Olá, humano! Provavelmente você não me conhece. Aquele que irá narrar esta história sou eu, o Destino. Sim, o mesmo que decide o que acontece com todas as coisas. Hoje, contarei a ti uma história sobre um menino. Contarei pela perspectiva dos deuses que ficam apenas olhando, mesmo eu tendo alguma interferência ao longo da história. Espero que entenda o fim, é importante para o psicógrafo.
Midoriya Izuku, um jovem garoto de pele alva, cacheados cabelos esverdeados, dono de uma fofa pequenez de um e sessenta e oito, com uma noite estrelada em sardas no rosto, dando-o um aspecto ainda mais infantil e fofo, ninguém dizia que ele tinha dezoito anos completos. Não tinha uma vida muito boa, mas era melhor que na sua infância, quando seu pai morreu e sua mãe casou-se com outro homem. Esse último, diferentemente do primeiro, odiava o mais novo, já chegou até mesmo a abusá-lo algumas vezes. Izuku só o suportava devido à doença de sua mãe. Cresceu com um leve grau de androfobia, o que o fazia ter mais amigas que amigos, portanto sofreu muito bullying durante o crescimento. Ecoavam as malditas palavras em sua cabeça tornando-o cada vez mais em enfermo.
O menino nunca teve muita coisa, era de família humilde, mas após a falência de sua mãe tudo piorou: era abusado constantemente, física, verbal e sexualmente, com apenas catorze anos de idade. Foi nesse momento em que o garoto tornou-se quase-ateu. “Se existisse mesmo um Deus, ele não faria a vida ser tão cruel” pensava o menino enquanto chorava em posição fetal após ter sido “comida no lugar da mãe” como o padrasto normalmente dizia. Só tinha de companhia a Lua que iluminava o quarto e as estrelas que a acompanhavam. Naquela sozinha e congelante noite, decidiu-se que daria um jeito de viver decentemente, honrando seus falecidos pais. O menino estudou e três anos depois viu-se prestando vestibular para uma das maiores universidades do Japão. Aguentou o bullying e os constantes abusos do padrasto - e dos amigos dele - como ninguém jamais aguentou, o menino conseguiu suportar tudo o que o mundo colocou na frente dele, até ficar com o mundo inteiro nas costas. Ele via os momentos oníricos em que para os quatro grandes ventos agressivamente bradaria sua vitória. Após poucas semanas de espera ele recebeu o resultado: aprovado. A doença que o aguardava nunca fora imaginada pelo verde cavaleiro.
Após alguns emails trocados com o reitor, conseguiu um dormitório na faculdade graças ao seu alto desempenho. Entrando lá, foi diferente de tudo o que já vira. Conseguiu três novos amigos de cursos diferentes: Uraraka Ochako do curso bacharel em Física, Bakugou Katsuki do curso de Nutrição e Kirishima Eijirou do curso de Educação Física. Os meninos eram como irmãos mais velhos do maior e, também, seus vizinhos no apartamento. Izuku fazia medicina, para que outras pessoas como os seus pais pudessem ser poupadas, era o seu sonho.
No início do segundo período, Izuku começou a se sentir muito fraco, quase não tinha energia, muitas vezes saía da aula pra ir pro banheiro chorar, às vezes ele só queria morrer. Sempre que parava pra pensar nisso, ele percebia que não tinha mais nada, ele simplesmente não conseguia tentar de novo, não conseguia se abrir novamente, não conseguia importar-se de novo. Em um dia, ele e seus colegas - não eram amigos de fato. Eu, o Destino, após decidir o fim e o início de trilhões de seres e objetos, digo que vocês seres humanos deveriam refletir mais sobre o significado das coisas. A maioria de vocês é fina e frágil com papel. Constroem casas para virem abaixo. Praticamente toda a população humana queima o futuro para se sentir aquecida. Todos idiotizados com a obsessão por possuir coisas. Todas as coisas finas e frágeis como papel. Apenas um desabafo de uma entidade, não levem a sério. Voltando ao assunto, o melhor termo para defini-los era: colegas, tudo porque Izuku considerava seus laços frouxos e pífios demais. Eram pessoas de papel, afinal. - estavam pensando em qual princesa seriam. Tudo começou com Ochako dizendo que seria Mulan, pois era guerreira. Eijirou e Katsuki estavam em dúvida. Izuku começou a refletir sobre o assunto, não era nada do que as princesas eram. Midoriya Izuku concluiu que ele seria uma princesa de papel, pois era tão fino e frágil quanto - ele seria uma princesa de papel, não por ser pífio, mas por ser frágil. Ele tinha uma coroa de papel e um coração feito de vidro. Seu reino estava em cinzas, ele jamais poderia olhar pra trás novamente. Ele sobreviveria, mas nunca mais seria o mesmo, ele sempre olhava as cicatrizes que o restaram. Entretanto, apesar do reino em chamas, ele seguia em frente. Midoriya pensou em dizer isso, mas não se sentia confortável, mesmo sabendo que seus colegas entenderiam. O fato é, se as pessoas fossem chuva, elas seriam uma garoa, e Izuku, um furacão.
Uma semana depois, toda a faculdade fora convidada para uma festa no salão da mesma. Izuku a princípio não queria ir, mas depois de encherem tanto o seu saco, aceitou. Usava uma calça jeans skinny - que realçava muito bem suas curvas e fazia questão de realça-las pois eram iguais as da mãe - preta e uma blusa preta juntamente a um tênis branco de cano alto. Ao chegar na festa viu o enorme salão branco com decorações em tons avermelhados, o piso de madeira e uma grande pista de dança ao centro. Todos os professores estavam bebendo. Sentidos pelas vibrações do ar eram os beats da música eletrônica que tocava naquela festa, todos dançando, pulando e divertindo-se, exceto Izuku.
Sinceramente, eu sendo o Destino, acho chato ter que decidir o fim de tudo, mas estar em uma festa em que você não queria estar deve ser um porre. Ele não estava interessado, nem ouvindo, ele não tinha nada para fazer, só foi pelos amigos. Izuku odiava estar envolto de uma grande quantia de pessoas as quais nem se importam com o seu bem estar. Ele preferia estar em um lugar com o pessoal dele, ouvindo alguma música com significado, falando de seus sonhos e soletrando o nome de seus demônios, pensando em grandes planos, em como dominar o mundo.
Até que chega o momento em que um veterano do curso de psicologia, Hitoshi Shinso, um jovem e alto garoto, cerca de um ano mais velho que Izuku, magro com os músculos definidos e cabelos roxos, muito bem vestido com uma calça jeans skinny e um tênis branco com uma blusa escrito "Brainwas" referente a uma série adolescente sobre superpoderes através da modificação da estrutura cerebral, chega em Izuku passando-lhe uma cantada. Izuku riu, mas dispensou o rapaz dizendo que não gostava de se relacionar com pessoas, ele sabia que Shinsou estava provocando, humilhando o menino dos olhos esmeraldinos. Shinsou insistiu mais um pouco, entretando Izuku continuou negando. Aquela festa definitivamente não era pra ele. Já não era a primeira vez que esse tentava algo com Izuku. O homem arroxeado saiu e Izuku decidiu ir embora pra que não houvesse problemas, o único infortúnio era que estava com fome. Decidiu procurar algo pra comer, teria que andar, afinal morava na faculdade.
Levantava a perna, jogava pra frente, descia. Repetia com a outra e então fazia e refazia o ciclo. Andou, andou, andou e encontrou um lugar chamado "Cantinho Brasileiro". Jamais comera na culinária brasileira, olhou a plaquinha e viu que hoje era "Festa Junina", não sabia o que significava, mas se interessou. Tomou a decisão de entrar e comer lá, ele queria saber o que era uma pizza frita. Ao entrar, viu um lugar rústico, feito de madeira e cheio de umas formas coloridas cortadas em papel e pessoas vestindo xadrez e chapéus de palha. Não entendeu ao certo o porquê daquilo. Sentou-se e esperou ser atendido.
Logo uma jovem moça de botas pretas o atendeu. Após a moça ir embora com o pedido da pizza, pelas pessoas que ali estavam corriam os esmeraldinos olhos do garoto, até repousarem em um garoto cerca de um ano mais velho que seu dono, com olhos heterocromados e uma cicatriz em um dos olhos. Tinha os cabelos bicolores e estava trajado como os outros, blusa xadrez, jeans, etc. E os olhares eram retribuídos, o maior também olhava o menor. O heterocromado esperou até o pedido do menino ficar pronto, pegou da mão da garçonete e levou até o menino.
- Você podia fazer isso? - o esverdeado perguntou
- Esse restaurante é do meu irmão, não vai ter problema - ele disse dando um sorriso de canto.
Izuku começou a comer, mas ficou incomodado com o maior ainda na mesa. O desconhecido comia-o com aqueles olhos de comer fotografia, de close em close, Izuku perdeu a pose e sorriu feliz. A aura que o estranho emanava era tão quente e calma. O maior continuou a olhar, deixando o outro com as bochechas rubras e febris. O maior parecia realmente ter uma aura com gosto de infância com temperos os quais Izuku não estava acostumado, aparentava gostar do incômodo que sua nada sutil presença fazia.
- Você é da Yuuei? Acho que tinha uma festa hoje.
- Sim! Como sabe? - o menor perguntou curvando levemente o pescoço pra direita.
- Pela sua roupa! Também sou de lá. Vou entrar no quarto período de medicina. Não gosto das festas. Sempre gostei de tudo que era brasileiro, mas pelo visto temos uma exceção aqui. - ele disse com uma cara muito profana. O menino mais novo apenas continuou alimentando-se fazendo-se de desentendido e com as bochechas fervendo.
- Faz qual curso lá? - perguntou ao mais novo o mais velho tentando puxar assunto
- Medicina também. Vou entrar no segundo período.
- Então quer dizer que é meu calouro?
- Ac-acho que sim… - odiava quando gaguejava
- Já assistiu Sotus? - o menino perguntou com um semblante zombeteiro
- Não - o esverdeado respondeu confuso
- Ah pena… - o outro apenas riu
- Vamos dançar? - o mais velho convidou
- E-eu não sei dançar!
- Eu também não! Vem! - o maior puxou o mais novo pelas mãos, colocou uma mão em seu ombro e outra em suas costas. O menor, vendo que teria de dançar, enlaçou o pescoço do outro igual nos filmes que assistia, passando pelos ombros largos. Então eles ficaram lá, dançando algo que era esquisito para Izuku, mesmo assim ele se divertia. A sensação que tinha era que o outro o qual nem o nome sabia gostava de si, não em um sentido romântico - afinal o esverdeado é um cético amoroso -, mas como amigo, não parecia forçado, era leve e natural, há tempos o menino não se sentia à vontade com alguém e ainda era um desconhecido!
Izuku passou o resto da noite dançando com o garoto. Tudo estava tão colorido, tão vibrante, a vida tinha vida novamente. Enquanto dançavam, conversavam amenidades - aliás, enquanto tentavam dançar - e descobriram algumas coisas legais sobre o outro. Primeiramente, Izuku descobriu que o maior chama-se Todoroki Shouto, é um ano mais velho e é considerado o gênio da família. Já Shouto descobriu que Izuku era muito tímido e não falava muito sobre o passado e coisas pessoais, mas sempre falava muito de qualquer outro assunto. Por alguma razão, o calouro se sentia mais a vontade com aquele do que com a maioria dos homens. Uraraka obrigava-o a fazer terapia, então ele estava levemente melhor, graças a namorada de Uraraka, Tsuyu Asui.
- E onde você mora? - perguntou o heterocromado.
- Na Universidade, consegui um dormitório por lá.
- As notas pra conseguir são muito altas, acho que temos um gênio aqui, não é mesmo? - brincou o maior.
- Você só não pegou um porque não quis. Seu riquinho. - Izuku fingiu-se magoado e inflou levemente as bochechas arrancando uma gargalhada do mais velho.
- Eu preciso ir, já está tarde - Izuku comenta.
- Vamos fazer o seguinte, você fica mais um tempo comigo e eu te levo. Estou de carro. Pode ser? - Shouto pede esperançoso.
- Normalmente eu não aceitaria, mas dessa vez eu vou. - prontamente sorriu o bicolor.
- Quer sentar um pouco? É que você é novinho, mas eu já tenho idade - disse o mesmo após o sorriso
- Grandiosos e longos vinte anos incompletos - debochou Izuku. Shouto senta em uma cadeira e diz:
- Pode sentar. - deixando Izuku completamente sem fala, um pouco desconfortável pelo padrasto, e com vergonha. - Eu não disse onde cada um ia sentar! - Shouto diz com um sorriso de canto, mas nota que o menor não se sentiu confortável com a brincadeira.
- Ei, verdinho, eu ‘tava brincando. - Shouto puxa uma cadeira - vem cá, do meu lado. - o heterocromado pega o outro pela mão e senta-o do seu lado. Izuku solta um bocejo e curva-se levemente pro peito do maior e então se assusta:
- Desculpe! Eu não queria.
- Não tem problema, pode deitar. Deve ter sido difícil pra você acompanhar um exímio dançarino como eu, mas até que você foi bem. - Shouto diz tentando amenizar a situação a qual não tinha muitas informações, deitando a cabeça do menino em seu peito enquanto ria.
Eles ficaram assim durante um tempo. O garoto dos olhos esmeraldinos cochilou por cerca de vinte minutos. Após acordar eles comeram alguns doces que alí haviam. Logo depois, o maior chamou o menor para irem embora, esse quase surtou quando viu o horário. Eles entraram no carro de Todoroki e assim seguiram para a universidade. O motorista parou na porta do dormitório de Izuku.
- Quer entrar, Todoroki-kun?
- Pode me chamar apenas de Shouto. Sem formalidades. E eu aceito sim.
Eles, então, subiram o elevador até o nono e último andar e entraram no apartamento. Era simples, afinal era da faculdade, mas muito bom. Izuku morava no dormitório que só tinham apartamentos para uma única pessoa. Izuku serviu uma água ao rapaz. Shouto olhou seu celular e leu uma mensagem.
- Verdinho, sem querer ser chato e tal, mas teria problema se eu dormir aqui? Meu pai deve estar puto da vida por uma reunião de negócios.
- Se você não ver problema em ter que dividir a cama comigo, pode sim. Eu só não vou ter roupas tamanho de Gigante.
- Eu acho que devo ter no carro. Eu sempre ando com roupas a mais.
Shouto foi até o carro verificar se tinha. Ele achou algumas e subiu para o apartamento. Ao chegar, viu Izuku já de pijamas. Shouto trocou-se e foi até o quarto do mais novo. Eles estavam deitados de barriga para cima. Ambos com vergonha.
- Meus amigos morreriam pra poder me ver com vergonha. - O bicolor comentou gerando risadas no mais novo.
- É melhor dormir, Shouto, boa noite!
- Boa noite.
Logo após isso, Izuku virou-se para a parede. O maior que não era bobo nem nada, começou a beijar e morder o pescoço do mais novo que só arrepiava. Quando Shouto colocou a mão na barra da calça, Izuku diz com uma voz chorosa:
- Para! Por favor, para!
Todoroki vira o mais novo e depara-se com esse chorando desesperadamente. Rapidamente entendeu o que aconteceu. Ele abraçou o mais novo.
- Ei, ‘tá tudo bem! Eu nunca vou fazer algo que você não queira. - Shouto ficou acalmando o menor, até que esse dormiu em seus braços. Shouto também adormecera com o menor no colo.
Pela cortina entrava, iluminando o ambiente de forma difusa, os raios quentes do astro-rei. Raios esses que incomodaram os olhos do mais novo, acordando-o. Ao abrir os olhos, percebeu que o maior não estava. Será que havia sonhado? Não sabia. Ele, então, levantou e foi até a cozinha, deparando-se com o homem dos cabelos e olhos bicolores tomando café.
- Bom dia!
- Bom dia?
- Eu não quis te acordar, então fiz o café. - Izuku olhou pra mesa e viu que havia sucos, frutas, bolo, pão - Eu comprei boa parte, mas não se preocupe, não precisa me pagar. Eu tô indo embora, mas deixei meu número e meu twitter na geladeira caso queira. - Shouto piscou pra Izuku, corando-o
- Achei que ia embora sem falar nada
- Eu não queria te acordar, mas tirei uma foto nossa. - Na foto, Izuku dormia tranquilamente no peito do outro enquanto repousava uma das mãos no mesmo.
- Você é um tarado, sabia?
- É porque eu tenho uma sobrinha que tem medo do escuro, aí sempre dormimos juntos assim.
- Incesto, credo.
- Ela tem sete anos!
- É um pevert...
- EU SOU GAY - o mais velho gritou, Izuku começou a ter uma crise de riso enquanto o maior ficava olhando-o com uma leve raiva. Minutos após o veterano sair, Izuku o chama na dm do twitter.
Dois meses passaram-se, Izuku só falava com Shouto pessoalmente e pelo twitter. Não queria incomodá-lo de forma tão íntima. Eles viraram melhores amigos, era como se Izuku tivesse sido recriado, reinventado.
Izuku foi para a aula, no entanto a aula estava muito chata. Ele, então, teve a brilhante ideia de mandar mensagem para o maior. Esse provavelmente não responderia por também estar em aula, mas o esverdeado achou que seria uma boa ideia.
“Oii”
“Quem é?” - surpreendeu-se com a resposta imediata
“Izuku”
“Por que essa foto de personagem de anime?”
“Você também tá com foto de outra pessoa”
“Não é qualquer pessoa não, tutu pom! É uma blogueira maravilhosa!”
“E eu achando que você não poderia ser mais estranho, Shouto!”
“Me senti ofendido”
“Izuku, eu vou fazer uma festa lá em casa hoje à noite, poucos amigos vão, eu chamei os seus também. Quer ir?”
“Chamou os meus?” - Izuku ficou em choque com a velocidade do maior
“É que meus amigos conhecem eles”
“Você vai! Não aceito um não como resposta. Ainda vou te pegar mais cedo, é o que eu quero pelo café da manhã de quando nos conheçemos :p”
“Achei que eu não ia precisar pagar :c”
“Não é por essa parte (╬⓪益⓪)”
“Tá, tá, eu vou”
“Estou na porta da sua sala, assim que sair vem comigo”
“Mas já?”
“Eu disse que ia te pegar mais cedo”
Ao tocar o sinal, Izuku foi com o maior. Shouto, sem perguntar, pegou a mochila de Izuku e carregou-a por ele. Todos os olhos voltaram-se contra ele. Um calouro com um veterano. Ou melhor, um calouro com o veterano. Izuku encolheu-se e passou a ficar atrás de Shouto. Conseguia ouvir o xingamento de algumas meninas e meninos. Nunca se acostumaria com aquilo. Shouto foi até um cara todo tatuado e cheio de piercings, os olhos do homem eram parecidos com um dos olhos de Shouto.
- Dabi! - disse o bicolor
- Shouto! - disse o tatuado
- Esse quem é? - perguntou a figura apontando para Izuku
- É aquele amigo que comentei.
- Ah, aquele “amigo” - disse Dabi fazendo aspas com os dedos
- A filha é sua? - Izuku perguntou curioso
- Que filha? - Dabi ficou confuso
- A sobrinha do Shouto.
- Shouto não tem sobrinha nem sobrinho. - Izuku apenas fuzilava o heterocromado ao ouvir aquilo enquanto Dabi ria, ele sabia do que se tratava.
- Esse é o meu irmão ovelha negra, Todoroki Toya, mas ele prefere ser chamado de Dabi. Ele é o dono do Cantinho Brasileiro e tatuador.
- É um prazer - Izuku cumprimentou-o.
- Bem, vamos? - Dabi perguntou, deixando o mais novo confuso.
- Eu já ia te chamar hoje. Nem vem falando que precisa estudar, você é o melhor da turma e não tem mais aulas. Eu peguei seu número mais cedo com aquela tal de Uraraka. - Shouto nem deu chances a Izuku, puxou-o para o seu Mustang branco e começou a digirir.
- Para onde vamos? - Izuku perguntou
- Lembra quando nos conhecemos? Você me disse que gostaria fazer uma tatuagem. Eu sei que você não gostaria que eu pagasse, então eu fiz um acordo com o Dabi: eu dava para o namorado dele uma escultura que minha amiga fez pela tattoo. - Shouto disse com o rosto corado. Aquele rosto só cora por Izuku.
- Nã-não precisava, Shouto! - Izuku disse curvando seu peito para falar na nuca do maior - Izuku não gostava de andar na frente - e decidiu passar pelo vão que separava os bancos da frente, depositando um beijo na bochecha do maior.
- Se eu conseguir mais tatuagem eu ganho mais beijo? - Todoroki perguntou com um tom malicioso
- NÃO ABUSA SHOUTO! - Izuku grita em vergonha.
Eles chegaram e Izuku estava tentando decidir as tatuagens
- Que tal essa? Você não gosta de raposas?
- Gosto, Shouto, mas eu não sei onde fazer.
- Que tal essa, Shouto?
- Um Sol e uma Lua?
- Sim! Eu faço a Lua e você o Sol.
- Eu tenho medo de agulha, Izu.
- Eu te dou um presente depois. - Izuku fez uma carinha de cachorrinho que caiu na rua a qual o maior não pôde resistir.
- E qual o significado? - Shouto perguntou
- Eu sou o seu sol, por me divertir. Você a minha lua por me acalmar. Dessa forma, nunca estaremos longe do outro. - o esmeraldino explica deixando Shouto com vergonha.
- Você é idiota? - Izuku pergunta ao ver a reação do maior, fazendo uma referência a uma animação que gostavam e maratonaram juntos.
Izuku fez a Lua abaixo do pulso direito, na região do antebraço, Shouto fez o sol no mesmo lugar. Entretanto, o esverdeado teve que segurar a mão esquerda de Shouto. Jamais imaginara que Todoroki Shouto teria medo de agulha. Eles se despediram do irmão de Shouto e foram para o carro. Izuku entrou no banco da frente, deixando Shouto curioso.
- Por que entrou pela frente?
- Seu presente… - Izuku ficara vermelho. Ele pulou pro banco do motorista, mais precisamente pro colo de Shouto.
- Izu..
- Cala a boca. - Izuku disse selando os lábios de ambos, as bocas dançavam uma valsa lenta em perfeita harmonia. Um, dois, três. Um, dois, três. Com o tempo, os passos foram ficando mais ousados, e novos passos apareceram: as leves mordidas no lábio inferior. Um clássico dessa dança. O beijo que começou simples e tornou-se quente terminou, dois jovens corados estavam surgindo.
- Eu só posso fazer isso por enquanto, desculpa. - Izuku diz. Ele sabia que o outro queria ficar consigo desde o primeiro dia que o viu, mas a amiga de Shouto, Yaoyorozu Momo, comentou com o esverdeado que Shouto apaixonara-se por Izuku.
- Eu sempre vou te esperar Izuku. - Shouto disse dando um leve selinho no menor - Podemos?
- Pode me deixar no shopping? Não tenho roupa pra noite.
Izuku fica no shopping e anda, anda. Encontra uma blusa cinza escura, com o busto de um delicado e gentil garoto usando uma coroa de flores. Ele decide usar aquela blusa com sua famosa skinny preta com seu tênis vermelho. Enquanto esperava o Uber, deitado em uma das colunas na frente da entrada do shopping, trocava mensagens com Shouto, ali Izuku sentira-se vivo, feliz, de um jeito que jamais sentiu. Izuku foi para casa. Tomou um bom banho quente para relaxar. Era a primeira festa particular. Vestiu-se e enfim saiu. Iria com os meninos e Uraraka, pois moravam perto e Bakugou tinha carro.
Eles foram juntos em um silêncio confortável: Os meninos - com exceção de Izuku - e Uraraka estavam ansiosos pelo fato de estarem indo em uma festa particular de alunos veteranos.
- Gente… - o esverdeado quebra o silêncio e todos voltam-se a ele - eu beijei o Shouto hoje.
- 'Tá gostando dele? - perguntou Kirishima. Todos ficaram felizes pelo amigo estar conseguindo progredir na terapia.
- Sim! - Izuku diz avermelhado
- Namorando um famosinho da faculdade, hein? - brincou Uraraka
- Não estamos namorando ainda
- Ainda - a menina repetiu
- Se ele for um pau no cu pode deixar que eu mato ele.
- Nã-não precisa Bakugou!
Eles seguiram conversando até chegarem na mansão Todoroki, com um grande jardim na frente e bem arborizada em volta, principalmente no jardim. Parecia que a casa tinha vivido bastante coisas. Eles estacionaram o carro no estacionamento e foram para a casa, onde foram recebidos por Momo. Ao entrarem, não havia muitas pessoas, apenas Kaminari Denki, Mina Ashido e Tenya Iida, além do Todoroki.
Pela primeira vez na vida, Izuku estava se sentindo feliz e acolhido. Talvez ainda houvesse uma esperança para o menino, afinal. Não eram profundas as amizades que o cercavam, com exceção a Shouto, mas talvez ele conseguisse aprofundar. Ela estava viva nas veias do garoto: a esperança. Ele começou a chorar, estava vendo tudo colorido novamente. A esperança queimava suas veias, dando forças para o mais novo. Ele rapidamente limpou os olhos, não queria que Shouto visse-o chorando. Eles comeram, dançaram e divertiram-se até aproximadamente uma da manhã.
De repente, o barulho de um tiro fora ouvido e Todoroki estava no chão, com a perna sangrando. Mais algumas balas foram atiradas.
- Você não quis me dar atenção, agora eu vou devorar e destruir tudo o que você conseguiu. - uma voz foi ouvida: era de Hitoshi Shinsou. Ele entrava trajando apenas roupas pretas, para o velório que ele faria.
- Eu poderia te dar tudo, mas você preferiu seus amigos falsos e seu namoradinho pífio.
O que ele não sabia era que a casa de Todoroki tinha seguranças por ser uma família de forte influência política. O pânico começou a rastejar pela pela superfície da derme de Izuku, devorando e destruindo todas as seguranças que ele conseguiu. Ele fingiu estar bem até Shouto ir para ambulância. Izuku saiu correndo para casa logo que Shouto foi embora. Havia tantas coisas corroendo sua mente. Ele queria chorar, mas não conseguia. Ele se culpava, mas não sabia o porquê. Ele tentou ser atropelado, mas Uraraka havia seguido e o salvou. Ela tentara falar com Izuku, mas esse só fugia.
Uma semana depois
Izuku não deixara ninguém subir até seu apartamento. Ele estava sendo corroído por tudo o que havia sido guardado. Seus amigos sequer tentaram falar com ele após o ocorrido, apenas ignoravam os tweets depressivos e a reclusão do mais novo. Izuku deu-se conta que ninguém pode ajudá-lo, porque ninguém gostará de você caso mantenha suas paredes tão altas, caso você se tranque em si mesmo. Nem mesmo Shouto que havia mudado drasticamente o menor surtia efeito e para piorar, o bicolor ainda não havia recebido alta do hospital, portanto mal se falavam. A mente de Izuku piorou drasticamente, ele havia surtado, ele se sentia tão sozinho, tão amargo. Era como se ele não tivesse sequer oportunidades mais.
"Mesmo que eu tenha, elas não terão efeito."
"Ninguém pode me ajudar, as pessoas são muito ínfimas, só ligam pra coisas simples e fáceis. Eu preciso de algo profundo."
Ele percebera que era um furacão e odiava isso.
"Eu queria ser simples, idiota e patético como a maioria das pessoas."
"Talvez eu só seja um fudido que confiou demais em filmes de princesas e heróis. Não existe nada legal ou bom aqui."
Um dia, quando Izuku saiu da cama, o sol caiu do céu e rolou no asfalto. As flores decapitaram a si mesmas. A única coisa semi-viva que restou foi ele, e ele não sabia mais se isso era vida. Ele se sentia aquilo que o chamavam quando ele era pequeno, “um garoto doente”. Izuku estava sendo devorado pela própria mente, sua mente era um campo de batalha, estava açoitada e rasgada em pedaços, sendo arrancada do próprio tecido da realidade. Ele estava se segurando ao máximo, até que, ao ir na padaria, fora assediado por Shinsou - que conseguira sair da prisão pela fiança -, Shinsou pressionou muito o mais novo, Izuku apenas estava de olhos fechados, e tentando correr. Após tentar um bocado, conseguiu. Estava em seu quarto, passando por mais um surto pesado. Ele estava pensando se conseguiria novamente se reerguer. Fantasiou o brio na rotina, como sempre fazia pra se acalmar. Percebeu-se que havia se estilhaçado em cacos líquidos e virtuais, afinal todos eram tão iguais, todas as singularidades em ruínas. Ele se sentia tão fraco e frágil, nada daria certo pra ele, nem ninguém. Ele simplesmente não se conseguia dar certo, não se sentia certo. Ele era apenas uma criança sozinha e com medo. Mas a mente dele tornou-se poderosa demais, então decidiu tomar um coquetel de remédios. Ele iria sair de cena para se aliviar, vestiu todo o seu “drama” uma última vez, agora ele se liquidaria em sua liquidez. Ninguém notou - nem ele mesmo - sua mente infestada de doenças, depressões e ansiedades. No auge da dor humana, ele deixou uma carta:
"Querida Mamãe, eu agradeço por ter parado de sonhar pra que eu sonhasse. Entendo que não pôde me compreender sempre, eu sempre fui muito difícil.
Querido Papai, eu agradeço por ter feito tudo pela nossa familia, por deixar de comer para que eu comer, por deixar de se divertir para que eu me divertisse. Entretanto eu gostaria que você tivesse sido mais presente. Eu sentia sua falta antes mesmo de você morrer.
Queridos "amigos", vocês já se perguntaram o que significa ser amigo de alguém? Vocês com seus grupos entre si, fazendo várias coisas juntos, me excluindo, debochando de mim, conversando o dia inteiro e me ignorando, e depois vocês vêm me dizer que me amam? Vocês nunca me amaram. Eu amei vocês, e sinceramente? Amar vocês era como respirar, mas já sentindo falta do ar antes dele chegar aos pulmões. Quando vocês se desapaixonaram por mim?
Querida Uraraka, obrigado por ter tentado me ajudar em um momento difícil, mas eu acho que eu já apodreci demais pra que pudesse ser salvo. Desculpe-me por te incomodar com minhas perguntas complexas e assuntos difíceis. Você poderia ter sido uma grande amiga, se eu tivesse com o coração aberto, mas sempre que eu abria, doía muito. A dor passava pelo corpo todo, eu era consumido por aquilo.
Queridos Kirishima e Bakugou, eu acho que podíamos ter sido mais próximos. A verdade é que vocês me lembram muito uma amiga que eu tive, minha única amiga. Eu tive medo de vocês não gostarem de mim e tentei, algumas vezes, ser uma pessoa que não sou. Eu acho que talvez nós poderíamos ter sido grandes amigos, se eu não fosse tão idiota e paranóico. Se eu não fosse tão esquisito, nós e Uraraka poderíamos ser um grupo bem legal.
Shinsou, eu não entendo o que fez você virar alguém tão tóxico comigo. Eramos amigos, você passou a me odiar e então ficava dando em cima de mim pra eu me sentir mal pelo que passei. Você gritou aos quatro ventos que eu era tóxico com você e que eu jogava meus problemas em cima de você, mas eu nunca comentei nenhum deles, eu só mencionava algum como exemplo, pra tentar te motivar. Nunca fui bom com palavras, mas eu só queria te ver feliz e bem.
Para o meu grande amor, Todoroki Shouto. Você não faz ideia de como reergueu meu mundo todo sozinho depois do restaurante do seu irmão. Você foi a primeira pessoa que demonstrou interesse por mim, em ser meu amigo, não no meu cérebro ou nos conselhos que eu sempre dou. Eu ganhava o dia quando fazia algum tweet sobre mim. No dia da festa, enquanto trocávamos figurinhas no whatsapp e conversávamos, eu nunca me senti tão bem. No entanto, eu sei que você vai encontrar alguém melhor. O fato de nos gostarmos não significa que fomos feitos para ficar juntos. Isso é o que eu mais faço, afasto as pessoas. Eu nunca te disse isso, mas eu te amo. E é bom ter tido um amor, mesmo se a gente vai morrer
Por fim, saibam que monstros, fantasmas e demônios são reais. Eles vivem dentro de nós, tentando nos transformar neles. E às vezes, eles vencem.".
Izuku deixou a carta na mesa e subiu para o telhado. Ele queria estar vendo o mundo quando ele ficasse roxo. Ele queria ouvir que o amor é infinito e que a esperança nunca é perdida. Se alguém o quisesse ver, teria que ser rápido. Ele iria em breve. Não havia nada que o podia salvar agora. Ele começou a chorar, não estava bem. Havia emagrecido tanto por ficar longos períodos sem comer, ele estava tão assustado.
Passaram-se algumas horas e o zelador foi fazer uma inspeção no telhado e achou o corpo do menino lá. Morto. Sem amor. O amor é frágil. E nem sempre cuidamos dele muito bem. A gente se vira e faz o melhor que pode, e torcemos para que essa coisa frágil, sobreviva apesar de tudo. Todavia, a vida nem sempre é romântica. Às vezes, ela é realista. Midoriya Izuku não estava mais se aguentando. Sua personalidade foi corrompida, parecia outra pessoa. Às vezes, é preciso deixar as pessoas amarem você. Só que o menino não conseguia mais se sentir amado, querido, ou que valesse a pena. Ele só conseguia se sentir um fardo, um monstro, um demônio. Ele estava em um estágio mental muito avançado e muito complicado. Ele não se matou por qualquer coisa. Ele tinha medo da própria mente, o problema é que ele estava preso a ela. Ela, por sua vez, era extremamente cruel e mais forte do que um garoto - ou qualquer pessoa - pode aguentar. Eu não posso descrever aqui, é proibido.
"Por que será que só quando uma história acaba, a gente começa a sentir cada página?" - Todoroki perguntava-se triste e amargurado. Ele ficou um longíssimo tempo bem pra baixo. Ele ficava lembrando de quando viu o mais novo no dia do trote. Tinha sentido algo que nunca sentiu antes, mas nunca tentou até o dia no restaurante de Dabi. Ele se lembrara de quando eles se falaram, era verão, os dois beijando-se no Mustang, as tatuagens combinando. O bicolor prometeu para si que em uma outra vida, ele seria o homem de Izuku. Eles manteriam todas as promessas, seriam ambos contra o mundo. Ele prometeu que em uma outra vida, faria o menino dos olhos verde esmeralda ficar, assim o heterocromado não teria que dizer que Midoriya era "aquele que foi embora".
O menino Shouto sentiu-se péssimo quando soube, afinal Izuku havia se tornado parte de sua vida, e de várias maneiras, era a melhor parte dele. Shouto nunca mais se interessou por alguém de novo. Nunca ficou nem transou. Ele simplesmente não conseguia.
Enquanto Izuku morreu, o esverdeado só pensava em duas coisas:
"Eu te amo, Shouto. Desculpe-me por ser tão fraco."
"Quando eu me desapaixonei por mim?"
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