois furos finos no lado do pescoço. Entretanto, observei melhor por outro ângulo, como vampiro eu sabia que não tinha como o suspeito ter feito isso de maneira tão rápida e ocasionando as mortes instantaneamente. Lhe contei esta hipótese, "Nosferatu", concluiu ele. Mas outra vez, eu estava achando que mesmo para um Nosferatu, aquilo era muito superficial.
— Por que? — perguntou Ludwing.
— Porque um Nosferatu raramente perderia o seu tempo com chacinas, e se comete, sempre deixa um rastro muito mais marcante do que dois furos finos no pescoço.
— Os dentes de Nocturne pareciam ser semelhantes a essa descrição.
— Compreenda, Ludwing. Um Nosferatu não ataca bruscamente em uma única forma, eles possuem um poder de se transmutarem. Deixe-me explicar, não havia sinais de luta, ou qualquer outro rastro além das marcas nos pescoços. Se fosse um Nosferatu, teria deixado um fio de cabelo pelo menos. E foi esta conclusão que encontrei, no entanto, dizer que Baltazar Van Hellsing estava errado outra vez, era bastante desafiador. Aquele homem estava ficando cada vez velho e egocêntrico. Comecei a investigar secretamente e descobri que a Igreja cortou a verba que era direcionado ao orfanato, um pouco antes do massacre das crianças; com isso, conclui que a própria Igreja Católica poderia ser responsável, afinal, por que parariam de enviar recursos para manter a instituição?
— Para se livrar de "gastos desnecessários" — disse Ludwing.
— Exatamente. Ser um vampiro tem suas vantagens, principalmente quando se tem uma aparência como a minha. Descobri o que era a Santa Inquisição Entrei nos calabouços onde entravam pessoas acorrentadas, e me deparei com uma série de cenas horrendas, torturas ainda piores do que eu poderia imaginar. Lembro-me de quase não segurar a minha expressão de pavor em meu olhar. As pessoas que eram trazidas para esses lugares isolados, eram torturadas até a morte: abrindo sua carne até chegar nos ossos; esticando os seus membros com cordas amarradas em cada membro; objetos de torturas criados especificamente para a boca ou partes íntimas de seus acusados; ou colocados dentro de uma gaiola estreita para serem expostos de forma humilhante enquanto passam fome e terem sua carne comida por animais. Mas o pior, foi a qual eu vi com meus próprios olhos: um homem, acusado de heresia, ter seu corpo pendurado de cabeça para baixo e com seus pés amarrados, e outros dois homens serraram o seu corpo ao meio, começando entre as pernas, enquanto o acusado ainda estava vivo.
Ludwing não conteve a sua expressão de repulsa.
— Sabia — disse Ludwing — Os Hellsing nunca foram de confiança.
— Ainda não terminei, Ludwing — fito-o com um olhar de seriedade. — Os Hellsing não sabiam, ou a maioria pelo menos, que a Igreja Católica estava por trás dessas torturas. A Santa Inquisição sempre foi bem diferente do Tribunal dos Hellsing. De certa forma, havia uma grande hipocrisia, pois os Hellsing eram, de grande maioria, judeus e protestantes. A Inquisição torturava judeus e protestantes, e o Instituto Van Hellsing era, e ainda é, uma organização laica. Aquilo não era importante ainda ao decorrer da minha investigação, até que encontrei veneno em um imenso barril de suco de uva e pedi para que seja examinado: a substância é extremamente letal, quando misturada com um líquido específico, como vinho ou suco, o gosto se perde na língua e o indivíduo ingere sem perceber; quando chega no intestino delgado, o sistema respiratório é atingido: creio que as crianças acordaram sem ar no meio da noite e caíram no chão; depois de minutos em agonia, o veneno vai atingindo o sistema nervoso ocasionando convulsões, até atingir o coração e ocasionar uma parada cardíaca. Analisei a cena do crime por outro ângulo: o sangue por todo o chão não estava sentindo, pois os corpos das vítimas não foram retalhados, só haviam duas pequenas marcas no pescoço. Fui até o legista, uma amiga, ela analisou os corpos e confirmou a minha hipótese, entretanto, também descobriu algo: os corpos das crianças foram drenados, mas não por um vampiro. Isso foi o suficiente para encaixar as peças do quebra-cabeça. A Santa Inquisição precisa cortar custos, o orfanato era um custo, colocaram venenos para as crianças morrerem durante a noite para que não gritassem e chamassem a atenção de testemunhas, as marcas foram feitas por alguém que entrou ou até mesmo estava lá, e por fim, chamaram os investidores do instituto para comprar que o crime foi realizado por uma criatura da noite.
— Mas como você disse antes: não poderia contrariar a conclusão de Baltazar Van Hellsing — disse Ludwing. — Escondeu essas provas e deixou o humano ter essa conclusão injusta?
— Óbvio que não — respondeu. — Mas como também eu disse: já passei por situações que fariam você desejar está morto. Não poderia deixar que aquilo fosse concluído, então, juntei as provas e chamei o cientista que descobriu o veneno no suco e a legista para serem as minhas testemunhas, eu fui acusar a Igreja Católica para o Tribunal Hellsing por obstrução da justiça.
— E isso existia antes? E poderia ser possível?
— Sim. E não, contudo, me arrisquei em enfrentá-los. Acontece que Baltazar fazia parte da Suprema Corte Hellsing, e a decisão tinha ser unanimidade. Eu perdi o direito de fazer a acusação, e também, o direita de entrar em campo outra vez, tampouco como ajudante de investigador. Aquilo foi a gota d'água. Contei a todos o que a Inquisição praticava e os Hellsing não faziam nada para impedir. Não fui o único que sabia e reprovava as torturas. Um grupo foi surgindo em meio ao Instituto Van Hellsing: os que queriam o rompimento da aliança com Igreja Católica. O caso do orfanato não foi o único caso em que concluíram que teve uma criatura da noite como culpado, sem exatamente ter provas claras que foi realizado por uma criatura da noite. O Caso do Convento: no meio da noite do dia 29 de outubro, quarenta e sete freiras foram mortas, tiveram seus corpos estraçalhados de forma grotesca. O caso foi arquivado por não conter provas o suficiente, mas verdade, não havia um suspeito. Esse era a única prioridade das investigações da época: ter um suspeito, e o resto da investigação não era tão importante. O quer era errado. Dentro da caso do massacre das freiras, havia apenas uma criatura da noite possível, um lobisomem. O investigador, que já havia falecido, determinou que uma alcatéia de lobisomens teriam cometido os assassinatos do convento. Como sou uma pessoa atrevida... — Lumière sorriu. — Fui até o busque onde se localizava o "covil" da alcatéia de lobisomens. O que descobri é que não eram apenas uma mera alcatéia de lobisomens, eram membros de uma importantíssima linhagem de lobisomens vindos da Índia: Os Sharman. Foram completamente hospitaleiros comigo ao me convidar para entrar em seu palácio.
— Palácio? — Ludwing se admirou ainda mais com o relato.
— Sim. Um palácio no meio da floresta. A melhor parte é que como os europeus na época não exploram totalmente as terras, eles tinham medo do que estava à espreita. Os metamorfos eram cheios de cultura e sabedoria, era inacreditável para concluir que eram assassinos, pois estavam sempre mais vigilantes em cuidar de seus parentes e de si mesmos do que atacar freiras em conventos.
— Como sabe? — questiona Ludwing. — Poderiam muito bem mentir.
— Só existiu um lobisomem na história que se atreveu em matar milhões, ou até mais, de povos humanos: Gahiji, o Sanguinário. Mas isso não é importante agora. Como estava contando, os lobisomens não era culpados, foi outra falsa conclusão para que a Igreja Católica possa se safar de acusações. Descobri isso porque as freiras praticavam amor ao próximo, quer dizer, não julgavam as pessoas pelo o que elas são. As testemunhas que me contaram sobre cada uma delas, relataram as várias e várias atitudes de bondade e misericórdia com aqueles que a Inquisição condenaria fácilmente por crimes contra a doutrina, ou algo assim. As freiras secretamente acolhiam jovens mulheres que foram abusadas, mulheres que apenas tiveram abortos espontâneos, mulheres que não queriam continuar com seus maridos agressores, homens que possuiam outra religião que não era católica, e crianças mestiças. Elas tinham uma estufa de alimentos justamente para alimentar as várias bocas que escondiam da Inquisição. Fui até o convento e estava abandonado. Nos porões do convento, vi que não haviam corpos ou algum rastro. Simplesmente foram tirados de lá. Então conclui que foram retirados dias depois em que freiras foram mortas.
— E eles foram mortos também.
— Exatamente. Fiz dois relatórios concluindo o caso do orfanato e o caso do convento em que ambos a Igreja é a principal suspeita. Aquilo foi chegou como uma bomba na mesa da corte suprema, acreditei que iriam ignorar outra vez o meu pedido de uma investigação secreta para confirmar as conclusões dos relatórios. Entretanto, por pura pressão dos outros membros da suprema corte, Baltazar votou a favor do meu pedido. Infelizmente, após a investigação concluíram que não havia nenhuma ligação e os casos foram arquivados. A notícia se espalhou pelo instituto e ocasionou uma divisão entre os que queriam o rompimento da aliança dos Hellsing com o Clero, e os que não queriam o rompimento dessa aliança. Os investigadores, humanos e vampiros, passaram a investigar por si próprios sobre o Santo Ofício e a Suprema Corte dos Hellsing. Com essa rebelião, a corte suprema declarou que iria fazer o último julgamento sobre o pedido de rompimento da aliança com o Clero. Lembro-me muito bem de está na bancada no meio dos líderes representantes do movimento a favor da quebra da aliança. O tribunal estava cheio, poderia dizer que estavam todos do instituto. Graças aos investigadores, foram trazidos três inquisidores, suspeitos pelas acusações de má conduta, ocultação de provas, e falsa alegação. Entre os argumentos da defesa, a mais chocante ecoou pelo tribunal: o fato de que o nosso único trabalho era julgar as criaturas da noite. Era um argumento forte, entretanto, os líderes voltaram a apontar o fato de que a Inquisição matava pessoas com crenças e culturas iguais a grande maioria dos Hellsing, e os Nephilim. O argumento da acusação não funcionou. Mas eu sabia que tinhamos uma carta na manga: a Santa Inquisição fazia experiências com vampiros, lobisomens, híbridos; vivos ou mortos. Bruno me ajudou muito em descobrir lugares ainda mais escondidos do que os porões das igrejas.
— Bruno? — perguntou Ludwing.
— Sim. O meu pequeno ajudante
O gato sube no colo de Lumière, e Nephilim acaricia levemente o bichano que olha fixamente para Ludwing, com aqueles olhos verdes brilhantes como duas esmeraldas.
— Continuando. Uma das principais leis dos Hellsing é nunca fazer experiência com humanos ou criaturas da noite. Aquilo é crime diante do tribunal, e com provas nítidas, os inquisidores seriam presos. Porém, mais uma vez a defesa afirmou que a corte suprema só poderia condenar as criaturas da noite. Esse argumento foi a gota d'água, nunca ouvi o tribunal ficar tão barulhento. A maioria dos que eram contra o rompimento, passaram a ser a favor naquele momento, o instituto inteiro estava clamando contra a absolvição dos suspeitos; ocausionou uma pressão nos líderes da suprema corte, e eles declaram uma pausa de duas horas.
— Ainda haviam dúvidas? — questiona Ludwing, quase gargalhando.
— Claro que não. Reconheço que não dá para pensar sob pressão — sorriu. — Então foi declarado que os três inquisidores eram culpados por todos os crimes pelos quais foram acusados. Pela vez na história do Instituto Van Hellsing, os criminosos eram humanos. Aquilo me fez refletir bastante naqueles dias. Uma semana depois, a Suprema Corte Hellsing declarou o rompimento da aliança com o Clero.
— Isso ocausionou uma guerra entre eles?
— Óbvio que não — continuou sorrindo. — A Igreja Católica tinha, ainda tem, recursos absurdos em ouro, prata, etc. Mas o Instituto Van Hellsing... tem o triplo disso. Se o Clero se atrevesse enfrentar o instituto, estariam expondo o mundo sobrenatural e quebrando a divisão que os Hellsing passaram séculos escondendo a existência. Apenas abaixaram a cabeça e foram pra casa, admitindo a derrota. Eu vi tudo aquilo com meus próprios olhos vermelhos da cor de jaspe.
— Enquanto a Baltazar Van Hellsing?
— Esse daí continuou no cargo de líder da suprema corte. Aceitou o fato da mudança, e continuou como herói no caso de Ichór tou Ári, sendo que haviam muito outros investigadores que fizeram muito mais no caso, e ele era apenas um garoto mimado em busca de seus tios.
Ludwing encosta as costas na cadeira, e fica pensativo.
— E você sempre foi vampiro?
— Hm — o gato saiu do colo de Lumière e subiu na mesa com um só pulo. — Não. Realmente está interessado em ouvir a minha história?
— Não.
Lumière riu.
— Achei que não. É triste.
— Não gosta de falar de seu passado como humano?
— Não. É um pouco doloroso. Mas quem deveria está sendo interrogado é você.
— Claro — Ludwing desviou o olhar.
— Não é permitido gatos aqui!... — esbravejou o barista que acabara de chegar. — Tira esse bicho da minha mesa!
— Sua mesa? — Lumière gargalhou, e não virou-se para o homem, ignorou-o. — Creio que você não passa de um lacaio nesse lugar.
— Vou chamar o gerente...!
— Então vá, vá — continuou rindo.
O barista entrou por uma porta e saiu de cena. Ludwing voltou a fitar Lumière. O Nephilim lançou um olhar tão penetrante para Ludwing, que ele poderia mergulhar naqueles olhos castanhos avermelhados
— E você, Ludwing? O que vivenciou?... — disse Lumière. Ludwing não respondeu. — Hm... Como eu pensei. Você é um vampiro jovem, ainda acha que a eternidade é apenas uma taça de deleites da carne, porém, vai muito além disso. É vê a morte todos os dias e não poder sentir o gosto do seu beijo gelado.
Uma luz solar saira de uma brecha em cima da porta do bar, a luz iluminada os olhos de Lumière enquanto ele falava. O gerente surgiu.
— Peço que saiam daqui — disse o gerente com uma voz mansa, Lumière se vira para olhar o homem nos olhos. — Gatos não são permitidos, e o senhor desrespeitou o meu funcionário.
— Está bem — Lumière se pôs de pé. — Agradeço a sua formalidade em ordenar a nossa saída para fora de seu bar. É um homem bastante educado.
O gerente sorriu ao receber o elogio.
— Diferente de seu funcionário, o rude — apontou com os olhos para o funcionário. E o gerente virou-se para encarar o empregado. — Adeus.
Saíram do bar e começam a caminhar pelas ruas quase vazias, iluminadas pela luz fria da manhã.
— Odeio as ruas da Inglaterra — disse Lumière.
— Creio que prefere as de Paris.
— Errado — olhou para o Ludwing, quase sorrindo. — Você já viajou para Salvador?
— No Brasil?
— Sim. Uma das minha experiências favoritas. Lá conheci o verdadeiro significado de resistência. O homem e a mulher de sangue brasileiro persiste sempre naquilo que quer, não importa quais obstáculos estiverem em seu caminho. Atualmente, o país está sob as ruínas de uma ditadura militar.
— Guerras e mais guerras — Ludwing deu de ombros para Lumière. — Os humanos sempre estão em conflito. Isso não é novidade.
— Esse não é o ponto que quero dá ênfase, Ludwing — encarou-o pelo canto do olho. — O fato é que em meio a situações em que a sua liberdade e os direitos estão em risco, a humanidade tende a lutar mais do que devia, mas dependendo de qual berço você saiu, você pode lutar menos ou até mais.
— Ainda não entendi.
Lumière parou de andar.
— Quer dizer que se você nasce em um berço de marfim, normalmente você espera as coisas vir até você; se você nasce em um berço feito de restos de madeira, você vai lutar pelo o que quer.
Lumière parou de encara-lo e continuou andando. Ludwing começou a diminuir o passo, deixando Lumière caminhando em frente.
— Se quer ir embora, Vá! — disse ele de costas para Ludwing. — Não irei mais perseguir você.
— Não acredito — murmurou Ludwing.
Um vento sopra as mechas onduladas do cabelo castanho de Ludwing, o vampiro sente uma sensação melancólica no meio daquela rua estreita e vazia, como se estivesse entre dois caminhos para escolher.
— Quer encontrar Laviolette?! — perguntou Lumière, ainda de costas para ele. — Ou quer voltar para a vida que escolheu pra si?
O Nephilim parou de andar, na espera da resposta de Ludwing. Por Instante, o silêncio de Ludwing acaba, sem querer, respondendo a pergunta de Lumière. Mas antes que continuasse a andar em frente, Ludwing responde:
— Quero ir com você. Ir até Laviolette, buscar por respostas. E principalmente, justiça.
Lumière se vira para trás, e quase sorri para
Ludwing.
— Bravo.
• • •
Em uma sala não muito grande, com estantes preenchidas com livros, iluminada por três abajures; Laviolette estava sentada em uma poltrona, contando detalhes sobre o que sabia do passado de Viktor. Em sua frente, estava Aldertree, sentado em outra poltrona e anotando cada palavra que saía da boca de Laviolette. Era um momento muito delicado, precisava de atenção e bastante cuidado, pois Laviolette ainda estava afetada pelas agressões mentais de Viktor. Aldertree possuía uma grande habilidade em trazer conforto para qualquer pessoa que se relacionada com ele, mesmo sendo um Nephilim, Roman Aldertree também já foi uma figura paterna no seu passado como humano. A sua voz era mansa, era de um tom não muito grave e macio aos ouvidos, a sua dicção era espantosa, sabia separar cada palavra deixando nítido a mensagem de seus discursos. Suas vestes escuras faziam lembrar de um homem do século ou XIX e ao mesmo tempo daquela época. O chamava atenção, às vezes, eram os seus óculos avermelhados: a tamanho das lentes quadradas eram pequenas mas quase cobriam perfeitamente os olhos, não eram tão escuras, mas não dava para vê os seus olhos pois as lentes vermelhas refletiam como dois pequenos espelhos. Aldertree interrogava Laviolette de maneira calma e sem desviar o olhar, manteve a cabeça direcionada a ela o tempo todo.
— Mantenha calma; respire, pense nas palavras e depois fale. Tenho o dia todo se for preciso. Compreendo que ainda há sequelas dentro de sua mente, não quero apressá-la e não quero que carregue nas mãos a responsabilidade do caso — disse ele.
— Obrigada... — Laviolette ainda tentava lembrar dos detalhes, mas sentia uma pontada em sua cabeça toda vez que forçava a mente para lembrar. — Como eu disse antes: Viktor, o meu irmão, já tinha arquitetado todo plano quando fosse para a Alemanha, mas acredito que o motivo não era apenas aquilo, era algo maior.
— Como quê?
— Não sei dizer... Não consigo me lembrar.
Laviolette põe a mão sobre o rosto quando sente outra pontada.
— Laviolette, você aceitaria fazer alguns exames?
— Eu não sei... Isso me ajudaria?
Aldertree quase hesitou em responder.
— Eu não sei.
Laviolette tira a mão do rosto, e se acalma tentando respirar devagar sem fazer barulho.
— Em suas investigações, você descobriu sobre Phillippe?
— Não. Quem seria?
— Meu pai, e também de Nikolai.
— Esse é o nome dele?... Foi um vampiro?
— Acho que sim — ela desvia o olhar para o lado. — Minha mãe deve saber. Ela disse que ele foi o primeiro marido, ou um amante, que fugiu, ou... não sei dizer, pois ela sempre conta uma versão diferente para nós.
— Alguma vez ela já mencionou que esse vampiro era importante, muito importante?
— Sim.
Aldertree engoliu em seco. Laviolette volta a olhar para ele.
— Ela disse que esse vampiro já foi um assassino?
— Não... — Laviolette fecha os olhos por um segundo. — Ela já mencionou que ele era sábio como uma coruja, mas covarde como um camundongo.
— Hm.
— Isso não ajudou muito, né?
— Não. Infelizmente.
— Ah... — Laviolette quase fica com um olhar caído.
— Entretanto, é melhor do que nada. Vou tsr algo para começar a escrever para pôr no meu relatório. Enquanto isso... Por ordem médicas, você deve sair um pouco da sua zona de conforto e para a sua "zona de cura".
— Médicas? Você é médica — sorri.
— Não. Mas já li muitos relatórios de estudante do campo da psicologia.
— Tem isso no "instituto"?
— Diferente do resto do mundo, o Intuito Van Hellsing esteve muito à frente de seu tempo — respondeu, e depois murmura. — E espero que nunca possamos regredir.
Aldertree se põe de pé e fecha o caderno que estava nas mãos.
— Aldertree...
— Sim, fale.
— Seria possível que, esse "Phillippe", poderia ter sido um Nosferatu.
Aldertree se sentou outra vez na poltrona.
— Acreditamos que sim. Um vampiro normal, isto é, um vampiro desse milênio, não poderia ter habilidades sobrenaturais como você ou Viktor. Antes que pergunte, as leis dos Hellsing não permitem que um Nosferatu possa se reproduzir, justamente para que haja um desequilíbrio.
Aldertree retira uma caneta do bolso e anota o nome em pedaço de papel.
— É curioso que apenas vocês dois herdaram poderes — murmurou.
— Viktor e eu... poderíamos ser um "desequilíbrio"? — ela quase hesitou em perguntar.
— Apenas a atual Suprema Corte Hellsing poderia responder.
— Como?...
— A Suprema Corte atual faria um exame no comportamento e histórico no indivíduo, que é um hibrido neste caso, e fará uma declaração confirmando ou negando se o indivíduo é uma ameaça para o equilíbrio dos dois mundos.
— Me parece simples.
— Não é tão simples — o Nephilim retirou os óculos. — O Conselho tende a negar caso o indivíduo não saiba controlar a sua natureza. No caso de você e Viktor, é ainda mais delicado por conta de seus poderes mentais. Por isso, estou burlando regras dos Nephilins, pois acredito que esses indivíduos, como você principalmente, possam ter uma chance de mudar.
Foi a primeira vez que Aldertree expôs os seus olhos castanhos avermelhados para Laviolette.
— Eu tenho?
— Acredito que sim.
— Como tem tanta certeza.
— Olhe para mim — olhou fundo nos olhos dela. — Você pode saber todas as respostas, e nem sequer ao menos entrou na minha mente para arrancar palavra por palavra; você pode mas não fez.
Laviolette entendeu o que Aldertree disse. Ela não foi invasiva, como o irmão seria, foi paciente e humilde em sua atitude.
— Isso é um bom sinal, certo?
— Sim — Aldertree pôs os óculos outra vez. — Confirma a minha intuição sobre você. A suprema corte nunca aprovaria a minha atitude. O que foi dito para ser feito era relatar buscar sobre o passado de Viktor, e é claro, seguí-lo durante a sua trajetória.
Laviolette franziu a testa.
— Então por que não está atrás dele?
— Já estou.
— Ainda não entendi.
— Laviolette, você ainda não percebeu que, se Viktor é forte sozinho, imagine com mais alguém como ele ao seu lado?
Laviolette pôs as mãos no rosto, completamente chocada.
— Mas... Isso não é possível. Viktor me odeia agora.
— Ainda não percebeu: se ele quisesse, teria matado você.
— Então... Ele precisa de mim.
— Receio que sim.
— Pois então — ela se levantou da poltrona. — Me prenda! No calabouço mais profundo que tiver.
— Não é tão simples! — murmurou. — Ele pode ser filho de um nosferatu, a habilidade dele pode ser mais poderosa ao decorrer em que ele vai aperfeiçoando.
— Aperfeiçoando?... Do que está falando?
— Por favor, sente-se.
— Não! Chega de hesitar. Não sou mais aquela garotinha assustada. Conte-me tudo agora.
— Pois está bem — Aldertree se pôs de pé. — Viktor Von Nacht é suspeito por ter influência na Segunda Guerra Mundial. Viktor é suspeito por ter infiltrado dentro do Wehrmatch. Viktor é suspeito por um massacre em uma base secreta. Viktor Von Nacht é suspeito por inúmeras mortes ao decorrer desses últimos vinte anos. Viktor é suspeito por sequestros de 65 pessoas...
Laviolette se encolhe encostada na instante atrás dela, completamente apavorada com o que Aldertree estava contado diante dela.
— Viktor é suspeito por duas chacinas entre 1958 e nesse ano. Viktor tem mais de cem acusações de ocultação de cadáver e assassinato... Quer saber mais?
Aldertree pareceu frio, mas se manteve calmo em seu tom de voz e sua expressão. Diferente de Laviolette que parecia ter visto algo horrendo. Delicadamente, o Nephilim se aproximou dela, abriu os braços e Laviolette o abraçou firme, outra vez.
O plano de Aldertree estava indo conforme ele havia arquitetado. Ele sabia desde o início que Laviolette não era uma ameaça, e se arriscou em provar isso. O seu método sempre foi aplicado com cautela: manso em suas palavras, e habilidoso em passar despercebido pelas multidões e locais vazios. No entanto, seu tempo estava acabando, pois o investigador sabia que a qualquer momento Viktor faria algo ainda pior, e o Nephilim não poderia perder o rastro do suspeito. Aldertree sabia que os gêmeos possuiam uma ligação forte, o próximo passo seria fazer com que Laviolette conte os planos de Viktor, mas para isso, Aldertree precisaria ajudar o mais rápido possível na recuperação e o fortalecimento de Laviolette, para que ela possa desenvolver a potência que Viktor tem sobre o poder mental. Em relação ao o pai dos gêmeos, isso não era mais importante para Aldertree naquele momento. Ter trazido Talutah de volta para se reconciliar com Laviolette foi um dos melhores planos de Aldertree, pois o peso da culpa sendo tirado do coração de Laviolette, ela estaria menos abalada emocionalmente para que possa se erguer.
Ainda naquela madrugada, os dois voltaram para o laboratório de Otto, o mesmo lugar em que Laviolette havia despertado e reencontrado Talutah. O professor revirava uma página de livros, e preparava um projetor de slides que um dos seus alunos construiu. Os três observavam o professor esbravejar porque o aparelho não ligava. Até que Otto conseguiu, uma imagem de uma esfera vermelha surgiu na parede de pedra, o professor colocou o livro aberto na mesa, apontando para a imagem na página.
— Lua de Sangue — disse ele.
Laviolette pega o livro, e olha a imagem.
— O que é isto, Otto? — murmurou Aldertree.
— Tenha paciência, "rapaz".
— "Os Masquerade"?... — Laviolette encara o professor, com um olhar confuso.
— Escutem — Otto foi para a frente. — Há muito tempo existiu uma sociedade secreta chamada Os Masquerade. Digamos que podem ser os "primeiros Hellsing", inclusive até suas identidades eram mantidas em segredo: usavam para esconder os seus rostos. Porém, quando os historiadores descobriram que se tratavam de cientistas, eles consideraram que essa associação era uma brincadeira, uma fantasia. Acreditaram nisso pois encontraram escrituras sobre seres imortais que se transmutam e saem durante a noite para comer carne e beber sangue humano. Mas os Hellsing souberam que aquela descoberta era de interesse do instituto. Pegamos pesquisa, continuamos, preservando cada artefato encontrado no local da escavação. O que aconteceu foi que o "laboratório" subterrâneo dos Masquerade acabou sendo enterrado junto os alguns membros e as suas pesquisas escritas, mesmo assim, conseguimos recuperar a maioria das coisas que encontramos, como ilustrações e descrições primitivas dos vampiros... e até os esqueletos, conseguimos reconstruir e até fazer um trabalho de como seria o rosto de cada um, mas é claro que não usamos os esqueletos originais...
— Otto... por favor — Aldertree murmura. — Chegue ao ponto. O que é a Lua de Sangue? E o que isto tem a ver conosco?
— A-ah, me desculpe, Aldertree... — Otto ficou envergonhado. — Perdão para vocês também.
— Tudo bem.
— A Lua de Sangue foi a maior descoberta dos Masquerade, pois nem os Hellsing conseguiram tal feito. Em uma experiência, aqueles cientistas capturaram um Nosferatu, inclusive conseguimos juntar os ossos encontrados em uma espécie de poço fundo e conseguimos um esqueleto completo da criatura, antes achamos que um esqueleto de uma mulher mas os caninos e os ossos dos dedos pontudos não nos enganaram... Enfim, de acordo com os registros que encontramos, foi o primeiro e único Nosferatu que capturaram, e por mera coincidência a Lua de Sangue surgira na noite seguinte após a captura. Construímos uma possível trajetória de como foi a experiência: no fundo do poço, havia uma entrada, já que o laboratório era subterrâneo; a criatura foi colocada naquele poço fundo e largo durante a noite; os cientistas ficaram esperando a lua prateada ficar escarlate; poderíamos imaginar que a lua estava bem posicionada acima do poço; assim que a lua ficou avermelhada, a aparência da criatura muda, de uma criatura alta e extremamente pálida para mulher baixa de cabelos ruivos; os cientistas se aproximaram da moça, viram que seus dentes ainda eram como uns de vampiro, uma fecha de prata é atirada e atravessa as costelas do vampiro e ela cai no chão; um dos Masquerade se aproxima, o Nosferatu tenta o atacar, o outro cientista usa um machado para cortar ao meio o pescoço da criatura, separando a cabeça do corpo.
— E como sabem de tudo isso? — pergunta Laviolette.
— O esqueleto do Nosferatu: as costelas foram danificadas muito antes, e o osso do pescoço foi partido violentamente. O esqueleto de um dos cientistas mostrava o cóccix fraturado, indicando uma grave queda — Otto sorri. — Bom, os mortos podem falar mais do que se pode imaginar, senhorita Laviolette.
Ela ainda fica confusa, mas Talutah resolve acrescentar mais informações.
— A Lua de Sangue foi a noite da vingança para os povos chamados Tupi. Eram eles quem governava as terras do Brasil muito antes de serem saqueados por homens brancos gananciosos. Durante o surgimento do catolicismo, os Tupis viviam em guerra com criaturas sanguinárias que um dia já foram os seus parentes e amantes. Um Nosferatu chamado Akalizeuh... não sei se era esse o nome. Ele era o único das terras, construiu um exército apenas transformando humanos em vampiros, e queria forçar os povos a serem seus servos. Em uma noite, a lua ficou sangrenta. Os humanos acreditaram que o fenômeno era um mau presságio, entretanto, perceberam que os vampiros estavam agindo estranhos pois estavam reconhecendo os seus entes queridos. Entraram na fortaleza de Akalizeuh e encontraram um mero homem desarmado, os Tupis não pensaram duas vezes e avançaram para cima do vampiro, arrancaram a sua cabeça e tomaram como lembrança do dia da vingança dos povos Tupi.
— Entendi... — Laviolette olha maravilhada para o amado. — Se houver uma Lua de Sangue, irá cortar nossos poderes temporariamente, e Viktor pode ser capturado.
Talutah tenta refletir a animação de Laviolette, mas volta a ficar ainda mais sério.
— No entanto, a próxima Lua de Sangue só vira em 1987.
— Não... — ela se afasta bem devagar de Talutah.
— Não fiquem decepcionada...
— Então é isso? — Aldertree fica chateado. — Você e Otto nos fizeram perder tempo com algo que só surgira em dezesseis anos? Façam-me o favor... Tenho mais o que fazer.
— E se Viktor for inocentado?! — perguntou Talutah.
Aldertree se vira bem devagar e olha para Talutah como se ele tivesse dito a coisa mais absurda que já ouviu.
— Você chegou há muito pouco tempo, nem ao menos se apresentou a Suprema Corte Hellsing para ser declarado como cidadão do mundo diurno... quando virou vampiro, precisou de ajuda para ser civilizado e não atacar pessoas inocentes. E você acha mesmo que pode chegar essa conclusão do caso que está em minhas mãos?...
Talutah se calou.
— Aldertree, por favor. Não fique bravo.
— Não estou — continuou com o olhar firme para Talutah. — Acho que deveria começar a pensar mais com a cabeça de cima, está lhe deixando cego.
E deu meia volta.
• • •
— Você disse que iria me trazer para onde estava Laviolette — murmurou Ludwing.
— E vou — respondeu Lumière.
Os dois haviam percorridos em muito lugares. Na verdade, Lumière estava perdido, não fazia idéia para aonde levaram Laviolette. O Nephilim levou Ludwing para uma casa grande e quase vazia, estava abandonada entre vários prédios.
— Por que você não diz que não sabe onde ela está?...
— Não sei onde ela está.
— O QUÊ!? — Ludwing se zanga. — Ficamos esse tempo todo perambulando por lugares diferentes para nada!?...
— Calma. Calma — disse Lumière enquanto acende um cigarro. — Não era ela quem eu estava procurando.
— Então quem!?... E... Por que está fumando?
Lumière se senta em uma cadeira de madeira.
— Estou procurando Bruno.
— O gato?... Ah, entendi. Você me fez rodar meio mundo só para eu não sair de sua vista. Quer saber... eu vou embora...
Bruno surge na porta, um uivo ecoa pelo corredor quando Ludwing encontra o gato de olhos brilhantes.
— Ele está aqui.
— Hm?... Está? Diga-o para entrar.
Confuso, Ludwing aponta para dentro, com o polegar. Lumière levanta da cadeira e pede para Ludwing esperar fora do prédio.
O sobe em uma pilha de tijolos sujos de concreto e poeira.
— Onde você estava? — perguntou Lumière, mas Bruno não respondeu. — Vai ficar calado agora? Entendi.
— Você é um animal — murmurou Bruno.
— Creio que não sou o único nessa sala. Ainda fala manso, parece o Roman. Inclusive, você sabe onde está?
— No antigo laboratório do professor Otto.
— Mas é claro. Bastou só Roman se encantar pelo garoto que ele vira o seu mascote.
— Acho que sou quase isso para você.
— Reclamações... Está chateado. Por quê?
— Mentiu para mim. Disse que que o caso não envolveria um Nosferatu.
— Mas não menti. Na época, eu realmente não sabia que envolveria um possível Nosferatu.
— Mentiroso.
— Não menti. Eu não lhe disse que envolveria um Nosferatu, e também não lhe disse que não envolveria um Nosferatu.
Bruno o fitou com aquele olhar brilhante.
— O caso dos Von Nacht ficaria intenso se envolveria um Nosferatu, perguntei a você e você escondeu esse detalhe de mim; eu lhe disse que era arriscado. Omitir a verdade também é mentir.
— Que seja. Eu tinha certeza antes, e nem agora.
— Claro — o gato deu um pulo e desceu para o chão. — Agora terá certeza. Pois envolve um Nosferatu.
— Não acredito.
— Sonso... — murmurou.
— Talvez eu desconfiava disso. Mas vou largar o caso. Roman precisa de ajuda.
Bruno começa a caminhar bem devagar ao redor de Lumière.
— Roman não tem cinco anos de idade. E além do mais, ele sempre procurou a morte, não deveria está atrás dele como se fosse impedi-lo.
— Eu respeito ele. Se isso acontecer, quero está ao seu lado nos últimos momentos antes da morte.
— Romântico. Mas é arriscado.
— Pare de dizer que é arriscado — ele saiu do círculo imaginário que Bruno estava fazendo. — Está agindo assim porque acha que pode me governar. Você não passa de um conselheiro falando no meu ouvido. Não preciso de babá. E que diferença faz eu está no caso ou não?
— Tem razão — o gato pula para frente de uma janela e observa Ludwing no lado de fora. — Temos absolutamente nada a perder nessa guerra.
— "Guerra"?
— Possivelmente — o reflexo de Bruno se torna quase visível no vidro da janela. — Um vampiro como Viktor Von Nacht pode ser um perigo para ambos os mundos. Quando procurei por Aldertree, descobri muita coisa que ele já tinha descoberto. No momento em que ouvi a palavra "coruja", me veio alguém em minha mente, mas não posso confirmar se é mesmo ele. De qualquer forma, como eu já disse antes, não importa o passado de Viktor, o vampiro deve ser capturado logo; antes que tome o seu próximo passo.
• • •
O massacre no bar na estranha zona da cidade foi o suficiente para Viktor saciar-se, e se escondeu outra vez. O seu estilo era este: cometer um crime e sumir por uns tempos. Era como ele fazia para não chamar muita atenção das autoridades humanas, entretanto, não era bom em se esconder dos Hellsing, e ele sabia disso. Assim como Aldertree, Viktor também tinha um plano, e também estava indo como havia elaborado durante muito tempo, deixar rastros nítidos fazia parte de sua estratégia. Viktor sabia que havia um Nephilim atrás dele, um vampiro de pensamentos difíceis de serem lidos e um único objetivo pregado na mente, e isso fez com que Viktor se interessar pelo investigador que o seguia por todo lugar. Algo que também deixava Viktor curioso sobre o Nephilim, era que o tal vampiro não o impedia de cometer seus crimes, e Viktor sabia que era um vampiro pois o cheiro do sangue era perfeitamente reconhecível. O espião dentro do instituto estava ao seu lado, mesmo assim não obteve uma informação ainda sobre o Nephilim que o perseguia.
O lugar que Viktor escolheu para se esconder desta vez foi uma casa de teatro. Naquela noite, o local estava quase vazio por conta da terrível notícia do massacre no bar, na verdade, grande parte das ruas da cidade estavam vazias. Por causa do medo, as pessoas estavam evitando de sair durante a noite, acreditaram no discurso da polícia de que haviam assassinos à solta, isso estava em quase todas as manchetes de jornais, foram tiradas várias fotos dos cadáveres destroçados e os detalhes sobre o caso se espalharam pela cidade. Viktor escolheu está nos assentos de um dos camarotes para assistir a apresentação, ao seu lado esteva Nolan. Enquanto Viktor observava atentamente a orquestra, Nolan flertava com uma moça no camarote posterior. Goth havia entrado pelas portas do teatro, sube até o camarote onde estava os dois, franze a testa ao olhar Nolan sorrindo em direção oposta do palco, percebe a moça sentada no outro camarote e depois se senta ao lado de Viktor.
— Se perdeu no caminho,Goth?... — questionou Viktor, ainda com o olhar fixo em direção ao palco.
— Perdi o rastro do Nephilim... — Goth tenta desviar o olhar. — Não consegui nada ainda, entretanto...
— Sem relatórios. Este é um momento de descanso e reflexão. Lembra-se?
— Sim, claro.
Viktor desvia o olhar e percebe Nolan paquerando a mulher.
— Vai girar o pescoço para trás se não parar de olhar e ir logo comer ela — disse Viktor em voz alta.
Nolan parecia não ter escutado.
— Francamente — murmurou Viktor.
Nolan levantou-se da cadeira.
— Senhor, vou dá um pulo em outro lugar, não será muito distante... — disse ele, sorridente.
— Então vá! E tente não fazer alguma besteira.
— Ciúmes...? — Viktor o encarou severamente. — Não se preocupe, vai deixar um pouco para você se divertir depois.
— Não preciso — Viktor deu de ombros para Nolan. — Só espero que não vá tão longe.
— Claro que não.
Nolan saiu da cabine e foi se encontrar a moça. Goth ficou em silêncio por instante enquanto Viktor voltava a se concentrar na melodia: o vampiro parecia está hipnotizado como uma serpente sendo encantada por uma flauta. Observando Viktor ao seu lado, quase hesitou em dizer alguma coisa, entretanto, a sua curiosidade era mais barulhenta.
— Por que escolheu Nolan?
— Bruce Magnus Nolan... — sussurrou Viktor, continuava olhando para o palco. — Conheci aquele vampiro quando eu andava pelas ruas de Moscou em 1904. Estava entendiado, muito entendiado. Havia uma humana que eu estava perseguindo, eu iria me alimentar dela, no entretanto, acabei adquirindo uma mania de observar os meus alvos. Aquela pele tão sedosa de seu rosto, aqueles lábios tão graciosos, seus cabelos estavam com as ondas soltas, seus olhos tão pequenos, sua cintura tão modelada mesmo sem espartilho... Havia um sinal em seu rosto: um pontinho marrom escuro perto de seu nariz tão pequeninho. Não sou me de interessar por damas que aparentam ser velhas, os meus olhos se preenchem quando se trata de moças que estão se desabrochando.
— Então não era uma mulher
Viktor o encarou, se sentiu como se tivesse sido corrigido.
Enfim, aquela moça iria morrer de qualquer maneira, pois mulheres bonitas sempre são alvos de monstros. E eu sou, mas não o único. Ela notou que havia alguém seguindo-a desde o metrô ao hotel, ela correu pelos corredores tentando fugir da minha sombra, gritava por socorro mas ninguém saia dos quartos, quando dobrei para a direita... quem se horrorizou foi eu, Nolan a pegou pelos ombros e partiu o corpo dela ao meio com as próprias mãos, como se fosse uma folha de papel. Não me espantei com tal brutalidade, mas com aquela força. Uma facilidade em rasgar os tecidos, a carne, e quebrar os osso. Nolan tinha que está ao lado. Nolan deve sempre está ao meu lado. Naquele época, eu estava muito fraco, repudiava o sangue e não tinha mais aquela determinação para dar início ao plano, eu estava sozinha. Nolan possui uma força extraordinária, quase semelhante ao de um lobisomem. Porém, o que lhe atrapalha é o que está entre as suas pernas.
Goth sorriu.
— E isso pode ser um problema.
— Claro que não...
— Senhor, não foi uma pergunta — Viktor fita os lábios de Goth. — Se ele não poder controlar o seu desejo carnal, vai se comportar como um animal selvagem, e não temos tempo para limpar as sujeiras dele.
Viktor desvia o olhar, e volta a assistir a apresentação.
— Pode até ser. Mas confio em Nolan, mesmo sendo um cão no cio. Precisamos de sua força, e ele não irá nos trazer problemas.
Um clima estranho pairou entre os dois, pois a observação de Goth soou como um julgamento. Não disseram uma palavra até acabar a apresentação da orquestra.
— Devemos ir atrás de Nolan?
— Inacreditável... — Viktor se levantou do assento. — Estou interpretando mal ou você está implicando com Nolan?
— Apenas perguntei devemos ir atrás dele.
— Pois bem, levante-se.
Viktor reconheceria o cheiro de Nolan à quilômetros de distância. Foram até um motel do outro da rua, subiram até o sétimo andar do prédio, Viktor franziu a testa ao sentir o forte cheiro de sangue humano e acelerou o passo, Goth o seguiu e notou a preocupação de Viktor. O cheiro do sangue vinha de um dos quartos de porta branca, havia uma plaquinha na maçaneta escrito: "NÃO PERTURBE". Viktor girou a maçaneta e a porta não estava trancada. Os dois vampiros sentem as suas veias saltarem ao inalar o cheiro de sangue humano retirado recentemente, se aproximam para o outro cômodo, e vêem uma cena perturbadora: havia muito sangue pela cama e escorria pelo carpete bege no chão do quarto, o corpo da moça estava estirado na cama, o sangue escorria de seu pescoço, pulso e entre suas pernas, e seus olhos estavam abertos. Goth se apavorou ao olhar aquilo e virou-se contra a parede. Viktor esperou Nolan sair do banheiro, onde estava lavando o rosto e as mãos ensanguentadas. Viktor não esboçava uma expressão, o barulho da água que saía da torneira e batia na pia ecoava pelo quarto, era o único barulho dentro daquele cômodo, diante aquela cena, era como uma trilha sonora sinistra. Nolan saiu do banheiro, vê Viktor e sorri.
— Desculpe pela bagunça, eu iria limpar depois — Nolan anda bem devagar até ele. — Entretanto, não sabia se queria um pouco do resto.
— Como pôde ser tão idiota?
— C-como?
Viktor estava com um olhar tão frio que não esboçava uma expressão em seu rosto.
— Eu lhe disse: sem extravagâncias. Você quebrou a minha confiança.
— Mas senhor... — Nolan se aproxima de Viktor e ele o empurra para a beira da cama.
— Está suspenso até segunda ordem — disse Viktor, olhando fundo dentro dos olhos de Nolan.
Goth se vira para olhar o cadáver em cima da cama, o vampiro negro se aproxima da moça morta. Com um olhar de indignação, Goth olha atentamente o corpo de cima para baixo.
— Você a estuprou — murmurou Goth.
— O que disse? — perguntou Nolan.
— Você a estuprou! — esbravejou, e o encarou Nolan.
— Chega — disse Viktor. — Não quero protestos esta noite. Venha, Goth. Já resolvi esse problema.
Viktor deu meia volta. Goth volta a encarar o rosto da mulher morta, e com os dedos, ele fecha os olhos dela.
Ao saírem do motel, Goth questiona Viktor:
— Para aonde iremos agora?
— Venha comigo, vamos passear e quero que veja algo comigo.
Os dois vampiros andaram pelas ruas durante os resto da noite, perto do nascer do sol, Viktor para em uma ponte, e põe as mãos frias sobre o concreto cinzento. O brilho alaranjado vindo do horizonte anuncia o nascer do sol.
— Quero que veja isto comigo.
Ao lado de Viktor, Goth não entendeu o que aquele convite inesperado significava naquele momento.
— Vemos o nascer e o pôr do sol todos os dias, Viktor. O que quer dizer com isto?
— Cale-se, e veja.
Goth parou de questionar e fez o que Viktor mandou. Ficaram calados por alguns minutos.
— Logo iremos vê o nascer do sol de outra maneira: como este mundo deve ser. Sairemos das sombras e governaremos todos eles que andam sob o sol: os mortais. Veremos o sol enquanto bebemos sangue fresco em taças de prata, dentro de castelos construídos por eles.
— E o sangue será deles — murmurou Goth.
Viktor fica em silêncio por um instante ao perceber o tom de deboche na fala de Goth, e o fita.
— Você sabe o que é a Lua de Sangue?
— O que?... — Goth percebe que Viktor está lendo sua mente.
Viktor se aproxima dele, e o olha nos olhos.
— Diga-me, sem mentir, você está com dúvidas sobre o lado que escolheu?
— Claro que não — responde Goth, encarando-o pelo canto dos olhos.
Viktor volta a olhar para frente, e solta o ar de seus pulmões expressando um leve alívio, e implicitamente, um arrependimento. É nítido que Goth nunca confiou em Nolan desde a primeira vez que viu o vampiro robusto de longos cabelos loiros e um sorriso sádico. Nolan e Goth são opostos em inúmeras características, Goth é cauteloso e discreto, diferente de Nolan que faz tudo por impulso se tiver vontade. A única coisa em comum entre eles é a devoção a Viktor.
— Ah... Me perdoe, Goth — disse quase sorrindo e completamente aliviado. — A culpa é minha, foi eu quem disse que não queria relatórios.
— Está tudo bem. Também tive uma parcela de culpa. Ainda estou chocado com a monstruosidade que Nolan fez, e até chateado com isso.
— Você me alertou, e eu não o ouvi. Como eu disse antes: Nolan é forte mas sua fraqueza está entre suas pernas.
— Viktor... — segura o ombro dele. — Você faz o que achar que deve ser feito.
Viktor quase sorri.
— Eu quero ouvir o seu relatório agora — disse ele, e o vento gelado sopra as ondas de seus cabelos loiros.
— O nosso pequeno professor Otto Van Hellsing descobriu sobre a Lua de Sangue. Não sei o que está planejando com isso, afinal, esse fenômeno só haverá em 1987.
Viktor sorri.
— A Lua de Sangue é capaz de reduzir os poderes de um Nosferatu... como diz a lenda.
— Lenda?
— Exatamente. Se Otto é tão esperto como o instituto declara, será fácil enganar todos eles; um por um, do jeito que eu planeja durante décadas. Como eu disse antes, meu caro Goth. Iremos governar este mundo, assim como deve ser. O predador domina a presa.
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