PAULO
Entrei no quarto de Carmen e encontrei a mesma deitada com os olhos arregalados. Nem demonstrava estar mal igual estava antes.
Assim que Daniel foi me chamar, fui para a sala da diretora e de lá, ela mesma nos levou com seu carro até a casa de Carmen, para que os pais dela tomasse alguma providência quanto ao seu desmaio. Porém, ela alegou não estar tão mal quanto parecia, e que precisava apenas de umas horas de repouso. Fiquei conversando com meus sogros durante um tempo, para depois ir ver como ela estava.
- Você melhorou? - perguntei.
(Carmen) - Estou ótima, xuxu. Você fica tão fofinho quando está preocupado.
- Carmen eu estou falando sério, não é hora de brincadeiras. Pra quem estava desmaiada até agora a pouco, você já parece estar ótima.
(Carmen) - Sabe o que é xuxu? Eu não estava passando mal de verdade. É que você ficou me evitando por tanto tempo, eu estava sentindo tanto sua falta que tive que arrumar uma maneira de chamar sua atenção. Por isso inventei o desmaio e tudo mais. Parece que deu certo, e que agora temos um tempinho para ficar juntos e esquecer tudo aquilo que aconteceu.
Ela se sentou na cama e já ia se jogar em cima de mim, mas não o fez porque eu me levantei e respirei fundo.
- Quando eu penso que deveria me preocupar com você, me lembro que você só faz merda, as quais não merecem o mínimo de preocupação possível.
(Carmen) - Não fale essas palavras feias, principalmente aqui em casa!
- Me poupe Carmen. Eu estou cansado das suas palhaçadas. Você acha que só porque sou seu namorado pode me fazer de bobo o tempo inteiro? É aí que você se engana!
Com a paciência esgotada, sai de seu quarto e logo já estava fora de sua casa também. Peguei meu celular e liguei para um táxi, afim de voltar para o lugar de onde eu nem deveria ter saído.
####
Sai da aula de matemática e estava indo para o meu armário guardar todos os livros que eu havia usado durante o dia.
De repente senti alguém beijar minha bochecha. Fechei o armário e dei de cara com a única pessoa que poderia ser: Alícia.
(Alícia) - Achei que você não fosse voltar pro colégio essa semana.
- Voltei sim. Aliás eu voltei ontem, mas já era bem tarde. Sentiu minha falta?
(Alícia) - Senti. Ninguém gosta de ir ao jardim comigo, só você. Então eu tive que ir sozinha ontem.
- Pobrezinha, como podem deixar uma criança dessa só?
Ela riu e suas bochechas ficaram vermelhas. Era incrível como ela conseguia se envergonhar com tudo.
- Garanto que se tivesse chamado o Jorge pra ir com você, ele iria.
(Alícia) - Sim. Mas você sabe que eu gosto de ir pro jardim para respirar um ar puro, conversar sobre a vida. Não pra ficar me pegando com alguém, e essa ia ser a única coisa que ele ia querer fazer.
Revirei os olhos e bufei de raiva. Aquele garoto não se enxergava, ele e Alícia não combinavam nada, e ele ainda insistia em querer algo com ela.
(Alícia) - Vocês ainda estão intrigados? Oh meu Deus! Mas aliás, o que foi que ele te fez mesmo?
- O Jorge é um ladrão, Gusman!
(Alícia) - Ladrão?
- Sim. Ele rouba as pessoas dos outros e isso me irrita.
Alícia fez uma cara confusa, demonstrando seu desentendimento e por algum tempo ficou pensando no que eu havia dito.
- Melhor deixar pra lá. Um dia eu te explico o que isso significa.
(Alícia) - Ah, tudo bem! Mas então, como está a Carmen?
Não morre mais! De repente Carmen apareceu e entrelaçou seus braços com o meu pescoço. Deu pra notar o quanto Alícia se irritou com aquilo, e por alguns segundos eu até tive a esperança de que ela sentisse algo por mim.
(Carmen) - Eu estou ótima, querida!
(Alícia) - Não me chame assim. É ridículo!
(Carmen) - Tanto faz - disse revirando os olhos e depois se voltou para mim - Meu xuxu, eu preciso tanto que você me desculpe. Fui tão cruel em mentir pra você.
A cada palavra falada por Carmen, era uma cara feia de Alícia. Nisso eu tentava entender: o problema dela era com a Carmen, ou era a Carmen comigo?
Já estava me preparando para me afastar da minha namorada, mas antes que eu pudesse fazer isso, ela me deu um baita beijo, com tudo.
(Alícia) - Meu Deus! Isso-é -é -é... Que nojo! - foi a única coisa que eu ouvi, para depois escutar os saltos de Alícia batendo rapidamente sob o chão, alegando que ela tinha saído dali correndo.
Não era possível que ela tinha se magoado com aquilo!
Empurrei Carmen com certa força e ela me olhou furiosa.
- Eu já disse que estou bravo com você. Não quero você por perto de mim. Talvez quando você mudar e deixar de ser tão idiota, as coisas voltem a ser como eram antes! Passar bem, Carmen.
Então sai correndo na direção que Alícia tinha ido. Eu precisa encontrá-lá. Precisava falar com ela.
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ALÍCIA
Aquele beijo pra mim foi a gota d'água. Paulo sempre dizia para mim que queria se livrar de Carmen o mais rápido possível, porém toda vez que ela se insinuava pra ele, ele ficava animadinho e caia no truque daquela idiota.
Estava claro que eles nunca iam se separar. Ambos gostavam dessa relação estranha que tinham. E eu era uma idiota por gostar do Guerra e achar que um dia ele poderia sentir o mesmo por mim.
Sai correndo pelo corredor, afim de não ver aquele péssimo esespetáculo. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu nem sabia mais pra onde estava indo. Até que esbarrei em alguém, que me segurou antes que eu fosse parar no chão.
(Jorge) - Lilicia? O que você tem?
Jorge! Nunca apareceu em hora tão certa! Automaticamente me joguei em seus braços. Eu precisava de um abraço para ver se aquela dor no meu peito passava. Mas não adiantou.
- Eu estou bem. E você?
Engoli minhas lágrimas e sorri para ele, que sorriu pra mim também. E antes que ele pudesse responder a minha pergunta, ouvi a voz grossa e alta de Paulo chamando pelo meu nome.
Tinha que dar um jeito de fugir dele.
- É Jorge... me beija!
(Jorge) - O quê? - perguntou confusa.
- Me beija! Agora, vai!
Em questão de segundos nossas bocas já estavam coladas e eu tive que me entregar a aquilo mesmo sem querer. Meu peito se contorceu. Mais uma vez eu estava usando ele. Pobre Jorge!
Enquanto nossas línguas brigavam por espaço, pude ouvir a voz de Paulo cada vez mais perto, e quando talvez já estivesse perto o suficiente de nós, ele parou de gritar. Assim como nosso beijo, que acabou no mesmo segundo.
(Jorge) - Isso foi... - ia falar, todo sorridente, mas foi interrompido.
(Paulo) - Horrível, tosco, patético. Mas ainda assim eu digo, felicidades ao casal!
Então depois de encarar Jorge, e me olhar com a pior expressão que tinha, Paulo saiu andando e pude ver seus olhos se encherem de lágrimas, as quais ele engoliu em questão de segundos.
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