O barulho da arma sendo disparada cortou a madrugada, e acertou em cheio na barriga do único homem que estava na rua vazia. Ele sucumbiu sobre os joelhos enquanto gritava inutilmente por socorro. Suas mãos estavam completamente ensanguentadas por conta da tentativa sem êxito de estancar o sangramento.
Das sombras de um beco, saiu outro homem. Um homem alto, que usava roupas completamente pretas, e girava um revólver com extrema habilidade nos dedos. Seus cabelos eram pretos e rebeldes, e seus olhos de um azul tortuoso que chegava a ser bizarro. Ele sorria. Um sorriso brilhante, satisfeito e psicopata.
Com imensa calmaria, ele se aproximou do outro homem no chão, que estava começando a sofrer espasmos e tentava ao máximo se manter vivo.
- Não faça esforços, você irá morrer de qualquer forma - disse o homem de olhos azuis, enquanto de abaixava ao lado do homem no chão.
- Por favor... Eu vou arrumar um jeito de te pagar... Tenha piedade - o homem suplicou aos prantos, enquanto sentia sua vida esvair de si assim como o sangue em seu abdômen - por favor Alec.
- Sempre tão patético - uma expressão entediada tomou conta do rosto de Alec Lightwood, que respirou profundamente antes de se levantar. - deveria ter pensado bem antes de querer minhas mercadorias.
- Espero que o diabo tenha piedade de você quando for pro inferno. - o homem murmurou entre dentes com dificuldade, tentando se levantar ou ao menos se virar, apenas para não parecer rendido aos pés de Alec.
- Sou eu quem precisa ter piedade do diabo.
Alec disse com a voz calma e riu antes de apontar a arma novamente para o homem, mirando diretamente na cabeça. Sem nem pensar, atirou.
* * *
O esconderijo de Alec era atrás de um dos bairros mais ricos e calmos de Seattle. Exatamente por ser um bairro calmo, não havia suspeitas de que um dos maiores criminosos da cidade se escondia por ali.
Sua casa era distante, ficava quase na encosta de uma montanha. Era grande e interditada para venda, com alegações de que era deveras cara para um lugar não tão facilmente acessível.
O carro cantou pneu por trás da montanha e instantes depois, entrou na garagem traseira da casa, que dava para uma outra garagem subterrânea.
Alec desligou o carro e suspirou pesadamente saindo do veículo e o trancando. O homem se adiantou pela garagem e abriu uma porta metálica que dava para dois lances de escada, os quais Alec subiu calmamente, tirando o revólver do cinto. Do bolso do blazer preto, ele tirou um lenço branco e começou a passá-lo descontraidamente pela arma, até sair em outra porta metálica, que abria para a extensa e elegante sala.
Alec pousou o revólver na mesa ao lado da porta e respirou profundamente tirando o blazer e o jogou no sofá de couro preto, enquanto seu olhar vagava pela sala e parte do corredor.
Um toc toc começou a ecoar e Alec sorriu de lado apoiando-se contra o encosto do sofá no mesmo instante em que uma mulher esbelta, elegante, de cabelos negros como a noite, que chegavam em ondas até a base das costas entrou na sala. Ela era um pecado em forma de mulher, o toc toc vinha dos saltos altos e finos de seus sapatos pretos, que vinham acompanhados por um vestido vinho justo que parava no meio das coxas grossas. A mulher sorriu, e seu sorriso avermelhado pelo batom iluminou a casa toda, mas de uma forma mortal, como se aquele sorriso disparasse facas em quem o achasse atraente.
- Pensei que não voltaria mais - a mulher declarou quando estava perto o suficiente de Alec, que continuava com a expressão calma, encostado no sofá.
- E te deixar com essa casa só para você? - Alec cerrou os olhos com um sorriso ladino no rosto. - não seja boba, Isabelle.
A mulher maneou a cabeça para o lado com um sorriso mais contido. Levantou uma das mãos para afastar um pouco os cabelos, e a pulseira de prata em formato de serpente – que fora um presente de Alec - brilhou exageradamente em seu pulso.
Isabelle Lightwood era a irmã mais nova de Alec. Uma mulher espetacular, inteligente e traiçoeira. Ia de reconhecer se um diamante era falso ou verdadeiro, ou se uma droga era boa, até arquitetar os melhores planos para crimes e fugas. Além disso, era uma hacker incomparável. E era o braço direito de Alec.
- Como foi o serviço? Correu tudo bem? - perguntou a irmã, encostando-se no sofá ao lado do irmão mais velho.
- Tudo perfeito - Alec balançou a cabeça para os lados e começou a puxar para cima as mangas da camisa preta que usava. - e para amanhã?
- Ótimo - Isabelle respondeu com um sorriso satisfeito - por enquanto, sabe que precisamos saber os passos daquele imbecil que comanda a investigação contra você no FBI.
Alec assentiu. O FBI estava atrás dele a mais de dois anos. Especificamente atrás dele. Alec era o rosto de toda a quadrilha, de todo o crime. Isabelle vivia na surdina, usava nomes diferentes para fazer o que precisava, seduzia quem era necessário, e matava em silêncio. Ela tinha tanto sangue nas mãos quanto Alec, mas nunca sequer pensaram em relacionar os dois, e os poucos crimes de Isabelle que eram descobertos, eram imediatamente atribuídos a Alec.
- Tudo bem - Alec suspirou e se desencostou do sofá - chame Raphael e Julian para a ajudar com a mudança do carro de fuga, trouxe placas novas, está no banco de trás.
Alec tirou as chaves do bolso da calça e as jogou para a irmã que sorriu com uma sobrancelha arqueada ao pegar o molho no ar antes que o irmão sumisse corredor a fora, em direção às escadas que levavam para os andares superiores.
A casa era extremamente grande, conseguia abrigar alguns homens e mulheres que eram de mais confiança para Alec.
O quarto de Alec era no terceiro andar, o maior da casa, uma imensa suíte que tomava quase metade do andar.
Já se despindo no meio do quarto, Alec entrou no banheiro e preparou a banheira, antes de entrar na mesma, e sentir cada músculo de seu corpo relaxar.
* * *
Na garagem, Isabelle estava encostada contra um balcão com algumas ferramentas, enquanto observava dois rapazes trocarem o capô de um dos carros. Um deles era moreno e pálido, não tão alto, enquanto o outro tinha cabelos castanhos e olhos azuis esverdeados. Ambos lindos e sem camiseta.
Isabelle não gostava muito de se relacionar com as pessoas que viviam na casa, ver a pessoa todo santo dia acabava enjoando. Mas ela não podia negar a beleza dos homens ali, afinal, ela não era cega.
Se desencostando do balcão, ela atravessou a grande garagem e abriu calmamente o carro de Alec, inclinando-se para dentro da parte de trás, até alcançar uma caixa de papelão retangular e alta. Isabelle pegou e saiu do carro, já fechando o mesmo. Ela voltou para o balcão, colocou a caixa sobre ele e a abriu, tirando – no máximo – sete pares de placas diferentes de carro. Escolheu uma aleatória e guardou as outras antes de se virar para os dois rapazes que estavam acabando de por o capô.
- Quando terminarem, coloquem essa - Isabelle chamou a atenção dos dois e sorriu balançando a placa. Os homens assentiram e Isabelle deu de ombros se adiantando para fora da garagem.
Ela subiu as escadas calmamente e voltou para dentro da casa e suspirou pesadamente se sentando no sofá de couro, deixando suas pernas descansarem um pouco.
* * *
O corpo de Alec já estava completamente seco, e ele se apressou em colocar uma roupa. Ao entrar no closet encarou rapidamente pelo espelho a tatuagem em sua costela, a qual era uma caveira grotesca, e pela boca da mesma saía uma serpente que se enroscava em si própria.
Finalmente Alec se vestiu com uma calça de moletom preta e uma regata branca e suspirou pesadamente saindo do closet, sem nem ao menos se assustar com Isabelle jogada em sua cama.
- Mudança de planos - declarou ela, jogando o celular – que Alec percebeu ser o seu – na cama. - o FBI acha que vamos seguir o plano do aeroporto.
- Enquanto seguimos o plano B? - Alec se deitou ao lado da irmã, colocando um dos braços atrás da cabeça.
- Sim - Isabelle sorriu abertamente e se virou de lado, para ficar cara a cara com o irmão, que a olhava entretido - enquanto o FBI está no aeroporto, vamos pegar o carregamento literalmente na frente deles. O caminhão da fábrica em frente ao aeroporto irá fazer um descarregamento lá amanhã, Jace disse que colocará nossas armas naquele caminhão. Arrumei uniformes de lá para Julian e Lorna, eles vão pegar as caixas marcadas, mas é claro que não irão entrar na fábrica, vão dar a volta, para onde você vai estar com o carro esperando. Vou hackear todas as câmeras, tanto do aeroporto quanto da rua, para poder monitorar o FBI, estarão todos disfarçados, mas não é difícil enxergar um colete a prova de balas por baixo de camisas cafonas. Eles não tem senso de moda.
- Perfeito - Alec sorriu orgulhoso e respirou fundo se ajeitando na cama - será nossa última encomenda, já estou cansado do tráfico de armas, preciso focar em fazer o que eu realmente estou aqui para fazer.
- Como quiser - Isabelle ofereceu um sorriso perverso ao irmão, que retribuiu com o mesmo sorriso.
* * *
Em volta da mesa de táticas do FBI, havia alguns agentes espalhados, olhando diretamente para um em especial, que falava sobre o plano para pegar Alec Lightwood.
Holden Ford era o chefe da investigação. Tinha cabelos castanhos e olhos azuis, e estava repetindo mais uma vez sobre o que fariam no dia seguinte no aeroporto.
- Ajam naturalmente, e não cumpram ordens que não tenham vindo de mim, Tessa, ou Magnus - Holden deixou a voz mais séria, e se apoiou na mesa.
Todos os olhares ali se viraram para o homem sentado na ponta da mesa. Tinha a pele morena e olhos puxados com as íris verde-dourado. Magnus Bane, o braço direito de Holden.
Ninguém ali sabia ao certo como o homem chegado no FBI a pouco menos de um ano já havia ganhado a confiança de Holden. Mas Magnus era realmente um dos melhores agentes que tinham ali. Sempre dedicado para as missões, e para prender Alec Lightwood.
- Vamos fechar o aeroporto, ninguém pode sair, não sabemos quem trabalha para o Lightwood ou não - Magnus disse sério, passando a mão descontraído pela mesa.
- Magnus está certo, então fiquem de olho em todo mundo - uma mulher de cabelos castanhos e olhos acinzentados emendou. Era Tessa, outra que tinha a total confiança do agente Ford.
- Todos entenderam? - Holden perguntou cruzando os braços frente ao peito. Os outros agentes ali concordaram - muito bem, estão dispensados.
- Se preparem bem para amanhã - Magnus disse ainda sentado e com a voz pesada - não quero voltar sem ser com Alec Lightwood preso.
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