- Ai. Meu. Deus. – São as únicas palavras nas quais Laura pensa.
Justin tenta se levantar. Ótimo. Agora ele tem plateia. Várias mulheres que estavam no banheiro no momento em que caíra passavam por ele, com expressões de nojo. Elas não o reconheceram. Ainda bem. Seu estado devia ser deprimente mesmo.
Ele olha para Britney, enquanto se levanta. Tão assustada... Tão linda.
- Foi mal.
Britney o observa. Ele está extremamente constrangido. Talvez seja a vez dele desejar enfiar a cabeça no vaso sanitário. Ela dá um sorriso de lado.
- Precisa de ajuda? – ela se inclina um pouco enquanto ele ainda se levanta. – A imprensa não perdoa vômitos. – ela diz baixinho imitando a maneira como o ex debochara dela horas atrás.
- Vingativa, ein... Pelo visto guardou cada detalhe de hoje. – ele a provoca, agora finalmente de pé.
- Como assim hoje? – Laura pergunta boquiaberta. Ela olha para a prima. – Vocês se viram hoje? Vocês estão se vendo? Meu Deus! Você tá transando com ele?!
- Não! – Os dois exclamam, em coro.
- A gente se esbarrou hoje cedo. Só isso. – ela explica.
Justin olha a seu redor. Ainda há muita gente por perto.
- É melhor dar o fora daqui, antes que nos reconheçam.
- Concordo. – Britney assente.
Ele se vira para ir embora. Neste mesmo instante, surge um flash na sua frente. Ele fica tonto e se não fosse por Laura a segurá-lo, ele teria caído mais uma vez. Seja lá quem tenha tirado a foto, a pessoa desaparecera tão discretamente quanto surgira.
Em seguida Britney ajuda Laura a segurá-lo.
- Eu tô bem! Tô ótimo. Já podem me deixar.
- Não, você não está. E olha que eu estou péssima, ein? – Laura debocha. - Vai na frente. Entra no carro. Deixa que eu dou um jeito nele. Chego lá em cinco minutos. – ela murmura para Britney, que agradecida, sai correndo descalça, com os sapatos em mãos.
- Isso. Leva ela embora, por favor. – Justin resmunga, enquanto se apoia na loira.
- Meu Deus, olha só pra você. Está deplorável.
- Você também está um tesão.
- Olha aqui, não é porque você está acabado que vou ter pena o bastante para não chutar seu saco se continuar com essas brincadeirinhas.
- Uuuui, ela é perigosa. – ele continua a debochar.
- Com quem você veio? – ela pergunta, ignorando-o.
- Andrew.
- Ok. Onde ele está?
- Não sei. Merda. Perdi ele de vista.
- Você precisa sair daqui. Não tem condições de continuar nesse hotel.
- Vou mandar uma mensagem para ele.
Ele pega o celular e tenta digitar. Não consegue ser coerente em sua digitação, e o corretor automático não o ajudou em nada. Seja lá o que ele tiver enviado, ele pelo menos tentou.
Britney entra no carro. Pede ao motorista que espere um pouco. Sente seu coração a mil, enquanto espera pela prima. Essa sim era a cena mais inusitada que poderia imaginar em toda a sua vida. Primeiro ela se encontrava com ele na porta do banheiro de uma loja, e o vira debochar de sua roupa. Agora, ela se encontrava com ele na porta do banheiro de uma boate e o vira vomitar em sua roupa. O que ele tinha contra as roupas dela?!
Sentira um pouco de pena ao vê-lo assim. Seria muita ingratidão rir dele naquela situação, quando já fora tão bem cuidada por ele em outra ocasião na qual precisara de alguém.
(2003) Los Angeles
- Estão gostando? – Justin pergunta a quatro mulheres, todas sentadas em um de seus sofás de sua mansão.
Ouve em seguida uma chuva de “Claro, está tudo ótimo!”, “Melhor impossível”, “Obrigada por perguntar”. Ele sorri, com seu jeito galanteador. Nunca vira tanta mulher bonita em um lugar só. Bem que Andrew lhe dissera que iria caprichar na festa de aniversário do amigo. Agora que estava solteiro, Justin estava sendo empurrado para todas as mulheres possíveis, pelos amigos.
Não queria festa de aniversário, na verdade. Mas devido a tamanha insistência dos amigos, ele acabara por aceitar fazer. Sua casa estava lotada. Mas ainda faltava alguém. Ele a convidara. Eles ainda se falavam por telefone. Conversavam muito pouco. Não tinham muito assunto mais... Às vezes pareciam dois estranhos ao telefone. Mas ele comentara da festa naquela manhã, quando ela ligara para lhe dar os parabéns. Seria uma grande cafajestagem não dizer nada a respeito. Ele só não imaginava que ela apareceria por lá.
- Feliz aniversário, mais uma vez. – Britney diz, estendendo uma caixinha, assim que ele abre a porta. Seu sorriso é um misto de tristeza e esperança.
- Ah, sim. Obrigado. – ele estende a mão para pegar a delicada caixinha. – Não precisava.
- É algo simples. Mas espero que goste.
Justin abre a caixinha. Nela, há um pequeno broche. O broche não lhe é estranho. Ele o analisa, enquanto ela o observa, esperando por alguma reação. Ah, claro. É a cruz. A cruz que tatuara.
- Como conseguiu? – ele a olha com curiosidade.
Ela sorri. Sabe que ele gostou.
- Encomendei.
- Poxa... Muito obrigado. – ele diz sem graça.
O presente era perfeito. Sua vontade naquele momento era de pegá-la nos braços e enchê-la de beijos, agradecendo. Mas eles não eram mais namorados. Não podia fazer isso.
Então ele apenas lhe dá um abraço de três segundos, e a convida para entrar. Britney entra, e se depara com alguns amigos. Eles a chamam para a roda de conversa. Ela vai.
Após alguns drinks e muita conversa, ela olha ao seu redor. Procura por Justin. Não o vê. Aquela festa já deu o que tinha que dar. O que mais ela poderia fazer lá, se a única pessoa com quem se importava naquele momento não estava nem aí para ela?
- Então ela veio te ver... E o coração? – Andrew zomba.
- Aposto que ele quis chorar quando a viu. – JC incrementa a brincadeira.
- Calem a boca. Ela só veio me dar os parabéns, só isso.
Justin está na cozinha com os rapazes. Eles estavam dando notas às moças da festa, que Andrew trouxera, até que a campainha tocou e ao ver Britney pela tela do sistema de segurança da cozinha, Justin saiu correndo em direção à porta.
- E você precisava perder a dignidade e sair correndo daquele jeito pra ganhar os parabéns? – Louis, outro amigo, provoca.
- Hey, JC, dá uma conferida aí nas calças dele, que eu acho que ele perdeu as bolas depois dessa.
- Eu só estava sendo educado. Um gentleman, só isso. – Justin argumenta, abrindo uma garrafa de cerveja, a qual levou à boca logo em seguida.
- Ok, gentleman. – Andrew faz uma careta ao pronunciar a palavra. – Então já que você não está sem as bolas, dá uma chegada naquela rodinha de gostosas e prova pra gente que elas ainda estão aí na cueca.
Justin olha para os amigos. Estão todos na expectativa, analisando-o. Tá legal, ele não vai dar um papelão ali. Ele dá um grande gole em sua cerveja e deixa a garrafa na mesa. Deixa a cozinha e vai até o canto da sala, onde há duas moças conversando.
Britney se ergue da roda, e percorre a sala à procura de Justin. Há tantas pessoas ali, que ela não consegue imaginar como irá encontrá-lo. Há gente na sala, na área da piscina, nas escadas, em qualquer canto... Ela continua a andar pela extensa sala, vagarosamente, percorrendo cada canto com os olhos. Até que vê um chapéu. É o chapéu dele. Mas o chapéu é praticamente a única coisa que vê dele, afinal, há duas mulheres de minissaia sentadas em seu colo, rindo e acariciando-lhe os braços.
Aquilo é o ápice da noite para ela. Já chega. Ela deixa a sala às pressas com os olhos vermelhos, ardendo. Toma o cuidado de se segurar, enquanto os fotógrafos a atacam na porta. Ela entra em seu carro e percorre pelas ruas sem qualquer destino aparente.
Ao visualizar uma de suas casas noturnas favoritas, ela entra. Não se permite chorar. Só quer entrar e beber, até conseguir se divertir. E é o que faz. Ela bebe, dança, tira fotos, sorrindo como nunca, com alguns fãs. Se Meryl Streep estivesse ali agora, provavelmente teria lhe dado um de seus Oscars.
Justin sai da sala, após a cena que protagonizara com as duas moças. Ele entra na cozinha novamente. Não há ninguém lá mais. Ele abre outra cerveja. Pra quê fizera aquilo? Não pretendia beijar ninguém. Só queria um pouco de distração. Perdeu horas de sua festa conversando e fingindo interesse naquelas moças e nem sequer fora capaz de levar alguma para a cama. Além do mais, a sua única convidada V.I.P desaparecera. Sua festa fora um fiasco para ele.
A casa já estava quase vazia. Já era tarde, muito tarde. Havia ainda alguns convidados na piscina. Andrew, aparentemente se deu bem com alguma garota e saiu de cena. JC, ele nem precisava imaginar, enquanto que Louis namorava.
Sua campainha toca. Quem poderia ser a essa hora? Ele abre a porta. Ela voltou. Sua convidada V.I.P estava de volta. Ele observa o gramado da casa atentamente. Não... Não há sinal de paparazzi. Os olhos dela estavam tristes, e ela parecia um pouco tonta, enquanto se apoiava na porta.
- Olá. – ela diz, rindo.
- Oi... Tá tudo bem? – ele a analisa.
Ela olha para ele de cima a baixo. Não entende porque não estão juntos mais. Como fora capaz de passar esses dias todos, essas semanas todas, esses meses, sem ele? Olha para aqueles braços fortes. Quer ser abraçada por eles. Ela olha sua camisa branca. Gostaria de tirá-la. Olha para seu rosto. Aquela boca... Ela precisa daquela boca, daqueles lábios em seu corpo.
- O que houve? – Justin pergunta assustado.
Ah droga. Ela estava chorando e mal percebera.
- Você... Por que transou com elas?
- Elas quem? – ele a olha confuso.
- Aquelas vadias que estavam no seu colo.
- Eu não transei com ninguém.
Merda. Ela vira tudo. Sua vontade agora era fazer cada um de seus amigos engolir o próprio testículo.
- Elas estavam no seu colo. – Britney insiste.
- Sim, mas eu não fiz nada com elas. Nada.
Ela entra na casa, sem que ele a convide. Ele a segue enquanto ela sobe as escadas.
- Aonde você está indo? Britney?
Ela não responde. Sobe as escadas em silêncio. Percorre o corredor comprido, até que chega à porta de um dos quartos. Seu quarto favorito na casa. Fora o primeiro lugar em que fizeram amor quando Justin comprou a mansão. Ele decidiu então que aquele seria seu quarto. Ou melhor, o quarto dos dois.
Ah não... Ela não está fazendo isso. Ele pensava enquanto a via entrar no quarto. Aquilo era demais para ele. Prometera a si mesmo não cair na tentação, mas ele não era de ferro.
- Britney...
- Me chame de Pinky. – Britney se vira para ele. Ela está parada ao lado da cama. – Por que não me chama mais de Pinky? – sua voz soa manhosa. As lágrimas escorrem.
Ele não sabe o que dizer. Só sabe que o melhor é não se aproximar. Porque se ele se aproximar, ele a abraçará com toda a força, e a chamará de Pinky quantas vezes ela pedir.
- Você está bêbada. – ele só consegue dizer isso.
- Eu sei. Eu fui pra balada.
- Essa noite? – ele questiona.
É claro. Por isso ela desaparecera por tanto tempo.
Ela apenas assente com a cabeça.
- Procurei alguém lá que me distraísse.
Justin sente sua mandíbula trincar. Não consegue imaginá-la beijando outro homem.
- Encontrou? – ele pergunta, com medo da resposta.
- Não! – ela então cai sentada na cama e chora, compulsivamente.
Droga, ele não pode ficar ali parado. Não consegue. Vai até ela, e se senta ao seu lado. Ele a observa, sem tocá-la.
- Quer que eu te deixe em casa? Não pode dirigir assim.
Ele se admira por ela ter conseguido chegar com vida até a casa dele, naquele estado em que se encontrava. Ela se vira para responder, mas na mesma hora tampa a boca. Ele não entende a reação. Olha para trás, na expectativa de encontrar algum monstro na porta, ou o Freddy Krueger, qualquer coisa. Mas ela sai correndo em direção ao banheiro. Ele a ouve vomitar.
Ok, aquilo já é demais. Ele entra no banheiro às pressas. Ela está ajoelhada na frente do vaso. Ele segura seu cabelo, delicadamente. Ela simplesmente não para de vomitar. Ele a espera pacientemente, acariciando-lhe as costas, enquanto ela chora.
Quando ela acaba, ele lhe dá uma escova de dentes. A escova era dela. Ele não tivera a coragem de jogar fora. Ela escova os dentes e em seguida volta para a cama.
Ele não podia deixá-la sozinha naquele noite. Não mesmo. Ela não estava em condições. Não parava de chorar. Ela apenas repetia a mesma frase: “A culpa foi minha”. Não conseguia entender o estado dela. Mas não a deixaria sozinha, em hipótese alguma.
Pegou uma de suas camisas, que ela tanto usava quando dormia em sua casa, e lhe entregou. Ela simplesmente começou a tirar a roupa na frente dele, o que o levou a se virar de costas, mas sem deixar de sentir um misto de desejo e constrangimento.
Assim que ela se deitou debaixo das cobertas ele lhe desejou boa noite, beijando-a na cabeça. Ao chegar à porta, ela o chamou.
- Justin.
Ele se virou. Ela estava tão linda usando sua camisa. Aquilo o lembrava do quão sua ela era. Seus olhinhos estavam quase se fechando. Ela parecia tão frágil naquela noite... Muito mais do que o normal.
- Sim?
- Não me deixa sozinha.
Agora sim, ele fora pego de jeito. Como dizer não àquele anjo? Mas ele não podia deixar o resto de seus convidados lá embaixo.
Ele olha para ela, mais uma vez. Apenas a observa. Que se dane. Seus convidados ficariam bem. Mas sua Pinky... Ela precisava dele.
Ele vai até a cama e se deita ao lado dela. Ela se aconchega no peito dele e dorme assim que ele começa a acariciá-la. Ele não se arrepende de sua atitude. Sabia que o certo era cuidar dela. Mas também sabia que aquilo acabaria no dia seguinte. Ela provavelmente se arrependeria da bebedeira, pediria desculpas e iria embora às pressas. Ela iria embora. Era só isso o que conseguia pensar agora. E assim, ele também se aconchegou a ela. Mergulhou seu rosto em seus cabelos. Sentiria falta daquele shampoo de morango. E então, uma maldita lágrima escorreu, antes que ele pudesse cair no sono.
(2013) Las Vegas.
Britney olha pela janela do carro. Laura está vindo. Mas o quê? Não! Ela está trazendo ele? Isso não está acontecendo!
Laura entra no carro, empurrando Justin, que se senta ao lado da ex.
- Olá, de novo. Como estão os sapatos? – ele sorri, malicioso. O álcool o deixara definitivamente insuportável.
- Melhores que você, com certeza.
Ele faz uma careta. Começa a se levantar. Laura o puxa para baixo novamente.
- O que está fazendo, seu bebum?!
- Tô tentando sentar do lado da janela.- ele responde tentando passar por cima de Laura. – Pra ficar longe dela. – ele aponta para Britney com uma mão enquanto coloca a outra em volta da boca, insinuando um segredo.
- Nada disso! Vai ficar quietinho aí!
Nesse momento o carro arranca. Justin cai entre as duas, totalmente desequilibrado.
- Cuidado! – Britney exclama, segurando-o. Ao segurá-lo, ela pega no lado de dentro da gola de sua camisa, por baixo do blazer. Sente algo espetá-la. Algo duro cai em sua mão.
Ela segura com cuidado. Olha para o objeto. A luz está muito fraca dentro do carro. Mas ela não precisa da luz. Ela reconheceria aquele objeto até no escuro.
Em suas mãos, está a pequena cruz que ela lhe dera em seu aniverário a dez anos atrás.
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